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O CÂNONE DA LITERATURA BRASILEIRA TRADUZIDA NA ITÁLIA

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4 BRASIL E ITÁLIA: TRÊS DÉCADAS DE CONEXÕES LITERÁRIAS EM TRADUÇÃO

4.3 O CÂNONE DA LITERATURA BRASILEIRA TRADUZIDA NA ITÁLIA

Como já acenado anteriormente, durante o levantamento e organização do corpus, utilizamo-nos principalmente da base de dados do Index Translationum, que constitui o alicerce deste trabalho. O Index, contudo, mostrou-se inconcluso em alguns pontos, o que nos obrigou a buscar no Sistema bibliotecario nazionale italiano as informações necessárias à compilação final. As questões que exigiram maior atenção foram:

1) Separação de autores brasileiros dos autores portugueses e lusófonos;

2) Número de páginas; 3) Nome do tradutor.

O primeiro item fora mais ameno no que concerne à pesquisa de autores literários, justamente por já termos familiaridade com grande parte dos autores elencados, enquanto nas outras áreas do conhecimento demandou maior cautela. As questões número de páginas e nome do tradutor, respectivamente, foram resolvidas entrando em contato com as editoras, que muitas vezes disponibilizam a informação em suas páginas na internet. Quando as obras carentes de informação estavam fora de circulação, não encontrávamos informações com as editoras, muitas vezes já extintas. Dessa forma, recorremos a uma ferramenta que nos fora extremamente útil durante o levantamento de dados: as plataformas

de livros usados. No caso de obras brasileiras traduzidas na Itália, recorremos, maiormente, ao site Il libraccio68, que, além dos livros escolares, oferece um acervo que atravessa vinte e sete categorias do saber.

Ao final da pesquisa, considerando os dados do Index, do Sistema Bibliotecário Central da Itália e as informações adicionais de Il Libraccio, chegamos às planilhas “Literatura brasileira traduzida na Itália”, disponíveis nos Anexos 1 a 7 deste trabalho. Os dados gerais que delas emergem nos informam:

Quadro 5 - Mapeamento publicações brasileiras na Itália 1977-2007

Número de publicações 401

Número de autores publicados 59

Ano em que mais se traduziu 1999

Média de páginas por livro 250,9

Autor mais traduzido Jorge Amado

Obra mais traduzida O Alquimista

Fonte: A autora (2016).

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Figura 13 - Gráfico dos 10 autores brasileiros mais traduzidos na Itália 1977-2007

Fonte: A autora (2016).

Tabela 6 - Quantitativo de publicações por autor brasileiro na Itália (1977- 2007)

Autor Total de publicações Obras traduzidas

Jorge Amado 106 30 Paulo Coelho 86 15 Clarice Lispector 20 13 Guimarães Rosa 17 08 Frei Betto 12 11 Machado de Assis 10 08 Rubem Fonseca 9 07 Drummond de Andrade 9 08 Zélia Gattai 7 05 Moacyr Scliar 6 05 Fonte: A autora (2016).

Figura 14 - Gráfico das obras brasileiras traduzidas na Itália (1977

Fonte: A autora (2016).

Para falar sobre os autores brasileiros mais traduzidos na Itália, procuramos nos basear para além dos dados levantados, nas duas histórias literárias69 que tratam de literatura brasileira presentes no mercado italiano: Breve Storia della letteratura brasiliana (2005), de Luciana Stegagno Picchio e Letteratura brasiliana (1993), de Antonio Olinto.

A definição das histórias foi feita considerando o período do corpus estudado. Ainda que haja poucas histórias literárias de literatura brasileira na Itália, há outras publicações que retratam apenas um dos períodos de nossa literatura ou alguma especificidade, como, por exemplo, as obras 1500 - Sguardo sulla letteratura brasiliana di viaggio (2013) de Mirella Abriani, e Medioevo nel Sertao. Tradizione medievale europea e archetipi della letteratura popolare nel Nordeste del Brasile (1984), de Silvano Peloso. Além das histórias literárias abordadas, também recorreremos às publicações acadêmicas mais recentes dos pesquisadores envolvidos com ensino e tradução de obras brasileiras.

O ranking apontado na Tabela 6 aponta que os dez escritores brasileiros mais traduzidos na Itália seguem, quase em sua totalidade, o mesmo gênero literário: a narrativa. Contudo, seguiria essa narrativa o mesmo padrão ou comporia um cenário em prosa mais diversificado? A teoria dos polissistemas, através de Even-Zohar e, posteriormente, Toury, fora pioneira em considerar a cultura-alvo (através de seu próprio sistema) como parte legisladora do que é traduzido (GENTZLER, 2009, p. 158). Efetivamente, a escolha pelas histórias literárias perpassa tal pressuposto, pois, enquanto instituições do sistema, também estabelecem o perfil da literatura traduzida.

Com a ajuda das histórias literárias, percorreremos o caminho das obras que compõem o cânone brasileiro na Itália. Entretanto, antes de iniciar, é necessário esclarecer que o ranking apresentado segue a metodologia do Index Translationum, que considera os autores mais

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69 Sobre a posição das histórias literárias, Massimo Onofri narra um episódio da década de oitenta do século XX em que os escritores Leonardo Sciascia e Elio Vittorini se vigiavam na disputa por espaço nas histórias literárias e, no entanto, ambos foram superados (à época) por uma grande obra de Brancati (ONOFRI, 2015, p. 2). Para Onofri, tal fato demonstra como o valor de um escritor será inevitavelmente submetido a oscilações violentas, não somente no que diz respeito ao gosto dos leitores, mas também através das histórias literárias. Essas oscilações poderão durar mais ou menos tempo, mas estarão presentes em algum momento da vida do escritor.

publicados em cada ano do período escolhido, não representando o número de tiragens e vendas anuais. Se assim fosse, Paulo Coelho figuraria no topo do ranking, visto que, somente até 2004, a obra L’alchimista (1995, primeira edição italiana) vendera mais de um milhão de cópias70.

Sendo as histórias literárias parte imprescindível na recepção de nossas obras na Itália, faz-se necessário conhecer suas estruturas e como abordam o percurso literário brasileiro. Observemos suas classificações por ordem de publicação:

Quadro 6 - Classificações por ordem de publicação LETTERATURA

BRASILIANA (1993)