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O condicionamento Operante e a Instrução Programada

3. EAD EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA EDUCAÇÃO SEM DISTÂNCIA!

3.3 ABORDAGENS TEÓRICAS DA APRENDIZAGEM

3.3.2 Skinner e o Behaviorismo Radical

3.3.2.1 O condicionamento Operante e a Instrução Programada

Podemos concordar que o condicionamento operante reflete em um comportamento espontâneo no qual os resultados definem sua possibilidade de ocorrência. Contudo, comportamento não é uma ação qualquer. Mas, aquela que age no meio e é influenciada por ele. Desta forma, o comportamento que resulta em uma ação sobre o ambiente, é uma ação operante. Ação na qual se espera subordinar uma resposta tanto na intenção de aumentar sua repetição ou simplesmente dissipá-la. Na intenção de aumentar a repetição da ação, a cada resposta adequada é oferecido (apresentado) um reforço. Salientamos aqui que reforço é outro conceito tratado por Skinner e está diretamente relacionado à repetição da resposta. Se este reforço incidir no aumento da probabilidade do comportamento acontecer, este é um estímulo reforçador. E este reforço é considerado positivo quando é ofertado algo ao sujeito e negativo quando se retira algo do ambiente. Podemos entender melhor este conceito, problematizando com as seguintes situações A e B:

Situação A – Em um curso EaD online um tutor precisa aumentar o número de postagens no fórum virtual. Para tal, oferece inscrição em um congresso importante. Se o número de postagens aumentar, este reforço é positivo (estímulo reforçador positivo);

Situação B - Os estudantes de um curso EAD online passaram três tutorias sem interagir com seus pares e tutor no chat virtual. Então, o tutor retira os objetos de aprendizagem (OA), filmes por exemplo, do ambiente, até que a interação no chat se reestabeleça. Os estudantes voltam a interagir no

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chat. Nesta situação houve reforço, uma vez que os estudantes voltaram ao chat, no entanto, foi um reforço negativo, uma vez que houve a retirada dos

OA do ambiente. Diante destas situações que contextualizam o conceito de reforço, podemos concluir que reforço não deve ser entendido como recompensa. Reforço tem como implicação constitutiva o crescente da permanência da classe de respostas às quais é contingente (Skinner, 2003; Ogasawra, 2009; Zílio, 2010; Piletti & Rossato, 2011).

Percebemos que na concepção behaviorista não são determinantes na ação do indivíduo sobre o processo de aprendizagem as características individuais de cada um, crenças, pensamentos, etc., ou seja, os processos internos. A aprendizagem decorre de estímulos, respostas e reforços (estímulos - podendo ser positivo ou negativo). Os sujeitos são “tábulas rasas”, conceito empirista que se refere à percepção de que todo indivíduo nasce sem nenhum conhecimento, toda forma de pensar é adquirida ao longo da vida através da experiência. Todo juízo que se tem da educação, nesta visão comportamentalista, é de cunho positivista. Para se aprender é necessária uma imposição de cima para baixo, com cenários educacionais com muita disciplina e autoritarismo. Toda situação de aprendizagem deve ser controlada e de fora para dentro, impedindo assim, que os sujeitos sejam conscientes de suas ações. Nesta abordagem, os sujeitos da aprendizagem são passivos. Os conhecimentos são meramente depositados, trazendo o conceito de Freire (1996) de educação bancária, onde os sujeitos aprendizes são caixa negras manipuláveis. O professor está no centro da aprendizagem e é ele quem a direciona e quem a facilita. Quanto mais facilita, melhor ensina. Entende-se que se os sujeitos não aprendem, de alguma forma, é porque o responsável pela sua aprendizagem não soube a melhor forma de ensiná-lo. No behaviorismo não é entendida a forma como os sujeitos aprendem, e estes não são percebidos sujeitos autônomos, construtores da sua aprendizagem.

O professor é compreendido como o executor ou motivador das contingências da aprendizagem, e existe um destaque dado ao seu papel. Ele, o professor, está no centro do processo ensino aprendizagem, pois, nesta proposta, a ênfase está no ensino. O posicionamento de Skinner sobre a função da correção de tarefas pelo professor, julgava que esta função estava aquém

104 das possibilidades que este poderia desenvolver. E, assim, construiu a sua “máquina de ensinar” como forma de auxiliar o professor em sala de aula, ajudando-o a dar conta de um universo múltiplo com níveis de aprendizado diferenciados. Partindo deste pensamento e, se intuímos, conforme intuiu Skinner, que o professor diante de uma sala de aula - virtual ou não – não dá conta de atender aos diversos perfis de alunos, e para orientar o processo de aprendizagem precisa de ajuda, o pensamento de Skinner pode nos apontar, sob a ótica do behaviorismo radical, a solução (ou a ajuda para solucionar) de várias situações problemas na aprendizagem. Esta reflexão exige que repensemos algumas ideias já consolidadas que temos sobre determinadas concepções teóricas da aprendizagem, tal como o behaviorismo, que é tido como ultrapassado e cheio de ressalvas à sua abordagem. No entanto, o que se percebe, e alguns autores apontam (Guimarães, 2003; Ogasawara, 2009; Zílio, 2010) é que a crítica ao behaviorismo é, na maioria das vezes, originada pelo desconhecimento, por parte dos educadores, da essência da teoria de Skinner, e vincula o behaviorismo radical ao behaviorismo metodológico de Watson, que tinha uma visão reducionista ao fazer comparações, no que diz respeito ao entendimento do comportamento entre homem e máquina colocando-os em uma mesma possibilidade de análise. E ainda entendia que a relação entre os processos mentais e o comportamento era dualista: se dava em dimensões distintas, e resumia que o comportamento poderia ser entendido a partir do paradigma estímulo – resposta (S - R). Na tentativa de analisar o comportamento a partir de outro enfoque, Skinner extrapola o modelo S - R e desenvolve o conceito de comportamento operante onde, a partir da observação da sequência das respostas, pode-se inferir o comportamento. E altera o modelo para R – S, onde R é a resposta e S o estímulo reforçador. Assim, distancia-se da abordagem de Watson ao compreender que, no behaviorismo radical, o agente motivador que impulsiona determinado comportamento não é interno ao sujeito, mas sim pertencente ao meio (ambiente). No entanto, sendo o organismo pertencente ao próprio meio, parte deste organismo (genética e história de vida) deve ser considerada na ação do comportamento. Esta abordagem altera completamente a visão que se tinha no behaviorismo metodológico de Watson sobre o comportamento, uma vez que desloca-se do

105 esquema unidirecional e mecanicista (inconsciente - comportamento ou processos mentais - comportamento) para uma circunstância que se pode comandar e, nesta contingência de controle, condiciona-se o comportamento a partir das relações que estabelecem entre fatores genéticos, experiência de vida e os estímulos do ambiente (Guimarães, 2003).

Nesta ótica, se considerarmos a possibilidade de uma atualização tecnológica para os dias atuais e a “Máquina de Ensinar” de Skinner ficasse apenas em questões objetivas, sem interpretações e ao professor coubesse a tarefa fundamental de ensinar o aluno a pensar; um curso online auto instrucional à distância, com suas diversas interseções de mídias, seria uma “máquina de ensinar”? E assim estaríamos meramente repetindo, em pleno século XXI, o modelo da sequência estímulo/resposta/reforço em uma atualidade de instrumentação eletrônica? Vamos ver adiante se esta questão pode ser comprovada.

O modelo didático da instrução programada, instituído nos anos 50 do século XX, utilizada nas “máquinas de ensinar” de Skinner, é concebido sob os princípios behavioristas de que a aprendizagem provém de estímulos externos. Neste modelo, o material didático instrucional é delineado para ser apresentado de forma sequencial, em etapas, para que o aprendiz alcance o objetivo da aprendizagem. Se bem desenhada e dirigida poderá levar o aluno a ter uma aprendizagem de sucesso (entendendo sucesso na perspectiva behaviorista). O Curso auto instrucional, que serve de cenário inicial a este estudo, é concebido neste formato, conforme já colocamos nos capítulos iniciais desta pesquisa. Diante desta abordagem comportamentalista que entende o processo de aprendizagem através de uma ótica positivista, uma vez que o objeto de estudo (o aprendiz), no seu comportamento, é tangível, verificável e passível de controle, nosso Curso é por si uma “máquina de ensinar”? Podemos arriscar uma suposição de que, quando existe uma contextualização e significação dos conteúdos expostos, os processos de mediação são executados pela tecnologia (no caso do Curso em questão) e, assim, pode desconstruir exemplos, modelos e modalidades.

Não é nossa intenção aqui julgar as abordagens teóricas, colocando umas mais modernas que outras. Nosso objetivo, é apresentar algumas proposições

106 gerais sobre as diversas correntes que ancoram os processos de aprendizagem como forma de nos aproximar mais de nosso objeto de estudo, buscando situá- lo no modelo teórico que mais o representa e entender quais as bases epistemológicas que ancoram a construção do curso e a elaboração do material didático. E, consequentemente, perceber no contexto de estudo qual a abordagem que poderia trazer melhores contribuições a esse cenário educacional.