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3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.3 O CUIDADOR FAMILIAR

A velhice não pode ser entendida como um sinônimo de doença, dependência física ou emocional. Devido ao crescimento populacional que tende a levar a um aumento do número de pessoas com alguma debilidade emocional ou física, o processo de envelhecimento, para alguns, pode constituir-se de perdas cognitivas e socioculturais, as quais exercem um impacto em sua autonomia e no exercício das atividades diárias (PINTO et al., 2006).

O processo de envelhecer do idoso com doença de Alzheimer apresenta peculiaridades, principalmente no enfoque funcional, onde há uma perda progressiva inerente a esta capacidade. Este evento gera uma dependência nas atividades básicas da vida diária, tornando este idoso incapaz de realizá-las, ocasionando, desta forma, a necessidade de haver um cuidador que assuma a função de apoio para com este idoso (SANTOS; PAVARINI, 2010).

Relacionado a este processo, a autonomia deste idoso, segundo Who (2005), norteia conceitos e pensamentos relacionados à autodeterminação, independência física, liberdade de escolha e ação de controle de tomada de decisão. Por conseguinte, a independência é caracterizada como a habilidade desenvolvida para a execução das atividades e funções da vida diária, isto é, a independência está relacionada à capacidade que este indivíduo tem de viver independentemente na comunidade, sem a ajuda de outras pessoas.

Segundo Sanchéz (2000), pode-se considerar a dependência deste idoso classificada em três níveis: a dependência estruturada, que é entendida como o resultado do nível cultural responsável por atribuir valores ao ser humano, em razão e função de sua produção e personalidade; a dependência física, decorrente da sua incapacidade funcional, esta interpretada como a falta de condições que este idoso possui para realizar as tarefas da vida diária em diferentes formas e graus de exigência, e a dependência comportamental, a qual é induzida de forma social advinda do julgamento e das ações de outrem.

Sabe-se que a dependência de cuidados a que este idoso se expõe, se estrutura e se estabelece a partir do momento que os transtornos mentais se tornam algo frequente e comum (SANTOS; PAVARINI, 2007), pois a doença de Alzheimer caracteriza-se por um quadro clínico crônico e progressivo, acompanhado déficit cognitivo e, consequentemente, uma diminuição da sua capacidade funcional,

limitando sua independência e autonomia, portanto, o idoso torna-se um indivíduo que necessita de cuidados para executar, além das atividades simples, as mais complexas. De acordo com Silveira et al., (2006), a característica progressiva da Doença de Alzheimer torna o idoso, em sua maioria, residente na comunidade (COHEN et al., 1993), cada vez mais dependente de cuidados por parte de cuidadores familiares informais (GARRIDO; MENEZES, 2004).

Segundo Novembre (2006), de acordo com as políticas de atenção prestadas ao idoso, constituindo-se o melhor ambiente para se promover um envelhecimento ideal, o domicilio propicia este benefício, fazendo com que este idoso permaneça junto a sua família, representando sua possibilidade para garantir sua autonomia, preservando sua dignidade e identidade.

A preocupação voltada para os cuidadores familiares de idosos com demência de Alzheimer evidencia-se as inúmeras perspectivas de norteamento da vida social e as relações familiares, as quais exigem obrigações e disciplina, mas ela repousa também, segundo Almeida e Germano (2009), sobre a troca, a reciprocidade e as relações contratuais. A partir disso, cuidar sugere presença, na qual o respeito às diversidades, às potencialidades, às especificidades e à liberdade de tomar decisões condiciona a construção de relações e cuidado intergeracional com uma atitude humana e ética (ROSELLÓ, 2005).

Saraiva et al., (2007) descrevem o domicílio como um importante espaço onde o indivíduo doente pode manter a estabilidade da doença. Desta forma, a família assume grande responsabilidade na prestação de saúde, na medida em que arca com os cuidados exigidos pelo tratamento da doença. Cumpre, porém, que a função de cuidar é prestada, na maioria dos casos. Ainda segundo os autores, este espaço é representado pela figura de poucos ou de apenas um único membro, sendo este o responsável por proporcionar a maior parte dos cuidados e apoio ao indivíduo doente, pertencendo, geralmente ao seu núcleo ou sistema familiar.

Santos (2003) corrobora com essa idéia e acrescenta que, para a população idosa, o cuidador possui um significado importante e diferenciado, pois, amparados por tal ação, estes conseguem minimizar as eventuais e relevantes perdas relacionadas a sua capacidade funcional, e desta forma, atuam positivamente enfrentando as dificuldades a fim de maximizar suas potencialidades.

Diante disto, várias são as causas ou motivações envolvidas na escolha do cuidador principal, implicando em um processo que integra todo o sistema familiar.

Silveira e Caldas (2006) discutem em relação ao tema e citam as dívidas de reciprocidade, legados, transmissões geracionais, mitos e regras como importantes causas que concorrem significativamente para o surgimento da figura do cuidador, assim como elementos situacionais, socioculturais e de personalidade.

Em concordância com as reflexões, Neri e Sommerhalder (2006) descrevem em seus estudos que o convívio com idosos com demência de Alzheimer pode requerer das famílias uma alteração em sua dinâmica cotidiana, que, de uma maneira geral, em todo o mundo, o cuidar de idosos é uma responsabilidade que pertence à esfera familiar, cumprindo assim, a família, uma norma social.

Assumir o fato de ser responsável pelo cuidado não é uma opção, porque, em geral, o cuidador não toma a decisão de cuidar, mas esta se define na indisponibilidade de outros possíveis cuidadores para cuidar. Segundo Cattani e Giardon-Perlini (2004) e Karsch (2004), quanto mais o cuidador se envolve, mais os não-cuidadores se desvencilham do cuidado. Assim, percebemos que, uma vez assumido, o cuidado dificilmente é transferível.

Neri e Sommerhalder (2006) abordam que, quando se trata do cuidador, os termos formal e informal são muito utilizados na literatura gerontológica. Estes autores discorrem a respeito das diferenças entre o cuidador formal que atua apoiando este idoso, baseando-se em relações profissionais, diferenciando-se dos cuidadores informais que atuam a partir de relações de parentesco.

De acordo com Santos (2003), os cuidadores informais são familiares de primeiro ou segundo grau, amigos, vizinhos e até membros de grupos religiosos das igrejas, voluntários que se dispõem, sem nenhuma formação profissional específica, a cuidar destes idosos, sendo que a disponibilidade e a boa vontade são fatores preponderantes, por meio do cuidado que pode ser permanente ou esporádico.

O cuidador familiar é definido pela Política Nacional de Saúde do Idoso (1998) como a pessoa, membro ou não da família, que cuida do idoso doente ou dependente no exercício das suas atividades diárias, como alimentação, higiene pessoal, além de outros serviços atribuídos a estes cuidados do dia a dia. No contexto da atenção dispensada por esses cuidadores familiares, geralmente, a eleição para tal atribuição é feita por um membro integrante da família que adota o papel de cuidador do idoso portador da Doença de Alzheimer, assumindo assim as responsabilidades pela atenção e cuidados (COHEN et al., 1993).

Evidenciado por Taub et al., (2004) a forma como acontece a escolha deste cuidador familiar implica na ação de um exercício e tarefa assumida de maneira inesperada, conduzindo-o e expondo-o a uma sobrecarga emocional, física e psicológica (GARBIN et al., 2010) gerando assim, um fator predisponente ao desenvolvimento de um desgaste físico, emocional, social, financeiro, diante da progressão das doenças crônicas deste idoso (FRANZEN et al., 2007), proporcionando, desta forma, má qualidade de vida, desesperança, depressão, ansiedade e fardo para este cuidador (HALEY, 1997).

Constenaro e Lacerda (2001) relatam em seus estudos que os familiares deste idoso passam a ser corresponsáveis, a partir do momento em que ocorrem as primeiras alterações na condição de vida deste idoso, principalmente no caso de adoecimento, pois estes familiares são os primeiros a reconhecer essas necessidades e a oferecer os cuidados essenciais aos idosos que se tornam dependentes, levando em consideração que, em determinado momento, estes também irão necessitar de cuidados.

Frente a este fato, o cuidador familiar enfrenta as mais diversas dificuldades e desafios, ou seja, desde o simples ato de cuidar deste idoso em sua residência, onde o mesmo começa a apresentar os inúmeros sintomas relacionados à Doença de Alzheimer até a interação social e familiar levando desta forma, à piora da qualidade de vida tanto do idoso dementado quanto do cuidador familiar (NERI et al., 2002).

Acrescentando, Santos (2003) relata que de maneira progressiva, observa-se a necessidade de cada vez mais se valorizar o cuidado prestado por parte destes cuidadores familiares com os quais estes idosos se tornaram dependentes, mantendo através de laços e vínculos afetivos, uma aliança de histórias vivida e partilhada em comum diariamente (SANTOS, 2003).

3.4 O CUIDADOR FAMILIAR: QUALIDADE DE VIDA, DESESPERANÇA,

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