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CAPÍTULO 3: Assim a Manchete e O Cruzeiro apresentavam JK

3.1 O candidato Juscelino vai à procura do povo

A Manchete já dava destaque à figura de Juscelino quando de sua candidatura à presidência da República, no ano de 1955, auxiliando, através de suas reportagens, a promovê-lo como candidato que vai à procura do povo, diretamente, em vários recantos do país e que transmite uma mensagem de esperança aos brasileiros, esperança esta que sabemos ser um dos pontos importantes no discurso juscelinista.

Ao se aproximar da população, Juscelino, cuja oratória era “capaz de entusiasmar as multidões”, (Maranhão, 1988: 17) conseguia se comunicar com o homem simples do povo, com alegria e infundir-lhe confiança no destino do país. Ele se colocava como um homem igual aos outros; afinal, sua trajetória de vida se iniciara como menino pobre, órfão de pai e que precisara trabalhar como modesto telegrafista para se sustentar enquanto fazia o curso de medicina em Belo Horizonte. Se chegara a ocupar o posto político mais relevante do país, isto não significava que havia deixado de ser “um homem como os outros”31, nem que havia abandonado seus hábitos simples como, por exemplo, descalçar os sapatos sempre que a ocasião o permitia. Tais características, como também a sua maneira muito particular de chegar ao povo e a facilidade de comunicação com as massas foram pontos que a revista Manchete sempre procurou destacar na figura de JK.

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Em janeiro de 1955, em uma seção intitulada “A marcha da sucessão – “Ballet” dos Candidatos”, as referências ao estilo do candidato que, pessoalmente, vai ao encontro do povo e cuida, ele próprio, ativamente, de sua luta para chegar ao Palácio das Águias, são claras:

Sem esperar a Convenção Nacional do PSD o Sr. Juscelino Kubitschek atirou-se, como havia previsto esta seção, à conquista do povo. E para falar a verdade, neste momento só lhe resta mesmo uma atitude heróica de contato com todos os brasileiros para uma ocupação, palmo a palmo, do território político transbordante de impecilhos e imprevistos. [...] Não se encastelou ele em Belo Horizonte para aguardar, mineiramente, brasileiramente, que os convencionais homologassem o seu nome em fevereiro próximo. O Governador Mineiro é como certos escritores que redigem o livro, passam a limpo na máquina de escrever, encomendam a edição, escrevem o prefácio, redigem a orelha da capa e levam os pacotes para as livrarias em consignação, depois da obra revista e impressa. [...] E aí se encontra ele, percorrendo os Estados, consciente no seu desejo, levando esperança e confiança aos brasileiros do interior.32

Com este texto, a revista Manchete nos aponta JK como o homem de ação que não se conforma em esperar que os fatos aconteçam. Ele se lança, em “atitude heróica”, na batalha pela sua candidatura à presidência da República, mesmo sabendo que iria encontrar pelo caminho inúmeros “impecilhos e imprevistos”. Isto não o desencoraja; muito pelo contrário, faz com que cuide pessoalmente e de perto de todos os pontos que permitiriam que a sua vontade de governar o país se concretizasse, tal como alguns escritores que, desejando ver sua obra sendo lida, tratam, eles mesmos, de todos os detalhes para que esta possa chegar ao alcance do público.

De acordo com Manchete, havia uma certa dificuldade em se encontrar um candidato que fizesse face aos pontos positivos que favoreciam o governador de

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Minas. Após analisar as mais variadas possibilidades de nomes para competirem com o sr. Juscelino Kubitschek na batalha pela presidência da República, a revista conclui:

De qualquer forma se apresenta difícil uma solução eleitoral para ameaçar a candidatura Juscelino Kubitschek. Esta é a realidade nua e crua. O pessedista se lançou com uma boa base eleitoral, que é o seu Estado (1 milhão de votos, no mínimo) e se encontra capacitado para aglutinar outras forças populares. [...] E talvez a indecisão que vem marcando os seus adversários seja mesmo um fator de vitória. [...] E enquanto o governador de Pernambuco conversa, o governador de Minas, sem deixar de lado o recurso de conversar pessoalmente com líderes civis e militares, trata de impulsionar sua candidatura.33

O aspecto conciliatório da figura de JK, que conversava “pessoalmente com líderes civis e militares”, é freqüentemente apontado pelos estudiosos de seu governo e de sua personalidade como fator relevante no que se refere à sua maneira de conduzir a política. Ao longo deste trabalho, mostrarei que a Manchete também não deixa de se referir em algumas reportagens a esta marca pessoal de Juscelino.

De acordo com a preocupação da revista Manchete em sempre mostrar o aspecto de homem simples, que provinha do povo e que estava sendo apoiado por este, encontramos nas páginas daquele periódico, ainda na época da campanha presidencial, o próprio Juscelino se colocando como um homem comum:

“Um homem como os outros” --- assim se definiu a si mesmo o sr. Juscelino Kubitschek de Oliveira, no discurso em que agradeceu a indicação de seu nome como candidato do Partido Social Democrático à Presidência. Ex-telegrafista, ex-médico da Força Policial de Minas Gerais, sabe o governador mineiro que toda a sua força vem do apoio que lhe tem

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dado o povo. “Mas este homem comum, este homem simples que fizestes hoje vosso candidato à Presidência da República tem algumas idéias”.34

JK, ao mesmo tempo que se colocava como “ homem comum”, dizia ter “algumas idéias”, idéias inovadoras que ele desejava que transmitissem a imagem do candidato mais adequado ao cargo que estava em vias de disputar.

Após Juscelino ter vencido as eleições, o que se deu em outubro de 1955, a revista Manchete entrevistou o presidente e trouxe na capa uma foto sua. A reportagem em questão, que ocupou algumas páginas, foi assinada por Evandro Carlos de Andrade e fotografada por Gervásio Baptista que, conforme já foi dito, se consagrou como nome de grande valor no campo da fotorreportagem.