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Os relatos mais antigos acerca do Pedrógão podem ser encontrados numa compilação de Gomes (2009). Numa notícia elaborada em 1721, pelo pároco da freguesia da Coimbrão, em resposta a solicitação da Academia Real Portuguesa da História, é mencionada a existência de ruinas de uma antiga vila com o nome de Pedrogão. Segundo a descrição desta notícia, esta vila teria uma localização próxima da atual, situada perto da Lagoa da Ervideira, e estando rodeada pelo Pinhal de Leiria e por um vasto areal. É, ainda, descrito que outrora a foz do rio Lis seria neste local, sendo este navegável por grandes embarcações até Monte Real. Hoje em dia a foz do rio Lis localiza-se na Praia da Vieira, cerca de 5 km a sul do Pedrógão, sendo apenas navegável por pequenos barcos. Os blocos de calcário utilizados na construção dos molhes do rio Lis foram extraídos do promontório da Praia do Pedrógão, existindo no local uma depressão resultante dessa exploração, onde hoje existe um parque infantil, mandado instalar pela CM Leiria.

“As noticias desta Freguesia de S. Miguel do Coimbrão deste Bispado de Leiria que se podem dar para a Academia Real da Historia Portugueza são as seguintes:

(…)

No lugar da Ervedeira desta dita Freguesia está huma hermida da invocação de S. Tiago e no portal da porta está o anno 1672, no qual anno, dizem, os moradores mudarão a dita hermida lá de perto do mar, aonde esteve a antiga Ervedeira e hoje são vastissimos areais. E junto da mesma Ervedeira está huma lagoa que tem mais de hum quarto de legoa de comprido e quasi outro tanto de largo e de fundo sete ou oito brassas; e dizem, por tradição muito antiga, que ali foi huma cidade que se fundio e dentro da mesma lagoa, e fora della, há ainda vestigios de cazas e alicerces, donde se tem tirado muita quantidade de pedra; mas as áreas vão cobrindo tudo.

Tãobem na praya do mar, que fica defronte deste lugar do Coimbrão e dista daqui legoa e meya, estão as ruinas de huma villa que chamavão Pedrogão; e ao pé se vê ainda parte de huma grande ponte por onde, dizem, entravão embarcaçoes grandes e pequenas, que indo pello rio asima, que vem de Leiria, chegavão aonde ainda chamão o Porto da Caravella, junto a Monte Real. E agora dista da

Coimbrão e de Junho 5 de 1721.

(Ass.) O Cura Manuel Antunes Brandão.”

Apesar dos poucos registos existentes, há ainda o conhecimento da povoação de Parades, que também terá existido neste mesmo local. Esta pequena povoação terá sido completamente destruída pelo terramoto de 1755 e consequente maremoto.

Numa Memória Paroquial de 1758 relativa à freguesia do Coimbrão, aparece a referência à vila de Entanvim, situada no mesmo local da atual Praia do Pedrógão.

“1 – Fica na Provincia da Estremadura [Emendado de “Beira Baixa”], perto do mar, lego e meya. Pertencente ao Bispado, Comarca, Termo da cidade de Leyria.

(…)

24 – Nam tem porto de mare, nem hé capaz de o ter pelas muntas áreas que sahem do mare; posto que haja alguma tradição que antigamente o fora no rio que sahe do Campo para o mare, entre esta Freguezia e [a] da Vieyra, em tempo que sahia mais para Norte, o qual se cegou com as areas e esteve o Campo alagado alguns anos athe que de la se fazere e arromper-se o Campo que estava em pauis. Porem de ser porto se nam sabe senam por tradiçam. Em o Rio Real do Campo, legoa e meya desviado do mare, se chama ainda hoje huma ponte de pao que tem junto ao lugar de Cravide, Ponte da Caravella. E mais asima junta de Monte Real, Porto de Barquo. E tambem consta por tradiçam havia nesse tempo huma villa ou lugar junto ao mar chamada de villa de Entanvim, de que parece dam ainda noticia os forais do mesmo tempo.

(…)

Posto hé o que poso fielmente informar, Coimbram, de Abril 6 de 1758 anos. (Ass.) O Cura Antonio Pereira.”

O início da vila do Pedrógão, como é hoje conhecida, terá ocorrido em 1836 com o estabelecimento da 1ª Companha. Atualmente, a tradição da arte xávega ainda está presente, existindo 2 Companhas. Através destes relatos é possível compreender que esta é uma zona morfologicamente instável, com grandes movimentações de areias associadas. Até a foz do rio Lis ser fixada, este formava meandros por entre os cordões dunares que se estendem ao longo da costa, nesta zona. Apesar de não existirem registos que permitam confirmar, há quem defenda que a foz chegou a situar-se na Praia do Osso da Baleia, cerca de 15 km a norte da sua localização atual, na Praia da Vieira.

É importante analisar o perfil da costa portuguesa compreendido entre a Figueira da Foz e S. Pedro de Moel. Nesta extensão da orla costeira, não existe nenhuma proteção natural contra a agitação marítima, à exceção do pequeno promontório do Pedrógão, sendo as cotas topográficas baixas. No caso da ocorrência de eventos extremos, como foi o caso do terramoto de 1755, toda esta zona é suscetível a ser inundada e a sofrer danos elevados. Apesar dos efeitos deste terramoto, e consequente

maremoto, não terem sido tão acentuados na zona do Pedrógão como foi na zona de Lisboa, os relatos dão conta da devastação causada com a destruição total de povoações aqui existentes.

Por outro lado, sendo a única estância balnear do Concelho de Leiria, há o interesse de aproveitar as potencialidades que o mar oferece. Para além da pesca, principal fator para a fixação de uma população neste local, há o interesse turístico.

No caso da pesca, à tradição da arte xávega, que apenas é possível em períodos de agitação marítima reduzida (normalmente entre abril e outubro), junta-se a pesca com cana, que é praticada ao longo de todo o ano.

No que toca ao turismo, o Pedrógão tem maior afluência durante a época balnear. Este fator beneficia o comércio local, como é o caso dos cafés/bares existentes ao longo da praia, e os habitantes locais que arrendam apartamentos a turistas durante este período. Com o intuito de promover eventos sociais para dinamizar o Pedrógão e de manter o fluxo turístico fora da época balnear, têm sido várias as propostas ao longo do tempo, mas nem todas têm sido aprovadas, por razões diversas.

Nos anos 50 do séc. XX, foi inaugurado um local de convívio na frente marginal do Pedrógão, intitulado de Casino, pela Sociedade de Defesa e Propaganda da Praia do Pedrógão. Esta sociedade, fundada a 17 de setembro de 1931, foi responsável por diversas intervenções e atividades que contribuíram para o crescimento do Pedrógão. Durante os anos 60 do séc. XX, esteve prevista a construção de uma pousada com piscinas, à semelhança das executadas em S. Pedro de Moel, no promontório. Mais recentemente, foi proposta a construção de campos de golfe e de um hipódromo, em terrenos das Matas Nacionais, adjacentes ao Pedrógão. No entanto, nenhuma destas ações foi aprovada. Na Figura 3 apresenta-se o Ante-Plano do Plano de Urbanização do Pedrógão, de 1964, que mostra a localização do Casino e o loteamento da frente marginal da zona a norte do promontório. Na Figura 4 apresenta-se o Estudo Urbanístico da Praia do Pedrógão, dos anos 60 do séc. XX, que prevê a construção da pousada e das piscinas.

Fig. 4 – Estudo Urbanístico da Praia do Pedrógão dos anos 60 (fonte: Arquivo Municipal de Leiria) Em termos desportivos, durante a época balnear a principal atração para os jovens da região são os campeonatos de andebol de praia, sendo a Praia do Pedrógão palco de uma das etapas. Durante uma semana, a praia regista um aumento do fluxo, devido aos participantes e espectadores.

A Praia do Pedrógão está, também, servida pelo Percurso Leiriense da Ciclovia da Estrada Atlântica, implementado pela CM Leiria. Este troço tem uma extensão de aproximadamente 12 km, tendo como fronteira a norte o troço do concelho de Pombal e a sul os troços do concelho da Marinha Grande. Este percurso, paralelo ao mar, atravessa o Pinhal de Leiria, junto à costa, passando pela Lagoa da Ervideira.

Nas últimas décadas, a prática de desportos como o surf e o bodyboard tem vindo a ser fortemente explorada ao longo de praticamente toda a costa portuguesa. Na região de Leiria, destacam-se os casos da Nazaré e de Peniche, que também tiveram origem em comunidades piscatórias, são hoje uma referência a nível mundial, em termos de desportos de ondas. Outros casos mais próximos do Pedrógão, como a Figueira da Foz ou S. Pedro de Moel, têm, também uma forte tradição na prática destes desportos. O mesmo não se verifica no Pedrógão, devido à menor qualidade das ondas que esta praia oferece. No entanto, a Praia do Pedrógão apresenta excelentes condições para a prática de

kitesurf e windsurf, que podem ser potenciadas. Estes, e outros desportos relacionados com o mar, são

extremamente atrativos, tanto para os praticantes como para espectadores, e capazes de manter um fluxo de utentes constante ao longo de todo o ano.

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