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NOVOS PADRÕES DISTRIBUTIVOS

No documento DO III COLÓQUIO INTERNACIONAL A (páginas 105-145)

Ana Lucia Vieira dos Santos & Rebecca de Castro Leal Costa Reis

Este artigo baseia-se em levantamento sistemático realizado no Fundo Casa Real e Imperial – Mordomia Mor guardado no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro1. A pesquisa teve como objetivo buscar documentação

sobre obras, contratos, compras e contratações de profissionais ligados à construção civil e artes decorativas que permita melhor compreensão das dinâmicas de aquisição, conservação e melhoria das propriedades imobiliárias da família real, depois imperial, no Brasil. Trataremos neste texto especialmente da Quinta da Boavista e do Imperial Paço de Petrópolis, este na fase final de sua construção.

Como é sabido, em sua chegada ao Rio de Janeiro a Família Real portuguesa ocupou imediatamente o antigo Paço dos Vice-Reis e o Convento do Carmo, que lhe fica fronteiro. A numerosa comitiva se acomodou em diversos edifícios, cedidos de forma voluntária ou não pelos habitantes da cidade, com localização variada no tecido urbano que ainda está por mapear. Outras propriedades da Coroa portuguesa estavam à disposição, como a Fazenda Real de Santa Cruz, desapropriada dos jesuítas. Em pouco tempo outros edifícios foram se somando a esses, cedidos temporariamente, como a Quinta dos Beneditinos em Botafogo ocupada pela princesa Carlota Joaquina, ou em definitivo, como a Quinta da Boavista, doada pelo negociante Elias Antônio Lopes. A Quinta da Boavista foi parte da grande fazenda dos jesuítas existente nos limites da cidade, desapropriada em 1759, e em seguida parcelada e vendida. O terreno continha uma casa de fazenda nos moldes coloniais, circundada por uma grande varanda. Elias Antônio Lopes manteve uma parte do terreno original, a Quinta do Pedregulho, onde construiu uma nova casa, guardando conveniente vizinhança com a propriedade real. A Quinta seria usada como palácio de verão durante todo o período da regência de D. João. Após a morte da Rainha D. Maria I, o novo rei resolveu mudar-se para São Cristóvão, tornando a Quinta sua residência principal, em detrimento do antigo Paço da Cidade.

1 Esse artigo foi desenvolvido no Laboratório de Estudos do Patrimônio, dentro do Programa de Iniciação Científica da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense, como parte do projeto de pesquisa “A Casa Senhorial em Lisboa e no Rio de Janeiro (sécs. XVII, XVIII e XIX): Anatomia dos Interiores”.

A antiga casa do Elias sofreu ao longo dos anos inúmeras reformas, acréscimos e modernizações, que a transformaram de casa rural num palácio real capaz de abrigar as muitas funções e atividades necessárias à vida de corte e aos rituais de representação da monarquia2.

Se as primeiras intervenções visaram a melhor instalação do rei e seus filhos, o casamento do príncipe herdeiro D. Pedro logo exigiu a construção de aposentos para o novo casal.

Quando chegou ao Brasil, a princesa Leopoldina não tardou em escrever a seus pais e sua irmã Maria Luísa, descrevendo seu novo país e os aposentos preparados para o casal no Paço de São Cristóvão:

A minha casa tem seis aposentos com magnífica vista, de um lado para a serra e muitos povoados, do outro para o mar, ilhas e a serra dos Órgãos.3

A casa dos príncipes era um novo bloco acrescido à antiga casa do Elias pelo lado sul. A área social compreendia sala de bilhar, sala de música e sala de festa, conforme descrição da tabela 1.

Sala de bilhar Pintada de verde Mesa de bilhar Sala de música Paredes pintadas

com pássaros e árvores do Brasil

Poltronas e mesas bois du Brésil, bronze e junco

3 pianos Duas arcas Vasos de alabastro Porcelanas com paisagens Relógio de bronze Sala de festa 4 colunas com

trabalhos em bronze Decorada com cenas mitológicas Teto com cena de mitologia pintada por um francês

Vasos de alabastro Porcelanas com paisagens Candelabros de bronze

Poltronas e mesas de madeira amarela e marrom de Macau com figuras entalhadas Tapeçarias de veludo branco

Cortinas de musselina com franjas douradas

Tabela 1 – Aposentos sociais dos apartamentos de D. Leopoldina e D. Pedro no Paço de São Cristóvão.

2 Para a evolução do Paço da Quinta da Boavista ver VAN BIENE, Maria Paula. O Paço de

São Cristóvão, antigo palácio real e imperial e atual palácio-sede do Museu Nacional/UFRJ: a definição de uma arquitetura palaciana. Tese (Doutorado em Artes Visuais). Rio de Janeiro:

Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Escola de Belas Artes, 2013.

3 KANN, Bettina e SOUZA LIMA, Patricia. Cartas de uma Imperatriz. São Paulo: Estação Liberdade, 2006.

Compunham os aposentos privados dos príncipes um gabinete das pratas, guarda roupa, um gabinete, quatro cômodos para o pessoal de D. Pedro, um aposento onde este se vestia, com acesso por um pequeno corredor. O pessoal da Princesa Leopoldina ocupava quatro quartos no pavimento inferior. Segundo a descrição, todos os cômodos possuíam sacadas e portas de pau brasil com detalhes em bronze.

Os objetos contidos no relato da Princesa Leopoldina demonstram ainda a presença de objetos de luxo vindos do Oriente, como as cadeiras de Macau. Se o teto da sala de festa foi pintado por um francês que ainda não foi possível identificar, a decoração da sala de música tem a mesma temática botânica, inspirada na flora brasileira, da escadaria e Salão da Floresta do Paço do Ramalhão em Sintra, atribuível a Manuel da Costa4. A mesma temática está presente no cômodo favorito da

princesa Leopoldina no Palácio Schönbrunn, pintado por Johann Wenzel Bergl em 1770.

Anos depois, já imperador, D. Pedro I passou a ocupar o novo torreão, na mesma ala sul. Lá ficavam uma pequena entrada, uma copa, uma sala de jantar privada. Alberto Rangel reproduz um relato do Barão de Maréschal, ministro diplomático da Áustria, que demonstra o uso dessa sala de jantar privativa, no aniversário da Duquesa de Goiás em 1827:

“O imperador recebeu os convidados na varanda, rodeado da família e da duquesa. A refeição aos criados do paço realizou-se na sala do trono, desaparecido este com o seu dossel atrás de um tapume provisório. [...]

Dom Pedro comeu com os filhos nos seus apartamentos par- ticulares, sem comunicação direta com a sala do trono. Depois de serem feitos brindes à família imperial, foram levantados outros à duquesa de Goiás.”5

Além dos cômodos que normalmente compunham um apartamento – Sala da cama, Sala do toucador, Casa de vestir – havia um gabinete e uma sala de despachos. Quando se casou com a Imperatriz D. Amélia, o Imperador passou a partilhar com ela esses cômodos, havendo ainda um gabinete e um quarto para ela6.

4 SERRÃO, 1989, p. 67.

5 Cartas de D. Pedro I à Marquesa de Santos. Notas de Alberto Rangel/ coordenação editorial de Emanuel Araujo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 76.

6 Rellação da mobília que se acha no Imperial Paço da Boa-Vista, e que pertenceu ao Ex-Imperador, o Senhor Dom Pedro de Alcantara. ANRJ, CODES, Casa Real e Imperial, Mordomia Mor.0O. Caixa 5, doc. 6.

Durante seu reinado D. Pedro I adquiriu diversos imóveis, com motivação muito variada. Algumas aquisições expandiram os limites da Quinta da Boavista, dotando-a de novos acessos e possibilitando a implantação da estrutura de serviços. Outras atenderam objetivos específicos, como a compra da casa de Botafogo7 para possibilitar banhos de mar

terapêuticos a suas filhas. As propriedades da Marquesa de Santos foram compradas em 13 de agosto de 1829 por escritura lavrada no Livro 102, 10/01/1820 a 25/01/1830, fls. 169 do cartório de Camillo Lazaro Guimarães, dentro do processo de afastamento de Domitila da Corte. A propriedade privada desses bens seria garantida a D. Pedro I e seus herdeiros pela Constituição outorgada a 25 de março de 1824:

CAPITULO III.

Da Familia Imperial, e sua Dotação

Art. 115. Os Palacios, e Terrenos Nacionaes, possuidos actual- mente pelo Senhor D. Pedro I, ficarão sempre pertencendo a Seus Successores; e a Nação cuidará nas acquisições, e cons- trucções, que julgar convenientes para a decencia, e recreio do Imperador, e sua Familia.

A distinção entre bens privados e bens da Coroa vai ser definitivamente estabelecida quando da renúncia de D. Pedro I ao trono do Brasil. Ao assumir a administração dos bens deixados no Brasil pelo ex-imperador, o governo provisório realizou extenso inventário de propriedades imobiliárias e bens móveis deixados a seu cuidado.

Os inventários8 realizados no primeiro momento divergem ligeiramente,

e alguns dos imóveis são hoje de difícil identificação. O primeiro docu- mento é a “Relação dos paços e palacetes de que estava encarregado João Valentim de Faria Souza Lobato em 20 de abril de 1831”, e lista 12 propriedades, como se vê na tabela 2. Logo em seguida uma segunda relação, ainda a cargo de Lobato, acrescenta outros bens.

A 23 de abril de 1831 duas relações por José Maria Velho da Silva fazem uma primeira separação das propriedades de domínio particular de D. Pedro I e propriedades nacionais. É bem possível que a documen- tação desses bens não estivesse totalmente em ordem, em especial as escrituras particulares do Imperador, causando certa inconsistência nas listagens. Enquanto Lobato relacionou os edifícios que estavam a seu cuidado, Velho da Silva teve preocupação maior com as grandes propriedades e fazendas, incluindo no rol terrenos localizados em outras cidades e províncias.

7 Adquirida em 19 de novembro de 1827 ao Visconde de Vila Nova da Rainha. 8 ANRJ, CODES, Casa Real e Imperial, Mordomia Mor.0O. Caixa 5.

João Valentim de Faria Souza Lobato

João Valentim de Faria Souza Lobato

José Maria Velho

da Silva José Maria Velho da Silva Obs. Paços e palacetes Domínio particular do

Imperador

Propriedades Nacionais Paço da Cidade

Paço de São Cristóvão Quinta da Boavista Doação de Elias Antô-

nio Lopes Palacete do Caminho Novo Com- prado por D. Pedro I à Marquesa de Santos

Palacete onde esteve a Marquesa de Loulé Possivel- mente outra propriedade com- prada por D. Pedro I à Marquesa de Santos, também localizada em São Cristóvão Pequena chácara dos

Arcos

Não foi possível localizar

Palacete de Botafogo Palacete de Botafogo Comprado ao Visconde

de Vila Nova da Rainha Palacete de São

Domingos Palacete de São Domingos Niterói

Palacete de Praia

Grande Palacete de Praia Grande Niterói

Chácara do Macaco Chácara do Macaco Quinta denomi-nada do Macaco

Parte da antiga Fazenda dos Jesuítas revertida à Coroa A casa na Cidade que

serve de Tesouro

Junto ao Paço da Cidade Palacete da Ponta do

Caju Palacete da Ponta do Caju Imperial Quinta do Caju

Doado por Luís de Gouveia

Palacete de Santa Cruz Palacete de Santa Cruz Fazenda de Santa Cruz Parte da antiga Fazenda dos Jesuítas revertida à Coroa em 1759 Casa do Doudo Terreno e casa do Doudo

Anexa à Quinta pelo lado do Maracanã Casa da Guarda da Cancela Terreno e casa da Guarda da Cancella Anexo a Quinta da Boavista do lado da Can- cella pela parte do Pedregulho Quinta do

Pedregulho Quinta do Pedregulho

Comprado em parte (9/10) por D. Pedro I aos herdei- ros de Elias Antônio Lopes Fazenda da

Concórdia Fazenda da Concordia

Córrego Seco, caminho de Minas, serra da Estrela Chacrinha da Paula Dada ao criado José Luiz da Silva para a gozar

Casa que foi do Aguiar Chácara e casa que foram de Teodoro Ferreira de Aguiar, compradas à Marquesa de Santos Candelária do Barueri SP Dita da Cachoeira do Campo MG

Fazenda São José Cantagalo Córrego d’Anta Cantagalo

Tabela 2 – Propriedades particulares de D. Pedro I e propriedades nacionais

O período regencial aparece na documentação com obras de manu- tenção rotineiras, sem grandes mudanças nas casas e palácios. Além de recibos de obras e materiais de construção, a documentação do período contem recibos de têxteis, em especial cortinas e colchas:

Recebi do Ilmo Snro Alexandre Fortuna Particular, e Almoxarife

do Paço da Boa Vista, a quantia de sete mil trezentos e secenta dos cortinados que cozi e engomei para o dito Paço

a Saber

54 cincoenta e quatro cortinados da sala imediata a da dança R$7360

Rio de Janeiro 12 de março de 1839

Recebi do Ilmo Snro Alexandre Fortuna Particular, e Almoxarife

do Paço da Boa Vista, a quantia de cinco mil cento e vinte reis, dos cortinados que cozi, e engomei para o dito Paço ...a Saber 42 Quarenta e dois cortinados da Salla da vós humana...5120 Rio de Janro 13 de março de 18399

Esse pequeno conjunto documental lança luz sobre as rotinas domés- ticas dos palácios, bem como pode ajudar a estabelecer os usos das diferentes salas, uma vez que é pela função que as salas são designadas. Torna-se necessário um estudo mais aprofundado dos rituais de corte, uma vez que algumas denominações não são passíveis de interpretação imediata, como”sala da voz humana”.

Em 23 de julho de 1840 o jovem príncipe D. Pedro foi declarado maior de idade, para que pudesse assumir o trono do Brasil. A coroação aconteceu em 18 de julho de 1841, e em setembro de 1843 já estava casado com a princesa Dona Teresa Cristina das Duas Sicílias. O jovem imperador foi provido de louças, pratarias e carruagens enco- mendadas na Inglaterra. Os preparativos para o casamento incluíram a compra de mobiliário para servir ao novo casal imperial, em especial no palácio da Quinta da Boavista, tornada sua principal residência10. As

encomendas foram feitas pelo “Commandeur le Marquis de Lisboa”, Conselheiro José Marques de Lisboa, e embarcadas sob supervisão de pessoal diplomático em Londres e em Paris.

As louças e porcelanas foram compradas a T. March late with Cham-

berlains, localizados na prestigiosa Bond Street em Londres. Da

Inglaterra também vieram as pratarias, manufaturadas por Emanuel

Brothers, joalheiros e artífices da família real inglesa, com negócio na

Hanover Square. Para este trabalho foram enviadas a Londres pedras preciosas brasileiras.

9 ANRJ, CODES, Casa Real e Imperial, Mordomia Mor.0O. Caixa 11, pacote 1. 10 ANRJ, CODES, Casa Real e Imperial, Mordomia Mor.0O. Caixa 10, pacote 1.

O mobliário foi adquirido à Maison Charre, localizada à Rue de Cléry, n. 4, e Rue Neuve de St. Eustache, n.º 5, também responsável pelos serviços de tapeceiro. Foram adquiridos móveis para um Grand Salon, em carmim e dourado, e para um Petit Salon, em azul e acaju. A mesma encomenda guarneceu os aposentos particulares do casal imperial, com câmara de leito e gabinetes de toalete para cada um dos cônjuges. Essas encomendas foram entregues a J. L. Correia em Paris, em março de 1843. Coube a ele cuidar da embalagem e embarque do material. Correia demonstra grande preocupação com o transporte, e princi- palmente com o desembarque e abertura das caixas no Brasil, que seria possivelmente realizado por pessoal não especializado e não habituado a tratar com mercadorias de artesania sofisticada, frágeis e de alto custo:

Seria muito conveniente, e evitaria alguns sinistros, se as caixas forem do navio [ou de] Lanxa pª desembarcarem em S. Christó- vão no lugar mais próximo do Palacio, o q. sera facil armar uma cabr[e]a p.as tirar da dª Lanxa e por em terra.

Torno a repitir: não se deve por forma algua consentir que se sirva de martelo pª desmanchar as caixas mas sim fazer tirar todos os pregos com tenazes, e desparafuzar todas as taboas q. levão parafuzos ...”

A lista dos móveis comprados para a instalação da Imperatriz Teresa Cristina permite perceber a evolução do conforto e dos equipamentos de uso pessoal entre o primeiro e o segundo reinados.

Na já citada carta de D. Leopoldina a sua irmã vemos que seus aposen- tos estavam guarnecidos por poucos móveis. O principal era o leito, adornado de cortinado bordado a ouro, com a águia real. A colcha de renda de Bruxelas que guarnecia a cama foi considerada pela princesa como um bem de muito valor.

Como complemento dois armários, relógio e vasos, um canapé de musselina e uma escrivaninha. O móvel de toalete era forrado de musselina branca e tafetá rosa, com dois Eros de bronze e guirlandas de flores que seguravam de um lado um toalete masculino e do outro um feminino, em platina, o que parece indicar que o móvel era partilhado pelo casal. A toalete era proveniente da Inglaterra.

A descrição do mobiliário de D. Teresa Cristina é mais técnica e deta- lhada, uma vez que provém do próprio fabricante, a maison Charre, e dos diversos documentos de embarque das mercadorias para o Brasil. A Câmara de Leito era composta pelo próprio, complementado por móveis de repouso.

A armação do leito era em madeira esculpida e dourada, com baldaquim, o complexo paramento formado de oito cortinados em adasmacado e outros tecidos de seda azul, branca e ouro, com forros e contraforros, braçadeiras, franjas e jogos de cabos de seda e ouro.

Os móveis complementares eram duas cadeiras com pés em X, um canapé de repouso com colchão, uma pequena mesa redonda (guéridon) em madeira esculpida e dourada, com um tapete de veludo de seda com franja para cobri-lo. Uma cômoda de charão e dois móveis de pau-rosa adornados em bronze e porcelana eram os móveis de guarda. Assim como nos aposentos de D. Leopoldina, havia uma escrivaninha, esta em pau-rosa ornada de bronze e porcelana. O documento faz menção a uma estante de oração (prie Dieu). Havia ainda seis cadeiras de braços e seis cadeiras sem braço.

O gabinete de toalete da Imperatriz tinha os seis vãos ornamentados por cortinados completos em seda brocada, forrados, e com braçadeiras de borlas, com galerias em madeira dourada.

Os móveis de toalete se multiplicaram, e dividem a higiene pessoal dos rituais de penteado:

Uma toalete de madeira esculpida e dourada, espelho e mármore branco, (descrita em uma das listas como toalete de lavar.) Uma Psychée de madeira esculpida e dourada com espelho, dois braços com três luminárias de bronze dourado.

Uma toalete para Penteado, ornada com duas cortinas de moire branco com franja e cabo de ouro fino; o interior é de moire branco, uma almofada de veludo de seda com borlas de ouro fino para os pés, mais todos os acessórios de toalete, como frascos, escovas e pentes.

O gabinete de toalete de S. M. O Imperador era um aposento também com seis vãos, guarnecidos de cortinados completos em damasco de seda vermelho (cramoisi), com braçadeiras de borlas e com galerias em madeira esculpida e dourada. Os móveis eram madeira de pau- -santo (palissandre), ornamentados em bronze dourado e porcelana. Compunham o conjunto de móveis de repouso um canapé forrado em damasco vermelho, quatro cadeiras de braços e doze sem braços. A guarda era feita em um grande armário com espelho e porta-casacos de cada lado e uma cômoda com prateiras.

O móvel de toalete era de pau-santo esculpido e dourado, guarnecido de porcelana dourada, com diversos acessórios de toalete. Um bidet também em pau-santo, dois porta-toalhas e cadeiras ligeiras em laca dourada complementavam o conjunto. Havia ainda quatro consolos em

madeira esculpida e dourada com mámore verde mar, que formavam jardineiras.

A menção às cores dos tecidos presentes nos documentos permite acompanhar a evolução da tinturaria. Do rosa e branco predominantes na decoração da Princesa Leopoldina ao carmim e azul do Segundo Império, uma revolução ocorreu na tinturaria com a introdução dos pigmentos sintéticos, que substituíram pigmentos naturais de difícil obtenção e alto preço. Os azuis intensos antes obtidos do índigo e lápis-lazuli passaram a ter várias alternativas sintéticas, com maior ou menor facilidade de fixação, entre eles o Bleu de Lyon usado no mobiliário imperial. Os vermelhos, verdes e amarelos também vão aparecer na documentação da segunda metade do século XIX, nos inventários do mobiliário das classes abastadas e progressivamente também das classes médias.

Durante o segundo reinado as diversas residências imperiais, algu- mas centenárias como o Paço da Cidade, exigiram diversas obras de recuperação e de modernização.

Através de relatórios da Mordomia-Mor disponíveis no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro é possível acompanhar alguns dos problemas e o tipo de melhoramentos implantados nos diferentes imóveis.

Em relatório de 3 de abril de 184811, José Maria Velho da Silva, Vis-

conde de Macaé, Ministro Secretário Estado dos Negócios do Império, descreve as obras realizadas para finalização do torreão norte, capela imperial e reforma da frente do palácio da Quinta da Boavista, com nova divisão de salas. As obras também criaram nova cavalariça e alojamentos de criados.

No documento DO III COLÓQUIO INTERNACIONAL A (páginas 105-145)