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O cosmopolitismo jurídico na contemporaneidade

Com a aceleração do processo da globalização e a formação de redes globais (MENEZES, 2016), houve um significativo surgimento de novos teóricos do Direito Cosmopolita, principalmente para combater as novas “ameaças” que surgiram no âmbito internacional, tais como o terrorismo, as pandemias e o surgimento das armas nucleares, entre outros problemas que surgiram e que devem ser discutidos.

Entre os principais pensadores contemporâneos que estudam o Direito Cosmopolita estão David Held, Daniele Archibugi, Jürgen Habermas, entre outros, além é claro de John Rawls e Seyla Benhabib (MENEZES, 2016).

O princípio de uma possível aplicação do Direito Cosmopolita no âmbito internacional já vem sendo aplicado aos poucos, através de tratados de direito internacional, tais como a Declaração Universal de Direitos Humanos, elaborada no pós-guerra em 1948, entre outras criações, com o intuito exclusivo de buscar o respeito ao ser humano, independentemente do lugar em que se encontra.

Sobre a necessidade de teorias que pensem as relações sociais, jurídicas e econômicas em ternos mundiais na atualidade, Fréderic Vandenberghe (2018), entende que:

A globalização do mundo é um dado e um fato. A cosmopolitização é um ato e uma tarefa. Se o mundo deve ser mais do que um sistema mundial, unificado por um substrato econômico e tecnológico que atinja o globo, para se tornar um universo, simbolicamente unificado por uma visão do mundo que coexista com outras visões do mundo articuladas entre si através de um diálogo intercultural e de um projeto comum para a humanidade em geral, nós temos que sair do globalismo rumo ao cosmopolitismo. O cosmopolitismo pressupõe uma cosmologia, uma visão englobadora do lugar do gênero humano no universo, e também uma filosofia da história que delineie uma visão normativa de seu destino e de sua e de sua unidade na diversidade. Em termos mais especulativos, podemos dizer que o

cosmopolitismo representa a verdade da globalização. A

cosmopolitização é a globalização na und für sich [em e para si], para falar como Hegel. É a resolução dialética da história mundial na qual a globalização se torna consciente de sua própria alienação em e enquanto sistema mundial autoperpetuador (“globalização na sich” [em si]) e luta para superar sua crise numa nova síntese planetária que preserve sua realizações ao dirigí-las para uma nova direção mais espiritual e mais humana (“globalização für uns” [para nós]). Como em todas as teorias dialéticas, são o Weltgeist [espírito do mundo] e a Weltanschauung [visão de mundo] normativa incorporada pelo espírito que fundamentalmente “direcionem” o curso da história, conduzindo-o e dirigindo-o adiante em direção à sua verdade final (VANDENBERGHE, 2011, p. 85-86)

Menezes (2016), acredita que o pensamento cosmopolita contemporâneo está ligado à elaboração de um ordenamento jurídico internacional, que todos devem respeitar, neste sentido:

[...] os estudos contemporâneos sobre o Direito Cosmopolita são feitos no âmbito de um ordenamento jurídico internacional que reconhece a personalidade jurídica internacional do ser humano; que estabeleceu algumas cortes transnacionais de direito humanos e o Tribunal Penal Internacional e que positivou, exemplificativamente, a vedação ao genocídio, aos crimes contra a humanidade e aos crimes de guerra, considerando tais proibições normas impeditivas em relação a todos os Estados (jus cogens) e que prescindem de sua aceitação. (MENEZES, 2016, p. 86)

Portanto, já é possível verificar em nosso meio, que o ideal cosmopolita, já está sendo aplicado aos poucos, embora ainda, trata-se de um pensamento filosófico. O Cosmopolitismo tem como foco colocar o ser humano como protagonista na esfera mundial, tirando essa peculiaridade dos Estados. O estudo do Cosmopolitismo, entretanto, é muito mais teórico do que prático, tendo em vista que:

[...] as ideias sobre o cosmopolitismo, especialmente as de matriz kantiana, despertaram mais interesse dos filósofos que dos juristas, eis que não havia as condições políticas, institucionais e jurídicas necessárias para o estabelecimento de um Direito Cosmopolita na prática. Com o término da Primeira Guerra Mundial, porém, o tema do cosmopolitismo passou a ser mais estudado, crescendo em

importância na política, nas relações internacionais e,

gradativamente, no direito. (MENEZES, 2016, p. 164)

Portanto, no pós-guerra (1ª Guerra Mundial) o cosmopolitismo ganhou força nos debates internacionais, principalmente nos debates sobre direitos humanos, sendo que o que mais prova isso, foi o Pacto da Sociedade das Nações de 1919, dentro do Tratado de Versalhes, onde pode-se extrair do preâmbulo, boa parte da ideia kantiana de paz perpétua e segurança internacional, qual seja de se abster em recorrer à guerra, com os litígios internacionais devendo ser resolvidos pacificamente, através de arbitragem. Infelizmente, tal pacto não durou por muitos anos, especialmente com o surgimento do nazismo de Adolf Hitler na Alemanha e do fascismo de Benito Mussolini na Itália, que desencadearam a Segunda Guerra Mundial.

Com o fim da segunda guerra mundial, o cosmopolitismo ganhou ainda mais força e entrou em pauta nos debates acadêmicos e internacionais. Exemplo disso é a criação da Organização das Nações Unidas em 1945 e da aprovação da

Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, esta última extremamente importante, por ter dado a todos os seres humanos, independentemente de qualquer distinção, direitos e deveres universais.

A partir do pós-guerra, ou seja, do que podemos dizer “renascimento” do cosmopolitismo, diversos teóricos, tais como Jürgen Habermas, Hannah Arendt, a própria Seyla Benhabib, entre outros, teceram suas críticas e contribuições para o estudo do tema.

Menezes (2016, p. 168), elenca diversos fenômenos que culminaram com o desenvolvimento do cosmopolitismo, quais sejam,

[...] a aceleração do processo de globalização; a flexibilização da ideia de soberania; o fortalecimento e multiplicação das organizações internacionais; a insegurança causada pela ameaça nuclear, pelo terrorismo internacional, pelas pandemias e pelos desequilíbrios ambientais e o ressurgimento do pluralismo jurídico.

A globalização pode ser definida como o processo de aproximação entre diversas sociedades e nações existentes por todo o mundo, seja no âmbito econômico, social, cultural ou político. Esse processo de globalização, teve como principal característica a abertura do mercado internacional, ou seja, do comércio, através da integração de sistemas e o avanço da tecnologia, porém, teve outro importante movimento entorno da soberania estatal.

Viu-se a partir da abertura do mercado, a fragilidade das fronteiras dos Estados, principalmente com o processo migratório, onde os Estados não conseguem controlar totalmente suas fronteiras. Com o fluxo migratório, a soberania dos Estados enfraqueceu, sendo necessária a elaboração de normas internacionais de proteção aos estrangeiros, devendo os Estados se adaptarem às novas normas.

Com o avanço da tecnologia, os Estados estão cada vez mais interligados e isto torna impossível, ao menos em tese, o controle interno, portanto, necessário o controle internacional de tal situação, com os Estados se sujeitando às normas cosmopolitas de controle, aplicando tais normas dentro de suas fronteiras. A globalização não é apenas um movimento econômico, mas social, político, cultural e

jurídico (BARBOSA, 2006 apud MENEZES, 2016, p. 177), portanto, muito ter a ver com seu povo e, com o povo, circulando cada vez mais no mundo, deve haver respeito mútuo em todos os outros Estados.

Pensando por este ponto, não podem os Estados, internamente, decidirem sobre a vida de todos os cidadãos do mundo, pois é isso que ocorre. Não pode uma decisão interna, votada por minoria ser aplicada no âmbito internacional. Justamente, por causa dessas razões que deve ser construída a possibilidade de debate internacional, com a participação direta dos cidadãos do mundo, buscando aplicar no âmbito interno, as normas votadas no âmbito internacional.

Portanto, a globalização em síntese, é o aumento da circulação de mercadorias e de pessoas no mundo e, que foi possível, graças ao desenvolvimento da tecnologia. Esse aumento de circulação de mercadorias e pessoas, por serem em todo o mundo, tem que ser positivado internacionalmente, devendo gerar debates com os cidadãos do mundo, em busca de normas que beneficiem a todos e obriguem os Estados, apesar de soberanos a aplicarem em seus respectivos territórios.

Portanto, a aceleração da globalização, abre discussão sobre os direitos dos estrangeiros, que através da livre circulação ficam expostos e vulneráveis dentro de outros Estados, neste sentido, segundo Cançado Trindade (1998 apud Menezes, 2016, p. 183) “contra esse mal, a única esperança ou meio de defesa dos marginalizados e excluídos e o Direito”.

Outra questão importante para a ascensão do cosmopolitismo no mundo, é a mudança da noção de soberania e, este ponto está ligado diretamente com a aceleração da globalização, como destacada anteriormente. A incapacidade dos Estados em controlar o fluxo migratório em suas fronteiras é um reflexo da redução de sua soberania.

Historicamente foram assinados diversos pactos e tratados internacionais, visando, principalmente, a diminuição de guerras, ao menos no campo jurídico. A primeira grande teoria foi o voluntarismo nacional, extremamente criticada por Hans

Kelsen, tendo em vista que sua base é a autolimitação voluntária de um Estado ao Direito Internacional e como a escolha é voluntária, é livremente cabível a liberação de suas obrigações internacionais (Kelsen, 1927 apud Menezes, 2016, p. 190).

Alguns anos depois, foram criados outros tratados, tais como o Pacto Briand- Kellogg e o Tratado de Não Agressão e Conciliação, este último celebrado no Rio de Janeiro em 1933, visando quase que unicamente a abstenção da guerra e a resolução pacífica dos conflitos, que infelizmente não prosperou.

Surge, portanto, a necessidade de estabelecer normas jurídicas internacionais, que não poderiam ser renunciadas ou violadas, por qualquer que seja o Estado, ainda que soberano, as chamadas jus cogens ou normas cogentes, que surgiram para limitar a vontade soberana dos Estados. Em relação às normas cogentes, Menezes:

Buscou-se, assim, trazer para o Direito Internacional uma categoria jurídica bastante conhecida e aceita no âmbito do Direito Interno: a das normas cogentes, de ordem pública, que não podem ser derrogadas pela vontade das partes. nada mais oposto à concepção voluntarista de que a obrigatoriedade do Direito Internacional repousa na vontade estatal livremente autolimitada. Recorda-se que o voluntarismo rejeitava qualquer outro tipo de limitação estatal, como a proposta pelo ‘Direitos das Gentes necessário” ou pelo Direito Natural. (MENEZES, 2016, p. 195)

Assim, as normas jus cogens é um importante elemento do cosmopolitismo, estabelecendo pressuposto material para a existência do Direito Cosmopolita como regime jurídico em sentido estrito, não meramente como categoria filosófica (MENEZES, 2016). As normas cogentes viabilizam a criação do Direito Cosmopolita, criando uma cidadania mundial, onde todos os cidadãos devem ser respeitados, através dos direitos humanos, onde quer que estejam, dentro ou fora de seus respectivos países.

Apesar de os Estados também possuírem normas cogentes, elaboradas ao longo dos anos, tais como o direito à igualdade soberana, o direito à não intervenção e o direito à autodeterminação, devem ser respeitadas acima destas, as normas cogentes de direitos humanos, ou seja, o Direito Internacional veda o uso abusivo da

soberania, que caso violada, poderá haver intervenção humanitária, visando o bem- estar da comunidade internacional.

Segundo Celso de Albuquerque Mello

Para o cosmopolitismo e o Direito Cosmopolita, interessam de forma bastante especial as normas de jus cogens que protegem os direitos humanos, pois são os instrumentos normativos adequados para o desenvolvimento de uma espécie de “cidadania mundial”. Com efeito, a partir do momento em que são admitidas normas de direitos humanos oponíveis a qualquer Estado, não importando o seu consentimento, é possível concluir que todos os seres humanos, independentemente de sua cidadania estatal, são titulares de direitos e de deveres, que podem ser exercidos inclusive contra seu próprio Estado de origem, ficando a comunidade internacional responsável por garantir a eficácia dessas normas de jus cogens (MELLO, 1999, p. 56, apud MENEZES, 2016, p. 203).

Extrai-se daí, então, que as normas cogentes são pressupostos materiais para a existência concreta do Direito Cosmopolita enquanto regime jurídico. O grande marco dessa “fase” do Direito Cosmopolita foi a elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que representou a adesão pelo mundo de normas cogentes de direitos humanos, limitando, portanto, a soberania dos Estados, que devem aderir essas normas (MENEZES, 2016).

Primeiramente com a criação da Sociedade das Nações após a primeira grande guerra mundial e, após a criação da Organização das Nações Unidas após a segunda grande guerra mundial, se estabeleceu no mundo, uma ideia do modelo Kantiano de cosmopolitismo, aquele mesmo explicado em detalhes no capítulo anterior. O aumento das organizações internacionais, buscam a maior interação entre os Estados e consequentemente, a busca da paz entre esses Estados.

Neste sentido, a institucionalização da sociedade internacional com o fortalecimento das organizações internacionais ocorrida nas últimas décadas, é um pressuposto importante para a existência do Direito Cosmopolita como regime jurídico.

Ainda, podemos destacar a criação da Corte Internacional de Justiça, que possui um estatuto que vincula todos os Estados que fazem parte da Organização das Nações Unidas, possuindo como objetivo a resolução pacífica de conflitos através do uso das normas internacionais. Neste sentido, Menezes (2016, p. 207), em relação à Corte Internacional de Justiça destaca que “a simples existência de um órgão jurisdicional internacional contribui para o fortalecimento dos debates sobre o Direito Cosmopolita”.

Além das organizações internacionais citadas, surgiram diversas outras, demonstrando que o cosmopolitismo pode estar ganhando força dentro da sociedade internacional. Organizações como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), Fundo Monetário Internacional (FMI), Organização Mundial da Saúde (OMS), entre diversas outras ganham destaque no âmbito internacional. Além dessas organizações internacionais, também é possível elencar as organizações internacionais de vocação regional, dentre as quais estão a Organização dos Estados Americanos (OEA), a Liga Árabe e a União Europeia, com esta última enfrentando um intenso debate, com o Brexit, ou seja, a possibilidade da saída do Reino Unido da organização, que demonstra uma ideia voltada ao nacionalismo (MENEZES, 2016).

A Organização dos Estados Americanos, tem um ponto que liga sua criação ao pensamento cosmopolita de Kant, conforme Menezes:

Em relação à Organização dos Estados Americanos, criada em 1948, é possível vislumbrar em seus propósitos diversos elementos do pacifismo legal e institucional kantiano, tais como a delegação a uma instituição transnacional o papel de garantir a paz e a segurança entre os Estados, o princípio da não intervenção e o objetivo de limitar os armamentos convencionais de modo a garantir maiores recursos para o desenvolvimento econômico-social dos Estados- membros. (MENEZES, 2016, p. 209)

Apesar da Organização dos Estados Americanos ser um importante exemplo da aplicação do cosmopolitismo kantiano, Menezes (2016, p. 210) destaca que “a maior responsável pelo fortalecimento das noções cosmopolitas foi a União Europeia”. Na União Europeia se criou uma verdadeira cidadania europeia ou comunitária, não se limitando às fronteiras de seus respectivos países isoladamente,

além de permitir ao cidadão o direito de voz perante a Corte Europeia de Direitos Humanos.

Porém, o ponto mais importante é a primazia do Direito Comunitário Europeu em relação ao Direito dos estados membros, portanto, as decisões proferidas no âmbito dos órgãos jurisdicionais da União Europeia tem eficácia vinculante dentro das decisões proferidas dentro de cada estado membro. Algo parecido com que acontece no Brasil, em decisões que geram súmulas vinculantes pelo Supremo Tribunal Federal, que possuem força de lei e vinculam que as decisões judiciais em todo o país sejam proferidas daquela forma.

Porém, apesar de possuir características cosmopolitas, a cidadania comunitária não pode se confundir com a cidadania mundial, que é o objeto do Cosmopolitismo, Menezes (2016, p. 212), neste ponto diz que “a primeira desenvolve-se em âmbito regional, ou transnacional, enquanto a segunda tem natureza global”. Apesar das distinções, os teóricos do Cosmopolitismo Democrático veem no modelo europeu um importante passo rumo à cidadania global.

Menezes ressalta a existência do Tribunal de Justiça da União Europeia, que possui competência “para declarar a inaplicabilidade de uma norma de Direito Interno de um Estado soberano que esteja em conflito com o Direito Comunitário da União Europeia”. Em relação a esse Tribunal, salienta-se que abre “um precedente importante para o Direito Cosmopolita, que estabelece outro pressuposto material para a sua existência” (MENEZES, 2016, p. 213).

Portanto, o aumento das organizações internacionais são de extrema importância para a existência do Direito Cosmopolita, tendo em vista que fomentam o debate e a criação de normas jurídicas de âmbito internacional, que é um objeto primário para o Direito Cosmopolita, além de possuir órgãos ou tribunais para a aplicação dessas normas em caráter vinculante dentro dos Estados, estabelecendo a partir daí uma cidadania comunitária que poderá desencadear à uma cidadania global.

Outra característica para o surgimento do Direito Cosmopolita é o sentimento de insegurança gerado pelos riscos globais. Com o aumento da violência e o temor do uso de armas atômicas ou químicas, seja através de possíveis guerras ou do terrorismo, fortaleceu o debate sobre a aplicação do Direito Cosmopolita. Segundo Menezes (2016, p. 221) “nenhum país isolado, mesmo os mais poderosos, pode garantir a sua própria existência sem o apoio da comunidade internacional”. Pensa- se, a partir desta concepção, na criação de um Governo Mundial.

Paul Claval relata que

a gravidade das ameaças das armas atômica e a difícil gestão de recursos cada vez mais raros num universo superpovoado fazem pensar, sem dúvida, num governo mundial [...] Temos a impressão de viver uma crise sem precedente das arquiteturas sociais, e ao mesmo tempo de chegar, depois da era de transição da civilização adiantada, a uma fase mais estável da história do planeta (CLAVAL, 1979, p. 213-214 apud MENEZES, 2016, p. 222).

O temor que gera a possibilidade de uma guerra nuclear, abre um debate internacional e a união de Estados soberanos a fim de elaborar planos de contingência, como diz Menezes, “é responsável pelo surgimento de redes de segurança, concretizadas pelas alianças estratégicas supraterritoriais”, neste sentido surge “as redes humanitárias, redes jurídicas e redes judiciais humanitárias” (MENEZES, 2016, p. 227), como forma de controlar e garantir a segurança dos Estados, o que ampara as premissas do Cosmopolitismo.

Por esses e por outros motivos, foi criado o Tribunal Penal Internacional em 2002, através do Estatuto de Roma, que é uma corte permanente e independente que julga pessoas acusadas de crimes do mais sério interesse internacional, como genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra. Portanto, a ameaça bélica nuclear uniu os países, para estabelecer normas de controle do potencial e evitar guerras que possam dizimar grande parte da população mundial.

Não só o risco nuclear que deve unir os Estados, visando a segurança internacional, mas também o risco de atentados terroristas, a amplificação de riscos de pandemias globais, devido ao aumento da circulação de pessoas no mundo e o

desequilíbrio ambiental causados pelos seres humanos, segundo Habermas, por “integrar o mundo em uma comunidade de risco involuntária” (HABERMAS, 2004, p. 217 apud MENEZES, 2016, p. 230).

Partindo desse ponto da necessidade de os Estados se unirem para combater um mal maior, Menezes (2016, p. 232), dispõe que:

[...] a insegurança e o medo diante dos riscos globais são ingredientes relevantes para gerar a instabilidade prevista no cosmopolitismo kantiano capaz de fazer com que os Estados abram mão de parcela de sua soberania para se submeterem a um direito cogente, o que é pressuposto material para a concretização do Direito Cosmopolita.

Assim, a insegurança global contra os riscos que possam causar graves danos mundiais, obriga os Estados a renunciarem parte de sua soberania em prol da segurança mundial, permitindo aos “cidadãos do mundo”, integrarem uma sociedade mundial, que vise o bem-estar de todos, pois garante a segurança não só de seus habitantes, mas de quem quer que seja atingido por sua atuação.

O ressurgimento do pluralismo jurídico é outro importante elemento a ser estudado, a fim de entender os pressupostos do Cosmopolitismo Jurídico. Primeiramente, cabe ressaltar o conceito de pluralismo jurídico, que nada mais que é que um conjunto de dois ou mais sistemas jurídicos, dotados de eficácia, concomitantemente em um mesmo ambiente espaço-temporal, ou seja, a possibilidade de existência de mais de um sistema jurídico capaz de criar normas jurídicas.

No âmbito internacional, isso se baseia na possibilidade de existirem normas de caráter internacional, de aplicação dentro dos Estados, independentemente de aceitação ou não por parte do Estado recipiente, ou seja, a criação de leis fora do âmbito internamente competente, mas por organizações não-estatais.

Menezes (2016, p. 243), afirma que “essa realidade favorece o Direito Cosmopolita, entre outros motivos, porque a prescrição de direitos aos “cidadãos mundiais” exercitáveis contra seu próprio Estado dificilmente se daria por meio de

normas estatais”. O pluralismo jurídico, portanto, amplia a criação de normas por entes não-estatais, de âmbito internacional e de caráter cogente e aplicáveis dentro

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