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6 AS CATEGORIAS

6.1. O BEM-ESTAR NA DOCÊNCIA EM EAD

6.1.5. O “animus” dos professores com relação à docência na EaD

Nesta sub-categoria, que responde as questões de número 09 e 08, emprego o termo “animus” num sentido amplo, contendo nele o verdadeiro sentido de espírito, de

espiritualidade, de coisa boa, de Bem-Estar, de satisfação, pois, nela estão contidos os relatos de emoções dos docentes que se manifestam no sentimento do dever cumprido, na realização profissional, no reconhecimento profissional, no entusiasmo de estarem em constante busca do conhecimento, no exercício da solidariedade, no orgulho por estarem participando da construção pessoal e profissional dos professores-alunos, na gratidão dos alunos e das comunidades, no relacionamento interpessoal com os alunos, com os colegas, com as chefias, na motivação constante do grupo de professores e dos alunos, na alegria com o progresso e dedicação do estudante, na vibração, entusiasmo, alegria com os resultados alcançados pelos alunos. Tudo isto, sem dúvidas, como veremos foram fortes determinantes para que os professores sentissem a EaD como “locus” do Bem-Estar docente.

Os estudos realizados por Timm (2006, p. 107) sobre o “Bem-Estar na Docência, dimensionando o cuidado de si”, apresentam entre os indicadores do Bem-Estar na docência, os relacionados a alteridade, manifestada por um dos professores entrevistados como:

Sentir-se bem por sentir-se capaz de colaborar com o processo de formação dos alunos e como diz outro professor é vivenciar o gosto de ajudar o outro no seu processo de auto-construção humana, o que faz com que a gente também se auto- construa nessa interação.

Os professores manifestaram, assim, que se sentem bem na docência, quando se sentem gerativos, ou seja, quando o professor, “se sente valioso, respeitado e amado” ou “se sente bem, quando se sente bem sucedido depois de muito esforço”.

Os professores pesquisados revelam, assim, um comprometimento afetivo com o estudante, o que os leva a se sentirem bem, mesmo quando as condições de trabalho não são adequadas.

Da mesma forma, também, Codo (2006) observou em pesquisa realizada com professores brasileiros (Educação Básica e Médio) que 86% dos professores da rede pública mostram-se satisfeitos com seu trabalho, apesar das dificuldades.

Codo (2006, p. 104) diz que empenho e dedicação são colocados a serviço da arte de ensinar e que os professores apresentam uma visão positiva em relação à educação e que, segundo ele interpreta, é o que faz com que nossos professores não caiam na descrença em relação à instituição escola.

Observa ainda, que:

Junto com os sentimentos de satisfação e comprometimento outras atitudes acompanham a realização do ofício “como autonomia e controle sobre o trabalho, ser capaz de tomar decisões e assumir responsabilidades na medida certa da

necessidade profissional e que associado ao comprometimento estão as boas relações no trabalho. Ou seja, professores comprometidos com o trabalho também se sentem comprometidos com boas relações sociais, demonstram um forte sentimento de equipe com o grupo de companheiros da profissão.

Portanto, como observa Codo (2006), os educadores, apesar das condições muitas vezes desfavoráveis, estão satisfeitos, gostam daquilo que fazem, sentem-se realizados com os resultados que produzem, conseguem sentir prazer pelo desenvolvimento do seu trabalho. Tudo isso, porque nutrem pelo estudante afeto e gostam da profissão que exercem.

Estas manifestações de satisfação profissional, também, aparecem nos depoimentos dos professores da EaD.

Esses professores indicam estar satisfeitos pelo sucesso dos alunos e por estarem contribuindo para isso. Assim, dizem que se sentiram satisfeitos, quando verificaram o desenvolvimento e aprendizagem dos estudantes (P12):

Pelo esforço dos alunos em tornarem-se autônomos do e no processo de formação. (P7).

Quando verificaram a evolução dos alunos, da habilidade de escrita, considerando o momento que iniciaram e o momento em que estavam prestes a concluir o curso. Foi um grande avanço. (P5):

Satisfação quando percebi a abrangência do nosso trabalho e o quanto eu estava contribuindo para que os alunos tivessem uma boa aprendizagem. (P 6)

Uma satisfação imensa de acrescentar na formação de muitos professores e, finalmente, uma imensa alegria pelo resultado obtido. (P10).

Verifica-se, pois, que os professores se sentem satisfeitos, quando se sentem contribuindo para o sucesso do aluno. Sentem-se felizes, quando os alunos são bem sucedidos e descontentes, quando eles não conseguem bons resultados. Por isso, quando comentam sobre os “momentos ou fatos significativos” na docência no Curso de Pedagogia que levaram à satisfação profissional, destacam:

Os momentos presenciais com os alunos sempre foram muitos significativos pelo fato de propiciarem a troca de experiências, a constatação do interesse dos alunos pelo Curso, o desenvolvimento progressivo dos alunos. (P6);

Todas as aulas presenciais que dei e todas as videoconferências que fiz, foram motivos de muita satisfação profissional. (P9);

Verificar a evolução da habilidade da escrita nas provas dos alunos, o desenvolvimento e aprendizagem dos estudantes. (P11);

O relato emocionado dos alunos sobre a transformação da sua prática pedagógica, sobre a bagagem adquirida. (P2);

Ter sido testemunha da evolução na construção do conhecimento pelos estudantes, (P15).

Nestes depoimentos, como se pode constatar, os professores demonstram estar felizes com os resultados que os alunos apresentam, resultados esses que dependeram, também, do seu trabalho, do compromisso e da competência com que realizaram. Sentem-se, por isso, realizados profissionalmente.

Satisfação enorme ao verificar de que estava tendo a oportunidade de construir novas competências e habilidades e poder utilizá-las em favor de uma proposta inovadora de educação que estava permitindo o acesso de milhares de professores ao ensino superior (P12).

Esse crescimento profissional propiciado pela EaD que o professor faz questão de expressar como sendo de grande significado para a sua vida profissional e que ele expressa como tendo propiciado satisfação e Bem-Estar, está relacionado ao sentimento de competência profissional, cujo sentido maior está no poder ser um novo profissional que desenvolve uma prática de ensino inovadora e que, portanto, lhe faz sentir-se bem naquilo que ele considera que lhe pode conferir Bem-Estar na docência, que é o sucesso do aluno.

Eis um expressivo depoimento (P5):

Entre tantas emoções que a EaD me propiciou, me dar conta do meu processo de construção de ser professor facilitador e mediador do conhecimento, portanto, desenvolver uma prática pedagógica diferente da prática que até então vinha desenvolvendo no ensino superior presencial, foi extremamente significativo para mim, que já havia deixado esmorecer meu entusiasmo pela educação. Quando me lembro que pouco sabia fazer uso do computador, tinha um pouco de resistência a trabalhar com as TICs, aliás, pouco uso se faz delas no ensino presencial, e na EaD necessariamente tive que trabalhar com estas ferramentas tecnológicas, eu mesma não acreditava no que estava acontecendo comigo. Depois, ter que produzir os Cadernos Pedagógicos, os Vídeos Educativos que acompanhavam esses Cadernos, coordenar os encontros com os alunos via Chat, participar como professor conferencista, “ao vivo”, me causava perplexidade com o meu envolvimento e capacidade, assim como também ficava perplexa com a vontade e a capacidade de meus colegas, cuja experiência docente no presencial fora marcada pelo individualismo. Na EaD, o espírito de grupo predominava, talvez pelo fato de que todos éramos aprendizes e todos estávamos comprometidos com o nosso trabalho. É bem verdade que havia alguns professores que pareciam não estar nem aí para o processo, mas a grande maioria vibrava com o trabalho docente, de múltiplas tarefas a ser desenvolvidas, mas de múltiplos prazeres obtidos.

Esse comprometimento afetivo com o estudante pode ser percebido nas manifestações de insatisfação apresentadas por alguns professores, quando alguns estudantes não demonstravam interesse.

Nesse sentido, alguns professores manifestaram insatisfação com a atitude de alguns alunos:

Não demonstram o compromisso com sua aprendizagem. (P2);

Mentalidade era apenas de estar ali para obter o diploma e criticavam a seriedade com que eu costumo coordenar o andamento da turma. (P15);

Tivemos também sentimentos não tão bons, pois tínhamos também pessoas que estavam no processo oportunisticamente, apenas querendo um “diploma”. (P7); Com alunos não conscientes das suas funções como gestores de seu conhecimento. (P15).

Ou como diz o professor (P13): “quando demonstram desinteresse frente às dificuldades enfrentadas em relação às dificuldades na escrita/redação e com a informática”.

Ora, esta visão preocupante, revela o compromisso que tinham os professores para com o processo de aprendizagem dos alunos, o comprometimento com uma educação de qualidade.

No relato dos professores afloram os mais diversos sentimentos, comprovando um “animus” compensado pela alegria, pelo prazer, pelo reconhecimento, pelo sentirem-se mais humanos.

Eis alguns depoimentos que revelam esses sentimentos de Bem-Estar na docência:

Alegria ao perceberem o interesse dos estudantes, o progresso fantástico deles, por estar contribuindo para o crescimento dos professores-alunos, por sentir a gratidão dos alunos pela oportunidade única que estavam tendo na vida. (P7);

Alegria e orgulho, cada vez que um material novo era produzido e impresso, orgulho ao chegar nas cidades e ver a auto-estima elevada de todos diante da Universidade. (P8);

Satisfação de trabalhar em um projeto novo e em construção, perceber a importância social de um projeto que estava realizando o sonho de milhares de pessoas. (P2). Os depoimentos dos professores deixam claro que vivenciaram os sentimentos do dever cumprido com as emoções que dele brotaram, da solidariedade, do exercício profissional com competência, do bom relacionamento com as chefias, com os colegas, com os alunos, enfim de serem um professor diferente, um professor “transformado”, um professor animado pelo espírito e pelo trabalho.