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O contexto da Geografia Agrária Brasileira

1 EDUCAÇÃO DO CAMPO NA DISCUSSÃO TEÓRICA/PRÁTICA DA CIÊNCIA

1.2 O contexto da Geografia Agrária Brasileira

Essa segmentação da ciência geográfica, na qual debate sobre a questão agrária brasileira possibilita contribuir para avançar nos estudos inerentes ao homem-natureza, que desenvolvem no espaço seus resultados, a partir da aproximação entre seus sujeitos sociais, principalmente aos povos do campo. Como consequência, o espaço torna-se lugar onde os elementos construídos se materializam, no qual desenvolve lugares diferentes, promovendo regularidades nas localizações dos homens e refletidas na distribuição na superfície terrestre. Essa relação descrita acompanha o desenvolvimento da Geografia e torna-se o objeto de estudo dessa área do saber. (MENDONÇA, 2010).

A questão agrária sempre constitui elemento de interesse da Geografia. A sistematização da ciência geográfica surgiu em meio a uma sociedade agrária, cuja agricultura era considerada como uma das atividades econômicas tradicionais para o desenvolvimento da sociedade, ou seja, o território estava composto por uma organização espacial com destaque ao meio rural e que servia de base econômica. (FERREIRA, 2002).

Vale salientar que, a Geografia Agrária, apresenta uma historicidade de relevância no desenvolvimento da Geografia, no que tange a conhecer a superfície da terra e verificar as formas de exploração da natureza, considerada como a forma inicial de analisar a agricultura. Porém, ela pode ser definida como uma atividade econômica realizada pela sociedade, visando à produção.

A Geografia Agrária desenvolvida no Brasil teve um avanço significativo através de influências no decorrer de sua trajetória e por mudanças metodológicas e paradigmáticas que determinaram as formas e temas a serem estudados. Podemos salientar a preocupação de alguns geógrafos que dedicaram à sistematização desse campo de conhecimento.

Historicamente, a Geografia Agrária era considerada como uma segmentação da Geografia Econômica, com um enfoque especial à agricultura. A produção de alimentos considerada como hegemônica, fez com que não houvesse necessidade de definição especificamente. Porém, a partir do desenvolvimento industrial e urbano (1950), ocorreu uma reorganização do ordenamento econômico brasileiro,

conduzindo-os para uma nova realidade, na qual a agricultura tornou-se secundária no sistema econômico. (FERREIRA, 2002)

Todos os aspectos relacionados ao contexto rural refletem substancialmente na sociedade. A economia agrária está submetida à ação dos fatores naturais e sua variedade é resultado da dependência das características geográficas. A Geografia Agrária desenvolvida por volta de 1950 constituiu-se como um campo de interesse e relevante para a produção científica.

Porém, décadas posteriores, já em 1970, grandes mudanças puderam ser percebidas e revelaram um objeto de estudo modificado, no qual o processo de modernização que ocorreu na agricultura levou a campo novas formas de produzir, relações de trabalho mais apropriado à lógica do sistema capitalista numa situação em que a indústria passa a ser produtora de insumos para a agricultura e consumidora de bens agrícolas.

Vale salientar que, a partir do final da década de 70 surgem novas abordagens de discussões com uma relativa abertura política no país. Isso possibilitou uma retomada ao vigor dos debates sobre a questão agrária, sempre interligada ao contexto mais geral das crises do sistema econômico capitalista. Nesse momento, a agricultura é retomada como prioridade do governo, ao levantar discussões em torno do contexto social e político dessas transformações, porém, as elites agrárias buscam esconder o ressurgimento da questão agrária, em que questionam as bases desse sistema do agronegócio. Todas essas dinâmicas apresentadas à respeito da historicidade da Geografia Agrária, podem ser visualizada na Figura 2 – Síntese da Geografia Agrária Brasileira. (MENDONÇA, 2010).

Também se pode mencionar no tocante da questão agrícola, cuja compreensão diz respeito aos aspectos ligados à produção, ao demonstrar o que se produz, onde se produz e quanto se produz e, em contraposição, tem-se a questão agrária que esta ligada às transformações nas relações sociais e trabalhistas de produção, ao revelar como se produz e quem produz.

Figura 2 – Síntese da Geografia Agrária Brasileira Fonte: MENDONÇA, T. (2010)

Org.: Eduardo Pastorio (2015)

A força com que a questão agrária brasileira ressurge não apenas como liberdade de debates sobre o assunto, mas pelo fato da expansão acelerada das relações capitalista no campo. Com o desenvolvimento do capitalismo na agricultura, tende a haver um maior uso de adubos, de inseticidas, de máquinas, maior utilização de trabalho assalariado e o cultivo mais intensivo da terra, entre outros, tornando a produção de forma mais intensiva sob o controle do capital, garantindo às exigências de seus objetivos retratados apenas pela elevação na produtividade do trabalho, reflexo do contexto das transformações tecnológicas (modernização) na agricultura. (FERREIRA, 2002).

Na fase correspondente ao final do processo de industrialização pesada no Brasil, datada pelo início dos anos sessenta, percebe-se a instalação de fábricas de máquinas e insumos agrícolas. Nesse contexto, a divisão social do trabalho apresentava-se bastante incipiente. Como característica do desenvolvimento industrial brasileiro, que induziu a mudanças no setor agropecuário, ao contrário dos países centrais, ocorreu sem o substrato da revolução agrícola. (MENDONÇA, 2010).

O Estado também cria incentivos ao consumo, via política de crédito subsidiado e de difusão. Além disso, possibilitou a criação de pacotes tecnológicos (revolução verde), de forma a facilitar a aquisição de terras. Nesse momento, a propriedade fundiária passa por um intenso processo de valorização, constituindo-se num bem com reserva de valor, acentuando a concentração de terras. (MENDONÇA, 2010).

Nesse panorama que os movimentos sociais camponeses surgem para reivindicar e lutar contra essa nova organização do campo brasileiro. Como se percebe, os povos do campo dentre essa fase, são relegados ao plano secundário, distante das prioridades governamentais. Nesse sentido, esses grupos se desenvolveram em torno de um elo comum, e buscaram soluções para essa realidade. Os movimentos realizados e as lutas traçadas sempre foram assistidos pelas pesquisas geográficas, buscando compreender e interpretar essa dinâmica territorial que surge. (CALDART, 2012, P.257-260).

Como consequência a esse desenvolvimento de reivindicações, os grupos avançaram para outros setores importantes para o contexto humano e, dentro disso, surge à discussão do desenvolvimento de uma educação própria para atender a essa realidade, na qual valoriza o contexto rural, a partir de suas peculiaridades, ao buscar atender os anseios dos povos do campo. Dessa forma, visualiza-se que a criação da Educação do Campo surge de movimentos sociais e suas lutas no meio rural brasileiro são direcionadas na busca de vida digna, enfrentando as questões agrárias em destaque, que constituiu objeto de análise da Geografia por um período de grandes transformações sociais. (CALDART, 2012, 258-264).