• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

3.2 O Garantia-Safra no contexto do semiárido gararuense

3.2.2 Os Procedimentos e os agentes do processo

3.2.2.2 O Associativismo: representações e realidades

Um dos princípios fundamentais para que haja acesso à informação e consequentemente aos benefícios voltados para o beneficiário do Garantia-Safra, que está claro no inciso III do Artigo 6º A da Lei 10.420 que institui o fundo e o Benefício Garantia- Safra, é o incentivo ao associativismo. Observa-se que o grau de envolvimento do beneficiário gararuense em organizações sociais ainda é baixo considerando que 63,33% disseram não participar de nenhum movimento social, apenas 33,67 afirmaram que se envolvem em associações comunitárias, “o presidente pede pra não desistir, se não tiver na associação não pode participar do Garantia-Safra” (Beneficiário nº 4). Em análise mais detalhada (Figura 3.15), nota-se que daqueles que se envolvem em organizações sociais, 23,33% dos que se associaram frequentam as reuniões, mas não manifestam opinião, apenas observa; somente 6,67% garantiram participar ativamente das discussões, inclusive com apresentação de propostas e 3,33%, não são sócios, mas comparece às assembleias.

Figura 3.15: Grau de envolvimento comunitário do Beneficiário do Garantia-Safra em Gararu-SE, 2012. Fonte: Trabalho de campo.

É interessante destacar que 23,33% da população entrevistada disseram não se envolver em organizações sociais porque as associações do seu povoado ou acabaram ou estão desativadas, sem presidente, mas que gostariam de ser sócios e de frequentar as assembleias. O intrigante é que 26,67% disseram que já participaram ou participam de algumas reuniões porque sabem que a associação pode tirar dúvidas e/ou trazer benefício, mesmo assim participam esporadicamente, sem compromisso, quando vão é para ter as

3,33 23,33 16,67 26,67 23,33 6,67 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% Beneficiários

informações que necessitam, “O povo se acomoda muito. É convidado pra participar das reuniões, mas não participa” (Beneficiário nº 21); já 6,67% alegaram que nunca participaram ou se interessaram por associações, ou porque acreditam que a associação é dependente da prefeitura ou não vê vantagem em ser sócios. Para a comunidade crescer a associação deve se envolver nas políticas públicas e não na política partidária, porque os presidentes só trabalham de acordo com o governo, é preciso fazer a política da comunidade (Presidente de associação nº 3).

Procurou-se os representantes de associações dos cinco povoados examinados, São Mateus, Palestina, Jibóia, Lagoa Primeira e Genipatuba. O primeiro povoado citado é o de maior população residente em povoados no município, São Mateus, com 1.294, habitantes em 2008 (Quadro 2.1), no qual não encontramos o presidente envolvido no processo do Garantia- Safra. Segundo moradores e a EMDAGRO, é esta instituição que tem desenvolvido as atividades de divulgação e inscrição dos agricultores no Povoado São Mateus. Enquanto o presidente da Associação do Povoado Genipatuba não tinha informações ou experiência quanto ao Garantia-Safra, porque havia assumido a presidência há apenas sete meses, após eleições para substituir o antigo presidente, devido a irregularidades quanto à declaração de imposto de renda. Fato que deixava a associação fora do Programa de Mecanização, uma vez que o trator adquirido pela comunidade estava como particular. Mesmo reconhecendo que a população tem frequentado as novas reuniões, razão que o elegeu como presidente, este representante comunitário alega que as pessoas não apresentam outro interesse senão receber os benefícios, quando este chegar.

Os presidentes das associações dos povoados Jibóia e Palestina apresentaram consciência e envolvimento com o programa, aos quais os moradores demonstravam respeito e confiança. Eles informaram com clareza as suas responsabilidades junto ao público dos povoados, disseram que fazem a divulgação nas escolas e na igreja quanto a datas para inscrição ou de reuniões direcionadas ao Garantia-Safra. Para estes, a participação tem aumentado consideravelmente e atribuem esta atitude da comunidade às melhorias proporcionadas pelo Garantia-Safra, levando-se em conta que a comunidade busca por suas informações e de outros benefícios disponibilizados pelo governo. Estes presidentes concordam ainda em relação às maiores dificuldades para a adesão do beneficiário ao programa, como os critérios exigidos pela documentação para o cadastramento, ou seja, a DAP B. Entre outras exigências está a comprovação de que o interessado é realmente

agricultor familiar, precisa convencer ao proprietário da terra que cultiva para liberar o documento da terra. O presidente da associação da Palestina observa que o remanejamento de DAP não parece justo por não permitir ao agricultor a adesão ao Garantia-Safra, discorda da visão do Pronaf, em considerar que o agricultor que adquire melhorias com o acesso aos créditos disponibilizados deixa de ser carente, ao ponto de não precisar do Garantia-Safra quando há seca.

Notou-se que o número de inscritos constantes e recentes nos povoados Palestina e Jiboia são opostos (Tabela 2.1). Enquanto na Palestina são 72,5% de beneficiários constantes e 27,5% de beneficiários recentes, ocorre o inverso no Povoado Jiboia, são 46,4% beneficiários constantes e 53,6% de beneficiários recentes. No primeiro ficam acima da média do município os beneficiários constantes e no segundo são os recente que ficam acima da média. A média em Gararu é de 59,4% constantes e de 40,6% recentes.

O presidente do povoado Palestina explica que continuam os mais antigos porque poucos conseguiram melhorias com a mudança de DAP, mantêm-se nas condições da DAP B, mesmo os que conseguiram crédito para benfeitorias no sítio, quando acaba o empréstimo volta à condição anterior, permanecendo na lista do Garantia-Safra. Já o presidente da associação do povoado Jiboia atribuiu o aumento de beneficiários recentes ao crescimento da população no povoado e ao bom desempenho da associação. Em nenhum dos casos foi citada a mobilização social entre os beneficiários do programa.

O povoado Lagoa Primeira, como o Genipatuba, localiza-se à margem do rio São Francisco, o que remete aos presidentes das associações pontos de vista diferenciados aos dos presidentes representantes de comunidades situadas a maior distância do rio, lembrando que existem outras políticas públicas direcionadas para pescadores nos povoados citados.

Para o representante do Povoado Lagoa Primeira, que aqui foi chamado de ribeirinho, hoje pouco há a fazer na associação, quase todas estão em marcha lenta e a população participa menos por falta de conquistas. As reuniões discutem projetos enchem os sócios de esperança, mas as ações não acontecem, as pessoas foram perdendo o interesse nas assembleias, as contribuições de 1% de um salário mínimo, não são mais recebidas.

Em uma questão todos os presidentes entrevistados concordam, A EMDAGRO faz o papel dela em relação à DAP, explica como funciona o Garantia-Safra, faz o laudo que seria atribuição da Secretaria Municipal de Agricultura, que “não existe”. A empresa desempenha um trabalho transparente, o que falta é Assistência Técnica. Parte dos problemas dos produtores decorre da falta de orientação de técnicos para aplicar investimento diretamente em atividades relacionadas à convivência com a seca. Eles desviam para outras atividades. No período da estiagem essa falta de acompanhamento e fiscalização causa déficits na produção e escassez de água (Presidente de associação nº 3).