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4.4 Os Catadores de Resíduos Sólidos

4.4.5 O “deposeiro” ou “sucateiro” de resíduos sólidos

Ainda para fazer parte da gestão dos resíduos sólidos, o município de Fortaleza conta com a atividade do “deposeiro” ou “sucateiro”. Aquele que compra os resíduos dos donos de pequenos depósitos de resíduos. Esse ator social e ambiental, no seu dia a dia, procura dar um destino ambientalmente adequado aos resíduos sólidos. De acordo com 100% dos deposeiros observados, é notável a sua preocupação com o meio ambiente. Eles deixaram esse recado: “É Importante que as pessoas descartem os resíduos sólidos de forma ambientalmente adequada. Separar os resíduos na fonte geradora é uma riqueza para o meio ambiente”.

Foi percebido que muitos deposeiros que estão inseridos no trabalho com os resíduos sólidos dão continuidade ao trabalho já exercido por seus pais e avós. Segundo o Sr. Romualdo (deposeiro), ele se tornou catador de RS porque seu avô já fazia essa atividade. E, assim sendo, revela um pouco do seu dia a dia:

Herdei de meu avô o trabalho com os resíduos sólidos (RS), fui catador de RS por muito tempo, mas acreditei e me tornei um deposeiro. Só fiz até a 3ª série do Ensino Fundamental e não troco o meu trabalho por nada. Perdi meu pai muito cedo. Vivi dentro de favela. Mas, investi na minha capacidade, em ter caráter. Hoje, compro resíduos de pequenos depósitos de RS e vendo para os grandes depósitos ou empresas. Diariamente, forneço resíduos para a empresa Varejão da Sucata e a Gerdau. Mensalmente, vendo mais de 100 toneladas de resíduos sólidos. O Varejão da Sucata vende os resíduos para as Usinas de reciclagem em Belém – no Estado do Pará e também para o Estado de São Paulo. Eu encontro muita dificuldade ao trabalhar junto à Prefeitura Municipal de Fortaleza. Vejo que é importante cuidar do meio ambiente e da saúde das pessoas. A comunidade precisa saber que o deposeiro tenta ajudar o meio ambiente. Os resíduos são feitos de muitos produtos químicos, por isso, devemos descartar os resíduos sólidos de forma ambientalmente adequada. O lixo deve ser colocado na lixeira. Embora, vejo que a Prefeitura deveria dar oportunidades aos que mais precisam. Mas o que vejo são os impostos mal investidos, e, assim, o pobre só faz sofrer. A comunidade precisa de apoio da Prefeitura municipal para se educar e saber cuidar dos resíduos sólidos. A prefeitura deveria facilitar a vida do deposeiro ou sucateiro, por exemplo, fornecer o alvará de funcionamento para esses depósitos, pois a gente trabalhando pelo meio ambiente a cidade fica mais saudável. Esse órgão não tem condições de sozinho resolver o problema do lixo na cidade. Vejo que a prefeitura não tem noção da verdadeira quantidade de RS gerados nessa cidade. Hoje somos, aproximadamente, mais de 1000 deposeiros distribuídos pela cidade. Hoje tenho meu carro, minha casa, vivo com dignidade e sustento minha família com a venda dos resíduos sólidos (informação verbal)25.

Observou-se que há uma grande variação de preços dos resíduos sólidos entre os deposeiros. Sabe-se que a qualidade de vida do deposeiro é superior à do catador. Enquanto o catador não tem nem a carroça, que é o seu instrumento de trabalho, pois toma emprestado ao deposeiro, que também maioria das vezes falta até o alimento do dia a dia, o deposeiro tem seu carro, moradia e uma boa alimentação. Muitos deles até possuem outros empreendimentos. A seguir, a tabela 7 apresenta alguns resíduos sólidos vendidos pelos deposeiros.

Tabela 7 - Preços dos resíduos sólidos comprados e vendidos pelos deposeiros em

Fortaleza

PRODUTO PREÇO DA COMPRA

DO PRODUTO- R$ PREÇO DA VENDA DO PRODUTO-RS Ferro – kg R$ 0,20 R$ 0,27 Jornal – kg R$ 0,10 R$ 0,15 Papel Branco – kg R$ 0,25 R$ 0,35 Plástico – kg R$ 0,50 R$ 0,80 Pet– kg R$ 0,40 R$ 0,50 PVC Cano – kg R$ 0,60 R$ 0,70

Lata de alumínio (cerveja) R$ 2,50 R$ 3,50

Papelão R$ 0,15 R$ 0,22

Fonte: Dados da pesquisa, 2015

Ainda foi observado que a quantidade de resíduos coletados pelos deposeiros é superior à coletada pela empresa autorizada pela Prefeitura municipal de Fortaleza, como informou o deposeiro Sr. Renato. Para Waldman (2008) e Silva (2006), de 1.140 pessoas que coletavam resíduos sólidos informalmente, eram responsáveis por um volume três vezes superior à coleta oficial.

O deposeiro é importante e é a parte mais forte na relação da venda dos resíduos sólidos em relação às associações. O número de deposeiros é maior que o das associações dentro de Fortaleza. O papel fundamental deles é tirar os resíduos da rua, vender para a fábrica e a fábrica repassar para a indústria. A maioria dos

deposeiros tem dentro de seus depósitos os catadores que trabalham para esse deposeiro, embora não tenham vínculo empregatício.

Nessa relação, é importante lembrar que a maioria dos catadores do depósito é mais unida do que os catadores da associação, pois, por exemplo, quando existe acidente com o catador do depósito, o deposeiro dá toda a assistência até o catador recuperar a sua saúde, o que na maioria das vezes não acontece dentro das associações. Isto é, o deposeiro demonstra ser mais amigo do catador, entende a sua situação. E, ainda, quando o catador está passando por situação de dificuldade financeira, o deposeiro chega até a ajudar com cesta básica. Isso se reflete no grande número de deposeiros e catadores avulsos existentes na cidade.

Em relação à associação, outra situação presente é que o deposeiro sempre tem o dinheiro para pagar ao catador. Já as associações, na sua maioria, não têm como pagar ao catador, sendo preciso esperar. O deposeiro grande confia em outro deposeiro pequeno para pagar uma grande quantidade de resíduos, enquanto a associação desconfia da carrada de resíduos, acha que o deposeiro quer sempre “ganhar em cima” dele, não tem união, não confia na pesagem e muitas vezes chega a não vender.

Foi observado que a relação da prefeitura com as associações e/ou deposeiros é muito distante, haja visto que se a prefeitura, a associação e os deposeiros tivessem uma boa relação não iria tanto lixo para o aterro sanitário.

Para a catadora Dona Sebastiana:

O mais importante para o deposeiro é o que ele está ganhando e lucrando com a venda dos resíduos. Embora para a associação, seja diferente, ela se preocupa muito com a questão ambiental. Portanto, para melhorar a qualidade de vida humana e do meio ambiente, a população deveria se educar mais e fazer a reciclagem. Vejo que se ‘doesse mesmo no bolso’, o povo separaria os resíduos gerados em sua casa e até dariam um destino final ambientalmente adequado. Se assim fosse feito, com certeza, iria diminuir muito as doenças e a poluição (informação verbal)26.

Outra situação presente na logística entre deposeiro e indústria não está na qualidade, mas na quantidade. A indústria somente compra os resíduos em grande quantidade, e isso dificulta a relação da indústria com as associações de catadores. Para o deposeiro, a associação não tem força de manter essa relação entre o catador de associação e o deposeiro. Este paga adiantado ao catador avulso, que vende

grande quantidade e depois entrega a mercadoria ou os resíduos sólidos, enquanto a associação não tem capital para isso.

Para transportar os resíduos para as cidades onde estão instaladas as usinas de reciclagem, se gasta em média quatro mil reais entre o motorista e o carreteiro. Há variação da quantidade transportada e da cidade de destino, e, além disso, existem carretas que levam 34 toneladas e outras 24 toneladas. Geralmente, as cidades que recebem esses resíduos são Minas Gerais e São Paulo.