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O alheamento da população portuguesa

Quem trata a Questão de Olivença?

B.3. O alheamento da população portuguesa

Hoje, a comunidade nacional e mesmo, a chamada “sociedade civil” estão alheadas e não sentem nem parecem sentir a perda do território e das suas gentes o que é inadmissível. Temos vindo a viver uma politica conformista e o alheamento contribuíram para minar a atenção sobre a perda de Olivença, o que fará criar nos oliventinos a ideia de que Portugal não está interessado em Olivença e que renega definitivamente o território e as suas gentes, o que os inibiu de tomarem posições públicas pro-portuguesas, o que tornou mais fácil a espanholização de Olivença, abrindo as portas a outros espanhóis, vindos de outras regiões e a quem foram dadas condições especiais para se estabelecerem em Olivença e nas suas terras, procurando assim substituir o português que continuava a ser falado, mesmo depois da recessão pelo castelhano, o que faz, com que hoje raramente se ouça falar português naquelas terras.

Hoje, há que reavaliar a situação porque se sabe que muito se pode e deve ser feito para inverter a aculturação em curso e passar a garantir a presença da cultura portuguesa e recuperar, fomentar e incrementar a portugalidade de Olivença.

Esta redescoberta de Portugal em Olivença no dizer do “Grupo dos Amigos de Olivença”, também não será fácil, mas para isso dizem que implica que as instituições públicas, o próprio Estado, a “sociedade civil” e cada um dos cidadãos portugueses e oliventinos queiram realmente se envolver 88.

87

Cfr. Informação reconhecida de um artigo de Fernando Castanhinha, - publicado no Boletim “Olivença Portugal”- Maio de 2009. Nº 9 – III Série

88

Cfr. Informação recolhida de um artigo de António Marques – Ponto de vista. – Boletim “Olivença Portugal” de Março 2006, nº. 6 – III Série pp. 2.

Num Congresso de Lusofonia realizado em Bragança a 5 de Outubro de 2007, membros do “Grupo dos Amigos de Olivença” da secção do Porto estiveram ali e procuraram, mais uma vez, chamar a atenção dos presentes para a questão de Olivença, expondo não só a situação territorial, mas também para o estado da língua portuguesa e perguntando aos responsáveis pelo Congresso o que é que a Lusofonia tem feito para que o português possa continuar a ser falado e escrito, como o foi antigamente; a cultura não são só os monumentos e a arquitectura, é também a língua que deve suportar essas e qualquer outro tipo de cultura.

A língua portuguesa tem em Olivença e no seu território sofrido ao longo de mais de 210 anos de governação espanhola fortes ataques, sendo referenciado o primeiro, em 1840, em que o português foi oficialmente proibido, inclusive nas Igrejas. Aqueles que continuavam a usar a língua eram classificados de retardados, de tontos e outros adjectivos, com a intenção de criar situações próprias de complexos de inferioridade. Estes ataques foram constantes durante décadas e fica-se admirado com os resultados de um estudo da União Europeia, que indica que, pelo menos, 35% da população da região entende e fala português89.

Em tempos mais recentes, e durante as décadas dos anos de 1940, 1950 e 1960, em que na Espanha imperou a ditadura franquista, a situação piorou; não se encontrava em Olivença professores, polícias, funcionários públicos e outras profissões ligadas ou dependentes da governação, que fossem ocupadas por descendentes de portugueses; todas estas profissões eram desempenhadas por colonizadores e seus descendentes vindos de outras províncias espanholas.

Uma outra curiosidade do estudo do “Programa Mosaic”, é que hoje, não são aqueles colonizadores, mas sim e principalmente os seus descendentes oliventinos, que têm mais curiosidade pela cultura portuguesa e procuram aprender o português para melhor compreender aquele legado.

Felizmente, com a chegada da democracia e a entrada na União Europeia, os países ibéricos afastaram os fantasmas daqueles tempos, mostrando agora uma abertura propícia para recuperar o tempo perdido e esquecer o tempo da perseguição. O Governo português, timidamente toma algumas iniciativas e hoje no ensino, referenciado como primário, compreende ali o ensino do português; trabalho realizado e patrocinado pela Embaixada de Portugal em Madrid e pelo Instituto Camões.

As criticas continuam a fazer-se ao Estado português que tem a obrigação de tomar outras medidas dada a sua posição, pois não podemos esquecer que é ele que tem o Direito de Soberania.

O ensino da História – que não é feito em parte alguma de Olivença - e o ensino do português devia ser realmente dado até a níveis mais adiantados do ensino, mas é preciso fazê-lo, com dignidade revalorizando o português que sobrevive, o qual, por ser uma variante da região do Alentejo é criticado, o que não é abonatório. “… é preciso dizer aos jovens oliventinos que ao estudar o português é compreender a cultura de seus avós; pode ser realidade que aprender a língua lusa é muito diferente de aprender inglês, francês ou alemão, mas é preciso dizer-lhes que o português é imprescindível para que as novas gerações compreendam o que as anteriores gerações pretendem transmitir …” 90.

Maria de Fátima Matias, num estudo recente sobre o “declínio do Português em Olivença escreve: “… Estamos aqui a viver uma verdadeira tragédia, em pouco mais de duzentos anos e o português tem vindo a desaparecer em Olivença; a alma dos povos é a língua; a língua é a memória, e tudo em Olivença vão ficar somente as pedras das fachadas do que foi o seu passado português. Não há nada mais triste que conhecer que o fim vai chegar e ninguém faz (fez) nada para evitá-lo; ninguém compreende que a morte do último luso- falante vai ser a morte da alma portuguesa, o fim de gerações falando português nas ruas, nas moradias, no campo, ao longo de mais de sete séculos. É a agonia do português em Olivença. (…) Agora já não há ditadura. Devíamos ficar orgulhosos de ter esta riqueza linguística e procurar a defesa e o ensino do português, (…) e também o Estado português é responsável; com independência de questões de índole soberanista, deveria implicar-se na promoção do português em Olivença, e não somente, reconhecer a soberania espanhola …”91