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Nuances de identidade para si e identidade para o outro: as imagens de professores

Capítulo 7 CONFIGURAÇÕES IDENTITÁRIAS MARCADAS PELA

7.1 Nuances de identidade para si e identidade para o outro: as imagens de professores

Os professores falaram sobre como se veem e atribuem sentidos às imagens de si. E esses sentidos participam da constituição das identidades profissionais dos profes- sores de canto. Essas imagens de si, também revelam um discurso não apenas sobre como esses professores se veem, mas também sobre como gostariam de ser vistos. Su- zanna explicita a necessidade de conhecer o aluno e dar liberdade à ele, ter uma relação professor/aluno de liberdade. Violeta e Giovani falam sobre serem professores incenti- vadores e motivadores para que seus alunos cantem. Otávio busca ser um facilitador ao transmitir os seus conhecimentos sobre o canto aos alunos. Além disso, os quatro pro- fessores falaram sobre a necessidade de “conhecer o aluno”, “estabelecer um vinculo com o aluno”, “ouvir os objetivos do aluno”.

Falar de si implica um olhar sobre si mesmo perante os outros e perante os luga- res em que esses professores ocupam, além das suas experiências, suas trajetórias e suas práticas pedagógicas. Implica também uma discursividade sobre se situarem no tempo, no espaço e nas relações que eles constroem. Dubar (2005) ao tratar sobre a temática das identidades explicita a dualidade da mesma. “Identidade para si e identidade para o outro são ao mesmo tempo inseparáveis e ligadas de maneira problemática. Insepará- veis, uma vez que a identidade para si é correlata ao outro e a seu reconhecimento: nun-

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ca sei quem eu sou a não ser no olhar do outro” (DUBAR, 2005, p. 135). Dessa forma, o autor reconhece o problema sobre essa dualidade: embora exista o olhar do outro sobre mim, a experiência do outro não é vivida por mim. Dessa maneira, ao falarem sobre si e projetarem imagens de si, os professores revelam essa dualidade, reconhecem suas ima- gens pelos olhares dos outros, mas também sobre as suas experiências próprias.

Ao iniciar as entrevistas, os professores foram indagados sobre o que é ser pro- fessor de canto e como eles se veem professores de canto. As respostas perpassaram por toda a entrevista. A fala de Suzanna ilustra o fato de que ser professor de canto não é apenas dar aulas de canto e de técnica vocal. A professora revela que “ser professor de canto engloba “n” coisas” (Entrevista Suzanna, p.1). Suzanna explicita que em suas aulas ela trabalha com história da música, teoria, chegando a ser até mesmo um pouco psicóloga ouvindo os problemas e as dificuldades nas relações relatadas por seus alunos. Assim, Suzanna evidencia que é necessário perceber o objetivo do aluno em relação às aulas de canto, ou seja, o que ele quer alcançar para posteriormente iniciar o trabalho. É através dessa conversa com o aluno que a professora usa a palavra liberdade. É preciso dar uma liberdade ao aluno e ter uma liberdade enquanto professora.

Sobre essa mesma perspectiva de Suzanna, Violeta explicita que é necessário “captar” e retirar do aluno o melhor que ele pode, desta forma é necessário conhecê-lo como ser humano primeiro. À medida em que a professora conhece o aluno, o trabalho em relação ao canto começa a ter um direcionamento de acordo com as particularidades de cada um. No decorrer da entrevista a professora salienta: “eu sempre me vi dando aula” (Entrevista Violeta, p. 4). A partir dessa afirmação, a docente narrou sobre o início da sua carreira e como no decorrer da mesma ela conseguiu montar projetos como mu- sicais, recitais fora da escola, óperas, parceria com bandas dentre outros. “Eu vi que conseguia dentro do ensinar, ensinar alguma coisa extra sala de aula” (ibid, p. 4). A par- tir dessa imagem, a professora refere a si mesma como uma pessoa que incentiva o can- tor, que apoia independentemente das condições do aluno. Ao realizar esses projetos de apresentação, Violeta diz ser uma oportunidade para os alunos cantarem, uma oportuni- dade de experiência para esses alunos. Assim, ela se vê como uma incentivadora, uma professora que busca, de alguma forma, uma oportunidade para os alunos aprenderem a cantar também por meio da performance e nos diferentes espaços.

Uma imagem muito próxima a de Violeta é a de Giovani. O professor se diz romântico, vê o ensino do canto com um olhar romântico no sentido de que qualquer aluno, dentro das suas possibilidades e dificuldades, é capaz de cantar. Desta forma,

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Giovani faz referência a si mesmo como um “instrumento motivador” para que seus alunos cantem. O professor enfatiza que para aula de canto fazer sentido é preciso esta- belecer um vínculo entre o professor e o aluno, é necessário uma relação de confiança para que o trabalho aconteça. Além disso, o professor destaca a importância dos alunos terem oportunidade de cantar em grupo, socializar e estabelecer relações interpessoais em prol do canto. Para que isso aconteça, o professor vê a oportunidade dos seus alunos particulares cantarem no coral regido por ele. Assim, Giovani explica que um aluno particular talvez nunca teria a oportunidade de cantar em um coral. O professor se vê como esse instrumento motivador para que os alunos participem e cantem no coral. Pos- sivelmente, por ter sido importante vencer a timidez por meio da música em um projeto coral é que Giovani se vê como esse “promotor de eventos”, ou seja, promotor de mo- mentos de apresentações musicais com várias pessoas cantando juntas.

O professor Otávio não se vê como um motivador ou incentivador, mas como um “facilitador”. Ao falar sobre a sua trajetória como aluno de canto, o professor sem- pre faz atribuição a uma forma de ensinar com praticidade, com simplicidade. O docen- te explicita que não quer ensinar seus alunos da mesma forma como foi ensinado. Se- gundo o professor, quando ainda era aluno, sentiu dificuldade com a compreensão da linguagem usada por seus professores. Para Otávio, os termos usados pelos professores de canto o deixava confuso porque ele já cantava antes de fazer aula e, de repente, can- tar se tornou complicado. Assim, o professor explicita que procura ensinar de uma ma- neira prática, com termos do cotidiano, facilitando o aprendizado e o desenvolvimento no canto por parte dos alunos. Ao refletir sobre a sua prática pedagógica, Otávio “se vê no caminho”, segundo ele, a partir dos resultados dos seus alunos dentro do Conservató- rio que o faz acreditar estar no caminho certo.

Dubar (2005) sobreleva que a identidade é o resultado de um só tempo “estável e provisório, individual e coletivo, subjetivo e objetivo, biográfico e estrutural, dos diver- sos processos de socialização que, conjuntamente, constroem os indivíduos e definem instituições” (DUBAR, 2005, p. 136). Com isso posto, é possível compreender que vi- vemos com dualidades e que é a partir da socialização que configuramo-nos nas institu- ições, por exemplo.

Ao pertencer a um grupo de professores de canto de Uberlândia, os participantes trazem alguns fatores coletivos, trajetórias e situações semelhantes. Os professores de canto dessa pesquisa são também preparadores de corais, performers e exercem diferen- tes papéis nos diferentes lugares que ocupam. É também a partir da demanda e da reali-

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dade do lugar em que exercem as profissões que a identidade vai se configurando e mostrando algumas mudanças no decorrer do tempo. Dessa maneira, o profissional do canto se depara com diferentes dualidades em suas trajetórias e no exercício profissio- nal. A cada momento, essas dualidades pendem para uma forma de atuação. Os profes- sores dão aula de canto, mas também são regentes e também são cantores e também exercem várias outras atividades. A relação da construção da identidade profissional em meio às dualidades representa uma relação paradoxal entre diferentes atuações. Ampli- am-se as identidades profissionais por haver dualidades e não dicotomias, ou seja diver- sas formas de atuações.

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