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CAPÍTULO 1 O FENÓMENO DA VIOLÊNCIA

2.1. A Violência escolar

2.1.3. O bulliyng

É inegável que no contexto escolar podemos assistir a diversas formas de violência que podem afetar alunos, professores e funcionários. Assim, o bullying mostra-se um fenómeno cada vez mais presente nas nossas escolas.

Segundo Costa (2011), bullying é um termo inglês utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetitivos, que são praticados por um indivíduo (bully – valentão) ou grupo de indivíduos e cujo objetivo é intimidar ou agredir fisicamente, moralmente, outro indivíduo, (ou grupo de indivíduos) incapazes de se defender.

De acordo com Carvalhosa (2010), o conceito de bullying surgiu como resposta á necessidade de caracterizar um tipo particular de violência ou de agressão que ocorre entre pares. Nesta lógica, surgem então as primeiras investigações, nos anos 70 com o norueguês Dan Olweus. Os seus estudos tomaram um rumo mais específico na temática do bullying, e o seu primordial objetivo era diferenciar a prática do bullying de possíveis brincadeiras de crianças, como as depreciações (Leão, 2010). Em Portugal, os primeiros

estudos surgem um pouco mais tarde, na década de 90, com trabalhos realizados sobre comportamentos disruptivos e problemas disciplinares entre professores e alunos. A tradução do conceito de bullying foi proposta por Almeida e aproxima-o das expressões “abusar dos colegas”, “vitimizar”, “intimidar” e “violência na escola” (Sebastião, 2009).

Sebastião (2009), sustenta que o bullying é uma forma particular de violência entre crianças e adolescentes, desenvolvendo-se maioritariamente em contextos de interação não regulados por adultos. E marcado pela utilização de formas de dominação e

perseguição destrutivas da individualidade da vítima, desenvolvendo-se por períodos de tempo prolongados. O bullying é praticado sobre crianças ou jovens mais inseguros, mais fáceis de amedrontar e/ou que têm dificuldade em se defender ou pedir ajuda (Pereira, 2008).

De acordo com Barros, Carvalho, & Pereira (2009), os atos de bullying reconhecidos na escola ostentam determinadas características comuns: são comportamentos

produzidos de forma repetitiva num período prolongado de tempo contra uma destinada vítima; existe uma relação de desequilíbrio de poder, o que impede a defesa da vítima; são comportamentos deliberados e danosos, que ocorrem sem motivações evidentes. Em consonância, Pereira (2008) alega que é a intencionalidade danosa e a persistência de uma prática a que a vítima é sujeita o que diferencia o bullying de outras situações ou comportamentos agressivos. É um comportamento onde se encontra sempre implicado o envolvimento ativo de, pelo menos dois sujeitos, aquele que agride (o agressor) e aquele que é vitimizado (a vítima) (Seixas, 2005). Nesta perspetiva, quando ocorre um episódio de bullying ocorre simultaneamente uma situação de vitimização e de agressão (Seixas, 2005).

(verbalizar intencionalmente nomes ofensivos, apelidar); de comportamentos de manipulação social ou indiretos (excluir, ignorar, espalhar rumores); de

comportamentos de maus-tratos psicológicos (ameaças, gestos provocadores,

expressões faciais ameaçadoras); e de ataques à propriedade (furto, extorsão, destruição deliberada de materiais/objetos). E, algumas destas formas podem estar agregadas, ou seja, a vítima recebe conjugadamente ataques das diversas formas de bullying (Seixas, 2005; Gonçalves, Gonçalves e Lima, 2009).

Segundo Raimundo e Seixas (2009), num estudo realizado com alunos de uma instituição educativa do distrito de Lisboa, o bullying verbal é o mais frequente, seguido do bullying físico. Em concordância com estes dados está o estudo de Pereira et al. (2009), que constatou que o insulto era a forma de bullying mais frequente, seguindo-se- lhe agressão física.

Todavia, segundo Antunes & Zuin (2008), o bullying não é uma simples

manifestação de violência sem qualquer fator determinante. Na realidade, de acordo com os autores, o bullying aproxima-se do conceito de preconceito, especialmente quando se aproxima de fatores sociais que caracterizam as vítimas.

Como já referenciado, o bullying implica um agressor e uma vítima. Contudo, existe ainda outro tipo de protagonista neste fenómeno: a testemunha/observador. Passaremos neste ponto um olhar mais aprofundado sobre cada um dos intervenientes neste tipo de situações.

Os agressores, de acordo com alguns estudos (Carvalhosa, Moleiro & Sales, 2009; Raimundo & Seixas, 2009), são na sua maioria rapazes. Têm uma idade superior á média de idades do seu grupo, sendo frequente terem historial de insucesso escolar. Habitualmente são fisicamente os mais robustos da classe, servindo esta característica como arma para garantir a sua superioridade no grupo; o seu rendimento escolar é baixo

e não seguem o ritmo de aprendizagem do grupo; revelam também, uma atitude negativa em relação á escola; e vivem as relações familiares com um certo grau de conflito (Cerezo, 2001). Além do que acaba de referir, Cerezo (2001) avança um conjunto de características de personalidade que parecem ser relevantes para a caracterização do agressor, nomeadamente um alto nível de agressividade e de ansiedade, o que permite que acate mal as normas, e um elevado grau de desafio. Consideram-se ainda sinceros, não sentindo a de aparentar serem melhores do que na realidade são. A sua autoestima é ligeiramente alta e o seu auto controlo escasso. De uma forma geral, os alunos agressores encontram-se significativamente associados a comportamentos antissociais (Seixas, 2009).

Por sua vez, estudos parecem demonstrar (Carvalhosa et al., 2009; Espinheira & Jólluskin, 2009) que as vítimas são também normalmente rapazes. A sua idade é inferior á dos agressores, mas de acordo com a média do grupo. Na maioria, são de constituição física débil e o seu rendimento escolar é médio-baixo, porém, superior ao dos

agressores. As suas relações familiares são um pouco mais estáveis que as dos

agressores, mas não chegam a ser adaptativas, acabando por ser sentir sobre-protegidos e com pouca independência (Cerezo, 2001). No que diz respeito às características de personalidade, as vítimas mostram pouca assertividade, associada a um alto nível de timidez e de ansiedade, o que se traduz em retraimento social e isolamento. Mostram tendência para a dissimulação e tentam aparentar ser melhores do que realmente são. O nível da autoestima é normalmente moderado e inferior ao dos agressores. O seu nível de auto controlo também se revela médio (Cerezo, 2001). De acordo com Cerezo estão Marriel e colaboradores (2006), que sustentam que as vítimas de bullying têm

contribuir para a evasão escolar uma vez que não conseguem suportar a pressão a que são submetidos.

As testemunhas ou observadores deste fenómeno são os atores que não se envolvem diretamente nos comportamentos de bullying. Segundo Carvalhosa (2010), apesar de as testemunhas não se poderem considerar atores diretos nas situações de bullying, o seu comportamento acaba por reforçar as ações desencadeadas pelos agressores. A autora defende ainda que, este grupo tem maior potencial para prevenir as situações de bullying, uma vez que possui as competências pessoais e sociais para poder agir de modo a não tolerar o bullying, ou a relatar as situações que conhece.

O bullying no contexto escolar constitui um problema com uma prevalência elevada, e acarreta diversas consequências quer para as vítimas, quer para os agressores e até mesmo para as testemunhas. De entre os diversos efeitos do bullying, podem destacar-se o comprometimento da aprendizagem e a influência no abandono escolar precoce. Também a perturbação das relações interpessoais e do desenvolvimento socioemocional dos alunos e a redução do clima de seguranças e proteção são efeitos acrescidos

(Carvalhosa et al., 2009).

Esse tipo de comportamento desenvolvido no ambiente escolar (sala de aula, recreio, atividades extra curriculares e também ambientes externos, mas pertencentes à rotina escolar) causa um clima de indisciplina e stress ocupacional, perturbando todos os atores envolvidos nesse meio, tais como professores, alunos, auxiliares, etc (Lourenço, Pereira, Paiva & Gebara, 2009).

A exposição a este tipo de violência pode ter efeitos a nível do desenvolvimento físico, mental e social das crianças e dos adolescentes. Vítimas e agressores podem exibir lesões físicas, desenvolver perturbações psicológicas tais como depressão, traumas, ansiedade e dificuldades nas relações de proximidade. Em alguns casos, as

consequências podem ser fatais, acabando por causar a morte ou incapacidade permanente (Matos et al., 2009).

As vítimas apresentam ainda, uma tendência para adotar determinados

comportamentos de risco tais como o consumo de substâncias, o fraco envolvimento escolar e familiar, o absentismo ou abandono escolar, alguns comportamentos sexuais de risco e comportamentos que coloquem em causa a sua integridade física ou a de outros (Matos et al., 2009). É neste sentido que Costa (2011), alega que o bullying é uma prática que visa infringir danos severos à integridade física e psicológica da vítima, e que as ações levadas a efeito (os atos de desprezo, para denegrir, violentar, agredir, destruir a estrutura psíquica do semelhante sem motivação alguma e de forma repetida) provocam reações orgânicas de transtornos e geram medos, principalmente nas vítimas.

Quanto aos alunos observadores, uma vez que as situações se repetem com frequência, estes alunos sentem-se impotentes para intervir, aprendendo a ser indiferentes e a tomar atitudes de distanciamento e de não-intervenção ativa em situações que causam sofrimento ao outro (Amado & Freire, 2002).

CAPÍTULO 2 – ADOLESCENTES AGRESSORES NO CONTEXTO

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