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CAPÍTULO II – DA EXPERIÊNCIA À PESQUISA

I. MÉTODO

I.III O contexto da intensão

A presente intercessão foi realizada num município do interior do Estado de São Paulo. Por motivos de confidencialidade apresentaremos apenas algumas características. O município tem aproximadamente 93.000 habitantes. Possui uma economia diversificada, nas áreas da agricultura, comércio, prestação de serviços bem como um centro educacional e tecnológico considerável, com escolas técnicas e Universidades. Destaca-se também pelo investimento na área agro-industrial.

Na rede pública de saúde o município apresenta a seguinte estrutura:

 Atenção Básica: 11 Unidades Saúde da Família (USF) e 7 Unidades Básicas de Saúde (UBS);

 Média Complexidade: 1 Centro de Especialidades (com serviços como dermatologia, Oftalmologia, Hematologia, Otorrinolaringologia, Urologia, Neurologia, entre outros; 1 CAPS- Centro de Atenção Psicossocial, atende preferencialmente psicóticos, neuróticos graves e demais quadros que justifiquem o cuidado intensivo, por meio de intervenções terapêuticas, de reabilitação e de ressocialização; 1 Pronto Socorro que atende as urgências e emergências, inclusive as emergências de demandas da região; 1 SAE – Serviço de Atendimento Especializado, e 1 CTA – Centro de Testagem e Aconselhamento na área de DST/HIV-Aids; 2 Unidades Referenciais que funcionam como pronto atendimento;

 Alta Complexidade: 1 Hospital Regional e 1 Hospital Maternidade.

Ainda possui programas específicos destinados à DST/HIV-Aids, à saúde da criança, do idoso, da mulher, nutrição, saúde bucal. Conta também com a Vigilância Epidemiológica e Sanitária. Possui um Conselho Municipal de Saúde atuante.

O Programa Saúde da Família (PSF) foi oficializado pelo Ministério da Saúde em 1994 e no ano seguinte, 1995, foi implantado na cidade. Em 1996, uma equipe de médicos cubanos permaneceu durante seis meses orientando os profissionais do Programa. Começou com seis Unidades Saúde da Família e atualmente conta com onze, sendo uma móvel, com atuação na área rural. A Unidade Rural possui um ônibus com estrutura de consultório odontológico e médico e vão mensalmente a cada bairro rural pertencente ao município.

Até a finalização da experiência as equipes estavam instaladas em Unidades próprias, onde funciona somente o PSF. Oficialmente cada equipe é responsável pela cobertura de oitocentas famílias, mas na pratica esse número varia. Em 2005, uma Lei municipal definiu a quantidade de profissionais que deveriam existir em cada equipe, a saber: 1 médico, 1 dentista, 1 enfermeiro, 2 auxiliares de enfermagem, 1 atendente de consultório dentário (ACD) e 4 agentes comunitários de saúde (ACS). Sendo que cada dentista e cada ACD ficariam responsáveis por duas equipes Saúde da Família. Os profissionais são contratados em regime de dedicação exclusiva, com carga horária de 40h, como prevêem as diretrizes federais. Mas na prática essa dedicação exclusiva não é tão exclusiva assim, principalmente em relação ao cumprimento da carga horária por parte dos médicos.

A escolha municipal das áreas de abrangência das Unidades privilegiou o critério da dificuldade do acesso aos serviços de saúde e as áreas mais empobrecidas socialmente. Então, as Unidades foram construídas em regiões mais periféricas da cidade, onde a Unidade Básica de Saúde (UBS) não acessava. Ou em regiões em que a área de abrangência da UBS era considerada vasta, complexa do ponto de vista das vulnerabilidades e muito diversificada. As regiões consideradas mais vulneráveis possuem os dois serviços: UBS e USF (Unidade Saúde da Família).

Caracterização dos Profissionais e das Equipes

Na época em que realizamos o trabalho as 11 equipes da ESF contavam com um total de 96 profissionais trabalhando diretamente na Estratégia. Desses 96, 93 participaram em algum momento da intercessão.

A experiência totalizou três anos de duração. Na primeira fase do trabalho, em seu primeiro ano, os 93 profissionais participaram. Tanto nas oficinas temáticas como no momento seguinte do diagnóstico, quando fomos até as Unidades, todos esses profissionais

estiveram envolvidos. A partir do segundo ano, trabalhamos com uma media de 50 representantes das equipes. Com algumas nos reunimos com todos os membros.

Quanto à participação por categoria profissional tivemos vinculados ao trabalho:  41 Agentes Comunitários de Saúde (32 mulheres – 9 homens);

 22 Auxiliares de Enfermagem (20 mulheres – 2 homens);  10 Enfermeiras (os) (9 mulheres – 1 homem);

 10 médicos (as) (6 homens – 4 mulheres);  5 dentistas (4 mulheres – 1 homem);

 5 atendentes de consultório dentário (4 mulheres – 1 homem).

Como já havíamos apontado no capitulo I, o espaço dos serviços da saúde é predominantemente composto de mulheres. Interessante notar que a única categoria onde a prevalência é do homem é a de médico. Desse fato, caberia uma problematização envolvendo as questões de gênero bem como sua relação com essa profissão tão valorizada socialmente. Mas nesse momento como não faz parte de nosso objeto de estudo não nos dedicaremos a ela. Quanto à freqüência de nossos encontros, no primeiro ano de trabalho, nas oficinas nos encontrávamos mensalmente. Na segunda fase desse primeiro momento, realizamos reuniões mensais com as 11 equipes da ESF, durante seis meses. No segundo ano, essa freqüência mensal se manteve. E no terceiro ano de trabalho, durantes os 12 meses, as Unidades com características e objetivos próximos foram agrupadas, de forma a constituir 4 grupos que se reuniam bimestralmente.

Cabe salientar que esse trabalho foi realizado em conjunto com um colega. Com exceção do segundo ano, onde nos dividimos nos encontros com as Unidades. De nossa parte, demos seqüência ao trabalho com cinco equipes. A equipe escolhida para o trabalho nessa dissertação é uma destas.

Mantivemos a idéia de equipe, pois mesmo tendo tentado montar grupos, com seu processo de grupalização, isso não foi possível. Quando tentamos implicar os profissionais das equipes em uma dimensão grupal, se manifestaram contra. Ou seja, estavam reunidos com outras pessoas de outras unidades e não quiseram formar um grupo, preferiram manter as discussões na equipe, consideravam que já tinham muitos problemas e que precisariam resolver suas questões internas e se fortalecer primeiramente. Em alguns momentos até tivemos tentativas com essa visada, mas não se mantiveram.

Nas tentativas de grupalização, os representantes não se envolveram em uma tarefa coletiva, que visasse um bem comum. Isso ocorreu, mas dentro das Unidades e com as

equipes separadamente. Em termos de projeto coletivo da ESF desse município, poderíamos considerar que a construção de uma peça de teatro e de um grupo de teatro que representava os profissionais da ESF foi uma produção comum de um coletivo que se juntou com o objetivo primeiro de constituir um grupo e depois uma peça, o produto desse processo de grupalização.

Sobre os dados...

Quanto aos “dados”, nos vimos questionados sobre para que coletaríamos novos dados se já tínhamos os relatos, toda a história desse trabalho produzida pela própria intercessora na época de sua experiência. Para que retornar às equipes, para perguntar algo do qual já haviam falado e que, portanto, apenas reproduziriam isso para fins de exigências acadêmicas de pesquisa? Tendo conosco, os relatórios, relatos, diários de campo de todo o tempo de trabalho porque não utilizá-los para o retorno à experiencia? Retorno este que implicaria nos colocarmos em posição de questionador dessa práxis na tentativa de produzir um saber sobre o campo da intensão, ou seja, sobre os efeitos da intercessão.

Como dissemos, não produziremos mais dados. Esses já os tínhamos. Será sobre eles que elaboraremos a análise que objetivamos. Portanto, a experiência se iniciou quando não havia a finalidade de transformá-la em pesquisa de mestrado.

Os relatórios foram feitos em formato descritivo. Eles apresentam uma síntese dos assuntos discutidos nos grupos, por meio das reuniões, oficinas e encontros realizados durante os três anos de trabalho. Os relatos pessoais possuem falas e são mais detalhados que os relatórios. No terceiro ano de trabalho, como parte do caminhar da intercessão, passamos também a nos dedicar às anotações pessoais. Modificamos os nomes dos sujeitos bem como das Unidades em questão, em seu lugar colocamos nomes fictícios. Poucas são as falas na íntegra, predominam o teor geral do discurso.

Com relação aos registros da equipe da Unidade das Flores eles são trazidos por meio de fragmentos e através deles iremos tentar elaborar as tensões entre os giros de discursos.