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Os primeiros momentos relevantes, em termos industriais, da manipulação da reprodução exata de uma imagem em movimento através da tecnologia começam no século XIX, culminando, no final daquele século, no cinetoscópio de Thomas Edison e o cinematógrafo dos irmãos Lumière (DUARTE, 2010).

Segundo Carlos Augusto Calil (In: XAVIER, 1996, p.45), “o primeiro comércio cinematográfico foi o de equipamentos. Vendia-se o projetor e o cliente levava também um ou mais rolos de filmes que ficavam em sua propriedade.”. O que redundou, com o tempo, no comércio de cópias de filmes, através dos grandes conglomerados cinematográficos como a Paramount e a Metro-Goldwyn-Mayer.

Por trás dessas transformações tecnológicas, tivemos transformações como a possibilidade de um tempo organizado de trabalho que trouxesse um tempo também delimitado de lazer, e uma indústria ao redor desse lazer. Isso foi se potencializando, levando a um lazer também residente na discussão sobre o próprio produto cultural, na vivência coletiva em relação a um determinado filme, pois “a cultura do cinema é baseada menos em objetos e mais em intangíveis efeitos de memória e experiências compartilhadas” (GUNNING, Tom In: XAVIER, Ismail, 1996, p.42), o que coaduna com Walter Benjamin (1994, ps.168-169) em que se tem uma existência serial da obra e, “…na medida em que essa técnica permite à reprodução vir ao encontro do espectador, em todas as situações ela atualiza o objeto reproduzido”. Essa atualização se dá através do valor da experiência midiática que se figura no momento exato tanto em que se assiste a um filme como na aura estendida para a temática, os atores, a indústria por trás da construção técnica do filme e preparação de cada cena, cada boato, cada

comentário, cada conversa, diluindo a realidade da unicidade de um filme, mas o atualizando a cada discussão.

O que faz com que a discussão sobre um filme corresponde a uma ideia de produto cultural que transcenda e muito a simples experiência de sentar numa cadeira de cinema e assistir a um filme, por exemplo, começou com a projeção de atores que se tornaram celebridades41.

Nesse entremeio, temos, até hoje, a óbvia convergência de públicos, suportes tecnológicos e mercados. Por exemplo: série literária ou história em quadrinho que se tornam filmes, ou filmes que se tornam animações etc. Mas, o que nos parece evidente em nosso trabalho está na exploração de textos ao redor não apenas de um filme enquanto mercadoria cultural, mas sobre a experiência em relação a assistir à determinada obra. Essa experiência envolve também o contato com a tecnologia do cinema, sobretudo nas primeiras resenhas cinematográficas, que abordavam um universo completamente desconhecido, na época em que a novidade era mais a tecnologia que o conteúdo de um filme.

Uma das resenhas mais antigas sobre cinema, e que demonstram a forma de enxergar essa tecnologia em seu início, como demonstra uma das primeiras resenhas cinematográficas, no quediz respeito ao trabalho de uma jornalista cujo pseudônimo era “Alice Rix”. Sobre o Veriscópio, um antigo aparelho para projeção de filmes, ela demonstra assombro, com recordações de infância sobre a “lanterna mágica”, um instrumento de projeção criado no século XVII por Christian Huygens, evocando uma ideia de sobrenatural, quando diz:

Lembrei-me de repente de um esquecido medo infantil do espetáculo de lanterna mágica. A sala de show na escuridão, a pálida planície branca estendendo-se até o desconhecido mundo das sombras. Tudo bem chamá-la de lençol, dizer que estava esticado entre inocentes e familiares portas dobráveis; apesar disso, ele separava o conhecido e o seguro do misterioso além onde sombras horríveis viviam e moviam-se com assustadora rapidez, sem fazer nenhum barulho. E estas eram sempre horríveis, não importa quão grotescamente divertida fosse a forma que assumissem, e elas me seguiam até o berço durante horas, ficando em meu coração e em minha alma pela negra noite adentro. E algumas vezes nem a luz da manhã podia espantá-las. E hoje parece que elas resistem aos anos.42

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Lembrando que o primeiro caso nesse sentido foi em relação a Maurice Costello (CALIL, Carlos Augusto In: XAVIER, Ismail, 1996).

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Trecho citado originalmente numa dissertação de Daniel Gene Streible, intitulada A History of the

Essa experiência midiática, relatada pela jornalista, já principia uma forma de fazer resenha cinematográfica, explorando o momento, a experiência, as reminiscências. Posteriormente, claro, teremos resenhas que vão valorizar a temática dos filmes, a partir do momento em que sua complexidade narrativa aumenta, tornando mais interessante a união entre duas temporalidades: “…por um lado, aquela da coisa narrada; por outro, a temporalidade da narração propriamente dita” (GAUDREAULT, JOST, 2009, p.33). Há o tempo da narrativa em si, e há o tempo da visão do crítico – o que, por sua vez, vai se complexificar na visão do espectador comum.

Na época, a narratividade de uma obra cinematográfica era menos relevante que o aparato tecnológico e o impacto da experiência do crítico ao analisar determinada obra dependente necessariamente do contato com essa tecnologia. Posteriormente, ainda que tenhamos inovações tecnológicas, valoriza-se a temática e a fama dos atores, o momento atual pela qual esteja passando a indústria cinematográfica norte-americana, o histórico de produções de um mesmo diretor etc.

3.3. Análise das convergências de texto e audiovisual mediante hipermídia

Iniciando a análise, que não pretende ser demasiadamente formal, vemos que uma boa noção preliminar de contexto se dá, por exemplo, quanto ao universo do jornalismo cultural, já abordado, que nos levou à questão do jornalismo cultural online. Todavia é preciso conceber que o meio pelo qual se processam as mensagens (as resenhas e os comentários do público, por exemplo) hoje depende de uma amplitude também cibercultural, além de webjornalística (ou jornalística online) – em que “webjornalismo” ou “jornalismo online” está incluído em “cibercultura”. A partir dessa possibilidade de inter-relação entre jornalismo online e cibercultura, entendemos todo o fazer jornalístico em função de sites noticiosos ou de entretenimento como parte e transmissão do tipo de cultura que ocorre no tipo de espaço nascido de fluxos diferentes de informação digitalizada e instrumentalizada com recursos hipermídia.

Sobre esse fazer jornalístico, temos que o jornalismo na Web brasileira – se considerarmos a primeira reportagem completa publicada na internet – apareceu em 1995, pelo Jornal do Brasil (PRADO, 2011). Desde então, também de acordo com Magaly Prado (2011, p.21), “estatísticas mostram que o acesso cresce 50% desde 1995. Outro dado dá conta de que 80% das redações do mundo usam a rede como fonte.”. Ou