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O comportamento verbal na terapia comportamental

No documento O QUE SE FAZ E O QUE SE DIZ: (páginas 43-46)

Tem sido bastante promissor o uso do contexto existente nas relações terapeuta-cliente e dos comportamentos que aí estão inseridos para pesquisa na abordagem analítico-comportamental (Almásy, 2004; Baptistussi, M. C., 2001; Barrouin, M. S., 2001; Chequer, M. A. A., 2002; Kovac, R. ,2001; Margotto, A. ,1998; Moreira, S. B. S. ;2003; Moriyama, J. S. ,2003; Silva, A. S. & Banaco R. ,2000; Silva, A. S. 2001; Silveira, J. M. & Kerbauy, R. R. 2000; Souza Filho, R. C. 2000; Wielenska, R. C. 2000; Zamignani, D. R. & Andery, M. A. P. A. 2005; Siebert, G., 2006). Pode-se afirmar que o ambiente terapêutico aproxima-se do natural, tendo em vista o controle de variáveis possível de ser estabelecido em laboratório e as dificuldades de tal controle no ambiente terapêutico (Baer, D. M., 1981; Michael, J., 1980; Kiesler, D. J., 1966).

Todas as pesquisas citadas neste tópico foram feitas em terapia analítico-comportamental. Tal denominação tem sido cada vez mais utilizada (Tourinho, E. Z. & Cavalcante, S. N., 2001) para designar a abordagem terapêutica que está fundamentada na filosofia do Behaviorismo Radical e na Ciência da Análise do Comportamento, ambas elaboradas inicialmente por B. F. Skinner.

Skinner se debruçou para analisar a prática clínica em vários momentos de sua obra (Viva, 2006) e de modo mais aprofundado e específico em dois escritos. Primeiramente Skinner ([1953]2000) analisou a Psicoterapia como uma agência de controle, ao lado do governo, da religião, da economia e da educação; e definiu que o campo de atuação da Psicoterapia está em trabalhar com os subprodutos do controle que são perigosos seja para os indivíduos seja para os outros. Tais subprodutos são as denominadas psicopatologias e estados internos de sofrimento que, por sua vez, podem ser entendidas a partir do referencial

analítico-comportamental, ou seja, sendo construídos e mantidos por diferentes arranjos de contingências de reforçamento, geralmente, coercitivas. Contingências estudadas de modo mais aprofundado por Sidman ([1989]1995). Desse modo, Skinner afirmou que a abordagem comportamental (de modo distinto das outras formas terapêuticas de base mentalista, que buscam alterar aspectos internos, supostos causadores das psicopatologias e dos sofrimentos pessoais) teria como objetivo alterar contingências de reforçamento para, assim, alterar a condição psicopatológica e o estado de sofrimento subjacente.

Em um segundo momento de sua obra Skinner ([1989]1991) analisou o que denominou como o lado operante da terapia comportamental. O terapeuta deveria entender sentimentos, pensamentos, psicopatologias, verbalizações e vínculo interpessoal como fenômenos comportamentais construídos e mantidos sob controle de contingências de reforçamento. Desse modo, na medida em que as contingências de reforçamento são modificadas, também serão modificados os fenômenos comportamentais. Assim, se o terapeuta tem condições de alterar contingências no sentido de beneficiar o cliente, a terapia tem alta probabilidade de ser bem sucedida. O sucesso da terapia está, portanto, em conseguir estabelecer contingências, cada vez mais, baseadas em reforçamento positivo. Nesse momento pode-se perguntar: mas como o terapeuta pode alterar contingências se a sua atuação terapêutica se dá entre quatro paredes e, por sua vez, as contingências que afetam os comportamentos do cliente estão fora desse âmbito terapêutico? Skinner ([1989]1991) respondeu que os limites e as possibilidades de atuação terapêutica são determinados pelas possibilidades do comportamento verbal. Desse modo, o terapeuta busca descrever as contingências que atuam sobre o cliente e, assim, emite regras, conselhos e modelos verbais de ação: se o cliente ficar sob controle desses comportamentos emitidos pelo terapeuta, emitir comportamentos diferenciados em suas relações fora do ambiente terapêutico e esses comportamentos alterarem as contingências de reforçamento que estavam operando sobre o cliente, então, poderemos falar em efetividade terapêutica.

Têm sido cada vez mais aprofundadas as reflexões sobre a prática terapêutica baseada na abordagem analítico-comportamental. Por exemplo, estudos sobre o papel do comportamento verbal na terapia (Hubner, 1997), o impacto emocional que o cliente tem sobre o terapeuta (Banaco, 1993), os determinantes do comportamento do terapeuta (Guilhardi, 1997), o vínculo terapeuta-cliente (Delitti, 2005), terapia infantil (Regra, 2000), terapia de pacientes com diagnostico de transtornos (Zamignani & Andery, 2005). Desse

modo, são muitos os esforços despendidos para um entendimento mais aprofundado da prática denominada terapia analítico-comportamental.

A área de pesquisa que se insere o estudo das relações entre comportamento verbal e não verbal vem diminuindo sensivelmente do final da década de oitenta até o presente momento. Essa diminuição vem sendo apontada por estudos de revisão (Paniagua, 1990; e, principalmente, Lloyd, 2002) que, por sua vez, indicam os estudos de relações entre comportamento verbal-não verbal em contextos naturais, como alternativa profícua de retomada do desenvolvimento e da expansão dos estudos na área de correspondência e, mais amplamente, da expansão da Análise do Comportamento Aplicada.

O entendimento de um fenômeno comportamental (a consciência que o terapeuta tem sobre o que faz), tão importante para a efetividade de uma prática psicológica corrente (a prática clínica), pode trazer várias conseqüências relevantes para a Psicologia como ciência e profissão. São diversos os estudos, todos com contornos especulativos, que afirmaram enfaticamente a importância do autoconhecimento para o terapeuta, na medida em que se tem como objetivo uma prática terapêutica comportamental efetiva (Kölenberg & Tsai, 1987; Banaco, 1997; Guilhardi, 1997; Guilhardi & Queiroz, 1997; Kerbauy, 2001; Beckert, 2002; Otero, 2004; Wielenska, 2004). Nesse sentido, o autoconhecimento do terapeuta pautaria o gerenciamento de seu instrumento de trabalho, ou seja, seu próprio comportamento verbal e não verbal (os dados coletados e sua seleção, análises, estratégias de intervenção, o manejo da intervenção – acréscimos e modificações necessárias durante a relação com o cliente, o que pensou ou sentiu durante o processo). Em outras palavras, a consciência que o terapeuta tem sobre o que fez, faz ou fará durante a interação com o cliente é vista como a pedra-ângular da prática terapêutica, de tal modo que se esse fenômeno comportamental (a autoconsciência do terapeuta) não estiver presente não se sabe se tal relação poderá ser nomeada como terapêutica (pois, se fosse assim, o terapeuta estaria nas mesmas condições que o cliente, a saber, ambos inconscientes de si e das variáveis às quais seus comportamentos são função e, desse modo, como poderia se dar à ajuda? Somente se as contingências de reforço presentes na vida do cliente forem favoráveis e, nesse caso, pode-se perguntar: então, para que terapia?).

Diante da importância que parece ter, para a prática terapêutica, a autoconsciência do terapeuta (saber descrever, por exemplo, o que fez ou falou na relação com o cliente), e sabe-se ser esta a crença dos estudiosos que fazem e refletem sobre terapia, causa estranheza

ver que não há estudos sistemáticos e empíricos que busquem visualizar melhor tal fenômeno comportamental.

Por fim, é na mesma direção dos trabalhos de Ricci (2003) e Leme (2005) que o presente trabalho se insere: pesquisar as relações entre fazer e falar em contexto natural. É importante, entretanto, no âmbito de pesquisa clínica, pesquisar o comportamento do terapeuta através de descrições sobre o que o terapeuta fez ou falou durante as interações com o cliente.

Portanto os objetivos da presente pesquisa são:

Geral

Verificar as relações entre os relatos verbais emitidos por terapeutas comportamentais sobre seus comportamentos nas interações com seus clientes e os respectivos comportamentos que de fato ocorreram nas interações com os clientes.

No documento O QUE SE FAZ E O QUE SE DIZ: (páginas 43-46)