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o avanço da e uroPa face à turbulência monetária

No documento Reforma do Euro Uma Proposta (páginas 39-42)

Reforma do Euro 2014 Uma Proposta

1. a estrada Para o e uro

1.4 o avanço da e uroPa face à turbulência monetária

Na Europa, e ao contrário do que aconteceu noutros locais, os anos 80 e 90 foram caraterizados por um reforço constante das instituições públicas europeias - isto é, um “proto-estado Europeu” com o aparecimento e crescimento de novas dimensões europeias fundamentais, como a coesão económica e social, o capítulo ambiental do Tratado Europeu e o reforço substancial do orçamento comunitário30.

Este foi um período de fortalecimento rápido e bem-sucedido das instituições europeias, mais particularmente nos anos em que Jacques Delors presidiu à Comissão Europeia, entre 1985 a 1994.

O Ato Único Europeu (AUE), assinado em Fevereiro de 1986, quase um ano depois de Delors ter assumido a presidência da Comunidade Económica Europeia (CEE), desafiou os principais dogmas defendidos pelo Consenso de Washington e conseguiu substanciais avanços ambientais, sociais e regionais, com um reforço dos poderes do Parlamento Europeu (PE) e do orçamento comunitário, por um lado, e por outro, uma reforma rápida no sentido da liberalização do mercado, no âmbito do processo da criação de um mercado único. A Europa de Delors abriu assim uma terceira via que rompeu com a dicotomia “tudo mercado versus tudo Estado”. A importância deste legado Delors não pode ser subestimada e consistiu quase numa refundação da Europa.

29 Stedman, op.cit. pp.220.

30 Ver anexo 4 sobre a evolução do orçamento da União Europeia (UE) comparativamente à evolução do Produto

Quando Delors decidiu dar mais um passo em frente, agora no sentido da criação simultânea de uma união política e uma moeda única, as questões mostraram-se mais complexas e ele não conseguiu reproduzir o sucesso que teve na primeira fase. Um projeto anterior de união política europeia foi abandonado depois da crise provocada pela não ratificação pelo parlamento francês da Comunidade Europeia de Defesa, em 1954. Os líderes europeus pensaram então que, mesmo assim, seria possível relançá-lo após o rápido sucesso do AUE.

Mas a dita união política iria percorrer uma estrada bastante acidentada nos anos seguintes. O Tratado de Maastricht não conseguiu atingir os objetivos a que se propôs. Uma sucessão de conferências foi realizada ao longo de duas décadas até à aprovação do Tratado de Lisboa. Este era suposto ser uma resposta conveniente às questões pendentes na mesa das negociações desde os anos 80 do século passado31.

As turbulências monetárias foram vistas durante muito tempo como o calcanhar de Aquiles da construção europeia, alimentando tensões protecionistas e forçando arranjos complexos – em particular na Política Agrícola Comum (PAC) – que impediam a livre circulação de bens e serviços.

As tensões que levaram ao colapso do sistema de Bretton Woods

tiveram parcialmente origem na Europa. De Gaulle foi um dos chefes de Estado que mais veementemente protestou contra o estatuto privilegiado do dólar, que permitiu aos Estados Unidos financiar a guerra do Vietname através de um enorme défice externo. O presidente da França pediu a conversão em ouro dos créditos do país. Este foi o principal fator que levou à suspensão do sistema dólar-ouro, em 1969 e que também esteve na origem da aprovação europeia do chamado plano Werner, o qual se

31 Embora a questão do Tratado de Lisboa esteja fora do âmbito do presente livro, os autores pensam que este

prejudicou gravemente o papel da Comissão Europeia (CE) e, no geral, foi um sério passo atrás no caminho de uma Europa federalista.

destinava a estabelecer um roteiro para a criação de uma moeda única europeia.

O plano Werner, chamado assim em homenagem ao líder do seu grupo de trabalho, Pierre Werner, Primeiro-Ministro e Ministro das Finanças do Luxemburgo, foi concebido para ser apresentado em Outubro de 1970. Acabou no entanto por ser arquivado depois do recuo francês com base em pressões dos Estados Unidos durante a Cimeira dos Açores, realizada entre os presidentes Nixon e Pompidou, em Dezembro de 1971 na base aérea das Lajes32.

Mas embora o plano Werner tenha sido arquivado enquanto tal, o seu objetivo básico de procura de um acordo cambial estável na Europa continuou através de vários mecanismos utilizados para interligar as moedas dos países da UE33.

O primeiro destes instrumentos foi a “serpente no túnel”34

resultante do Acordo de Basileia de 197235.

Este acordo limitou as flutuações entre as diferentes moedas da UE num intervalo entre mais ou menos 2,25% e acabou por ligar as moedas entre si. Entre 1979 e 1993 foi criado o Sistema Monetário Europeu (SME)36, o qual definiu a Unidade de Conta

Europeia (UCE) que permitiu que as moedas europeias fossem classificadas e oscilassem numa banda mais estreita, de mais ou menos 2,25% e uma mais larga, de mais ou menos 6 %.

O euro iria desenvolver-se na sequência do relativo sucesso destas experiências, apesar de estas terem sido tudo menos calmas e previsíveis.

32 O mesmo local onde, em 2003, se deu uma outra cimeira transatlântica, esta mais trágica, onde foi decidida a

invasão do Iraque.

33 Entre os vários mecanismos, e embora este não seja aqui tratado, é digno de nota o sistema agro-monetário no

quadro da Política Agrícola Comum (PAC), que entrou em vigor em 1969 para amortecer as flutuações da moeda através de uma taxa de conversão chamado “taxa verde”. Deste resultou a introdução de uma taxa de conversão entre a Unidade de Conta Europeia (UCE) e a taxa de câmbio oficial para uma determinada moeda nacional” (pp. 2. consulte Comissão Europeia (CE) (1998)). Veja também Gazagnes (1996).

34 Ver Theron et al. (1972).

35 Ver Acordo dos Bancos Centrais dos Estados-Membros da CEE (1972). 36 Ver Regulamento do Conselho (CEE) n° 3181/1978.

2. m

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No documento Reforma do Euro Uma Proposta (páginas 39-42)