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O ART 285-A E SUA APLICABILIDADE NAS DEMANDAS DE MASSA

Muito embora faltem dados estatísticos precisos, qualquer um que milite no foro da Justiça Federal sabe que diversas causas são completamente repetitivas, isto é, tratam das mesmas questões jurídicas nas quais, apesar de diferentes as partes e seus advogados, repetem-se os

166 Neste sentido, deve-se salientar o Enunciado n. 3, resultante do III Curso Regional de Atualização de Magistrados, promovido pela Escola da Magistratura do Paraná, nos dias 21 e 28 de julho de 2006, e aprovado por unanimidade, nos seguintes termos: “Considerando que o propósito da reforma é agilizar e não retardar a prestação jurisdicional, o novo conceito de sentença deve ser interpretado com tempero para fins recursais, exigindo-se apelação somente nos casos em que a sentença resolve o conflito por inteiro, pondo fim ao processo cognitivo em relação a todas as partes”.

mesmos argumentos e a mesma fundamentação jurídica. Humberto Theodoro Júnior167 reconhece que vários são os casos em que “ um mesmo tema, sobre uma só questão de direito, repete-se cansativamente, por centenas e até milhares de vezes”, ainda que já tenha sido exaustivamente discutido e há muito pacificado pela jurisprudência.

Nesse sentido, no intuito de impedir o prosseguimento de processos que repetem teses jurídicas já rejeitadas em casos anteriores, cujo insucesso, portanto, se antevê desde o início, a já multicitada lei 11.277/06 incluiu o art. 285-A no CPC, na tentativa de racionalizar a administração da justiça, pois, como observam Nelson Nery Júnior e Rosa Nery, “ seria perda de tempo, dinheiro e de atividade jurisdicional insistir-se na citação e na prática dos demais atos do processo, quando o juízo já tem posição firmada quanto à pretensão deduzida pelo autor”.168

Nas chamadas demandas de massa, os fatos são repetidos em cada uma das demandas. Os autores passaram pela mesma ou semelhante situação, no caso anterior. Tal situação afigura- se indiscutível, já demonstrada documentalmente. A discussão, em todos esses casos, é apenas de direito: discute-se se a norma é aplicável ou não, se é válida ou não, se é constitucional ou não. Nelas, a matéria a ser apreciada pelo julgador é toda de direito, restringindo-se a contestação a rebater os pontos de direito suscitados na petição inicial.

Em demandas tributárias, em que se discute, por exemplo, a constitucionalidade de determinado tributo, a única questão de fato é a demonstração de o autor revestir-se da condição de contribuinte daquele tributo; quanto ao mais, a análise do caso restringe-se a aferir a constitucionalidade da exação. É o que ocorre, igualmente, em demandas previdenciárias ou que envolvem serviços públicos, em que se postula a agregação de uma parcela ou a aplicação de determinado índice de correção monetária: nesses casos, os fatos a serem demonstrados e comprovados é a condição de aposentado ou de servidor e o valor da aposentadoria ou dos vencimentos, consistindo toda a discussão em verificar a legitimidade da argumentação jurídica.

Não há incompatibilidade alguma na aplicação do artigo em comento nos processos de conhecimento de competência originária dos Tribunais, tão pouco na Justiça do trabalho ou em sede de Juizados Especiais (9.099/95 e 10.251/01). Aliás, vislumbra-se grande utilidade do dispositivo em sede previdenciária, onde são comuns ações repetidas para discutir a

167 THEODORO JR, Humberto. As novas reformas do código de processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p.15.

168 NERY JR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de proceso civil comentado. 9.ed. São Paulo: RT, 2006,p.482, nota 4.

aplicação de índices de correção de benefícios tantas vezes já afastados pelos Tribunais Superiores.

Fredie Didier Júnior169 destaca que as causas repetitivas têm exigido do legislador e da doutrina uma atenção especial. Elas são as grandes responsáveis pela crise do Poder Judiciário. Afirma ele, com total acerto, que são milhões de demandas ajuizadas com questões idênticas170. Cita a improcedência liminar nas causas repetitivas como um dos institutos novos cujo propósito é exatamente o de criar um novo modelo de processo para o julgamento deste tipo de causa171.

A medida autorizada expressamente no artigo 285-A do CPC é extremamente útil, especial nas demandas de massa, e isto é perceptível por vários ângulos em que se analisa a questão: a) É útil ao autor que, se por acaso e empolgação propor ação de manifesta improcedência, com julgamento liminar de mérito pelo juiz, ele pode ficar livre dos encargos sucumbenciais. O autor fica livre de despesas inúteis e ainda será beneficiado, porque sem a citação do réu ficará desonerado dos encargos da sucumbência.

b) é útil ao réu que se vê livre de um processo imediatamente e, ainda, sem ser onerado com os encargos defensivos, com contratação de advogado para o preparo de defesa, evitando com isso a perda de tempo. É fácil perceber que uma pessoa, quando colocada no pólo passivo de um processo, ainda que este seja totalmente inviável e temerário, mesmo assim, terá o seu nome gravado no arquivo do cartório distribuidor e, ao mesmo tempo, passará a sofrer restrição em várias espécies de atividades. Sempre que precisar de certidão de distribuição vai aparecer seu nome como réu na ação. Se quiser vender algum bem pode encontrar alguma dificuldade, em face das normas dos artigos 592, V e 593 do CPC. Encerrando o processo (o artigo 285-A do CPC), afasta-se a preocupação com eventual fraude à execução.

c) É útil para a sociedade porque, com a extinção imediata do processo infrutífero, abre espaço para que outros processos que se encontram amontoados no Judiciário sejam movimentados. Quando se perde tempo com um processo inútil, com certeza outro que pode ser útil ficará prejudicado em seu processamento. Quem ganha com essa medida, em maior

169 DIDIER JR, Fredie. Op. Cit., 2009, p.147.

170 A correção dos expurgos inflacionários causados pelos planos econômicos governamentais de 1989 e 1990 nas contas de FGTS é o principal exemplo apontado pelo aludido autor.

171 Cita como exemplo dessa tendência a conexão por afinidade entre os recursos extraordinários repetitivos. Alerta, ainda, não ser razoável no caso de demandas repetitivas a reunião dos processos o mesmo juízo, o que certamente causaria grande confusão e problemas para a solução dos litígios em tempo adequado. Mostra-se aqui, nas suas lições, a força do princípio da adequação, que impõe um processo diferenciado para o julgamento das causas de massa. (DIDIER JR, Fredie, Op. Cit., 2009,p.147).

escala, é a sociedade como um todo.

Importante registrar que a lei é mais um passo em direção a um processo rápido e eficiente. A solução antecipada dos processos repetitivos, em caso que improcedência, é uma alternativa lógica e razoável, que auxilia a atividade judicial, principalmente na Justiça Federal. Haveria desoneração da estrutura do judiciário.

4 O PROCEDIMENTO DA RESOLUÇÃO IMEDIATA À LUZ DAS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS

4.1 JULGAMENTO LIMINAR DE MÉRITO E A REFORMA INFRACONSTITUCIONAL