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3 O AUTOFINANCIAMENTO DE CAMPANHA ELEITORAL

3.3 A imposição de limites ao uso de recursos próprios em uma campanha eleitoral

3.3.1 O autofinanciamento de campanhas a partir da Lei 9.504, de 1997 até a

A Lei 9.504, de 1997, em seu art. 23, dispunha, até a edição da Lei nº 13.165, de 2015, que no caso em que o candidato utilizasse recursos próprios, as doações e contribuições em dinheiro ou estimáveis em dinheiro para campanhas eleitorais ficariam limitadas ao valor máximo de gastos estabelecido pelo seu partido.

Na hipótese, as doações e contribuições poderiam ocorrer pelos diversos meios fixados pela legislação, a ver: cheque, transferência bancária, boleto de cobrança com registro, cartão

de crédito ou cartão de débito; títulos de crédito; bens25 e serviços estimáveis em dinheiro; depósitos em espécie devidamente identificados.26

Até as eleições de 2012, a regulamentação do TSE para cada pleito seguiu, literalmente, a disposição legal. É o que se vê, por exemplo, a partir da análise do inciso III do art. 25 da Resolução nº 23.376, de 1º de março de 2012 (BRASIL, 2012), que previu, para as eleições municipais em referência, que as doações para campanhas ficariam limitadas o valor máximo do limite de gastos estabelecido por lei própria (nos termos do então vigente art. 17-A da Lei nº 9.504, de 1997)27 caso o candidato utilize recursos próprios.

Em 2014, entretanto, o Tribunal Superior Eleitoral, influenciado pela interpretação da legislação eleitoral vigente sob a ótica dos artigos 54828 e 54929 do Código Civil, passou a fixar que a utilização de recursos próprios dos candidatos seria limitada a 50% do patrimônio informado à Receita Federal do Brasil na Declaração de Imposto de Renda da Pessoa Física referente ao exercício anterior ao pleito30.

Isso porque, conforme fixado nos autos da Instrução nº 957-41.2013.6.00.0000, de Relatoria do Ministro Dias Toffoli, os dispositivos do Código Civil em referência preveem expressamente que seria nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda

25 Conforme fixado pela legislação eleitoral, em especial pela compreensão do art. 23 da Resolução nº 23.376, de

1º de março de 2012, cominado com o art. 18 da Resolução nº 23.553, de 18 de dezembro de 2017, ambas do Tribunal Superior Eleitoral, são considerados bens estimáveis em dinheiro fornecidos pelo próprio candidato apenas aqueles integrantes do seu patrimônio em período anterior ao pedido de registro da candidatura. Na hipótese, é admitida ainda a utilização de recursos próprios que tenham sido obtidos mediante empréstimo, porém somente quando a contratação ocorra em instituições financeiras ou equiparadas autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, e, no caso de candidatos, quando os empréstimos (i) estejam caucionados por bem integrante do seu patrimônio no momento do registro de candidatura (ii) e não ultrapassem a capacidade de pagamento decorrente dos rendimentos de sua atividade econômica.

26 Este rol encontra-se previsto, a título de exemplo, na Resolução do Tribunal Superior Eleitoral nº 23.217, de 2

de março de 2010, responsável por dispor sobre a arrecadação e os gastos de recursos por partidos políticos, candidatos e comitês financeiros e, ainda, sobre a prestação de contas nas eleições de 2010.

27 Conforme se observa, a despeito da inserção do art. 17-A nas Lei das Eleições em 2016 (incluído pela Lei nº

11.300, de 10 de maio de 2006), nenhuma lei havia sido editada visando fixar o limite de gastos de campanha para os cargos em disputa, de modo que sempre vigeu a segunda parte do dispositivo, responsável por prever que “não sendo editada lei até a data estabelecida, caberá a cada partido político fixar o limite de gastos, comunicando à Justiça Eleitoral, que dará a essas informações ampla publicidade”.

28 Art. 548. É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do

doador.

29 Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade,

poderia dispor em testamento.

30 Vide parágrafo-único do art. 19 da Resolução do Tribunal Superior Eleitoral nº 23.406, de 17 de fevereiro de

suficiente para a subsistência do doador, bem como a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento.

Por fim, em 2015, pode-se perceber, mediante a aprovação da Lei nº 13.165, de 2015, uma reação do Congresso Nacional em face da limitação imposta pela Justiça Eleitoral quando do exercício da sua função regulamentadora.

A Lei nº 13.165, de 2015, teve origem (principalmente) do Projeto de Lei nº 5735, apresentado em 2013 pelo Deputado Illário Marques (PT-CE). Neste projeto, entretanto, não constava, originalmente, a proposta de se inserir na Lei das Eleições o §1º-A ao art. 23 visando fixar o direito do candidato de usar recursos próprios em sua campanha até o limite de gastos estabelecidos pela lei, sem a observância do percentual de 50% fixado pelo TSE.

Esta previsão apareceu pela primeira vez somente em julho de 2015, ou seja, depois da inovação imposta pelo TSE. Isso se deu por meio do Projeto de Lei nº 2078, de 7 de julho 2015, apresentado em Plenário pelos Deputados Mendonça Filho (DEM-PE) e outros. Este projeto foi, na sequência, apensado ao Projeto de Lei nº 5.735, de 2013, dando suporte para Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania apresentar e aprovar um substitutivo ao projeto do Deputado Illário Marques (PT-CE) já com a mencionada previsão do § 1º-A do art. 23 da Lei nº 9.504, de 1997.

Após sucessivas aprovações tanto na Casa de Origem (Câmara dos Deputados) quanto na Casa Revisora (Senado Federal), o projeto fora aprovado e sancionado31 em 29 de setembro de 2015, Lei nº 13.165. Veja:

[...]

Art. 2º A Lei no 9.504, de 30 de setembro de 1997, passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 23. ...

§ 1º As doações e contribuições de que trata este artigo ficam limitadas a 10% (dez por cento) dos rendimentos brutos auferidos pelo doador no ano anterior à eleição. I - (revogado);

II - (revogado).

§ 1º-A O candidato poderá usar recursos próprios em sua campanha até o limite de gastos estabelecido nesta Lei para o cargo ao qual concorre.

31 Vide Mensagem 358, de 29 de setembro de 2015, disponível em <

§ 7o O limite previsto no § 1o não se aplica a doações estimáveis em dinheiro relativas à utilização de bens móveis ou imóveis de propriedade do doador, desde que o valor estimado não ultrapasse R$ 80.000,00 (oitenta mil reais).” (BRASIL, 2015)

Feitas essas considerações iniciais, é preciso agora compreender o impasse refente à aplicação, ou não, destes limites aos candidatos que irão disputar as eleições gerais de 2018.

Conforme será explicado, o art. 11 do Projeto de Lei nº110, de 2017 (nº 8.612, de 2017, na Câmara dos Deputados), responsável por revogar o parágrafo 1º-A do artigo 23, foi vetado pela Presidência da República. Porém, este veto fora derrubado no Congresso Nacional, obrigando o Presidente da República a promulgar o mencionado dispositivo no 15 de dezembro de 2017, data esta, entretanto, posterior àquela fixada como limite para eventuais modificações ao processo eleitoral que possam, em tese, surtir efeitos para as Eleições de 2018.