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2 DA ANÁLISE DAS PESQUISAS SELECIONADAS PARA A REVISÃO DE

5.1 O CONTEXTO DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS E O PNAIC

Conforme apresentado na epígrafe deste capítulo, a alfabetização é um desafio educacional. Portanto, mudar a dura realidade brasileira vivenciada nas turmas de alfabetização não se trata de algo recente. Muitos programas de alfabetização, antes do Pnaic, foram instituídos visando a minimizar essa situação. O Pacto, assim como os demais programas educacionais, surgiu como um desdobramento das políticas públicas pautado nessa realidade vivenciada nas turmas de alfabetização, além de assegurar o definido em debates e discussões, visando à qualidade do ensino e à valorização do profissional em frente às turmas de alfabetização.

O Pacto, segundo Souza (2014b), teve sua legitimidade jurídica em decorrência do curso de formação do Pró-Letramento, porém sua gênese está ligada a uma história mais ampla, trata-se de uma continuidade de debates, discussões de Fóruns e Seminários internacionais e nacionais, além dos posicionamentos dos grupos teóricos com intencionalidades específicas de interesses políticos.

No cenário dos debates e das mudanças, percebe-se que a educação sempre foi objeto de interesses políticos e econômicos, pois são inúmeros os fenômenos ocorridos na

política educacional do nosso país. Segundo Saviani (apud STIEG, 2014, p. 37), “[...] é necessário remontar à década de 90, porque foi nesse período que foram construídas as bases educacionais que influenciarão pontualmente a educação brasileira”. É na década de 1990 e, posteriormente, na retomada em 2003, que os debates internacionais e nacionais se intensificam e as reformas educativas ganham força e importância estratégica para o investimento na Educação e na formação de professores.

O período passa a ser marcado por ações instituídas a partir das disputas políticas e discussões sobre a Educação, que envolvem desde a formação do educador até os diferentes conceitos e perspectivas teóricas de alfabetização. Vale destacar que, a partir desse período, as ações conjuntas instituídas passaram a ser mais legalizadas e, em consonância com as determinações internacionais e nacionais, estabelecidas e definidas nos Fóruns e Seminários Mundiais, a fim de assegurar a garantia de uma Educação de qualidade a todos e melhorar o ensino da leitura e da escrita nas turmas de alfabetização.

A partir da reforma educacional, percebe-se o reforço ao direito à educação para todos, sinalizado nos mais diversos documentos existentes, a fim de assegurar a melhoria na qualidade do ensino e aprendizagem: o Plano Decenal de Educação para Todos (1993- 2003) destacou a busca pela equidade e qualidade da educação; na Constituição Federal de 1988, objetivou-se a adequação dos ideais democráticos, assumindo a responsabilidade de fornecer a educação a todos; na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Federal nº 9394, em que se reforça o acesso a todos à formação básica nacional voltada para a cidadania) e na consolidação dos Parâmetros Curriculares Nacionais referentes à Educação Básica.

Porém, mesmo após a reforma, somente em 2003, o MEC, como indutor de políticas educacionais, consegue de fato instituir novos direcionamentos para a educação brasileira, principalmente, na alfabetização, por meio de diretrizes e ações, estebelecendo-se, legalmente, o processo de implantação de políticas de formação continuada.

Tomando como base as metas estabelecidas e definidas nos Fóruns e Seminários internacionais, no Brasil, a partir de 2003, intensificam-se as discussões e debates, a fim

de se tornar pública a Rede Nacional de Formação Continuada, da qual se difundiram diretrizes e metas para o encaminhamento de propostas às universidades, reconhecidas como os centros de pesquisas e desenvolvimento da educação.

Na sequência, organizamos uma apresentação cronológica dos programas de Formação Continuada de Professores Alfabetizadores, instituídos pelo MEC e implantados no período de 1999 a 2012:

a) 1999 – Programa Parâmetros em Ação;

b) 2001 – Programa de Formação de Professores Alfabetizadores; c) 2005 – Pró-Letramento: Mobilização pela qualidade da educação; d) 2009 – Programa de Apoio à Leitura e Escrita;

e) 2012 – Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic)

No contexto de produção dos programas de formação implantados no período de 1999- 2009, no Brasil, destinados aos professores em frentes às turmas da Educação Básica, observou-se que os conceitos e as práticas de alfabetização abordados tiveram relação com as concepções e enfoques da alfabetização que influenciaram os conceitos adotados pela Unesco ao longo das últimas décadas. Conceitos e concepções que tiveram como enfoque o trabalho de leitura e de escrita sustentados no alfabetizar com textos, o texto como pretexto para o ensino das unidades menores da língua, o alfabetizar letrando. Enfim, concepções e conceitos que privilegiam o trabalho com a língua, por meio da perspectiva construtivista, e o trabalho com a leitura pelo contato dos alunos com os gêneros textuais.

De modo geral, os programas conceberam a leitura e a escrita como um processo que privilegia a construção partindo das unidades menores da língua, letras, sílabas, palavras, ou, partindo do texto, processo em que o texto é usado apenas como pretexto para o ensino de unidades menores da língua escrita, ou atividades que favorecem o alfabetizar letrando, em que se privilegia atividades que promovem a interação com o objeto/texto. Nesse caso, conforme já mencionado, os programas instituídos nas últimas décadas não conseguiram se distanciar do passado, ao sustentarem conceitos de alfabetização, leitura e de escrita, por meio de técnicas e estratégias criticadas e,

principalmente, por adotarem concepções e perspectivas teóricas/metodológicas já questionadas na década de 90. Concluímos que as concepções e os conceitos de alfabetização adotados pelos programas de formação de professores no período de 1999-2009, ainda se distanciam bastante de um trabalho de leitura e de escrita, que implica uma abordagem em que o ler não se efetiva por meio do processo do repetir e/ou reproduzir um discurso escrito.

Dentre os programas de formação de professores alfabetizadores instituídos no período de 1999-2009, o Pró-Letramento foi considerado bem-sucedido pelo MEC. Na análise realizada a partir das informações sobre as avaliações dos alunos, constatou-se que os índices indicavam melhoria nos resultados dos estudantes. Essa melhoria no desempenho dos alunos, em Língua Portuguesa e Matemática, suscitou a necessidade de um debate nacional para a implantação de uma política de currículo que ampliasse as reflexões sobre a formação continuada, com base no Pró-Letramento (BRASIL, 2015), um dos fatores que contribuíram para a implantação do Pnaic. Portanto, o Pnaic teve sua gênese marcada pelo programa Pró-Letramento. O Pró-Letramento e o Pnaic foram instituídos visando a melhoria à qualidade de aprendizagem da leitura, da escrita e da Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Em 2012, reuniram-se representantes das Secretarias de Sistemas Públicos de Ensino, do MEC, Universidades e representantes de professores em atividade na área da educação, para a elaboração e produção de documentos que explicitassem a garantia de direitos à educação às crianças no ciclo de alfabetização (BRASIL, 2015).

O debate se baseou no respaldo legal do ‘Art. 210’ da Constituição Federal de 1988, que determina como dever do Estado, para com a educação, fixar ‘conteúdos mínimos para o Ensino fundamental, de maneira a assegurar a formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais’(BRASIL, 2012, p. 11). De forma concomitante, a Constituição cidadã garantia a importância do ‘direito à educação’ como ‘um direito da criança’ (BRASIL, 2015, p. 15).

Essa foi uma orientação importante para a elaboração e implantação do Pnaic, favorecendo a delimitação dos diferentes conhecimentos e capacidades básicas, correspondendo às expectativas daqueles que postulavam ser importante conciliar as orientações constitucionais com as previstas no Art. 22, da Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96. A delimitação dos conhecimentos e as capacidades básicas foram o ponto de

partida para o estabelecimento de um currículo para a alfabetização e uma forma de garantir os direitos de aprendizagem.

A execução das ações formativas do Pacto se respalda na Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica, instituída pelo Decreto Nacional nº 6.755, de 29 de janeiro de 2009. A formação continuada como política nacional é entendida como componente essencial da profissionalização docente e é o principal eixo do acordo, com o propósito de alcançar o objetivo principal do Pnaic: alfabetizar todas as crianças até oito anos, ou seja, até o final do 3º ano do ciclo de alfabetização.

Portanto, a fim de compreendemos como se constituiu o processo de implantação do Pnaic nos Estados brasileiros, apresentamos no próximo tópico, uma trajetória do programa, desde a sua elaboração até a implantação.