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3. AS ORGANIZAÇÕES E O AMBIENTE

3.2. UMA CONFIGURAÇÃO DO AMBIENTE

3.2.2. O Ambiente Operacional, de Tarefa ou Microambiente

O ambiente operacional, também conhecido como microambiente, ambiente de tarefa ou ainda ambiente de negócios, é outro subsistema externo à organização que pode influenciar a sua atividade. Esse ambiente pode ser considerado como intermediário entre a relação do ambiente geral e da organização. Muitas das transformações ocorridas nas dimensões do macroambiente somente são percebidas pelas organizações por intermédio do ambiente de tarefa. Grande parte do acesso aos recursos necessários ao funcionamento da organização é feita por meio dos atores do microambiente. Eles podem traduzir as características do ambiente geral em ameaças e oportunidades para as organizações, influenciando na sua estratégia. Condições políticas, legais, econômicas e ecológicas podem, a princípio, não modificar os objetivos organizacionais; mas, à medida que alteram as condições de concorrência, poder de compra da população e a disponibilidade de insumos, podem tornar-se objetos de análise e preocupação da organização. Isso não significa que algumas relações entre as organizações e o ambiente geral não aconteçam de forma direta (como é o caso de alguns impactos das mudanças climáticas).

Neste ambiente, estão contidos todos os atores que têm uma relação direta com a organização (DAFT, 1999). Por ‘relação direta’ entende-se aqueles elementos que são relevantes (ou potencialmente relevantes) para a definição dos objetivos organizacionais e para o seu alcance (DILL, 1958). Jacobs (1974) apresenta o ambiente operacional como o grupo de atores sociais responsáveis por disponibilizar os recursos necessários. Considera-se como participantes do ambiente de tarefa os fornecedores, os consumidores e os concorrentes. Alguns autores ainda incluem o mercado de trabalho, os órgãos e agências reguladoras públicos e privados e outros grupos de interesse (MEGGINSON et al., 1998; DAFT, 1999; DILL, 1958).

O mercado consumidor é o grupo do ambiente de tarefa que adquire os bens e serviços oferecidos pela organização e, por isso, entendido como um dos mais influentes no funcionamento organizacional. Os consumidores podem ser pessoas físicas ou outras organizações que necessitam daquilo que é produzido (MEGGINSON et al., 1998; DAFT, 1999; DILL, 1958).

O grupo dos fornecedores também pode alterar as atividades organizacionais.

São eles que proporcionam os recursos necessários para as operações da empresa, sejam eles matérias-primas, energia, recursos hídricos, telecomunicações ou recursos humanos. A falta dos recursos (ou dos fornecedores de recursos) prejudica a continuidade operacional das organizações. A fim de reduzir a dependência dos fornecedores, muitas organizações buscam manter relações de parceria e cooperação e possuem mais de um fornecedor do mesmo recurso. Como são muitos os tipos de recursos e de fornecedores, as interações entre eles também são complexas (MEGGINSON et al., 1998; DAFT, 1999; DILL, 1958).

O grupo dos concorrentes pode exercer uma função dupla e controversa dentro do ambiente de negócios. Ele é formado por empresas que produzem os mesmos bens e realizam os mesmos serviços que a organização analisada, ou seja, produtos e serviços substitutos. Isso implica que os concorrentes podem ameaçar a organização por competirem por seus mercados e recursos. Entretanto, os concorrentes podem ser aliados, caso os seus interesses e os da organização sejam os mesmos, e quando interessados em desenvolver alianças contra problemas ainda maiores e prejudiciais a todos (MEGGINSON et al., 1998; DAFT, 1999; DILL, 1958).

O governo também faz parte do ambiente de tarefa, via seus órgãos e agências reguladoras. Decisões governamentais, quando indiretamente influentes no funcionamento da organização (e.g. isenções fiscais), são aplicadas e

fiscalizadas pelos seus representantes. Estes podem ser para a proteção dos direitos dos trabalhadores, dos consumidores e da concorrência. As limitações impostas pelas leis e execução das leis são observadas pela organização e, se não cumpridas, implicam em sanções capazes de inviabilizar seus negócios (MEGGINSON et al., 1998; DAFT, 1999).

No ambiente operacional, existem ainda outros grupos de interesse, que são conjuntos de pessoas ou outras instituições cujos objetivos e atividades são alterados pelos objetivos e atividades da organização. São representantes dessa classe, os sindicatos de trabalhadores, as organizações não-governamentais, as associações de empresas, os institutos de pesquisa, as universidades, os bancos, os grupos religiosos etc. A atuação dos grupos de interesse pode ser alvo de preocupação das organizações, pois, apesar de não serem vistos como consumidores, fornecedores ou concorrentes por natureza, esses grupos podem acabar exercendo essas funções. As universidades, por exemplo, são parceiras de pesquisa de empresas, além de fornecerem mão de obra qualificada e especializada; os bancos podem facilitar o acesso ao capital ou intermediar operações financeiras entre organizações; alguns grupos defensores de causas sociais são capazes de influenciar o mercado consumidor, contra ações organizacionais consideradas inadequadas; as associações de empresas podem trazer novos negócios às organizações, além de incentivarem o desenvolvimento tecnológico conjunto do próprio setor; alguns sindicatos de trabalhadores também são suficientemente influentes, a ponto de organizar greves e coordenar as negociações de salários (MEGGINSON et al., 1998; DAFT, 1999).

Além dos atores principais do ambiente de tarefa, deve-se observar também que os diversos setores da economia representam ‘ambientes operacionais’, pois concentram as organizações, seus consumidores, fornecedores e concorrentes.

Quando se trata, por exemplo, do setor de energia, são avaliadas as empresas geradoras, transformadoras, distribuidoras etc., que compreendem diversos concorrentes, fornecedores e consumidores diferentes. Assim, o setor, por si só, é um ambiente de tarefa, e pode ser avaliado pelas relações entre os seus atores, já que a dependência de recursos os obriga a manter a interação com os outros elementos. Entretanto, algumas das organizações do setor de energia também fornecem recursos (energia) para outras organizações dos mais variados setores.

Isso indica que algumas delas fazem parte de outros ambientes de tarefa, pois são fornecedoras (e em outros casos, consumidoras) em outros grupos.

Conforme observado, o ambiente é uma variável consolidada na análise organizacional, o que não a torna, porém, um elemento simples e trivial para as organizações. Entender o ambiente, as relações entre as suas dimensões, e como estas podem proporcionar ameaças e oportunidades é essencial, além de ser uma árdua tarefa para as organizações. Algumas das dimensões do ambiente geral são mais visadas, como as econômicas, por exemplo, o que incentiva a maior compreensão das organizações sobre suas variações. As mudanças climáticas, contudo, ainda não atingiram o status da dimensão econômica ou até mesmo da dimensão ecológica na análise organizacional, apesar de existirem argumentos e relações que reforçam a ideia de que as mudanças climáticas devem ser observadas.