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O acesso “ilimitado” à televisão

Capítulo 2 A televisão como médium de comunicação singular

2.3 As empresas de comunicação televisiva

2.3.2 O acesso “ilimitado” à televisão

Na comunidade telemática existe hoje a consciência de que a televisão está em vias de escutar os seus figurinos devido à repetição de grelhas, simetria nos alinhamentos dos prime time e de exploração dos seriados e concursos, primos entre si, na esmagadora maioria dos casos.

As grelhas da programação televisiva nacional e internacional possuem padrões semelhantes. Os ajustamentos realizados de forma esporádica limitam-se a alterar conceitos e soluções já ensaiadas. O sucesso planetário da televisão tradicional radicou nas qualidades intrínsecas do sistema de comunicação de massas que soube responder com eficácia às necessidades informativas e de comunicação da sociedade de segunda vaga, segundo Alvin Toffler, escritor e futurista (Toffler, 1984).

O modelo de emissão unilinear tem regras bem definidas a nível conceitual e técnico. Essas regras são delimitadas por fronteiras relativas à emissão-recepção e para as fórmulas que definem as grelhas de programas. É importante constatar que as tentativas frustradas da melhoria da televisão analógica se centraram essencialmente sobre questões de âmbito tecnológico, com a indústria dos conteúdos a ser relegada para um plano secundário.

Após a introdução da cor nas emissões, as iniciativas de melhorias no sistema ocorreram essencialmente a nível das áreas técnicas. Assim, por exemplo, as tentativas nipónicas e europeias da chamada “televisão de alta definição” iniciada nos finais dos anos setenta, assentaram exclusivamente em melhorias da tecnologia que almejava optimizar a qualidade de resolução e definição de imagem, tanto o projecto japonês MUSE, como o seu rival, o europeu HDMAC foram extremamente dispendiosos e acabaram por ser fracassos, uma vez que ignoraram as capacidades de compressão/descompressão digital das imagens em movimento, que os algoritmos criados nos laboratórios dos Estados Unidos propiciavam.

Desde 1972 que a tecnologia nipónica tentou melhorar a qualidade das emissões, tentando aproximar a imagem televisiva da qualidade da película cinematográfica (Cádima, 1999).

Em 1986, o Japão lançou o sistema HI-VISION no decorrer dos Jogos Olímpicos de Seoul, sem conseguir entusiasmar os mercados nacional e internacional. Igualmente em 1986, a Europa, apoiada pelos Estados Unidos da América, implementou uma norma de televisão de alta definição, conhecida pela sigla HD-MAC. Esta tentativa de normalização não impunha uma ruptura com o parque de receptores instalado mas com a sua evolução modular.

Em 1992, durante os Jogos Olímpicos de Inverno realizados em Albertville o sistema foi lançado mas abandonado um ano mais tarde (ibid).

Desde a sua criação que a televisão emite segundo fluxo de sinais gerados nos estúdios, sai da estação emissora e é captado pelas antenas ligadas aos receptores. A acção das ondas electromagnéticas (frequência) é que torna possível a emissão de televisão.

As estações emissoras modulam e transmitem o sinal através de antenas poderosas que reverberam circularmente. O espectro electromagnético é considerado um bem escasso que deve ser criteriosamente gerido, o que levou o Instituto de Comunicações de Portugal a permitir apenas quatro estações emissoras no espectro nacional, a RTP1, a RTP2, a SIC e a TVI. Esta rede de emissores é potenciada por um conjunto de retransmissores que amplificam o sinal em zonas onde a emissão é captada de forma medíocre ou onde nem sequer chega.

O crescimento de qualquer organização humana e tecnológica, produtora de comunicação, fundamenta-se na capacidade de assimilar e integrar inovações que permitam sobreviver à revolução comunicacional em curso. O projecto revolucionário em curso foi uma expressão em voga logo após o 25 de Abril de 1974 e serviu para caracterizar as várias mudanças na área da comunicação e informação operadas em Portugal, que afecta a sociedade no seu todo.

A máxima em voga nos media tradicionais afirma que para triunfar no século XXI é necessário “pensar globalmente” e “agir localmente” (ibid), uma vez que existe um maior número de ofertas e mais apelativas no campo audiovisual.

A revolução no mundo da comunicação exige que se construam dispositivos tecnológicos e os pensadores dos fenómenos da comunicação devem compreender o que acontece no mundo das tecnologias para compreender o movimento cultural e civilizacional pós Gutemberg. Os tecnólogos fundamentalistas devem problematizar com seriedade as consequências comunicacionais, sociais, culturais, económicas e civilizacionais das máquinas que dão corpo à galáxia de McLuhan (ibid).

São ainda impossíveis de analisar com rigor todas as consequências económicas, sociais, morais e politicas decorrentes da massificação televisiva dos últimos anos. De uma forma impressiva, sente-se o impacto daquela “pequena janela” aberta ao mundo que rasgou horizontes, modificou hábitos, alterou a organização familiar, impôs padrões de consumo e, em alguns casos, reformulou ideários políticos, religiosos e morais.

Crê-se que uma boa parte da história das mentalidades do século XX está marcada pela omnipresença televisiva, tanto a nível individual, como global. A história da televisão marca e deixa boas e más memórias dado que por vezes o ser humano não se consegue libertar, devido à sua característica massificante, a televisão não esgota o seu impacto com o final das emissões. O seu efeito aglutinador é um facto digno de relevo e, no nosso país, perdurou durante algumas décadas em que a emissão era monopolizada apenas por um ou dois canais estatais. A desmultiplicação da oferta televisiva pulverizou as audiências, com o aparecimento dos canais privados Sociedade Independente de Comunicação e da Televisão Independente.

As mudanças imprevistas de canal por parte de muitos espectadores são um dos sintomas da incapacidade dos media em fidelizar audiências; a mudança de canal não se deve apenas à fraca qualidade dos programas mas, à carga publicitária intensa que se sobrepõe aos conteúdos que elas veiculam. O zapping é uma forma imperativa que persuade ao consumismo. Este apelo consumista que a publicidade impõe, gera assim dramas individuais e familiares, uma vez que a televisão ejecta mensagens fascinantes e imagens que remetem para o luxo e bem-estar a que a maioria dos portugueses não pode aceder devido aos parcos recursos económicos. Os largos fluxos publicitários que os canais nacionais veiculam são também uma manifestação evidente de grande fragilidade económica das estações emissoras de

televisão. Ao disputarem entre si um mercado assente sobre uma economia débil, as estações emissoras descem as taxas do minuto publicitário para verbas concorrenciais minimalistas. Crê-se pois que o ciclo vicioso a que se chegou no final dos anos noventa, dificilmente será quebrado devido ao factor económico-financeiro necessário para poder sustentar a manutenção dos

media.

Assim, os factores que influenciam o consumo de televisão são variados, passando essencialmente pela natureza diversa, sempre relacionada com a oferta e o contexto. O tipo de programas que se emite e o grau de satisfação ou de interesse por parte dos espectadores são factores essenciais para a qualidade do serviço prestado que se reflectirá nas audiências do público. Também são importantes os valores e as ideologias transmitidas, afectos aos gostos e preferências dos espectadores, interagindo com os estilos de vida e as acessibilidades à televisão e aos seus conteúdos, uma vez que nos dias de hoje a maior parte da oferta televisiva é toda ela paga e prestada por empresas de comunicações, por exemplo a Zon e a Meo. Muitas das vezes, senão na maior parte delas, as práticas de consumo de televisão interligam-se com os estilos de vida, ou seja, as preferências e escolhas dos espectadores. Mas, por vezes nem tudo corre da melhor maneira, porque em muitos dos lares, quando só existe uma televisão e os espectadores têm preferências diferentes, torna- se complicado articular os horários e programas a visualizar, porém, a televisão faz com que a família toda se reúna com o objectivo de assistirem ao que será transmitido, torna-se efectivamente numa forma de reunião das pessoas que vivem na sua própria habitação. Para os mais novos, é uma forma fácil e barata de entretenimento, pois desde muito novos gostam de assistir à televisão e assim vai-se tornar um hábito ou preferência, facilitando o controlo dos filhos por parte dos pais, pois estão em casa livres dos perigos que lhes possam acontecer, enquanto tentam distrair-se no exterior. Cada vez mais se assume como uma influência para os mais novos o facto de existir uma televisão no seio familiar e na sua realidade quotidiana. Assim, da televisão pode ser feito o tema de conversa das crianças em casa e os adultos devem ouvir e comentar os programas a que elas assistem e o assunto que lá se desenrola, desmistificando certos conceitos.