• Nenhum resultado encontrado

2 ALGUMAS QUESTÕES SOBRE APRENDIZAGEM

2.4 O CONSTRUCIONISMO DE PAPERT

A teoria Construcionista de Papert (PAPERT, 2008) é subjacente ao construtivismo piagetiano, porém, sob a ótica construcionista, a construção do conhecimento aconteceria por meio do fazer. Lopes (2010, p. 53) acrescenta que o construcionismo de Papert avançou em uma direção afetiva: “Pode-se afirmar que Papert, em sua preocupação com o afetivo, procurou ir além de Piaget no sentido de procurar os elementos da aprendizagem que vão além da cognição.”.

Como Piaget, Papert percebe que o conhecimento não é, nem empírico, nem inato, mas sim construído à medida que o indivíduo conhece o mundo e modifica as suas estruturas mentais. Segundo ele:

[...] nossa interpretação da teoria piagetiana estabelece três pontos. Primeiro, fornece uma teoria psicológica específica, altamente competitiva, por sua parcimônia e poder de explicação, com outras na área. Segundo ela nos mostra o poder de um princípio computacional específico, neste caso a teoria de procedimentos puros, ou seja, modular. Terceiro, ela concretiza meu argumento sobre como linguagens diferentes podem influenciar as culturas que crescem ao redor dessas linguagens (PAPERT, 1988, p. 204).

Dentro da epistemologia Piagetina, como já discutido anteriormente, há duas formas de pensar o mundo, quais sejam: em primeiro lugar, o pensamento concreto, que corresponde ao que a criança pensa sobre o concreto e, em segundo lugar, o pensamento formal, que tem suas origens no que se pensa de maneira abstrata, ou seja, o pensamento formal constitui-se a partir de abstrações cognitivas, de algo que não necessariamente existe no mundo concreto.

Nesse campo de complexidade, Papert (1988, 2008) percebe uma maneira de transformar o formal em concreto, pois ele enxerga no computador um potencial de criação de modelos que permitem ao aprendiz conhecer a partir da transformação do formal em concreto. Se trouxermos o que Papert pensou para um contexto atual, um exemplo seria entender uma molécula de qualquer substância por meio de computação gráfica e de animações que permitam uma experiência que antes dos computadores não seria possível. Assim, pensar sobre uma molécula é um pensamento formal, mas por meio do computador esse pensamento converte-se em pensamento sobre o concreto, uma vez que a molécula passa a existir e ser internalizada de outra maneira. Nas palavras de Papert:

Minha suposição é que o computador pode concretizar (e personalizar) o formal. Sob este prisma, o computador não é somente mais um instrumento educacional poderoso. Ele é o único a nos permitir aos meios para abordar o que Piaget e muitos outros identificam com o obstáculo que deve ser transposto para a passagem do pensamento infantil para o pensamento adulto. Eu acredito que o computador pode nos permitir mudar os limites entre o concreto e o formal. Conhecimentos que só eram acessíveis através de processos formais podem agora ser abordados concretamente. (PAPERT, 1988, p. 37).

Nesse caminho, o Construcionismo percebe no computador um importante recurso de aprendizagem, uma vez que é capaz de viabilizar simulações e a criação de relações sobre o pensamento formal, que seriam exclusivos da abstração do indivíduo. No campo da computação, por exemplo, diversos conceitos, como os de estruturas de dados, são estritamente formais e de difícil aprendizagem. O conceito de pilhas e filas, e até mesmo vetores ou ainda variáveis, são conceitos que, sem o uso de simulações e de modelos computacionais, são estritamente formais.

Além disso, Papert (1980, 2008) entende a aprendizagem como um movimento do indivíduo, um percurso de construção que ocorre por meio da vontade do sujeito em conhecer, explorar e descobrir. Nas palavras do autor, “A atitude construcionista no ensino não é, em absoluto, dispensável por ser minimalista – a meta é ensinar de forma a produzir maior aprendizagem a partir do mínimo de ensino” (PAPERT, 2008, p. 134). Nesse sentido, o construcionismo entende o papel do professor como um mediador do processo de aprendizagem. Papert (2008) usa uma metáfora ao explicar que o professor deve ensinar a pescar, e não dar os peixes. Ele argumenta que a aprendizagem ocorre em inúmeros espaços e que a aprendizagem escolar é artificial. Em sua visão, as crianças aprendem naturalmente diversos tipos de conhecimento; um exemplo são os videogames que possuem desafios de grande complexidade e os jovens aprendem a jogar sem a necessidade de um ensino formal ou de um professor especialista em jogos.

O construcionismo proposto por Papert compartilha da visão proposta pelo construtivismo de Piaget – de aprendizagem a partir da construção de estruturas do conhecimento através de que isso acontece especialmente e felizmente num contexto no qual o aprendiz está conscientemente engajado em construir uma entidade pública, seja um castelo de areia numa praia ou uma teoria sobre o universo (LOPES, 2010, p. 55).

Nesse sentido, Papert (2008) esclarece sua visão de aprendizagem ao compartilhar da posição defendida por Piaget sobre o conhecimento não poder ser transmitido, mas sim construído:

As metáforas “Transmissão” versos “construção” são temas que permeiam um movimento educacional maior e mais diversificado dentro do qual situo o construcionismo e ressalto isso pelo jogo de palavras no nome. Para muitos educadores e para todos os psicólogos cognitivos minha palavra evocará o termo Construtivismo, cujo uso educacional contemporâneo em geral remete à concepção de Piaget que o conhecimento simplesmente não pode ser “transmitido” ou “transferido pronto” para outra pessoa. Mesmo quando parece estarmos transmitindo com sucesso informações dizendo-as, se pudéssemos ver os processos cerebrais em funcionamento, observaríamos que nosso interlocutor está “reconstruindo” uma versão pessoal das informações que pensarmos estar “transferindo” (PAPERT, 2008, p. 137).

Assim, o Construcionismo (PAPERT, 2008) é uma reinterpretação da teoria construtivista de Piaget, uma vez que o autor propõe uma concepção mais concreta sobre a maneira como se constrói o conhecimento. Ao definir Construcionismo, Papert (2008, p. 137) explica o seguinte: “Ele atribui especial importância ao papel das construções no mundo como um apoio para o que ocorre na cabeça tornando-se assim uma concepção menos mentalista.”.

Nesse sentido, o construcionismo tem uma dimensão de significativa importância para esta pesquisa, uma vez que, a partir dele é possível entender como a aprendizagem se desenvolve por meio da ação. Logo, entendemos que o desenvolvimento do pensamento computacional, o ensino de programação e a aprendizagem de Ciência da Computação se beneficiam dessa visão de aprendizagem, já que permitem a aprendizagem por meio da ação e da exploração.