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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O abuso sexual

2.2.5 O conceito de dano moral na legislação brasileira

No Brasil, após a instalação da república, algumas leis começaram a regulamentar os diversos níveis de relações interpessoais, sobretudo quando envolviam assuntos relacionados com a moral e os costumes. Mas estas legislações eram restritas às situações específicas do cotidiano.

De acordo com Melo (2004) podemos considerar o Decreto-Lei nº 2.681 de 7 de dezembro de 1912, que tratava sobre a responsabilidade civil das estradas de ferro

brasileiras como o marco histórico para o reconhecimento do dano moral em nossa legislação.

Na edição de 1916 o Código Civil Brasileiro ainda não reconhecia explicitamente a figura jurídica do dano moral, por isso, no seu artigo 159, lia-se: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano.”

Outras legislações brasileiras também se preocupavam com os danos causados às pessoas por serem vítimas de calúnia, difamação ou injúria, ou seja, danos que atingiam diretamente a pessoa da vítima, mas não o seu patrimônio.

Minozzi (1917, citado por Silva, 1999) ressalta que a distinção entre dano moral e dano material, não está na natureza do direito, do bem ou interesse lesado, mas sim no efeito que a lesão tem sobre o lesado.

Savatier (1955, citado por Santini, 2002) define dano moral como todo sofrimento humano que não é causado por uma perda pecuniária.

Ainda que não houvesse o reconhecimento explícito do dano moral pelo Código Civil, algumas leis usaram, textualmente, a expressão dano moral e admitiam, ao ofendido, o direito de pleitear um ressarcimento (Melo 2004). Dentre essas legislações destacam-se o Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962) e a Lei de Imprensa (Lei nº 5.250, de 9 de fevereiro de 1967).

Silva, já no ano de 1983, fazia os seguintes ensinamentos sobre o tema: “Danos morais são lesões sofridas pelo sujeito físico ou pessoa natural de direito em seu patrimônio ideal, entendendo-se por patrimônio ideal, em contraposição ao patrimônio material, o conjunto de tudo aquilo que não seja suscetível de valor econômico”. (Silva, 1983, p. 1)

Em 1988, com a promulgação da nova Constituição Federal, o conceito de dano moral tornou-se explícito na legislação brasileira, conforme podemos observar em dois itens do artigo 5º:

V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem.

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. (Brasil, 1988)

Reale (1992) se refere ao dano moral como aqueles ligados propriamente a estados d’alma, ou seja, sofrimentos ou sensações dolorosas que afetam os valores íntimos da subjetividade. Segundo aquele jurista, o dano moral pode ser distinguido em:

a) Dano moral objetivo: que atinge a dimensão moral da pessoa no meio social em que vive - envolvendo sua imagem. O ato lesivo tem como alvo direto a dimensão social ou a imagem da pessoa.

b) Dano moral subjetivo: tem relação com o mal sofrido pela pessoa em sua subjetividade, em sua intimidade psíquica, causando-lhe dor ou sofrimento. (p. 23)

Reale (1992) considera que o fato de uma pessoa sofrer um dano moral objetivo não exclui a possibilidade dela também vir a ter um sofrimento de ordem subjetiva, ou seja, de origem psíquica.

Assim, já no início da década de 90 surge uma das primeiras definições jurídicas valorando o aspecto psíquico como parte da pessoa e passível de ser lesada.

Severo (1996, p. 43) ao debater a respeito das definições sobre dano moral, ou extrapatrimonial, acrescenta a sua definição e deixa uma observação: “dano extrapatrimonial é a lesão de interesse sem expressão econômica, em contraposição ao dano patrimonial, não se justificando a busca de uma definição substancial, uma vez que tal concepção constituir-se-ia numa limitação desnecessária ao instituto”.

Cahali (1999) a respeito da conceituação e distinção de tipos de dano também faz alusão ao sofrimento psíquico da vítima e apresenta a seguinte afirmação:

é possível distinguir, no âmbito dos danos, a categoria dos danos patrimoniais, de um lado, dos danos extrapatrimoniais, ou morais, de outro; respectivamente, o verdadeiro e próprio prejuízo econômico, o sofrimento psíquico ou moral, as dores, as angústias e as frustrações infligidas ao ofendido. (p. 19)

Lopez (1999) considera que a definição de dano moral deve ser dada em contraposição a de dano material, eis que este último é para os casos de lesão a bens apreciáveis pecuniariamente, enquanto o primeiro refere a prejuízo a bens ou valores que não tem conteúdo econômico.

De acordo com Remédio (2000) são inúmeras as tentativas pelos legisladores em obter a exata definição e o conceito de dano moral, sobretudo porque a enorme aplicabilidade do termo na vida moderna impede esta uniformização.

Diniz (2002) considera dano moral como a lesão de interesses não patrimoniais de pessoa física ou jurídica, provocada por um fato lesivo.

Santini (2002, p. 9) apresenta o seguinte conceito sobre o tema: “dano moral é, pois, aquele que diz respeito às lesões sofridas pela pessoa, de natureza não- econômica, ou seja, puramente ideal. Tem estreita ligação com a dor moral ou física, com privação moral de uma satisfação”.

Na evolução da discussão sobre o tema, Magalhães (2002) faz a seguinte afirmação para justificar a existência jurídica do dano moral:

a consciência coletiva de que os direitos subjetivos não são apenas os de ordem real ou obrigacional, senão também os da personalidade, assim entendidos os que correspondam às pessoas que nascem com vida, admitiu-se também pudesse ser reparado o mal causado ao interior das pessoas, vale dizer, a seus sentimentos morais íntimos. (p. 6)

Por fim, no ano de 2002, a Lei 10.406, introduziu o conceito de dano moral no novo Código Civil Brasileiro, tendo um artigo com a seguinte redação: “Art. 186 - Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” (Brasil, 2002).

Para A. J. Santos (2003) o que configura o dano moral é a alteração desfavorável no bem-estar psicofísico do indivíduo, produzindo dor profunda e causando modificações no estado anímico.

(Moraes 2003, p. 157). também debatendo sobre o conceito de dano moral tem a seguinte assertiva: “... O dano é ainda considerado moral quando os efeitos da ação, embora não repercutam na órbita de seu patrimônio material, originam angústia, dor, sofrimento, tristeza ou humilhação à vítima, trazendo-lhe sensações e emoções negativas”.

Fujita, citado por Melo (2004, p. 6) apresenta o conceito de dano moral como sendo “as lesões a um bem integrante da personalidade, como a liberdade, a honra, a saúde, a integridade psicológica”.

Assim, percebe-se que há muito tempo nossos juristas admitem o dano moral, mas só recentemente os dois principais ordenamentos jurídicos brasileiro, a Constituição Federal e o Código Civil, reconheceram oficialmente a sua existência – servindo de base para o futuro reconhecimento do chamado dano psíquico.