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O curso de Letras no Estado de São Paulo: o currículo

No estado de São Paulo, foram localizadas 189 instituições de ensino superior credenciadas pelo MEC com a oferta de curso de Letras, das quais 10 não mais ofertavam o curso, 45 não disponibilizavam as matrizes curriculares em página eletrônica e oito não tiveram o site institucional localizado, nem por meio do endereço disponibilizado pelo MEC, nem por meio de pesquisa específica com o nome da instituição. Assim, no que diz respeito ao objeto da pesquisa, qual seja, o de diagnosticar quantitativamente a existência de disciplinas pedagógicas com foco na formação do professor de literatura, das 189 instituições inicialmente credenciadas pelo MEC, somente 126 puderam ter suas matrizes curriculares analisadas, a partir das quais verificam-se alguns dados, no mínimo, interessantes, conforme pode ser observado na Tabela I, que segue:

TABELA I - SÃO PAULO RESUMO DA PESQUISA

Total de IES consultadas 189

Disciplinas Pedagógicas específicas da didática da Literatura 28 Disciplinas Pedagógicas de Língua Portuguesa com menção à Literatura 05 IES que não disponibilizam a Matriz Curricular online 45 IES que não ofertam mais o curso 10

IES com sites não localizados 08

IES que não contemplam disciplinas específicas da didática da literatura na matriz curricular

93

Os dados acima revelam que apenas 28 cursos ofereciam em suas matrizes curriculares disciplinas voltadas para a formação pedagógica em literatura, cinco cursos ofereciam disciplinas pedagógicas da área de língua portuguesa com breve menção à literatura e os outros 93 cursos não explicitavam na matriz curricular nenhum indício da preocupação ou da presença de disciplinas de cunho pedagógico na área de literatura.

No que diz respeito à nomenclatura utilizada para denominar tais disciplinas, constatou-se na área de formação pedagógica em literatura uma considerável variedade de terminologias, dentre as quais: “Prática de Ensino das Literaturas”; “Prática Pedagógica:

Metodologia do Ensino de Literatura”; “Metodologia do Ensino de Literatura”; “Prática de Ensino de Literatura Infanto-juvenil”; “Prática de Leitura e Formação do Leitor”; “Prática Curricular: ensino de leitura”; “Prática Curricular: ensino da Teoria da Literatura”; “Prática Curricular: ensino da Literatura de Língua Portuguesa”; “Literatura Infanto-Juvenil e Ensino”; “Literatura na Educação Básica”; “Fundamentos didáticos e metodológicos do ensino de Literaturas da Língua Portuguesa”; “Conteúdo, Metodologia e Prática de Ensino de Literatura no Ensino Fundamental e Médio”. A verificação completa pode ser feita na Tabela II, que segue:

TABELA II - SÃO PAULO

RELAÇÃO DAS IES QUE OFERECEM DISCIPLINAS PEDAGÓGICAS ESPECÍFICAS DA DIDÁTICA DA LITERATURA

INSTITUIÇÃO DISCIPLINAS

1 – Centro Universitário Módulo – MÓDULO a) “Prática de Ensino das Literaturas”

2 – Faculdade Alfa – FA a) “Prática Pedagógica: Metodologia do

Ensino de Literatura”

3 – Faculdade de Ciências Humanas – IMENSU a) “Metodologia do Ensino de Literatura”

4 – Faculdade de Presidente Venceslau –

FAPREV

a) “Metodologia do Ensino de Literatura”

5 – Faculdade de São Bernardo do Campo –

FASB

a) “Prática de Ensino de Literatura Infanto- juvenil”

b) “Prática de Ensino da Literatura”

c) “Didática Aplicada ao Ensino de Línguas e de Literaturas”

6 – Faculdade Nossa Cidade – FNC a) “Prática de Leitura e Formação do Leitor”

7 – Faculdade Adamantinense Integrada – FAI a) “Prática Curricular: ensino de leitura”

b) “Prática Curricular: ensino da Teoria da Literatura”

c) “Prática Curricular: ensino da Literatura de Língua Portuguesa”

8 – Faculdade Santa Izildinha – FIESI a) “Prática de Ensino de Literatura”

9 – Faculdade São Sebastião – FASS a) “Literatura Infanto-Juvenil e Ensino”

b) “Metodologia e prática de Ensino de Língua e Literatura”

11 – Faculdades Integradas de Cruzeiro – FIC a) “Prática de Ensino de Literatura”

12 – Faculdades Integradas do Vale do Ribeira

– FIVR a) “Literatura na Educação Básica”

13 – Faculdades Integradas Paulista – FIP a) “Fundamentos didáticos e metodológicos

do ensino de Literaturas da Língua Portuguesa”

14 – Faculdades Integradas Regionais de Avaré

– FIRA

a) “Conteúdo, Metodologia e Prática de Ensino de Literatura no Ensino Fundamental e Médio”

15 – Faculdades Integradas Teresa D’avila –

FATEA a) “Teoria Crítico Literária e Ensino”

16 – Faculdades Integradas Torricelli – FIT a) “Prática de Ensino de Literatura:

Literatura infantil e juvenil”

b) “Literatura Comparada e suas práticas de Ensino”

17 – Faculdade Oswaldo Cruz – FOC a) “Prática de Ensino de Língua Portuguesa:

Literaturas”

18 – Instituto de Educação Superior Guaianás –

IESG

a) “Prática de leitura na escola”

19 – União das Escolas do grupo Faimi de

Educação – FAIMI

a) “Prática Pedagógica: A Literatura no Ensino Fundamental”

b) “Prática Pedagógica: A Literatura no Ensino Médio”

20 – Universidade Anhembi Morumbi – UAM a) “Metodologia e Prática de Literatura

Brasileira”

21 – Universidade Cidade de São Paulo –

UNICID

a) “Ensino de Literatura”

b) “Projeto Integrado – Pesquisa: O papel das Literaturas na Formação Intelectual”

c) “Ensino de Língua Portuguesa e Literaturas”

22 – Universidade do Grande ABC – UNIABC a) “Prática de Ensino da Literatura Infantil e

Juvenil”

b) “Prática de Ensino e Estudo da literatura Norte Americana”

c) “Prática de Ensino e Estudo da Literatura Inglesa”

23 – Universidade do Oeste Paulista -

UNOESTE a) “Literatura em Sala de Aula”

25 - Universidade Estadual Paulista Júlio de

Mesquita Filho – UNESP Campus Araraquara:

a) “Literatura na Sala de Aula”

b) “Ensino e Aprendizagem de Língua e Literatura”

26 – Universidade Federal de São Carlos –

UFSCAR

a) “Literatura e Ensino”

27 – Universidade Metodista de Piracicaba –

UNIMEP

a) “Literatura e Ensino”

28 - Universidade de São Paulo – USP a) “Literatura e Educação”

b) “Ensino de Literatura Brasileira”

c) “Literatura Portuguesa: Ensino- Aprendizagem”

Talvez essa variedade terminológica revele o descompasso ainda existente nos currículos de Letras e, sobretudo, a permanência da indefinição do que seja pertinente para a formação do professor de literatura.

Outro fato constatado na pesquisa diz respeito à predominância de tais disciplinas em currículos de instituições privadas, em detrimento de instituições públicas, o que pode indicar que as instituições privadas dispensem maior preocupação com o mercado de trabalho, cada vez mais exigente, enquanto que as instituições públicas alimentam os currículos de caráter mais tradicional, uma vez que tem como prioridade salvaguardar o compromisso com o saber, mencionado por Zilberman (1988).

No que diz respeito à menção da didática da literatura em disciplinas pedagógicas da área da língua portuguesa, a pesquisa permitiu apreender o quantitativo expresso na Tabela III:

TABELA III – SÃO PAULO

RELAÇÃO DE IES QUE OFERECEM DISCIPLINAS PEDAGÓGICAS DE LÍNGUA PORTUGUESA COM MENÇÃO À LITERATURA

INSTITUIÇÃO DISCIPLINAS

1 – Centro Universitário do Norte Paulista –

UNORP

a) “Ensino de Língua e Literatura e Leitura e Produção e Correção de Textos”

b) “Metodologia da Língua Portuguesa e Literaturas e Culturas de Língua Portuguesa”

2 – Faculdade de Itapecerica da Serra – FIT a) “Metodologia do Ensino: Língua e

3 – Faculdades Integradas de Urubupungá – FIU a) “Metodologia de Línguas e Literaturas”

4 – Instituto Superior de Educação de Barretos –

ISEB

a) “Pesquisa e Prática Pedagógica do Ensino de Língua Materna e suas Literaturas”

5 – Pontifícia Universidade Católica de

Campinas – PUC/Campinas

a) “Projeto de Atuação em Ensino de Línguas e Literaturas e Estágio Supervisionado”

Verifica-se que as instituições acima explicitam um modelo que é comum em cursos de Letras, o de atribuir às disciplinas pedagógicas de língua portuguesa a função de abordar também a didática da literatura, o que é bastante preocupante. Vale destacar que essas disciplinas acusam em suas nomenclaturas a abordagem à literatura, mas que ainda restam outras 93 instituições que sequer fazem essa menção, não contemplando de forma explícita em suas matrizes curriculares nem a presença de disciplinas específicas da didática da literatura, nem a presença de disciplinas que agregam a didática da língua e da literatura.

As considerações gerais sobre os resultados obtidos serão feitas no tópico 3.3 deste capítulo, mas vale antecipar que o estado de São Paulo, no que diz respeito aos cursos de Letras, apresenta algumas constatações preocupantes. A primeira refere-se ao excessivo número de cursos de Letras ofertados no estado. Utilizando como parâmetro o resumo da pesquisa constante da tabela I deste subtópico, pode-se depreender que das 189 instituições credenciadas ao MEC apenas 10 não ofertam mais o curso, e subtraindo desse quantitativo as oito instituições cujas páginas oficiais não foram localizadas, ainda assim obtém-se um resultado final de 171 instituições de ensino superior que ofertam o curso de Letras no estado, isso sem pormenorizar o quantitativo de cursos e habilitações em cada uma delas. É um número bastante alto levando-se em conta os questionamentos que circundam as licenciaturas na contemporaneidade.

A segunda constatação é a de que os números permitem a inferência de certa massificação da formação do professor em cursos de Letras, não apenas pela quantidade excessiva de oferta, mas também pela constatação de que as poucas iniciativas verificadas, no que diz respeito à oferta de disciplinas voltadas para a formação pedagógica do professor de literatura, foram localizadas com predominância em instituições isoladas e privadas, que, em geral, tendem a estruturar os seus cursos com vistas ao mercado de trabalho.

A terceira, que se refere ao objeto principal da pesquisa, é a de que quantitativamente pouco parece ser feito, sobretudo no campo das instituições públicas, para alterar o panorama da formação do professor de literatura. Os dados revelam que das 126 instituições pesquisadas

somente 28 apresentam disciplinas curriculares relativas à didática da literatura, o que corresponde a aproximadamente 22% das instituições. Considerando que as discussões sobre o ensino da literatura são difundidas há, pelo menos, três décadas e que a legislação do curso de Letras determina como prioridade do curso a formação do professor para a educação básica, parece pouco o que vem sendo feito pelas instituições de ensino superior. Outras considerações a respeito serão registradas no tópico 3.3.