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3 O CONCEITO DE COMPETITIVIDADE SISTÊMICA

3.4 O conceito de competitividade sistêmica territorial

Como demonstrado, o conceito de competitividade pode ser empregado tanto no campo empresarial - competitividade micro-econômica, quanto para se referir

a países, cidades e regiões – competitividade macroeconômica. “Quando se privilegia o nível micro, implicitamente se supõe que a competitividade de uma economia nacional é determinada pela soma de suas empresas competitivas. Quando se privilegia o nível macro, o conceito torna-se mais complexo, englobando todo o sistema social, onde a empresa constitui elemento importante, porém integrada a uma rede de vínculos com o sistema educacional, a infra- estrutura tecnológica, as relações trabalhistas, o aparato institucional público e privado, a formação cultural e o sistema financeiro” (Piquet, 1994, p.37). Resulta que a competitividade sistêmica de um território envolve mais que a soma de suas empresas competitivas.

Surge, desta maneira, o conceito de competitividade sistêmica que, segundo Esser et al. (1999) inter-relaciona o desempenho das empresas com as condições do ambiente físico, econômico e social em que se inserem e se edifica sobre quatro níveis de abordagem analítica: os níveis meta, macro, meso e micro, que por sua vez se articulam em torno da idéia de políticas em rede (policy networks). A figura 2 explicita esse conceito.

NÍVEL MICRO NÍVEL META NÍVEL MESO NÍVEL MACRO + FATORES SÓCIOS-CULTURAIS + POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS + POLÍTICAS PÚBLICAS LOCAIS + COMPORTAMENTO DA INDÚSTRIA POLICY NETWORKS

Fonte: Adaptado de ESSER et al. (1999, p.66)

Os fatores presentes no nível meta são abrangentes, extrapolando o campo da economia e representando a maneira pela qual os princípios culturais, políticos e institucionais de uma sociedade se relacionam , influem ou suportam as atividades econômicas. As estruturas sociais assumem papel de destaque, pois amparam a integração da sociedade em torno de valores compartilhados pela maioria, o consenso sobre estratégias de desenvolvimento e uma visão comum de futuro.

As condições macro-econômicas representam os fatores abrangidos pelo nível macro. As macro-políticas visam a estabilidade econômica, estimulam a poupança e condicionam os níveis de investimentos públicos e privados. Sua influência se estende também sobre a eficiência na alocação de recursos e, consequentemente sobre a produtividade regional ou nacional.

O nível meso se refere ao ambiente regional, não estritamente econômico, no qual evoluem as empresas. Trata das instituições, dos padrões de políticas, da provisão de infra-estrutura física e de conhecimento. A capacidade de aquisição continuada de conhecimento é de fundamental importância. Este é o nível por excelência das políticas públicas locais, pois envolve questões de governança, do desenvolvimento de uma estrutura eficiente de instituições e da predisposição para a interação entre atores públicos e privados.

O nível micro se refere ao campo de atuação das empresas de per se. Envolve o treinamento de recursos humanos, a organização da produção, a pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos, a organização da cadeia de suprimentos e dos canais de distribuição, a competência dos métodos de gestão, que devem ser ágeis, flexíveis e pró-ativos.

Estes quatro níveis mantém estreita conexão, podendo ser fortemente interrelacionados através de políticas em rede (policy networks), que constituem planos articulados envolvendo processos decisórios coletivos, em que participam os agentes atuantes em todos os níveis, mobilizados através de vínculos tácitos e horizontais (in the shadow of hierarchy). São redes informais, descentralizadas, construídas sobre estratégias ad-hoc de desenvolvimento local, permitindo a emergência de laços duplos de aprendizado (double-loop learning), conforme Stacey (1996).

Uma outra versão do conceito de competitividade sistêmica está centrado na inter-conexão de três eixos (Macedo, 2000): (i) o crescimento econômico, (ii) a geração de empregos e (iii) a capacitação de recursos humanos. O caráter sistêmico é revelado pela ação concatenada destes elementos visando dinamizar as atividades produtivas. As empresas, a um só tempo, são influenciadas e influentes. O seu desempenho, nestas circunstâncias, contribui para a promoção da competitividade econômica, que é resultante de uma interação sistêmica. Se verifica que concorrem para a competitividade sistêmica, não apenas variáveis econômicas, mas também variáveis sociais. Nos mercados globais se confrontam, portanto, além das empresas, sistemas produtivos, esquemas institucionais e organismos sociais.

A questão essencial da inovação, que contribui de forma decisiva para a competitividade empresarial, também deve ser abordada sob a perspectiva sistêmica e ancorada em territórios. Esse aspecto trata dos sistemas regionais de inovação, que envolvem um processo colaborativo no qual as empresas, especialmente pequenas e médias, dependem de um amplo conjunto de fatores: a força de trabalho, os fornecedores, os distribuidores, os clientes, os institutos de pesquisa, as escolas, etc. A capacidade organizacional dessas redes relacionais determina a performance da região no campo da competitividade sistêmica. Dessa forma, não apenas no nível nacional, mas também no espaço local a habilidade dos atores públicos em criar condições propícias para desenvolver o potencial inovador regional é que faz a diferença. O sucesso da ação pública depende da capacidade de encontrar novas formas de intervenção em que a cooperação, a competição e o conflito passam a ser elementos chave, no lugar de comando, avaliação e controle (command, check and control) (Corvers, 2000).

Costa e Arruda(1999) argumentam que a terceira revolução industrial e o avanço da globalização reforçaram as relações entre competitividade sistêmica, estreitamente ligada ao bem-estar social (educação, saúde, relações de trabalho equilibradas, consumo dinâmico de bens com mais tecnologia agregada, difusão do acesso às informações, comunicações, energia, etc.) e a competitividade empresarial. Acrescentam, portanto, que para as empresas, torna-se cada vez

mais importante estarem localizadas em países onde há uma oferta física e com qualidade adequada dos fatores sistêmicos de competitividade.

Desse modo, sempre que se referir, daqui por diante, à competitividade territorial, regional ou ainda urbana, se estará referindo de fato à competitividade sistêmica de um território organizado.