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3.4. Interpretação de dados e discussão de resultados

3.4.3. O acompanhamento contínuo da APA

Após o contacto do utente, todo o trabalho feito a nível de atendimento e acompanhamento fica registado, “não é só estar e a falar as respostas às pessoas no atendimento presencial, há também o atendimento telefónico, esse tanto um como outro, há sempre um trabalho de gabinete, porquê há um trabalho de gabinete de tudo que se fez, ou seja, tem de estar tudo organizado de forma escrita” (E. Margarida)

Acabamos por perceber que existe todo um protocolo universal que é processado internamente e posteriormente introduzido na base de dados da APAV: “há acompanhamento, mesmo agora há ligação nacional, por internet, é automático, os processos são logo introduzidos e são logo automáticos, introduzidos na base de dados, mas mesmo em Lisboa há supervisão, há isso tudo que é necessário” (E. 4)

Após a abertura do processo, seja presencial seja por outros meios de comunicação, “os utentes são sempre encaminhados, não é? Esses numa fase posterior ao primeiro pedido de apoio, se eles não nos contactaram, nós próprios contactamos para saber que forma foi resolvida a situação e o estado em que está. Até para nos precavermos a nós, de entre os

65 Gabinetes e técnicos de que aquela pessoa está em segurança. Isto está mais ligado a crimes de violência doméstica, então é sempre feita essa monotorização e esse follow‑up dos casos. Muitas vezes até nem nos chegam presencialmente, são por telefone, mas mesmo assim nós fazemos questão de… passado algum tempo saber como estão os casos. (E. 3) Quando um processo é aberto, o seu acompanhamento é feito até ao seu término, ou seja, não há o abandono do processo por parte da APAV, mesmo que, por exemplo, no caso de violência doméstica a vítima decida não avançar com a queixa, esses dados são registados para que a APAV possa fechar o processo. Outras vezes, o registo fica feito, pois poderá existir uma reabertura do processo. Desta maneira, o registo do que foi feito, em alguns dos casos, é muito importante, pois poderá ser necessário outro tipo de acompanhamento, por exemplo, “se for pertinente fazer alguma visita domiciliária ou contactar a GNR para acompanhar a visita. É muito caso a caso” (E. 3).

Como instituição de âmbito nacional, uma das grandes ferramentas de trabalho que os entrevistados realçaram como muito importante, foi a plataforma digital a nível nacional. Há o registo escrito, como um relatório, por parte dos voluntários no processo de cada vítima que recorra ao Gabinete. Posteriormente, esses dados são lançados e facultados na rede nacional da APAV, esta rede é interna e exclusiva aos técnicos e agregados da APAV: “tudo o que nós fazemos fica num processo online do utente e esse processo e a nível nacional e qualquer pessoa da instituição tem acesso direto e sabe o que é que se passa com aquela… Embora seja super sigiloso…” (E. 1) Apesar de o registo ser feito, contudo, é respeitada a confidencialidade dos dados dos utentes e de tudo o que é dito, pois estas normas vêm vinculadas na estrutura pilar da associação.

O registo dos atendimentos é feito manualmente e depois introduzido na plataforma nacional: “Cada um tem o seu caderno com o nome e vamos apontando, também temos um… digamos um guia básico do atendimento, quais são os pontos básicos que temos de saber da pessoa, que é o nome, morada, e tudo isto… E também quem é o agressor, temos de saber todas estas referências para depois vamos ao programa online, vamos lá e abrimos o processo. Fica na página da APAV.” (E. 2)

Este registo é importante, não só para as estatísticas anuais e nacionais, como também para a construção de uma base de dados, na qual os técnicos possam ter o cruzamento de dados e um possível acompanhamento das vítimas a nível nacional, principalmente, quando têm necessidade de mudar por completo para outra área de residência. No seguimento do processo, também é importante o registo do agressor e dos dados do mesmo. Embora a APAV seja uma estrutura ligada apenas ao acompanhamento e encaminhamento de vítimas, a rede de

66 informação é muito completa e mantém também o registo dos agressores para possíveis cruzamentos de dados, bem como registo quando há situações de risco ou de perigo de vida da vítima.

O GAV de Faro abrange a localidade de Faro e a de Olhão, conjuntamente com todas as freguesias que pertençam a estes concelhos, será então o gabinete responsável por prestar assistência a estes dois concelhos. Lidando com uma vasta área, é normal que os técnicos tenham de ser autónomos e trabalhar muitas das vezes sozinhos para que possam prestar apoio às vítimas que procuram o GAV.

Contudo, certos casos, de acompanhamento específico passam sempre pela gestora: “por exemplo, esta decisão de retirar as crianças a esta família, esta decisão tem de passar pela gestora.” (E. 7) Esta medida ocorre quando a criança já se encontra em perigo, ou mesmo em última instância a “casa abrigo é o último dos últimos… porque não é o melhor, é quase como dupla vitimização, não é? Mas ao mesmo tempo está a salvaguardar a vida e pondo em segurança aquele agregado familiar” (E. 7). Em estratégias mais bruscas em que a intervenção passe pela separação do agregado familiar ou tem de mudar uma família para outra residência, são respostas de último recurso, ocorrem quando as respostas primárias e secundárias já não oferecem soluções perante aquele agregado familiar. A resposta primária recai na própria APAV em fornecer informação, uma resposta de acompanhamento do caso; a resposta secundária recai quando a associação recorre a outros meios institucionais para auferir soluções ou meios à vítima, ou seja, quando há um encaminhar da vítima para outras respostas sociais fora do âmbito da APAV ou mesmo para outras entidades ou organizações públicas ou privadas.