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O âmbito e a importância da comunicação municipal

Capítulo VII A Comunicação Municipal

1. O âmbito e a importância da comunicação municipal

Os municípios portugueses, segundo Oliveira (2012, p. 49), começaram a dar importância à comunicação a partir dos anos 80, do século XX, altura em que sentiram necessidade de explicar aos munícipes e cidadãos em geral as suas opções políticas, isto é, perceberam que “precisavam de comunicar”72

, se queriam ser reeleitos. Esta necessidade de comunicar e informar é uma consequência da autonomia e das competências atribuídas ao poder local a partir do 25 de abril de 1974. Foi a partir daí que surgiram os gabinetes de imprensa com o objetivo de se encarregarem pela

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comunicação municipal, já que na opinião de Camilo (2006) e Camilo (2010), os municípios são considerados as âncoras do desenvolvimento local, ou seja, a sua atuação ultrapassa os limites do serviço público, integrando também as dinâmicas sociais, económicas, culturais e até ambientais dos concelhos, o que leva a um maior grau de participação e de exigência das populações locais relativamente à atuação dos autarcas e à qualidade de serviços prestados pelos aparelhos municipais. Assim, Camilo (1998, p. 15) define a comunicação municipal como “um conjunto global, coerente e contínuo de ações comunicacionais concretizadas pela estrutura institucional do município, a Câmara Municipal, a Assembleia Municipal ou o Presidente da Câmara”. É coerente na medida em que é utilizada para resolver problemas e alcançar objetivos concretos. É contínua porque acompanha as atividades públicas do Município. É concreta porque tem como referência a comunidade local. O autor ainda acrescenta que é interativa porque se pode assumir como um espaço de diálogo entre os cidadãos e os seus representantes políticos73.

Hoje em dia é impensável, segundo Oliveira (2012), gerir um município sem recorrer à comunicação de forma permanente, informando os munícipes das deliberações, iniciativas, planos e ações da Câmara Municipal. Da mesma opinião é Canel (2006, p.19) que assume que “não há instituição pública sem comunicação” e, como salienta, Alhama (2010) a comunicação municipal é um instrumento poderoso para explicar e legitimar as decisões políticas levadas a cabo durante o mandato político, ao que Soushard e Wahnich (1995) acrescentam que, é uma ferramenta poderosa que os políticos têm ao dispor para se darem a conhecer. Esta importância é reiterada pela Lei, que diz que a comunicação municipal poderá ter um papel decisivo na autarquia.

A comunicação municipal pode, segundo Camilo (1998), assumir três vertentes: a da informação municipal, a da comunicação política e a da comunicação simbólica. A informação municipal diz respeito à informação concelhia e às atividades específicas “através das quais o município, composto por um aparelho político e administrativo, se vê confrontado com a necessidade de explicar/justificar a sua ação ou de sensibilizar os munícipes para a concretização de determinados objetivos”74. A comunicação política:

“é uma modalidade que está constantemente presente no município, tendo em conta que este é um aparelho politico administrativo sustentado por mandatos políticos, logo a comunicação municipal não escapa às tentações da legitimação

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Camilo, 1998, pp. 15-29.

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política por parte dos representantes municipais, sempre que está em jogo a explicação ou divulgação do trabalho municipal de uma equipa eleita politicamente”75

.

A comunicação municipal simbólica prende-se com as “diferentes relações que as populações estabelecem com espaços que as rodeiam”.76

O autor acrescenta ainda que dentro da comunicação municipal simbólica existe a comunicação de natureza política (que diz respeito à forma como as populações se movimentam politicamente no concelho) e a de natureza administrativa (que incide no consumo público local, ou seja, tem a ver com as necessidades coletivas das populações e com a forma como essas necessidades são satisfeitas).

Camilo (2010) concebe ainda os municípios como órgãos autárquicos, cuja natureza é política e administrativa em simultâneo e cujas atividades municipais, como salienta Caetano (citado por Camilo, 2010, p. 15), se orientam em função dos princípios da eficácia (ou seja, da atuação dos órgãos administrativos, cujo objetivo é desenvolver as ações municipais) e da democracia (isto é, da atuação dos órgãos políticos, que têm como funções definir e supervisionar as atividades desenvolvidas pelos órgãos administrativos). É de salientar ainda que, as ações políticas dizem respeito à Assembleia Municipal, ao Presidente da Câmara e à equipa de vereação, e as ações administrativas têm a ver com a conduta da Câmara Municipal. Nesta perspetiva, Camilo (1998) defende que a atuação da comunicação municipal se verifica a três níveis: comunicação administrativa, comunicação político-administrativa e comunicação política. Nesta linha, a comunicação administrativa consiste na promoção dos serviços públicos realizados pela Câmara Municipal, ou seja, é a comunicação do produto. Este tipo de comunicação faz parte das estratégias de marketing municipal e pode ser utilizada para comunicar um novo serviço ou para justificar um aumento de taxas, por exemplo. A comunicação político-administrativa, à semelhança da comunicação política, abarca as ações do presidente da Câmara, cujos objetivos são estimular a participação pública e o aperfeiçoamento dos serviços municipais. Por último, a comunicação política engloba todas as interações que servem de base à participação pública no concelho, ou seja, todas as ações que dizem respeito aos órgãos políticos (Assembleia Municipal e Presidente de Câmara). Camilo (1998) ainda refere que a comunicação municipal pode assumir duas dimensões: referencial e simbólica. A

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Camilo, 1998, p. 19.

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comunicação referencial integra as atividades municipais e a comunicação simbólica tem a ver com as dinâmicas locais.

Relativamente às áreas de intervenção da comunicação municipal, Oliveira (2012, p. 52) defende que a comunicação municipal é política e que se enquadra na definição de Maria José Canel77, porque “resulta de uma atividade da instituição Câmara Municipal por decisão dos seus responsáveis e consiste numa interação de troca de mensagens a partir de decisões de carácter político, que implicam (…) a comunidade do Município”. Comunicar numa instituição pública, como é o caso de uma autarquia, é muito diferente de comunicar numa instituição privada. Segundo Canel (2006)78 essas diferenças manifestam-se no carácter temporal da comunicação, já que está sujeita aos prazos eleitorais; na seleção de pessoal; nos condicionalismos legais e no tipo de público. Para além das diferenças, este tipo de comunicação depara-se com vários problemas práticos que dificulta, muitas vezes, a sua execução, entre os quais se destaca o excesso de informação, a tensão, o stress, a burocracia hierárquica, as realidades políticas, a não valorização da comunicação por parte dos políticos, a disseminação da tarefas e das unidades de comunicação. Dadas as suas especificidades, uma instituição pública tem necessidade de comunicar a diferentes níveis, com destaque para a comunicação intrapessoal, interpessoal, de grupo, organizacional e pública; de identificar muito bem os destinatários das suas mensagens e de ter comunicadores com competências para receber e transmitir informação rapidamente.

Em modo de resumo, e segundo Camilo (1998), a comunicação municipal é um regime de difusão pública das deliberações municipais ou de legitimação político-eleitoral; é um recurso técnico utilizado para sensibilizar as populações a adotarem determinados comportamentos; é um canal de participação pública; tem um carácter extra concelhio; é um recurso vantajoso para a promoção corporativa dos concelhos a nível externo e é uma estratégia para os municípios justificarem as suas políticas perante os cidadãos que cada vez estão mais exigentes.

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Canel (2006, p. 27) defende que a comunicação política “é a atividade de determinadas pessoas e instituições (políticos, comunicadores, jornalistas e cidadãos), que em resultado da interação, se produz um intercâmbio de mensagens com as quais se articula a tomada de decisões políticas, assim como a sua aplicação na comunidade”.

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