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O Brasil do Plano Real à Nova Matriz econômica

3 ANÁLISE EMPÍRICA

3.2 A Nova Matriz Econômica brasileira à luz da TACE

3.2.2 O Brasil do Plano Real à Nova Matriz econômica

Para entendermos a NME podemos começar citando uma entrevista com o secretário de política econômica, dada ao jornal Valor, em 17 de dezembro de 2012¹:

Márcio Holland, explica o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano por causa da transição do país para o que chama de "nova matriz macroeconômica". Essa matriz combina juro baixo, taxa de câmbio competitiva e uma consolidação fiscal "amigável ao investimento.

Como deixa claro mais a frente, Márcio credita a NME a redução de 5,25% na taxa de juros, redução essa que ocorreu em 12 meses; segundo ele, tal redução na taxa de juros muda o perfil de investimento do país: passa-se a te uma perspectiva de longo prazo ao contrário da atual perspectiva de curto prazo.

Taxa de câmbio competitiva, significa uma taxa de cambio manipulada pelo governo para enfraquecer o Real perante o dólar, até um patamar onde as exportações sejam mais estimuladas em relação a um possível Real valorizado e flutuado livremente.

O termo “consolidação fiscal amigável ao investimento”, refere-se a uma gestão fiscal “anticíclica”, voltada a desonerações (como a da folha de pagamento, do Imposto sobre Produtos Industrializados, a Lei 12.431 que dá tratamento tributário diferenciado a debentures voltadas a investimentos em infraestrutura); ao aumento dos valores desembolsados com o Programa de Aceleração do Crescimento, PAC, bem como os demais subsídios fiscais e de juros.

Por mais paradoxal que possa parecer, Holland não acredita que a NME substitua o tripé econômico implantando em 1999, e utiliza o sistema de metas de inflação como exemplo da conciliação das políticas: “taxas de inflação muito baixas levaram os bancos centrais a terem taxas de juros muito baixas, que, por sua vez, geraram estímulos à formação de bolhas

de ativos”, ou seja, o secretário acredita que é necessário inflação para que os juros não baixem muito, mas que permaneçam baixos para estimularem investimentos de longo prazo.

Apesar das explicações dadas por Márcio Holland, a situação parece outra para Miranda (2014):

A nova matriz econômica representa um embate frontal ao tripé macroeconômico estabelecido em 2014, significando uma política frouxa de combate à inflação (dada sua perseguição de uma taxa de juros baixa), o abandono do câmbio flutuante a partir de maior intervenção do Banco Central e o desajuste das contas públicas por meio de uma política fiscal expansionista.

Após os primeiros sinais de ruínas da NME boa parte da mídia passou a criticar a política econômica adotada pelo governo brasileiro no pós-crise de 2008. Mas os economistas que se dedicam ao estudo da Escola Austríaca já vinham anunciando suas trágicas consequências anos antes.

Em 2010 o PIB do Brasil cresceu 7,5% e foi o maior crescimento em um período de 24 anos. Tudo no país parecia andar às mil maravilhas, e somente um olhar atento como o de Roque (2010) para avisar sobre a situação real. Preocupado com o aumento de 25% no volume de crédito em um período de 16 meses, Roque diz:

Essa acentuada taxa de crescimento na concessão de crédito explica também os (aparentemente) bons números macroeconômicos que o Brasil vem apresentando. (...) Como sempre dissemos neste site, a expansão do crédito e a rapidez com que ela ocorre provoca distorções na economia, de modo a fazer com que os resultados macroeconômicos (taxa de desemprego e crescimento do PIB) de curto prazo sejam aparentemente positivos.

O termo "distorções" é correto, pois trata-se de um crédito que só está sendo expandido nesse volume por causa da expansão da base monetária que o Banco Central vem empreendendo. Ou seja, o crédito não está aumentando porque está havendo poupança (abstenção de consumo) das pessoas. Ele está aumentando porque o Banco Central e o sistema bancário simplesmente estão expandindo rapidamente o volume de dinheiro na economia.

Como dito por Bastiat (2013), toda ação tem duas consequências: uma imediata (que se vê) e uma mais demorada (que não se vê); geralmente, quando a ação imediata traz benefícios a que não se vê traz malefícios, e vice-e-versa. Bastiat (2013) conclui: “Entre um mau e um bom economista existe uma diferença: o primeiro se detém no efeito que se vê; já o outro leva em conta tanto o efeito que se vê quanto aqueles que se devem prever”.

E é exatamente isso que Roque faz ao lembrar que o problema do aumento do crédito, e de seus aparentes benefícios, é que ele não é permanente; como os preços dos fatores de produção estão em constante aumento, devido ao aumento da quantidade de dinheiro na economia, as empresas precisam de mais crédito para terminar seus projetos já iniciados. Esse aumento na demanda por crédito força os juros dos empréstimos para cima, então o Banco Central intervém expandindo mais o crédito para manter os juros baixos e obtém sucesso no curto prazo.

Entretanto, tal intervenção aumenta ainda mais as distorções na estrutura de produção e faz com que mais crédito seja demandado, reiniciando o ciclo que se repete até o momento em que o Banco Central resolve deixar os juros subirem, ou ainda, ajuda nesse processo. Roque (2010) complementa:

Mesmo que o Banco Central continuasse injetando dinheiro indefinidamente, uma hora os bancos teriam de aumentar os juros dos seus empréstimos, pois a expansão monetária estaria provocando um inevitável aumento de preços. Assim, se os bancos não aumentassem os juros cobrados, eles simplesmente receberiam — no momento da quitação do empréstimo — um dinheiro com um poder de compra menor do que o que esperavam receber quando da concessão do empréstimo.

Quanto mais os preços dos fatores de produção sobem, mais desesperadas por empréstimos ficam aquelas empresas que deram início a projetos de longo prazo levadas pela crença de que o crédito seria farto e barato durante muito tempo. O aumento dos preços — e, por conseguinte, dos juros — altera seus planos. Cedo ou tarde, a crise irá se instaurar. O período da expansão econômica irá terminar e dar- se-á início à recessão. Quanto mais cedo esta vier, menor terá sido a destruição de capital desse período da expansão.

Como avisado pela TACE, a única consequência possível de uma expansão da base de crédito é a recessão. No Brasil não tem como ser diferente. A estagnação do crescimento econômico, ou até mesmo um “encolhimento” como é previsto para 2015, e a inflação acima do teto da meta não são os únicos fatores que compravam empiricamente a TACE. Roque (2014) apresenta uma série de gráficos que esclarece a situação atual brasileira.

Figura 13 - Trimestre contra trimestre

Com forte correlação com o PIB, o consumo das famílias também apresenta um quadro preocupante:

Figura 14 - Consumo das famílias

Os investimentos apresentaram queda em 4 dos últimos 5 trimestres pesquisados, o que representa que a confiança dos investidores vem caindo:

Figura 15 - Investimentos por trimestre

A confiança dos investidores não só vem caindo, como já atingiu a mínima em 10 anos:

Figura 16 - Confiança dos investidores

Como reflexo claro da diminuição de investimentos e da confiança dos investidores, a produção industrial vem caindo. Caiu em 10 dos últimos 12 meses no comparativo mês a mês:

Figura 17 - Produção industrial mês a mês

Como não poderia ser diferente, com todos os aspectos macroeconômicos se deteriorando, o emprego também é afetado. O próximo gráfico mostra a variação do emprego na indústria, na comparação com o trimestre do ano anterior:

Figura 18 - Emprego na indústria

Apesar das variações negativas na geração de emprego, o índice de emprego do IBGE tem se mostrado estável em um nível baixo. A figura seguinte, que leva em consideração a ocupação por faixa etária, mostra que uma grande parte da população jovem

não trabalha nem estuda (então não participam do índice) e outra grande parte somente estuda (então não são considerados desempregados):

Figura 19 - Atividade dos jovens de 15 a 29 anos

A situação é, de fato, muito ruim. Como já explicado, a expansão do crédito cobra seu preço. O endividamento das famílias e das empresas é mais um alto preço a ser pago. Quanto mais a alto o endividamento, menor será a demanda por novos empréstimos e maior a cautela dos bancos em conceder crédito. E como uma parte considerável da renda é destina ao serviço da dívida, menor é o consumo e menor a poupança, por consequência, menor há de ser o investimento e a geração de empregos.

Figura 20 - Endividamento - Pessoa Física

A última consequência a ser tratada aqui, é a desvalorização do Real. Uma moeda forte significa maior poder de compra em relação às demais moedas; significa que o povo de seu país está ficando mais rico que os demais. O contrário também é válido. A desvalorização cambial mostra o quanto os preços tem subido em uma economia em relação a outra e, também, quanto os investidores confiam nessa mesma economia. O caso do Real se mostra preocupante. Os gráficos a seguir mostram a variação de valor da nossa moeda em relação a outras divisas:

Figura 23 - Franco Suiço X Real em fevereito de 2015

Figura 25 - Libra esterlina X Real em fevereiro de 2015

Como se pode perceber, a variação cambial se mostra um perfeito reflexo da situação econômica por qual passa o Brasil.

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