Crimes Eleitorais - TRE/RS
4.2 Ações e políticas públicas de prevenção e combate a corrupção eleitoral
4.2.1 O caso do movimento de combate à corrupção eleitoral 17
O Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral - MCCE foi constituído em 2002 durante o período eleitoral, porém desde a Campanha da Fraternidade de 1996, que teve por tema "Fraternidade e Política", a Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP), órgão que mantem vínculo com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), difundiu o Projeto "Combatendo a corrupção eleitoral", em fevereiro de 1997.
Desde então, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral - MCCE expandiu sua atuação e, atualmente, funciona de modo constante com ações em todo o Brasil.
17Todas as informações contidas nesse item foram retiradas da homepage do Movimento Contra a Corrupção Eleitoral – MCCE (2012, <http://www.mcce.org.br/site/index.php>).
Além disso, no ano de 2006 ocorreu a criação da Secretaria Executiva do Comitê Nacional do MCCE, sendo que em abril de 2007, a Secretaria Executiva do Comitê Nacional do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (SE-MCCE), Organização não governamental (ONG), sem fins lucrativos, fora oficializada.
No presente momento, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral - MCCE é uma organização da sociedade civil formado pela integração de 50 (cinquenta) entidades nacionais de diferentes segmentos, desenvolvendo uma rede com movimentos, organizações sociais, organizações religiosas e entidades da sociedade civil.
Dentre as diversas atividades que a ONG se propõe, é possível citar sua efetiva participação na mobilização da sociedade brasileira em favor da aprovação das duas exclusivas leis de iniciativa popular anticorrupção no Brasil: a Lei nº 9.840/99 conhecida como “Lei da Compra de Votos”, que permite a cassação de registros e diplomas eleitorais pela prática da compra de votos ou do uso eleitoral da máquina administrativa. E, ainda, foi um dos responsáveis pela campanha que desencadeou a aprovação da Lei Complementar nº 135/2010, popularmente chamada como “Lei da Ficha Limpa”.
Outra campanha coordenada pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral - MCCE em 2010 foi a “Corrupção Eleitoral e Saúde Voto não tem preço. Saúde é seu direito!” visava explicar aos eleitores sobre serviços de saúde garantidos por lei e que não podem nem devem ser trocados por voto.
Recentemente, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral - MCCE vem trabalhando com um projeto para a Reforma do Sistema Político Brasileiro que se deriva de mais uma iniciativa popular que o movimento coordena.
O Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral – MCCE está organizado com uma estrutura que começa pela Secretaria Executiva do Comitê Nacional em Brasília, cuja finalidade apoiar e fortalecer políticas e ações da ONG;
Diretoria colegiada do MCCE; Comitê Nacional, que acompanha a criação e a manutenção dos trabalhos dos Comitês estaduais, municipais e locais do MCCE.
Ademais, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral possui eixos de atuação, quais sejam: fiscalização, visando assegurar o cumprimento da Lei
9.840/1999 e da LC 135/2010 (Ficha Limpa); educação com intuito de colaborar com a concretização de uma consciência dos eleitores de que “voto não tem preço, tem consequências”; monitoramento que visa acompanhar ações do Congresso Nacional relacionadas à Lei 9.840/1999 e à LC 135/2010, como forma de controle social do orçamento público e da administração pública, com o objetivo de impedir desvio de recursos com fins eleitorais bem como fazer o acompanhamento das ações de seus candidatos.
Sobre o controle social Hermany e Frantz (2014, p. 468) explicam que,
[...] o controle social se produz com a participação do cidadão na gestão pública, especialmente, [...] na fiscalização, no monitoramento, no controle das ações da administração pública e no acompanhamento das políticas, sendo um importante mecanismo de fortalecimento da cidadania.
Ao encontro a esse entendimento, o Movimento possui três desafios, que são: acelerar o julgamento dos processos; fazer com que a Lei 9.840/1999 e a LC 135/2010 com a finalidade de expandir suas aplicações e acompanhamentos e, por fim, articular a ação por eleições limpas tentando combater todas, ou quase todas, as formas de corrupção.
No ano de 2009, o MCCE realizou uma pesquisa18 com intuito de identificar quantos políticos foram cassados por corrupção eleitoral no período entre 2000 a 2009, para verificar se após as medidas introduzidas na legislação eleitoral pela Lei n° 9.840/99, geravam efeitos concretos para àqueles políticos que haviam cometido ilícitos de cunho eleitoral.
De acordo com o relatório da pesquisa o número de sentenças de cassação em primeiro grau considerando todas as zonas eleitorais em 2000 foi de 162, em 2004 foi de 388 e em 2008 foi de 343, em todo território nacional, sendo que a região sul corresponde a 19,24% desses casos.
Com relação às chapas de prefeitos cassadas, após julgamento dos recursos, também a nível nacional no ano de 2000 foram 40, em 2004 foram 71 e em 2008 foram 119. O resultado ao final dos três pleitos foi um total de 667 prefeitos, vices e vereadores cassados.
18 O relatório da pesquisa está disponível no site do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral: <http://mcce.org.br/site/pdf/RelatorioSintese.pdf> . Acesso em: 05 nov. 2014.
O que se pode concluir com a promulgação dessas leis que pretendem aperfeiçoar os mecanismos de controle e combate à corrupção eleitoral no Brasil é que as mesmas produziram efeitos, até por que o resultado do relatório demonstrou um crescimento linear no número de políticos cassados. Porém importa destacar que, o número de prefeitos cassados somente em 2008 (119 cassações) e, considerando que o Brasil possui ao todo 5570 (cinco mil quinhentos e setenta) municípios tem-se um índice de 2,15% de cassações.
Logo, constata-se que, ou o índice de corrupção eleitoral é muito baixo nos municípios do território nacional, o que destoa da realidade brasileira atual tendo em vista a quantidade de notícias relacionadas a processos de cassação, investigação judicial e afastamento de políticos de seus mandatos;
ou, os mecanismos existentes não estão cumprindo a sua finalidade precípua.