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2.7 Desenvolvimento Local e Desenvolvimento Sustentável

2.7.2 O agente de desenvolvimento local e os problemas

“Mudamos de trabalho, de endereço, de telefone, de provedor, de amigos, de estado civil.

E, o mais importante, mudamos de idéias, de opiniões, de certezas e de dúvidas.”

Eugenio Mussak

O Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA é uma rede de universidades públicas nordestinas formada pela Universidade Federal do Ceará – UFC, Universidade Estadual do Rio Grande do Norte – UERN, Universidade Federal da Paraíba – UFPB, Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, Universidade Federal de Alagoas – UFAL, Universidade Federal de Sergipe – UFSE, Universidade Federal do Piauí – UFPI e Universidade Estadual de Santa Cruz – Bahia – UESC. Todas estas universidades trabalham o conhecimento científico, em relação ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável, numa versão interdisciplinar, a interdisciplinaridade, porém, na perspectiva de que configura muito mais do que um conjunto de disciplinas, vale dizer é divisada como uma libertação de modelos predeterminados, sabendo unir a arte com a ciência, sabendo utilizar bem o tempo numa relação entre pessoas, que começa a partir de um olhar, que pode originar um momento único de interação, uma contingência de aprendizagem.

A pluralidade de modelos de pesquisa e apropriação do conhecimento tem crescido nos últimos tempos no meio acadêmico, e a interdisciplinaridade faz aflorar um entendimento diferente para a ciência, uma diversa visão de mundo. Apesar disso, recorremos às várias modalidades de pesquisas qualitativas (dialética, pesquisa-ação, etnografia e fenomenologia) naquilo que cada uma poderia nos interessar para este estudo de caso.

As questões do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável, a exemplo de outros problemas epistemológicos, não são neutras ideologicamente nem alheias a interesses econômicos e sociais.

Leff (2001:63) menciona que “Toda estratégia teórica para aprender e agir sobre os processos ambientais está vinculada a uma estratégia prática (social, ecológica e tecnológica) de desenvolvimento e não se erige em princípio de uma epistemologia geral,

em condição de possibilidade de desenvolvimento das ciências, ou numa regulamentação das possíveis fertilizações intercientíficas ou interdisciplinares para gerar avanços no conhecimento”. “Se toda verdade científica no terreno do saber está inscrita em formações ideológicas e em processos discursivos determinados, os princípios epistemológicos para o estudo dos processos materiais que integram um sistema sócio-ambiental se desprendem de uma estratégia conceitual que apresenta efeitos concretos nas práticas sociais de ambientalismo”.

A epistemologia trabalhada no PRODEMA recebe críticas, por tratar-se de uma maneira nova e diferente de fazer ciência, de um processo a ser construído por vários atores acadêmicos ao mesmo tempo. Os professores pesquisadores e membros do PRODEMA são voluntários. Abraçaram esta maneira de apropriação do conhecimento científico, por acreditarem num mundo melhor, mais justo e fraterno, além de ambientalmente habitável para nossas gerações e para nossos descendentes. Entretanto, as ideologias teóricas em vigor estão enraizadas no seio de cada academia e a mudança de paradigma será lenta.

Assim, Leff (2001:63-64) lembra que: “esta estratégia conceitual em torno da constituição do saber ambiental combate os principais efeitos ideológicos do reducionismo ecologista e do funcionalismo sistêmico, a saber:

a) Pensar o homem como individuo e as formações sociais como populações biológicas inseridas no processo evolutivo dos ecossistemas, o que leva a explicar a conduta humana e a práxis social por meio de suas determinações genéticas ou de sua adaptação funcional ao meio. Estas teorias sociobiológicas desconhecem a especificidade das relações sociais de produção, das regras de organização cultural e das formas de poder político e ideológico nas quais se inscrevem as mudanças sociais e as formas de uso dos recursos produtivos. b) Metodologizar a ecologia como disciplina por excelência das inter-relações,

para transformá-la numa “teoria geral de sistemas”, numa “ciência das ciências” capaz de integrar as diferentes ordens do real, os diferentes processos materiais como subsistemas de um ecossistema global. Assim, a ecologia generalizada promete a reconstrução da realidade como um todo pela integração dos diversos ramos do saber num processos interdisciplinar, dificultando a reconstrução do real histórico a partir da especificidade e da articulação de processos de ordem natural e social: econômicos, ecológicos, tecnológicos e culturais.

c) Uniformizar os níveis ontológicos do real por meio de uma Teoria Geral de Sistemas que estabeleça os isomorfismos e as analogias estruturais por meio da análise formal de processos de diferentes ordens e materialidade, deixando de fora o valor da diferença e o potencial do heterogêneo.

d) Legitimar e orientar a produção de conhecimentos por meio do critério de eficácia e eficiência na integração de um sistema científico-tecnológico a um sistema social dado, como um instrumento de otimização, controle e adaptação funcional da ciência, sujeitando-se a esse propósito o potencial crítico, criativo e propositivo do conhecimento. Busca-se assim o acoplamento de um saber holístico e sistêmico sem fissuras para um todo social sem divisões.

e) Confundir os níveis e as condições teóricas para a produção de conhecimentos interdisciplinares sobre processos materiais que confluem em sistemas sócio- ambientais, com a aplicação e integração de saberes técnicos e práticos no processo de planejamento e gestão ambientais.

f) Reduzir o estudo das determinações estruturais e dos sistemas de organização de diferentes ordens de materialidade do real, a uma energética social, a um cálculo de fluxos de matéria e energia, que embora seja útil tanto num esquema integrador transdisciplinar como também na avaliação do potencial produtivo dos ecossistemas e de certas práticas culturais, não se constitui no princípio último de conhecimento sobre a organização dos processos ecológicos e econômicos, das relações entre a natureza, a técnica e a cultura”.

O agente de desenvolvimento local precisa ter esse componente de interdisciplinaridade em seu currículo, a fim de desempenhar suas atividades dentro de um contexto singular de ações e reações, problemas dos mais diversos. Todavia, essas questões conceituais devem ser trabalhadas na prática do dia-a-dia do agente, a fim de que ele possa, em conjunto com as lideranças comunitárias, encontrar soluções compartilhadas, simples e funcionais.

O trabalho do agente sendo desenvolvido com o apoio da metodologia GESPAR do convênio BNB/PNUD tem muitas possibilidades de alcançar êxito, tendo em vista o direcionamento específico para o associativismo e o cooperativismo, como forma despertar nos atores sociais locais a vocação e a politização de cada um.