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CAPÍTULO III – FONTES DE DADOS E MÉTODO

3.2 O Censo Escolar

O censo escolar, fonte de dados principal a ser utilizada neste trabalho, traz importantes informações sobre o universo escolar, (características dos alunos matriculados infraestrutura, formação docente etc.). Contudo, não dialoga com outras bases de dados, não sendo possível, por exemplo, obter informações sobre condições socioeconômicas ou grau de instrução da mãe, como permite o censo demográfico.

Apesar do nome, esta fonte de dados é, na verdade, um registro administrativo levantado anualmente pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), preenchido atualmente através da plataforma digital Educacenso por funcionários das escolas em parceria com as secretarias municipais de educação. O questionário é composto por quatro diferentes módulos: escola, turma, aluno e profissional em sala de aula.

Os dados provenientes são, desde sua formulação, em 1995, a fonte de informações primária utilizada pelo Ministério da Educação e outras instituições para monitorar a performance do sistema escolar, identificar falhas e pontos frágeis na educação brasileira e fomentar políticas educacionais que sejam capazes de lidar com esses problemas (DINIZ, 1999; FLETCHER; RIBEIRO, 1989).

Apesar das limitações explanadas anteriormente, o censo escolar assume uma função fundamental na execução da educação inclusiva tal como destacado por Leijoto (2015), pois, além da produção de indicadores ele identifica a forma como o recurso do FUNDEB deve ser distribuído entre as escolas.

O FUNDEB33 (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) é um fundo de recursos estaduais, destinado às estâncias administrativas (estados e municípios) que oferecem educação básica. Assim, os recursos são distribuídos automaticamente de acordo com o número de alunos de cada escola segundo os dados do último censo escolar realizado. No que tange a educação especial, as

33 Disponível em: https://www.fnde.gov.br/index.php/financiamento/fundeb/sobre-o-plano-ou-programa/sobre-o-

escolas que possuem alunos matriculados no AEE (Atendimento Educacional Especializado) recebem o recurso dobrado devido a dupla matrícula desses alunos. Tal como explicitado pelo Decreto 7.611/2011, no art. 9 § 1º onde “A dupla matrícula implica o cômputo do estudante tanto na educação regular da rede pública, quanto no atendimento educacional especializado” (BRASIL, 2011) o que, em tese, permite que a escola tenha os meios para garantir os recursos necessários para a permanência desses alunos.

Conforme visto anteriormente sobre o censo demográfico, o entendimento dos conceitos por detrás das perguntas realizadas é essencial para a compatibilização e comparação de questionários. Para o período analisado (2013-2017), mantém-se a concepção de deficiência adotada é a mesma defendida pela Convenção das Pessoas com Deficiência e pela constituição brasileira, ou seja:

Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo, de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (BRASIL, 2017).

Portanto, não existem limitações no âmbito da compatibilização dos questionários para a análise do período em questão, sendo necessária apenas a recodificação de uma ou outra pergunta que teve suas alternativas de resposta modificadas entre um ano e outro.

Contudo, o censo escolar é incapaz de mensurar qual a parcela da população brasileira com deficiência que têm acesso à educação, ao passo que contabiliza apenas a população inserida no sistema escolar. Nesse sentido, o Brasil carece de uma fonte de dados anual que registre o total da população com deficiência, lacuna que poderia ser sanada com a inserção de um bloco de questões sobre deficiência na PNAD34 que a articulasse com outras

esferas da vida social. A saída encontrada para uma aproximação no presente trabalho foi a utilização do censo demográfico de 2010, a partir do qual é possível captar a população com deficiência por grupo etário, permitindo avaliar não só quem está inserido no sistema escolar, mas principalmente quem não está.

Diferentemente do censo demográfico, o censo escolar computa as deficiências e não a funcionalidade. Com a finalidade de apreender as diferentes necessidades educacionais especiais que o alunado possa ir a apresentar, além das deficiências, o questionário capta

34 É verdade que poderíamos estimar a população através de técnicas de projeção, porém, entende-se aqui que

devido aos efeitos da mortalidade sobre essa população serem diferentes dos que atingem o restante da população, a projeção acaba apresentando importantes limitações.

também informações sobre todo o público da educação especial, ou seja, aqueles com transtornos globais do desenvolvimento (TGD) e altas habilidades/ superdotação.

Para além de verificar o acesso, objetiva-se, principalmente, examinar a permanência no sistema de ensino e, para tanto serão perseguidos três objetivos específicos: (a) traçar o perfil da população em idade escolar com alguma deficiência inserida no sistema escolar; (b) verificar se a infraestrutura escolar e a formação docente são adequadas e condizentes com a legislação vigente e (c) examinar os índices e fatores associados à distorção idade/ano. Pretende-se, a partir dessa abordagem, compreender quais os fatores com maior influência sobre a permanência. Tendo em vista o processo e as discussões presentes nos Capítulos I e II, foram selecionadas para análise descritiva as variáveis do censo escolar que dialogam com tais processos, sintetizadas no Quadro 1:

QUADRO 1 – Variáveis utilizadas, Censo Escolar de 2013 e de 2017

Questionário Variável Categorias

Matrícula

Sexo Feminino

Masculino

Idade Grupos etários

Raça/cor Não declarada Branca Preta Parda Amarela Indígena

Possui deficiência Não

Sim

Tipo de deficiência, transtorno ou superdotação Cegueira Baixa visão Surdez Deficiência auditiva Surdo cegueira Deficiência física Deficiência intelectual Deficiências múltiplas Autismo Asperger RETT TDI Superdotação Modalidade de ensino Turma regular Classe exclusiva Etapa de ensino Ano ensino do fundamental de 9

anos

Profissional em sala de aula

Escolaridade Superior

Licenciatura no curso 1 Não Sim Formação continuada- educação

especial

Não Sim Função na escola Docente

Intérprete de Libras Escola Localização Urbana Rural Grande Região Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Dependência administrativa Pública

Privada

Sala de recursos Não

Sim

Sanitários PNE Não

Sim Dependências e cias acessíveis

PNE

Não Sim Fonte: Elaboração própria.

Foram mantidas no banco também as variáveis de identificação das escolas, turmas e alunos, necessárias para construir um banco unificado para cada ano em análise agregando variáveis de interesse relativas à matrícula e à escola.