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Um Palacete na Cidade da Bahia

No documento DO III COLÓQUIO INTERNACIONAL A (páginas 77-105)

III. Diálogo interior /exterior

4. Um Palacete na Cidade da Bahia

A Villa Catharino, como originalmente fora chamada, testemunha uma etapa da história urbana e social da cidade; um edifício que representa o processo de mudança dos anseios das classes mais abastadas, que, abandonando as zonas mais tradicionais, migram para os novos lotea- mentos dos bairros nobres onde edificam suas casas de architectura

moderna.

Situada na Rua da Graça, a casa ocupava quando da sua construção um terreno de aproximadamente 17 mil metros quadrados, reservando o trecho contíguo à rua para a implantação do edifício e seus jardins. Este zoneamento do lote contava ainda com um pomar, uma horta e estábulos, além de garagens e quadras de esportes, em setores des- tinados apenas ao usufruto dos moradores e aos serviços internos, situados na parte posterior.

Quando da solicitação de tombamento do edifício, no início da década de 1980, o Departamento de Obras da Secretaria de Educação e Cultura do Estado guardava em seus arquivos cinco estudos para a residência: dois são de autores desconhecidos, e os outros três, de autoria de Rossi Baptista, datados de 1911. Destes, fora escolhido como definitivo o projeto “C”, com pequenas modificações e acréscimos em relação ao anterior10. A investigação dos demais projetos, infelizmente não

localizados, poderia trazer significativas informações não só a respeito do processo projetual, mas, principalmente, acerca das demandas do cliente e da construção do programa arquitetônico.

10 Cf. GODOFREDO FILHO. Op. cit., p. 21/2. O autor refere-se ainda à doação feita pelo referido órgão das elevações em aquarela à Biblioteca Pública do Estado. Infelizmente, este material foi extraviado e ainda não localizado.

Implantando o edifício praticamente no eixo da largura do lote, o pro- jeto desenvolveu o programa no seu sentido longitudinal, recuado da rua o suficiente para garantir a privacidade da vida familiar, ao tempo em que permitia a contemplação de sua volumetria. O limite entre o espaço público e o privado era definido por um gradil rebuscado, interrompido pelos portões que davam acesso ao jardim: o primeiro, conduzindo o visitante à escadaria principal, oferecia-lhe a perspectiva das elevações mais elaboradas; o segundo, junto à portaria, controlava o acesso de veículos e a circulação do dia a dia.

Jardins à moda inglesa circundavam toda a residência, num arranjo mais informal da vegetação, exibindo o gosto do exótico nos espécimes trazidos de outras regiões do mundo, que, com o passar do tempo, criavam um curioso contraponto com as árvores e as flores já utiliza- das na tradição local. Na área fronteira, canteiros de flores e arbustos ladeavam caminhos sinuosos e pavimentados. Ao longo do tempo, as fotografias da Villa em diferentes épocas mostram-nos a construção deste dinâmico espaço, desde os arbustos de pequeno porte em canteiros de forma orgânica, das cercas-vivas de pitangueiras, das mangueiras, do plantio de palmeiras imperiais enquadrando a fachada principal, até as majestosas gameleiras que, hoje, se impõem no primeiro plano do jardim, ladeando um espelho d’água que, no passado, continha peixes.

Fig. 3 – Projeto da Villa Catharino. Fachada principal e Fachada Lateral. Fonte: Arquivo Histórico Municipal/ Fundação Gregório de Mattos.

Fig. 4 – A Villa Catharino. No jardim, o Comendador e seus netos. Data desconhe- cida. Fonte: Acervo da Família Catharino.

Desde o início dos Oitocentos, há relatos de que nos jardins das casas da elite soteropolitana, encontrávamos um mobiliário específico para áreas externas, no qual se utilizava da técnica do embrechamento11,

e, a partir do final do século, de elementos pré-moldados em ferro e cimento. Segundo depoimento da bisneta do Comendador, Sra. Alice Maria Catharino Ribeiro dos Santos, o mobiliário do jardim e elementos da casa do porteiro, que traziam clara influência do romantismo inglês e da estética do pitoresco, eram executados em pré-moldados de ferro e cimento, imitando troncos de árvores e fibras vegetais12, como os

banquinhos em forma de cogumelo. Nas varandas da Villa, móveis em ferro fundido e redes, comuns nas habitações desde o período colonial, complementavam a ambientação dos espaços abertos.

Fig. 5 – Casa do Porteiro da Villa Catharino. Data desconhecida. Fonte: Acervo da Família Catharino.

Na parte posterior do edifício, uma balaustrada limitava os jardins, individualizando-os do trecho do terreno que se estendia até o grotão lá existente, onde estava o pomar, uma horta, o galinheiro, o estábulo, as quadra de basquete e voleibol, as áreas reservadas aos serviços internos, garagens externas e acomodações dos empregados.

11 Os viajantes estrangeiros já registravam em seus diários de viagens, em leve tom jocoso, a presença de bancos embrechados e ornamentos para jardins nas casas da elite da Vitória, no século XIX.

A Villa propriamente, segundo o projeto escolhido, foi desenvolvida em três pavimentos, observando a hierarquia e zoneamento típico das casas burguesas de então: o pavimento térreo (que, pela proporção do pé-direito, já foi definida como um porão alto) quase que totalmente destinado à zona de serviço; no primeiro andar, o pavimento nobre, os espaços de representação, privilegiados na composição arquitetônica, e, no segundo pavimento, os espaços da intimidade da família. O acesso aos vários andares era realizado através de elevador em estrutura metá- lica, importado dos Estados Unidos, situado em trecho intermediário dos pavimentos - um luxo até mesmo para as residências mais ricas de então -, circundado por escadaria de madeira. Escadas externas fazem ainda a ligação do térreo ao pavimento nobre, seja marcando a entrada principal, seja garantindo o acesso individualizado das áreas de serviço. No plano horizontal, uma longa circulação central distribui os cômodos que, atendendo às recomendações construtivas de então, recebiam iluminação e ventilação diretamente dos jardins.

Fig. 6 – Levantamento cadastral da Villa Catharino. Planta Baixa do primeiro pavimento. Fonte: JORDAN et alli. 2006, p. 93.

O partido adotado confere ao edifício uma volumetria mais estática, dinamizada pelo tratamento dado aos principais espaços de represen- tação da casa, tanto nas dimensões, como na modenatura utilizada. A este corpo principal são somados avarandados laterais e frontais, assim como um bow-window que faz a intersecção entre os trechos de larguras diferenciadas, conferindo certo movimento à extensa fachada lateral. Na elevação principal, o trecho que avança é coroado por torreão de forma trapezoidal, revestido originalmente em ardósia, antecedido por platibanda onde se vê monograma do proprietário, ladeado por águias de asas abertas.

Tendo consultado o projeto original, Godofredo Filho descreve-nos o primitivo programa arquitetônico do edifício:

[...] no porão: biblioteca, sala de bilhar, gabinete, adega, apar- tamento de três peças para criados, lavanderia e garagem; no 1º pavimento: vestíbulo, sala de visitas, salões de jantar e de música, salas de almoço e de costura, gabinete, aposento do mordomo, copa e cozinha; no 2º pavimento, 10 quartos, saleta, terraço e varandas [...]13.

Apesar dos cinco projetos elaborados para o imóvel, o que sugere uma grande discussão sobre o programa e as questões estéticas, os espaços definidos na proposta definitiva tiveram seus usos acomo- dados às necessidades da família14. No pavimento térreo, as peças de

maior relevância estavam voltadas para a fachada principal e varanda lateral – a sala de bilhar e a biblioteca -, com especial destaque para a sala de barbeiro, completamente equipada, contígua ao bilhar, que mandara fazer o Comendador para cuidar da aparência. Os aposentos dos empregados, inicialmente, à inglesa, foram deslocados para a área externa da residência, ficando apenas um cômodo reservado, provavelmente, ao dormitório de uma antiga criada da família ou ao mordomo ou, ainda, à governanta. Da mesma forma, acomodaram-se as preceptoras alemãs, responsáveis pela educação das crianças e jovens da família, na casa vizinha à Villa, hoje, já demolida. No trecho posterior do pavimento, parte da zona de serviço (lavanderias, garagem interna e adega) foi mantida, e aparece como um dado curioso a informação da instalação de uma piscina no cômodo contíguo ao elevador15. Um

banheiro servia ao pavimento e, como nos demais andares, dispunha de louças sanitárias inglesas e ladrilhos cerâmicos franceses.

O acesso ao andar nobre se dava pela varanda voltada para os jardins laterais, ao qual se chegava através de uma escadaria em mármore, que funcionava ainda como circulação externa, ligando a zona social àquela de serviço. Daí passava-se ao vestíbulo, que organizava a circulação aos espaços de maior relevância, ligando-se a um corredor central, que levava ao pequeno cômodo que funcionava como guarda-chapéus. O vestíbulo conduzia aos principais salões da casa: do lado da fachada principal, a Sala de Visitas, estrategicamente colocada, e a Sala Napoleão,

13 GODOFREDO FILHO. op. cit., p. 22.

14 Tais informações nos foram fornecidas por D. Alice Maria, bisneta do Comendador Catharino.

15 Apesar dos depoimentos de D. Alice Maria, não foi possível encontrar vestígios construtivos deste equipamento no edifício, nem mesmo nos relatórios das obras de adaptação do imóvel.

cuja decoração e nome decorrem de uma admiração e identificação do Comendador com esta personagem histórica. Do outro lado, a Sala de Jantar, de dimensões similares a de estar, onde, segundo informações da família, podiam comer sentadas cerca de 40 pessoas. Seguia-lhe a Sala de Almoço, usada nas refeições do cotidiano, facilitando a circulação com a zona de serviço – copa, cozinha e saleta para os empregados. Dentro do zoneamento proposto, todos os cômodos praticamente se interligam através de esquadrias de dimensões distintas, permitindo a dilatação das áreas em dias de recepção ou individualizando-as no uso do dia a dia.

Fig. 7 – Villa Catharino. Vista do vestíbulo e da sala de estar, a partir da sala de jantar. Fonte: JORDAN et alli. 2006, p. 89.

A partir do vestíbulo, vislumbrava-se ainda a Sala de Música, item sempre presente nas casas da elite, situada no bow window que movimenta a fachada oposta, com plataforma elevada para a colocação do piano. Logo depois da escadaria e do elevador está a pequena capela doméstica, elemento presente nas moradas urbanas das classes abastadas desde o período colonial e que, neste momento, começam a desaparecer do programa arquitetônico. Contudo, em virtude de suas dimensões, muitos dos rituais religiosos católicos da família, como batizados e casamentos, realizavam-se na sala de música (ver figura 06).

Fig. 8 – Sala de Música em dois momentos: utilizada para o batizado de uma neta do Comendador e quando da sua adaptação para o uso do edifício como museu. Fonte: Acervo da Família Catharino e JORDAN et alli(2006), p. 128.

No segundo pavimento situava-se a zona íntima da casa, com 10 dor- mitórios, gabinete, saleta, quarto de costura, varandas e solário. Na

fachada principal, os aposentos do casal contavam com o quarto do Comendador e o de D. Úrsula, precedidos por um gabinete particular e ainda uma saleta que se abria para a varanda, onde o Comendador tomava seu desjejum. No sentido longitudinal do edifício, seguiam os quartos dos filhos que ainda moravam com o casal, que se abriam para a varanda lateral, um deles, com avarandado sobre o bow-window, na fachada oposta, onde também estava um quarto de costura. A cobertura do avarandado lateral em estrutura metálica e vidro conferia leveza à fachada, ao tempo em que multiplicava as possibilidades de iluminação dos dormitórios. Todo o pavimento era servido por uma única sala de

banho, elemento que, muitas vezes encontrado em anexos da edificação

principal, só aos poucos, iria se introduzir no agenciamento doméstico

à francesa, isto é, próximo das escadas. Um pequeno mirante, cujo

acesso se dava a partir do último pavimento pela escadaria ou elevador, coroava a cobertura da edificação, ratificando uma hierarquia espacial que valorizava a vista da rua desde um ponto elevado.

A decoração destes cômodos tinha uma importância primordial na construção da ambiência doméstica, devendo sugerir o status econômico, refinamento, grau de ilustração e cosmopolitismo dos proprietários, ao tempo em que garantia o conforto da vida privada. As novidades da Europa, referência sempre presente, chegavam à burguesia local de forma direta, e também através do contato com o Rio de Janeiro e São Paulo, seja através da divulgação de álbuns de projetos de arquitetos e desenhistas europeus, seja a partir das inúmeras viagens de negócios ou de recreio empreendidas pelos integrantes destas famílias abastadas16.

Na Villa Catharino os materiais empregados na construção foram praticamente todos importados da Europa e dos Estados Unidos. À escadaria em mogno inglês, aos pisos em parquet, em composições e cores diversas para cada ambiente, de origem francesa, assim como às esquadrias e serralheria em bronze, juntavam-se os revestimentos cerâmicos e louças sanitárias vindas da Inglaterra como que para atestar a qualidade do empreendimento. Importados também eram os vidros jateados, cristais, lustres, mármores, vitrais, mobiliário, tapeçarias e tecidos para cortinas17.

16 Fátima Fontenelle identifica alguns dos álbuns de mobiliário disponíveis às classes abas- tadas, neste período, assim como anúncios de marcenarias que atrelavam à qualidade dos seus serviços os “álbuns de modelos”, vindos diretamente da Europa, e oferecido aos clientes para consulta, como, por exemplo, as imagens retiradas do L’Ameublement Moderne. Cf. PESSOA, Fátima M. de Oliveira Fontenelle. Um olhar para o interior, as residências de

Salvador - século XIX. Dissertação apresentada ao Mestrado de Artes Visuais da Escola

de Belas Artes da UFBA. p. 88-9. 17 Idem, p. 158.

Fig. 9 – D. Úrsula na sala de estar da Villa Catharino. Data desconhecida. Fonte: Acervo da Família Catharino.

Sobre o mobiliário da residência dos Catharino pouco se sabe, a não ser que os móveis mais refinados foram encomendados na França, assim como as tapeçarias e tapetes Aubusson, para a inauguração da casa18. As fotografias existentes destacam aqueles do pavimento nobre,

18 Segundo PESSOA, nem mesmo nos testamentos de D. Úrsula e do Comendador não são arrolados os elementos componentes dos interiores da casa. Op. cit., p. 182.

especialmente, o conjunto do salão principal, com console e espelho em madeira dourada de características Luís XV, canapé e poltrona de braço, com assento e encosto em tapeçaria Aubusson, que ficava assentado sobre tapete francês com motivos florais, disposto sobre o piso em parquet. Na sala de jantar, mobília de grandes dimensões, pesada e fabricada com madeira escura, adornada com entalhes e elementos decorativos de grandes dimensões, como frutas e folhas, enquadrando-se dentro dos estilos do revival19. As características do

mobiliário condiziam com suas funções, mas considerava uma temática determinada para o cômodo, ratificando uma hierarquia que, para além de sua disposição na composição arquitetônica, pode ser observada no tratamento das superfícies destes espaços: pisos, forros e alvenarias. A pintura desses espaços, figurativa ou não, é o indicador de seu uso. A decoração interna e pinturas murais, pelo menos dos espaços mais elaborados, segundo da família, estiveram a cargo de Oreste Sercelli e de seus auxiliares, mais um dos artistas que migraram para a cidade no período das remodelações urbanas. Deste artista-pintor e decorador italiano, formado pela Escola de Artes Industriais e Decorativas de Florença, que migrou para o Brasil no final no século XIX –, temos ainda poucas informações de sua passagem por Salvador20.

Como o esperado, o artista destinou as pinturas de maior destaque ao pavimento nobre. No salão de visitas, assim como na mobília, pre- domina a inspiração neo-rococó numa extensa composição que toma todas as paredes. Ramalhetes de rosas, espirais alternadas e festões distribuem-se em elementos da arquitetura para realçar os painéis de toque watteaunianos nas bucólicas cenas representadas. A Sala Napoleônica, onde ainda se vê nos frisos águias e formas estilizadas, um pesado cortinado de veludo em cor vibrante, dava o ar solene deste gabinete. Como se observa em outras residências, às pinturas da sala de jantar foram reservadas as naturezas mortas, com muitas frutas e vegetais, às quais se incorporaram as imagens de animais nobres, no caso, pavões, temática que se repete no vitral que domina

19 Idem, p. 173.

20 Além dos trabalhos que lhes são atribuídos na Villa Catharino, encontramo-lo trabalhando nos salões da casa do Comendador Pedreira, do Club Euterpe, residência de José Sá e Solar dos Carvalho. Cf. GODOFREDO FILHO, op. cit., p. 25. Além disto, tem-se o registro de seu trabalho nos detalhes decorativos e pintura ornamental da Capela do Menino Jesus e Santa Luzia, construída em 1901, em São Paulo (2º edifício religioso neogótico da cidade); além de sua presença na Missão Artística Italiana que, em 1918, segue para Sergipe, a fim de realizar uma série de obras civis, cabendo-lhe a decoração do Palácio Olímpio, sede do governo.

a parede principal da sala21. São utilizadas nos murais cores intensas

e fechadas, que combinadas aos lambris de madeira que revestem o trecho inferior da parede, contribuem para a pouca luminosidade do cômodo, apesar do vitral. Merece atenção especial o tratamento pictórico da Sala de Música, onde harpas estilizadas e anjo com instru- mento de corda, pintado no teto, e guirlandas de flores decoram a aba do forro. Referência também se faz ao tratamento da pequena capela, cujas paredes e forro em estuque originalmente apresentavam cores claras e suaves, predominantemente em tons de azul claro e branco, realçando o elemento principal do cômodo, um vitral com a imagem da Nossa Senhora da Conceição22.

Fig. 10 – Pinturas parietais com motivos paisagísticos encontradas no forro do quarto do Comendador Catharino. Fonte: JORDAN et alli, 2006, p. 44.

O estilo neo-rococó, com a predominância de guirlandas de flores e laçarotes, foi reservado aos dormitórios, situados no último andar, cujos desenhos variam na cor, no nível de estilização e geometrização de cômodo para cômodo. Os motivos paisagísticos são raros, sendo encontrados, hoje, no forro correspondente à área que servia de quarto

21 O vitral hoje existente é, segundo a bisneta do Comendador, uma cópia do original francês, que foi retirado.

22 Assim como o da sala de jantar, também este vitral foi substituído quando de uma inter- venção no edifício.

ao Comendador (ver figura 10) e no quarto voltado para a fachada pos- terior. Utilizando-se da técnica do estêncil, as pinturas parecem seguir moldes e modelos de gravuras, comuns na época, ao gosto do cliente. Dos jardins ao mobiliário, as residências burguesas do chamado período eclético, que passaram a atender por várias denominações que identificassem seu status – villas, mansões, solares, palacetes -, são uma manifestação do processo civilizador no espaço da cidade. Neste contexto, a Villa Catharino permanece como o registro de um momento de idealização de uma nova ordem - moderna, civilizada e progressista –, das contradições de um período de grandes transfor- mações, fragmento de uma imagem da Renascença Bahiana, que não se realiza completamente, a não ser na utopia das elites de então.

Maria do Carmo Baltar Esnaty de Almeida − Graduada em Arquitetura e Urba-

nismo pela UFPE, Especialista em Conservação e Restauração de Monumentos e Centros Históricos CECRE-UFBA, Mestre e Doutora em Arquitetura e Urbanismo pelo PPGAU-UFBA. Professora do Departamento de Construção Civil do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia - IFBA. Como pesquisadora, investiga os processos de modernização urbana a partir de meados do século XVIII e a arquitetura eclética, particularmente, a residencial.

Tiago Molarinho Antunes

Introdução

Analisar as informações contidas no desenho de um piso nobre de um palácio situado entre os séculos XVII e XVIII é a intenção deste trabalho. O documento pertencente à Coleção de Iconografia da Biblioteca Nacional de Portugal, está referenciado pela cota D. 148 A. e é um testemunho de uma prática projetual. Uma planta de arqui- tetura que reproduz em desenho bidimensional o piso nobre de um palácio urbano, localizado no Bairro Alto em Lisboa. Nele procuramos encontrar a erudição dos seus interlocutores, expressada nos dados que o documento transporta, e assim contribuir para o progresso do entendimento da anatomia dos interiores na Casa Senhorial em Lisboa. Esta planta cujo estudo já foi apresentado em contexto académico1,

beneficia agora de uma nova oportunidade, ao acrescentar novos dados sobre o documento em análise e assim contribuir para o crescimento

No documento DO III COLÓQUIO INTERNACIONAL A (páginas 77-105)