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PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

4.3. I NSTRUMENTOS

Em qualquer investigação, os instrumentos utilizados para a recolha de informação a analisar é preponderante para o sucesso da mesma.

O primeiro instrumento a ser aplicado foi utilizado para a avaliação da personalidade dos participantes. O Inventário de Personalidade NEO (NEO-PI-R) pareceu-nos a melhor escolha pois está aferido à população portuguesa, avalia vários constructos de personalidade e, ainda, está desenhado para ser aplicado a jovens a partir dos 17 anos, (característica que se adequa à nossa amostra, alunos universitários), desde que não sofram de perturbações como psicose e demência e que estejam aptos a completar medidas de auto-avaliação, de forma fiel e válida (Costa & McCrae, 2000).

No que respeita à aplicação da Escala de Auto-Conceito de Competência (EACC), este instrumento pareceu-nos totalmente adequado à população que queríamos analisar, pois também está aferido para a população portuguesa, e porque, de forma muito concreta, analisa um dos constructos que nos propusemos analisar: o auto-conceito de competência, através de dimensões que o caracterizam e sob vários pontos de vista: cognitivo, social e criativo (Faria & Lima Santos, 1998; 2004).

A opção pela realização de uma entrevista semi-estruturada prende-se essencialmente com os desafios que a avaliação do auto-conceito nos propõe: a primazia da experiência subjectiva como fonte do conhecimento; o estudo dos fenómenos a partir da perspectiva do outro e o interesse em se conhecer a forma como as pessoas experienciam e interpretam o mundo que constroem interactivamente (Almeida & Freire, 2003). Neste sentido, e segundo Rubin e Rubin

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(1995, cit. por Monteiro, 2007), a entrevista qualitativa é uma “forma de aceder àquilo que os outros pensam ou sentem acerca dos seus mundos, podendo compreender experiências e reconstruir eventos, nos quais o investigador não participou” (p. 55). É, então, tudo isto que a utilização da entrevista representa: a necessidade de tomar como foco central a experiência dos participantes, enfatizando que nos interessa os processos através quais os alunos excelentes se tornam nisso mesmo e não apenas “quantos alunos…”.

A referida entrevista constituirá um acréscimo à informação recolhida com a EACC, pois focalizar-se-á em recolher informação mais detalhada e reflexiva sobre a forma como cada participante percepciona o seu percurso e que factores foram determinantes, ao longo do mesmo, para que pudesse considerar-se excelente.

3.3.1.INVENTÁRIO DE PERSONALIDADE NEO(NEO-PI-R)

No que respeita à avaliação da personalidade, optámos pela utilização do inventário de personalidade NEO Personality Inventory – Revised (NEO-PI-R; Costa & McCrae, 2000), que tem como responsáveis pela sua adaptação a Portugal, Margarida Pedroso Lima e António Simões (1995).

O NEO-PI-R é um inventário de personalidade constituído por cinco domínios e trinta facetas e cada uma delas mede traços relacionados com Neuroticismo, Extroversão e Abertura à Experiência, Amabilidade e Conscienciosidade, possibilitando desta forma uma avaliação compreensiva da personalidade adulta.

No entanto, a análise destes domínios dá-nos uma visão mais geral e superficial do perfil do sujeito, sendo necessário recorrer às facetas que cada domínio inclui para melhor conhecer o tipo de personalidade que o individuo apresenta. Assim, para melhor compreender o domínio Neuroticismo, tomaremos em atenção as facetas Ansiedade, Hostilidade, Depressão, Auto-Conscienciosidade, Impulsividade e Vulnerabilidade. No que respeita às facetas do domínio Extroversão, estas são Acolhimento Caloroso, Gregariedade, Assertividade, Actividade, Procura de Excitação e Emoções Positivas. Para uma análise mais detalhada da Abertura à Experiência é necessário prestar atenção às facetas Fantasia, Estética, Sentimentos, Acções, Ideias e Valores. No que diz respeito à Amabilidade, as suas facetas são Confiança, Rectidão, altruísmo, Complacência, Modéstia e Sensibilidade. Por último, o domínio da

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Conscienciosidade é composto pelas facetas Competência, Ordem, Obediência ao Dever, Esforço de Realização, Auto-disciplina e Deliberação.

3.3.2.ESCALA DE AUTO-CONCEITO DE COMPETÊNCIA (EACC)

A Escala de Auto-Conceito de Competência (EACC, Raty & Snellman, 1992), cuja adaptação à população portuguesa esteve a cargo dos Professores Doutores Luísa Faria e Nelson Lima Santos (1996).

A EACC compreende 6 subescalas, num total de 31 itens, avaliados através de urna escala de Likert de 5 pontos, que avalia o grau em que os sujeitos possuem características que definam o seu auto-conceito. Estes itens avaliam o auto-conceito de competência social, nas subescalas de "cooperação social" e "assertividade social", o auto-conceito de competência cognitiva, pelas subescalas "resolução de problemas", de "sofisticação ou motivação para aprender" e de "prudência na aprendizagem" e, finalmente, o auto-conceito de competência no domínio da criatividade, através da subescala "pensamento divergente".

Analisemos, então, o que cada subescala avalia.

1) Resolução de problemas (constituída por 7 itens), que avalia a percepção de competência acerca das aprendizagens, da resolução de problemas e da aplicação dos conhecimentos à prática, que se verifica em itens como, por exemplo, “Encontro

facilmente o essencial dos assuntos”;

2) Sofisticação ou motivação para aprender (composta por 5 itens), que avalia a percepção de competência no domínio do investimento e da motivação na aprendizagem, constituída por itens como “Interesso-me por assuntos que exigem

reflexão”;

3) Prudência na aprendizagem (constituída por 4 itens), que avalia a percepção de competência no domínio da “precisão e profundidade” na aprendizagem e que se verifica através de itens como “Sou preciso(a) nas minhas actividades”;

4) Cooperação social (composta por 6 itens), que avalia a percepção de competência no que respeita à cooperarão com os outros e que se analisa através de itens como “Tenho em consideração os outros”.

5) Assertividade social (constituída por 5 itens), que avalia a percepção de competência no domínio social, nomeadamente a capacidade para expressar

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opiniões, travar conhecimentos e iniciar acções, constituída por itens como, por exemplo, “Arrisco-me a fazer valer a minha opinião”;

6) Pensamento divergente (composta por 4 itens), que avalia a percepção de competências manuais, físicas e musicais, ou seja, competências ligadas à criatividade, que se verifica em itens como “Tenho imaginação criativa” (Faria & Lima Santos, 1998; 2004).

3.3.3.ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

Partindo da opção por uma metodologia qualitativa, a entrevista pareceu-nos o método que melhor se ajustava às necessidades do estudo, principalmente porque nos interessa os processos através quais os alunos excelentes se tornam nisso mesmo. Deste modo, foi realizada uma entrevista, semi-estruturada, a cada participante, adaptada de estudos anteriores (e.g. Monteiro, 2007), baseada em alguns aspectos que nos parecem determinantes no processo evolutivo dos participantes e sob os quais a mesma será analisada e interpretada.

Após a transcrição da entrevista foi possível obter uma grande quantidade e diversidade de informação, a partir da qual, posteriormente, se estabeleceu uma correspondência com categorias definidas, organizando os conteúdos de forma a obter um significado claro e comparável, de modo poderem extrair-se conclusões.

O guião da entrevista foi elaborado considerando tópicos que permitissem explorar o percurso biográfico e avaliar a reflexão do sujeito sobre o mesmo, considerando: a) o domínio pessoal – dados pessoais e familiares, como a influência da sua família e da percepção dos outros no seu percurso e o auto-conceito que apresenta; b) o domínio académico – rendimento ao longo de todo o percurso escolar, disciplinas preferidas e que influência tinha esse interesse nos resultados finais, influências dos professores, motivação e hábitos de estudo, satisfação académica e competências auto-regulatórias; e c) o domínio extra-curricular – hobbies e experiências de vida significativas e determinantes no seu percurso académico.

A entrevista respeitou a organização temporal natural das experiências relatadas, acompanhando o percurso educativo dos sujeitos, de modo a facilitar a organização de pensamento e a descrição por parte dos sujeitos das suas vivências e experiências (consultar anexo C e D para informação mais detalhada).

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