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3 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E CONHECIMENTOS BASILARES

3.1 Concepções teóricas

3.1.3 O construcionismo de Seymour Papert

Seymour Papert foi aluno direto de Piaget e teve seus estudos consideravelmente influenciados por este. Assim como Piaget, Papert também considerava a criança capaz de construir por si só suas próprias estruturas cognitivas mesmo sem necessariamente passar pelo processo de ensino.

Por se fundamentar no construtivismo piagetiano o construcionismo de Papert é considerado uma reconstrução teórica da primeira e foi proposta originalmente em 1980 (NUNES, 2013, p.2) sob o questionamento acerca da possibilidade de criação de condições de melhor aquisição de conhecimento por parte das crianças.

A ideia central da teoria construcionistas é possibilitar condições de desenvolvimento de aprendizagem com o mínimo de intervenção possível por parte do professor no que diz respeito ao ensino, tendo como meta o alcance de aprendizagem que se fundamente da construção cognitiva a partir de esquemas mentais da criança fundamentada em seus esquemas cognitivos já consolidados relacionados a sua visão de mundo.

A cultura tem papel fundamental no fornecimento de modelos e metáforas que funcionam como estímulos promotores de assimilações a acomodações, uma vez que a visão que a criança tem do mundo e do meio que a cerca é quem promove a apropriação de materiais significativos para serem usados em seus processos de desenvolvimento cognitivo (PAPERT, 1986).

Papert busca complementar o pensamento piagetiano ao enfatizar que além da maturação biológica e da interação com o meio, a disponibilidade dos materiais culturais disponíveis para que sejam explorados pelas crianças também é determinante no processo de influência do desenvolvimento cognitivo, explicando assim, portanto, o motivo da dificuldade encontrada por crianças em compreender noções e conceitos vagamente experimentadas em seu dia a dia.

Isto demonstra a relevância da disponibilização de materiais didáticos e experiências relevantes que promovam o envolvimento das crianças em situações práticas e vivências que trabalhem ao máximo seu envolvimento com novos esquemas cognitivos. E para isto é fundamental a presença de um professor que promova situações individuais e coletivas integradas a realidade vivenciada pelas crianças e que consequentemente representam valores vinculados às suas realidades e necessidades, através de um contexto que integre diferentes conhecimentos a serem experimentados.

A estrutura apresentada pelo construcionismo, apesar de buscar promover o máximo de vivências possíveis para a construção das estruturas cognitivas das crianças, vai de contra a ideia do rápido progresso intelectual defendido por algumas estruturas escolares que incitam o alcance do estágio operatório-formal numa idade cada vez menos. Isto se coloca em função de que o desenvolvimento intelectual é muito mais complexo do que o simples armazenamento de acomodações de esquemas cognitivos e sim um processo biológico que carece das condições fisiológicas integradas ao meio presente e que necessitam do devido tempo para ser consolidado de forma adequada.

Como ressaltado anteriormente a experimentação, a oportunidade de colocar a prova suas hipóteses, ideias e teorias coloca-se como estratégias centrais na aprendizagem por meio da teoria construcionista desenvolvida por Papert. Este ambiente deve apresentar-se de forma ativa através de construções mentais que relacionam o concreto e o abstrato para promover o desenvolvimento do conhecimento.

E foi fundamentado no potencial de integração entre o abstrato e concreto apresentado pela informática, que Papert voltou sua atenção no desenvolvimento de esquemas de aprendizagem baseados na programação de computadores, dando início a criação da linguagem Logo.

O Logo é uma linguagem de programação de computadores desenvolvida para ser utilizada por crianças e/ou pessoas leigas em computação e com pouco domínio sobre matemática. A ideia por trás da concepção da linguagem Logo era o de justamente concretizar as abstrações desenvolvidas pelos alunos promovendo assim o ambiente adequado aos princípios construcionistas.

Os estudos realizados com a linguagem de programação Logo serviram de base para o estabelecimento dos princípios que regem a criação de ambiente de aprendizagem construcionista, que permite a interação entre aluno, professores e objetos, fundamentados em uma aprendizagem colaborativa e estabelecida sobre a superação de metas e desafios individuais e coletivos.

De acordo com PAPERT (1986, p.14), os princípios construcionistas se alicerçam sob quatro dimensões que devem ser consideradas na elaboração dos ambientes de aprendizagem, são elas as dimensões: pragmática, sintônica, sintática, semântica e social.

Nunes (2013, p.3) relaciona cada uma destas dimensões:

“Dimensão pragmática: refere-se à sensação que o aprendiz tem de estar aprendendo algo que pode ser utilizado de imediato, e não em um futuro

distante. O despertar para o desenvolvimento de algo útil coloca o aprendiz em contato com novos conceitos.

Dimensão sintônica: ao contrário do aprendizado dissociado, normalmente praticado em salas de aula tradicionais, a construção de projetos contextualizados e em sintonia com o que o aprendiz considera importante, fortalece a relação aprendiz-projeto, aumentando as chances de que o conceito trabalhado seja realmente aprendido.

Dimensão sintática: diz respeito a possibilidade de o aprendiz facilmente acessar os elementos básicos que compõem o ambiente de aprendizagem, e progredir na manipulação destes elementos de acordo com a sua necessidade e desenvolvimento cognitivo.

Dimensão semântica: refere-se à importância de o aprendiz manipular elementos que carregam significados que fazem sentido para ele, em vez de formalismos e símbolos. Deste modo, através da manipulação e construção, os aprendizes possam ir descobrindo novos conceitos. Dimensão social: aborda a relação da atividade com as relações pessoais e com a cultura do ambiente no qual se encontra. O ideal é criar ambientes de aprendizagem que utilizem materiais valorizados culturalmente.”

O construcionismo fundamenta a Robótica Educacional pelo fato de esta normalmente ser desenvolvida por meio de projetos multidisciplinares que buscam englobar as cinco dimensões acima apresentadas. A linguagem de programação Logo pode ser considerada uma das primeiras realizações práticas da robótica educacional ao materializar a construção de um mecanismo que responde a programação desenvolvida por crianças (figura 22).

Figura 22 – Crianças utilizando a linguagem Logo para controlar um dispositivo robótico

Fonte: cybernetczoo.com (2018)33