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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.2 O contexto da realidade em questão

Dentro da pesquisa-ação e da práxis educativo-coletiva, faz-se necessário promover uma leitura localizada da conjuntura social e econômica do universo de pesquisa, exercendo também uma observação holística do que se passa no país e no mundo, tanto histórica quanto atual, pois essas variáveis intervêm na construção das sociedades e seus contextos sociais. Dessa maneira, a escola que forma com efetividade, deve considerar tais possibilidades para contribuir de maneira contumaz na formação de cidadãos capazes de transformar realidades, de acordo com a condição de indivíduos emancipados e promotores de produção intelectual.

A partir dessas ações, a educação passa a ser mobilizadora no sentido de formar sujeitos, possibilitando aos educandos encontrar o real motivo para a sua existência na condição de membros da coletividade na qual estão inseridos, e se sentirem capacitados para agirem de forma transformadora no local em que vivem.

No intuito de que a escola promova, através de educandos e educadores, a condição crítico-dialético, torna-se necessário que ela ocupe um espaço de instituição comprometida com o crescimento dos atores sociais e estes possam reunir tais possibilidades para a referida mobilização de energias, ou seja, as ações, ou forças, desse grupo social devem estar potencializadas para esse fim. Ao conhecer e tratar das situações presentes no meio em que um determinado ambiente socioeconômico esteja estabelecido, inserindo-se assim na discussão crítica e dialética, tornando essa instituição capaz de se posicionar na posição de promotora de possibilidades emancipatórias para os seres humanos que vivem na referida localidade.

Diante das questões já abordadas, apresenta-se aqui a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Poeta Mário Vieira da Silva como ambiente para essa pesquisa, localizada no Sítio Camará, município de Matinhas, estado da Paraíba, a

150 quilômetros da capital João Pessoa. Esta escola conta com 236 estudantes, e se apresenta como um excelente objeto de estudo da relação entre escola e comunidade. Essa é uma das poucas escolas estaduais de Ensino Fundamental presentes na zona rural do estado e está inserida no Arranjo Produtivo Local da laranja, a maior força econômica do município.

Mesmo sendo Matinhas um município pequeno, com 4.321 habitantes segundo o senso de 2010, é o maior produtor de tangerinas do Nordeste brasileiro e tem aproximadamente 76% de sua população vivendo no campo. Essa escola tem a totalidade de seus alunos como membros de famílias de agricultores que trabalham em regime de mão-de-obra familiar, residentes nessa e em comunidades e municípios circunvizinhos, tais como Alagoa Nova e São Sebastião de Lagoa de Roça.

Parte-se do pressuposto de que a escola deve se comprometer com uma educação na qual os educadores estejam sintonizados com a realidade dos educandos e de suas famílias. Pensar, então, em como a escola pode contribuir para uma ação efetiva na vida dessas famílias, através da forma de agir, tendo a produção agropecuária, com destaque para a cultura da tangerina, como fundamento para uma construção de educação que contemple a produção e a economia local.

Ao analisar essa realidade, propõe-se que a instituição escolar tenha como base de sua atuação comunitária a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos que vivem naquele local. Nesse intuito a Escola Poeta Mário Vieira da Silva, poderá, a partir desse projeto, criar um currículo com temas transversais sobre as atividades econômicas, formas de comercialização e tecnologias que melhorem os ganhos (excedentes), para que as famílias (sustentadores) se apropriem de um aumento do resultado financeiro que acarretará na melhoria de vida dos indivíduos envolvidos nessa tarefa.

Essas comunidades rurais estão em um sistema de produção não atualizado historicamente em relação ao capitalismo vigente no agronegócio, pois a agricultura familiar em várias partes do Brasil, inclusive no município de Matinhas, não está atualizada tecnologicamente com o sistema contemporâneo e modernizador que rege a economia da atualidade:

Com a modernização pretende-se mudar a mentalidade tradicional das populações rurais do terceiro mundo através de uma combinação de efeitos dos meios de comunicação de massa e da influência interpessoal de agentes de desenvolvimento, inclusive aqueles que são funcionários de organismos de países metropolitanos. (THIOLENT, 1984, p. 28)

Comunidades como as do meio rural de Matinhas vêm, desde a década de 1960, passando por esse processo de modernização que tem um pesado poder ideológico difundido pela mídia de forma massiva.

Para reagir a isso, a escola deve estar ciente da investida dos países ricos para implantar um modelo produtivo que sirva a seus interesses e não os dos povos locais, e para tanto, essa instituição precisa estar amplamente comprometida com seu papel mobilizador, proporcionando a criação de um projeto que contemple as necessidades reais da população que ocupa aquele espaço.

Entendendo a necessidade da Escola Poeta Mário Vieira da Silva e a comunidade do Camará de se posicionar na condição de promotora de indivíduos emancipados e ter por objetivo agir de forma coletiva para melhorar a sua qualidade de vida, e, aumentando assim, a dignidade das pessoas que nela vivem, é preciso propor, através de uma ação e reflexão com relação à produção geral de excedente, uma forma de melhorar o processo educacional, visando uma nova ação dos docentes no que se refere à inserção das famílias de agricultores familiares como membros autônomos do sistema produtivo local:

Trata-se de mudança no sentido de que sua necessidade se torne convincente por força de um determinado e próprio objeto de ensino, esse a ser seguido por docentes e operados por instituições cujos os dirigentes previnam confusão entre religiosidade e magia, de forma que, apoiados na incontinuidade por entre as respectivas idealizações, promovam o desenvolvimento humano e material. (COSTA; BERGAMO; LUCENA, 2016, p. 237)

Ao possibilitar o desenvolvimento humano, a escola promove o educando como o fim de todo o processo, sendo essa uma escola rural, a educação deve envolver tecnologias para a melhoria da produção das famílias envolvidas. Proporcionando de forma sustentável a criação de excedentes para suprir as necessidades dos membros da comunidade e sua respectiva prole, com suprimentos de qualidade e produzidos através do conhecimento tradicional e de novas tecnologias, disponibilizadas pela própria escola de acordo com as necessidades da comunidade.

Na observação desse contexto, o projeto pretende desenvolver um espaço de discussão aonde se torne possível a relação entre a teoria e a prática dentro da escola, aproveitando a flexibilidade do currículo para promover uma atividade que aproxime a escola de seu contexto social. Nessa nova prática pedagógica serão usados eixos temáticos como novas tecnologias e atualização histórica, para tratar da produção da agricultura familiar relacionada às práticas educacionais promovidas pela escola junto à comunidade do Sítio Camará.

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