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O 3º Teatro Oficina – o Terreiro Eletrônico

O novo prédio do Teatro Oficina ocupa, praticamente, toda a extensão do terreno. As paredes de tijolos com arcos da fundação original foram mantidas. Acima delas se erguem as novas paredes, uma grande janela lateral, e uma cobertura com sistema que permite mobilidade: o teto se abre.

Há ainda uma fonte, um canteiro próximo da janela, e um fosso central que permite que se acenda uma fogueira no centro do teatro: todos os elementos da natureza clamados no texto de Bacantes estão presentes no projeto arquitetônico.

As galerias laterais permitem que o público se acomode ao longo do palco-passarela-rua. Esta rua, hoje chamada de Rua Lina Bardi pelo grupo, se inicia na entrada do teatro, na Rua Jaceguai, e pode possuir, ou não, saída pelos fundos do teatro. Isto depende do momento e de como estão as negociações com o Grupo Silvio Santos.

O palco-passarela, com o público disposto em galerias/andaimes, exige um trabalho de movimentação, corporeidade e projeção de voz totalmente diferente de qualquer outro tipo de palco. As construções de cenografia e iluminação também fogem ao usual, neste caso, não somente pelo formato do teatro, mas também pela presença da grande janela que permite a vista do exterior e a entrada de luz da rua.

Figura 4 - Estudo para a planta do novo Oficina. Fonte: BARDI, ELITO, CORRÊA, 1999, p.05 Figura 5 – Projeto do 3º Teatro Oficina Fonte: BARDI, ELITO, CORRÊA, 1999, p.08

Enquanto Silvio Santos expandia seus negócios, aumentando os prêmios do carnê do Baú, produzindo programas de televisão e adquirindo emissoras de televisão, as demandas práticas e burocráticas de suas empresas também se expandiam. Para cada nova atração, ou produto, vendidos pelo apresentador, surgiam novas questões administrativas, de produção, de publicidade, editoriais, entre outras.

Logo no início do Baú da Felicidade, na década de 60, Silvio percebeu que seria mais interessante abrir novas empresas que atendessem as demandas de seus próprios negócios, do que terceirizar estes serviços. A partir daí o empresário passou a abrir ou adquirir novas empresas nas mais diversas áreas. Com tantas novas companhias sob seus cuidados, o apresentador cria um conglomerado que abrigue todas suas demandas.

Nesse momento, Silvio já tinha uma imagem consolidada como homem de negócios. Até

mesmo pelo expressivo número de

funcionários em suas empresas, é de se notar que o grupo era um negócio “parrudo”. Em junho de 1972, Silvio Santos criou a holding Silvio Santos S/A Administração e Participações para conseguir unificar a administração de todas as suas empresas, que, na época, totalizavam dez. (BATISTA, 2017, p.108)

Desta forma nasce o que é hoje conhecido como Grupo Silvio Santos. O grupo empresarial já atuou, ou atual ainda nos dias de hoje, principalmente na área da comunicação (SBT, SBT Filmes, SBT Music, SBT Licensing), no setor financeiro com títulos de capitalização, previdência e seguro (Liderança Capitalização, Aspen Seguros, Perícia Corretora de Seguros, Banco Panamericano39); no setor de

cosméticos (Jequiti); setor hoteleiro (Hotel Jequitimar); setor imobiliário (Sisan), entre outros.

2.

7.

O

Império do Gr

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39. O Banco Panamericano, criado em 1990, foi um dos principais fiascos econômicos do Grupo Silvio Santos. O banco faliu, com uma dívida de mais de 4 bilhões de reais e foi “vendido” para o grupo BGT Pactual, que não teve que retornar nenhum valor para o GSS, uma vez que assumiu toda a dívida do banco.

O Grupo Silvio Santos é uma engrenagem autossustentável, que se organiza em um sistema de codependência entre as empresas do grupo. Este sistema se sustenta desde os primeiros momentos do Baú da Felicidade: Os carnês são vendidos e levam à sorteios nos programas da televisão. Da mesma maneira os programas na televisão têm audiência pois há o interesse nos sorteios e nos prêmios do baú. O SBT se autofinancia com o Baú da Felicidade, da mesma maneira que todas as empresas do GSS se apoiam prestando serviços uma para as outras. O público alvo do Grupo Silvio Santos é, prioritariamente, o público do SBT que compra os carnês do Baú. Toda a programação da rede é voltada para esta audiência: Durante a semana a programação é composta prioritariamente por novelas (uma boa parte destas importadas do México); Programas de auditório ou entrevistas, baseados em conflitos pessoais, fofocas sobre artistas, ou competições entre os participantes (neste grupo se encontram programas como “Casos de Família” ou “Teste de DNA do Ratinho”, que normalmente colocam os participantes em situações constrangedoras); Programação infantil, que o próprio Silvio Santos faz questão de destacar como essencial para sua emissora (como em uma estratégia de formação de público); E uma singela programação jornalística com algumas inserções ao longo do dia e sem muito compromisso com críticas especializadas, ou pontos de vista, chegando em alguns momentos a um tom bastante sensacionalista.

Durante os finais de semana, principalmente aos domingos, entram em cena os programas de auditório e sorteios, muitos deles apresentados pelo próprio Silvio Santos. São nestes programas que acontecem os sorteios do Baú da

Felicidade. São nestes programas que os sonhos se tornam realidade. São estes programas que arrastam caravanas do Brasil inteiro para os estúdios do SBT em São Paulo, semanalmente.

Os cenários destes programas seguem, normalmente, a mesma lógica espacial: Plateia do tipo auditório, sempre iluminada, em frente a um palco, normalmente no mesmo nível da plateia. No palco estão elementos que normalmente servem às brincadeiras ou sorteios que serão realizados ali. Existem, em muitos momentos, elementos bastante glamourizados, com brilhos e sinais que remetem à riqueza e aos prêmios sorteados, como casas e barras de ouro.

E assim, encabeçando uma grande holding multifacetada e um império nas comunicações, Silvio Santos se glorifica como símbolo máximo do sucesso empresarial e do mundo das comunicações. Como podemos observar, a trajetória do empresário mescla constantemente os caminhos do apresentador de televisão com as ações do comerciante. E é desta forma que Silvio melhor se identifica, como um comerciante, um vendedor.

Todo seu império se constrói a partir da vontade de vender seus produtos. O apresentador age como se fizesse televisão por hobby e abre uma nova empresa a cada nova oportunidade de mercado que encontra. Não parece, também, apegado aos seus negócios, sem demonstrar grandes preocupações quando algum ramo de sua holding sofre fracassos financeiros, contanto que consiga realinhar a balança com lucros em outras áreas e que sempre tenha seu canal de comunicação em massa com seus espectadores para que possa continuar a vender esta

imagem de sucesso e prosperidade que é encontrada no SBT.

Este sim é o principal produto que Silvio Santos oferece: a imagem de sucesso e prosperidade, afinal de contas, se um camelô das ruas do Rio de Janeiro conseguiu se transformar no dono de um império empresarial, qualquer um também pode, talvez apenas, com uma pequena ajuda da sorte e dos sorteios realizados pelo Baú da Felicidade.