• Nenhum resultado encontrado

3. Enquadramento da Prática Profissional

4.1. Área 1: Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem

4.1.2. Realização do Ensino

4.1.2.7. O Clima de Aprendizagem: A afetividade que leva à motivação

Com base na minha experiência de aluna, desde o princípio que pretendi criar laços de afetividade com os meus alunos, para poder proporcionar um bom clima de aula e assim fomentar o seu sucesso, pois, e segundo Sêco (1997, p. 105): “só a afetividade na educação assegura a efetividade da

educação”. Ainda o mesmo autor menciona que a aprendizagem é facilitada

quando o indivíduo trabalha com prazer e os seus esforços são coroados de êxito, referindo ainda que o sucesso escolar depende menos dos fatores intelectuais e mais dos afetivos, que são da maior importância na fase da adolescência, pois é um momento em que a fragilidade da vida intelectual tem como contrapartida uma emotividade muito maior. A aprendizagem é um processo ativo, em que o professor tem como função criar situações, que devem levar ao desenvolvimento da motivação e, assim, contribuir para o sucesso dos alunos. Mais ainda Rink (1993) salienta que a participação ativa no processo de aprendizagem é facilitada se os estudantes se apresentarem motivados.

Nesta medida, a otimização do ambiente de aprendizagem exige a consideração do sistema de relações entre o professor e o aluno, sendo num ambiente caloroso e vivencial, de consideração e cuidado numa orientação clara para o aluno, que os níveis mais elevados de participação podem ser conseguidos (Rosado & Ferreira, 2011). É da maior importância que um professor compreenda e encare o ambiente relacional como determinado por diferentes variáveis, entre as quais deve ser destacada a afetividade, e que veja as ligações emocionais e a gestão das emoções como aspetos nucleares

75

da gestão dos ambientes de aprendizagem. Compreende-se, assim, que o ambiente relacional é decisivo na satisfação pessoal dos professores e dos alunos, na manutenção da disciplina, no empenhamento nas tarefas e no crescimento, individual ou de grupo, no domínio sócio afetivo: “a afetividade é,

portanto, um fator dominante na relação educativa e um fator determinante do desempenho escolar” (Sêco, 1997, p. 64).

A afetividade é imprescindível para o desenvolvimento e para a rentabilidade da aprendizagem. Segundo Sêco (1997), a afetividade ocupa um lugar central na problemática do ensino, pois por um lado, a maior ou menor eficácia do professor depende do seu envolvimento afetivo com os alunos, e por outro, o sucesso ou insucesso dos alunos explica-se pelo contacto afetivo com o professor. O mesmo autor refere ainda que os alunos bloqueiam automaticamente o desejo de apreensão se estiverem a aprender com um professor com o qual não se relacionam. Assim sendo, a afetividade constitui o impulso motor da vida, pois de alguma forma, e muitas vezes sem que a pessoa disso tenha consciência, está subjacente a toda uma ação e condiciona todo um comportamento. Pelos motivos explanados, trabalhei e insisti diariamente na criação de laços de afetividade com todos os meus alunos, podendo hoje afirmar que, se não os tivesse criado, não teria conseguido os resultados demonstrados no seu desempenho nas minhas aulas. A afetividade entretanto construída foi, indubitavelmente, mais visível nas aulas de Ginástica, onde os exercícios requeriam uma maior confiança dos alunos em mim. Não posso deixar de salientar o trabalho, que tive de desenvolver para criar laços de afetividade, com uma das minhas turmas fixas que integrava vários alunos indisciplinados e um aluno de NEE. Considero que foi um trabalho árduo, desgastante até! Mas, no fim, muito profícuo. Inicialmente, a gestão das aulas foi bastante complicada, pois os alunos não respeitavam as minhas regras e perturbavam constantemente o desenrolar das situações de aprendizagem. No entanto, com o decorrer do tempo, fui observando mudanças de comportamentos, resultado da ligação que ia conseguindo criar com os alunos. Numa das aulas do 2º período foi gratificante ter ouvido de um dos alunos mais indisciplinados, a seguinte afirmação: “As aulas consigo nunca são uma seca”.

76

Na prática considero que na criação desta afetividade, ajudaram as conversas que tivemos no final das aulas, principalmente aquelas dirigidas para os alunos mais indisciplinados, na tentativa de compreender e de não julgar de imediato os comportamentos de cada um e a preocupação constante em ser justa e imparcial para com todos. Estes fatores foram fundamentais para uma gestão mais fácil das aulas e um controlo mais eficaz da turma, pois os alunos passaram a aceitar e respeitar as minhas regras e indicações de uma forma natural. Neste quadro de afetividade, não posso deixar de referir a importância do trabalho individualizado que desenvolvi, ao longo de todo o ano letivo, com o aluno com Síndrome de Asperger, o Miguel. A estratégia que adotei foi a de, no início de cada aula, falar com o Miguel sobre temas pelos quais ele demonstrava um interesse significativo, procurando, assim, criar um clima de à vontade e de confiança entre nós. Foi um trabalho difícil e moroso, mas acabou por dar os seus frutos, pois no fim foram visíveis as diferenças nas suas atitudes e comportamentos:

“Já se registam no Miguel comportamentos de menor resistência quanto à sua participação na aula, já aceita melhor os exercícios que lhe proponho e até já permanece toda a aula à minha beira, deixando de parte a sua postura solitária. Penso que, efetivamente, a minha estratégia de aproximação com este aluno começa a demonstrar alguns frutos positivos“. (Reflexão nº 20: UD Ginástica,

19/02/2014, 12º ET)

Saliento que as estratégias utilizadas para incluir o Miguel nas aulas de EF serão objeto de um maior aprofundamento no capítulo 4.3, da página 109, subordinado ao estudo de investigação-ação do presente relatório.

É num ambiente de mútua conspiração que todos nos devemos empenhar em criar e aprofundar, pois revelar-se-á o caldo de cultura mais rentável para quaisquer trabalhos escolares ou projetos de vida (Valente, 1990). Ensinar não é só um processo em que os alunos são confrontados com os conhecimentos, é também um processo em que as pessoas se confrontam umas com as outras, sendo tudo mais facilitado com um bom relacionamento entre elas (Arfwedson et al., 1981). Concluo, referindo Sêco (1997), que invoca a relação educativa como sendo uma interação entre pessoas, que tem como finalidades objetivos educacionais, sendo que por isso, acarreta mais do que

77

um simples comunicar, implicando mais uma dimensão humana. Esta ideia é também partilhada por Birkinshaw e Crainer (2005) ao evocarem a vantagem da existência de um bom clima de aprendizagem nas aulas como contributo para o fomento da motivação dos alunos: “O que parece mais motivador é um

ambiente de trabalho agradável e um forte sentido comunitário” (p. 94). Esta

constatação fez com que me esforçasse diariamente na procura de um bom clima de aula e de uma comunicação favorável entre professor/aluno, para desenvolver e aumentar a motivação dos meus alunos e, assim, facilitar e agilizar o alcance do sucesso de todos.

4.1.2.8. A Instrução: Os distintos modos de transmissão dos