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O Desafio biográfico

No documento Nos passos de Antonieta: escrever uma vida (páginas 54-77)

2 Dos rastros à teoria: Um desafio

2.1 O Desafio biográfico

Gérard Genette, afirma que “a narrativa diz sempre menos do que aquilo que se sabe, mas faz muitas vezes saber mais do que aquilo que diz” 68. Por isso, “[...] é indispensável que narrador e narratário,

como protagonistas da comunicação narrativa, partilhem em conjunto estratégias narrativas” 69

. O desafio de escrever uma vida, nas palavras

de Françõis Dosse70 na introdução de seu livro, é um horizonte

inacessível, que estimula o desejo de narrar e compreender.

Todas as gerações aceitaram a aposta biográfica. Cada qual mobilizou o conjunto de instrumentos que tinha à disposição. Todavia, escrevem-se sem cessar as mesmas vidas, realçam-se as mesmas figuras, pois lacunas documentais, novas perguntas e esclarecimentos novos surgem a todo instante. A biografia, como a história, escreve-se primeiro no presente, numa relação de implicação ainda mais forte quando há empatia por parte do autor. A biografia pode ser um elemento privilegiado na reconstituição de uma época, com seus sonhos e angústias.71

Pensar o termo biografia, sua função e realização pressupõem refletir sobre o que os teóricos consagrados trazem sobre este gênero textual, que pode ser literário ou não. Começa-se por tratar Biografia, em sentido tradicional. É o gênero textual que se ocupa da vida dos autores célebres, ou mesmo, dos homens célebres em geral. Tornou-se um gênero secundário e foi cultivado pelos antigos gregos desde o

68 GENETTE, Gerard. Discurso da narrativa. Lisboa: Veja/Universidade, s.d. P.258. 69

JUNKES, Lauro. O narrador. Florianópolis, s.d. P.8.

70

DOSSE, François. O Desafio Biográfico. Tradução de Gilson César Cardoso de Souza. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2009. P.11.

71

século V A.C; e na época helenística, no século III, os dados acerca da vida de poetas e escritores foram metodicamente registrados por escrito em forma de biografias. Já a biografia clássica tende à retórica e prima pelo enaltecimento de pessoas ilustres, sua vida como exemplo de virtude e valores. Se pensar do ponto de vista do significado literal, o termo biografia designa na origem grega a escrita da vida (bios=vida

+grafia=escrita), sendo um substantivo feminino. Em Ferreira72

biografia é a descrição ou história da vida de uma pessoa; pode ser escrita e compor um livro em que são relatados os dados documentais da vida de alguém importante. Quando a biografia vem acompanhada por imagens, ela pode ser designada como fotobiografia, cujo relato traz fotografias do biografado e/ou do que se refere a ele e sua natureza.

A biografia pode ter características literárias e não-literárias, ou seja, pode tratar de fatos tidos como “reais e verdadeiros” ou de fatos dotados de verossimilhança, mas com criatividade. Da coletânea de biografias bem organizadas, pode-se desenvolver uma história da literatura73.

Schmidt74 defende a idéia de que os historiadores e jornalistas devem ter maior compromisso com o mundo real do que os cineastas e literatos, já que os últimos podem contar com maior grau de inventividade, mesmo apelando para a categoria da verossimilhança na narrativa da vida de uma celebridade. Ressalta que um biógrafo não

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: O Dicionário da Língua

Portuguesa. 3 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

73 AMORA, Antônio Soares. Introdução à Teoria Literária. São Paulo: Editora Cultrix, 1970. 74

SCHMIDT, Benito Bisso. Luz e Papel, Realidade e Imaginação: As Biografias na História,

no jornalismo, na Literatura e no Cinema; In.: SCHMIDT, Benito (Org.) O Biográfico: Perspectivas Interdisciplinares. Santa Cruz: EDUNISC, 2000. P. 68.

deve temer a invenção, já que a fidelidade aos fatos não é inimiga da

criação. Schimidt75 reitera que o biógrafo não é um mero colecionador

de informações inéditas ou não, mas sim um reconstrutor de existência, narrador de vidas. Ao se pensar uma biografia literária, pensa-se na crítica. Souza 76 explica que a crítica biográfica engloba a relação complexa entre a obra e o autor, uma vez que ao autor é permitido construir fatos, misturando-os à ficção. Ao biógrafo é permitida a articulação entre a obra e a vida do escritor ou do biografado, tornando literatura o exercício ficcional do texto, graças à abertura de portas de transgressão, que transcendem ao próprio texto e à própria vida do biografado.

Dosse77 afirma que o caráter híbrido do gênero biográfico, a dificuldade de classificá-lo numa disciplina organizada, a pulverização entre tentações contraditórias – como a vocação romanesca, a ânsia de erudição, a insistência num discurso moral exemplar – fizeram dele um subgênero há muito sujeito a um déficit de reflexão. Mesmo nestas condições, o gênero biográfico nem por isso deixou de fruir um sucesso público, pois a biografia dá ao leitor a ilusão de um acesso direto ao passado, possibilitando comparar a finitude à imortalidade da personagem biografada. Dosse reitera que

O domínio da escrita biográfica tornou-se hoje um terreno propício à experimentação para o historiador apto a avaliar o caráter ambivalente da epistemologia de sua

75

Idem. Op. Cit. P.110.

76

SOUZA, Eneida Maria de. Notas sobre a critica biográfica. In: PEREIRA, Maria Antonieta; REIS, Eliana L. de. (orgs.). Literatura e Estudos Culturais. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, 2000. P. 43-51.

77

disciplina, a história, inevitavelmente apanhada na tensão entre seu pólo científico e seu pólo ficcional. O gênero biográfico encerra o interesse fundamental de promover a absolutização da diferença entre um gênero propriamente literário e uma dimensão puramente científica – pois, como nenhuma outra forma de expressão, suscita a mescla,o caráter híbrido, e manisfesta assim as tensões e as convivências existentes entre a literatura e as ciências humanas.78.

Nesta perspectiva, o gênero biográfico ressalta a diferença entre identidade literária e identidade científica. Entretanto, o biógrafo é livre para escolher seu estilo e dosar seu tom entre a escrita romanesca e a escrita histórica. Mas ainda assim, está sob coação porque não se pode permitir movimentos que o afastariam demais da personagem, pondera

Dosse (2009)79 Então, o entrelugar do gênero biográfico suscita a

mescla e o hibridismo, ilustrando as tensões vivas à convivência sempre existente entre literatura e ciências humanas. Entretanto, segundo Roland Barthes80, “Se a verdade do biógrafo está no testemunho, ele nada testemunha a não ser a verdade de quem escreve não de quem é objeto da escrita”. Os biografemas no sentido de Barthes reconstruídos pelo autor, historiador ou literato, deixam o leitor indeciso e incerto, falando de carências e de verdades inacessíveis. Então o biográfico, na

78 Idem. Op. Cit. P.18

79 Ibidem, 2009. P.68. 80

BARTHES, Roland. Efeito do Real. Trad. Mario Laranjeira. In: O rumor da língua. São Paulo: Brasiliense, 1998. P.84.

definição de Dominique Viart81 seria aquilo que em qualquer texto faz às vezes de biografia, dá a ilusão de biografia, um efeito do vivido da mesma maneira que Barthes citava o “efeito do real” a propósito do romance de Flaubert.

Daí o fato de essa ambigüidade ou biografia designar ao mesmo tempo um conteúdo e uma forma, uma matéria enunciada e uma maneira que enuncia. O sentido último da palavra reside, sem dúvida, no cruzamento dessas duas acepções, a ponto de o biográfico designar menos um gênero literário, de resto disparatado e complexo, que a aliança paradoxal de um referente particular (factual, pessoal e suscetível de comprovação) oferecido à trama do relato e à modalidade enunciadora do narrativo para efeito biográfico.82

No entanto, ao seguir à risca tais preceitos, até que ponto se pode confiar no que está documentado e escrito? Questionamento que surge quando passo a procurar por dados de uma época que já foram recontados mais de uma vez, porém, deixam de conter o dado real, quando confrontados com documentos oficiais e institucionais, fotos e menções em livros. Como, por exemplo, o fato de em notas biográficos de Antonieta de Barros estar escrito que ela foi “poetisa”, fato não confirmado até o momento, ou, ainda, a questão relacionada a sua paternidade. O que é real e o que não é? Todo historiador persegue a máxima da verdade absoluta, entretanto o literato não tem esta pretensão, é bem verdade. Sabe-se que verdades não são absolutas, e

81 VIART, Dominique. Essais-fictions: lês biographies (réinventées). In.: DOSSE, François. O

Desafio Biográfico: Escrever uma vida. São Paulo: Edusp, 2009. P.70.

muito mais relativizadas quando agregadas ao contexto sócio-histórico de época. Mesmo assim, ao literato é possível narrar sem um compromisso com a verdade real, no momento em que encontra lacunas que precisam ser preenchidas para poder compor a tessitura do texto produzido. Qual seria a razão de ser da biografia, então? Para que escrevê-la? Se a função para a qual foi criada e gerada se perde, o sentido de criar biografias também se perde, porque se transforma em atividade romanceada na contemporaneidade. Portanto, percebo um problema aqui: seria biografia todo o romance que trata da vida de um personagem e seria personagem toda a personalidade ilustre descrita em uma biografia? Faz-se necessário delimitar o gênero, resgatando a sua função, escrever uma vida, quem sabe.

Assim, pode-se contar um fato de muitas maneiras, mas documentá-lo, como no caso de uma biografia com imagens parece ser menos irreal, supondo estar tratando de dados confiáveis do ponto de vista da busca de uma verdade historiográfica. Entretanto, a dúvida persegue o pesquisador e o dado relevante parece já não ter significação, a menos que esse modifique a interpretação que da história se faz, apelando para o “espírito” do literato. As biografias realizadas em vida do biografado serão mais fidedignas do que aquelas baseadas em documentos escritos e de cunho bibliográfico. Mas, essa discussão está longe de terminar.

Barthes propõe uma evocação superficial por meio de um detalhe distanciador e revelador de uma singularidade: “É um traço sem união... o biografema. Não cabe sequer numa definição”. Os biografemas são pequenos detalhes que podem dizer por si sós tudo

sobre um sujeito disperso, multifacetado, um sujeito em pedaços. Os biografemas surgem numa sólida relação com o desaparecimento, com a morte; remete a um tipo de arte da memória, a um memento morti, a uma evocação possível do outro que já não existe83. Trata-se, pois, de um objeto, por exemplo, que pertenceu ao biografado, que diz alguma coisa dele. “Diferentemente da imagem, ele não adere, não é pegajoso,

mas desliza” [...] Barthes chamou de biografemas84

“[...] segmento vivido revelador de uma consciência e, sem que a precisão seja abertamente reivindicada geradora de uma percepção e um estilo.” Um exemplo de biografema poderia ser a escrivaninha de Antonieta de Barros, a mesma que ela usava para escrever seus textos e preparar as suas aulas ou o livro editado deixado para a leitura das gerações futuras.

Schmidt85 afirma que, com exceção de documentos

(correspondências e depoimentos), das datas (onde e quando nasceu e morreu fulano), muito do que aparece nas biografias é ficcional e esse exercício é muitas vezes ilimitado. Concordo com o autor quando penso nas fontes de pesquisa midiáticas, principalmente quando a fonte de

pesquisa se resume na Internet em site86 de busca. Nos textos lá

encontrados o pesquisador encontra diferentes relatos sobre a vida de Antonieta de Barros, com informações desencontradas, datas irreais, informações não verídicas.

83Cf. DOSSE, 2009. P.306.

84

ARNAUD, Claude. Le retour de La biographie: d’um tabou à l’autre. In.: Le débat. Paris: Gallimard, nº54, maio-abril, 1989. P..41.

85

SCHMIDT, Benito (Org.) O Biográfico: Perspectivas Interdisciplinares. Santa Cruz: EDUNISC, 2000.

86 Ver o endereço dos sites nas referências bibliográficas no item sete., subitem Sobre a

Embora o autor, então, defenda o espaço da ficção na biografia, fico a refletir: Será que se pode transgredir tanto? Qual seria a mensuração da ficção e seu espaço na fotobiografia? Desta forma, tem- se que lembrar que as imagens podem ser forjadas a partir da lente de

um observador, já nos referia Barthes87. Para compreender isto passo a

observar fotos de Antonieta.

As fotos mostram duas referências à vida pública de Antonieta de Barros. A primeira faz menção à mulher que foi Deputada em duas legislaturas na Assembléia Legislativa de Santa Catarina, uma em 1935 e a outra em 1948. E a segunda mostra a Mestra Antonieta de Barros, paraninfa e professora de Língua Portuguesa e Psicologia na Escola Normal do Colégio Coração de Jesus em 1939. Na primeira foto temos o verbete escrito pelo professor Walter Piazza88, enaltecendo o fato de Antonieta ter sido a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira no Legislativo no Sul do Brasil. Na segunda foto, temos o quadro alusivo a uma data comemorativa, cuja imagem mostra uma Professora com tez clara, junto às alunas brancas.

As duas Imagens são atribuídas a uma mesma mulher, forjadas

pela lente e contexto de quem a observa. Que relevância tem esta questão, quando se retoma a história de vida de uma personalidade que parece ter sido vitimada pelo preconceito racial quando se lê biografias de uma dada corrente de pesquisas? Como tirar conclusões rápidas de uma vida exterior, calcada na cor da pele? Vale, creio aqui, pensar os

87

Cf. BARTHES, 1998.

88 PIAZZA, Walter F. Dicionário Político Catarinense. 2 ed. – revista e ampliada.

contextos e assim compreender porque as fotos mostram a mesma mulher de maneiras diferentes, tanto no vestir, na postura, bem como no uso de acessórios. Posso refletir que no primeiro caso, por ser um dicionário que retrata a cor da pele da personagem, faz-se necessário buscar uma foto que a retrate com tais características; já na questão da segunda foto, o contexto traz homens e mulheres brancos, a formatura de uma elite no contexto social da década de trinta, em que as questões étnicas não eram discutidas.

O espaço da ficção na biografia em Imagem como imanência89

em Benjamin90 e como refração91 em Barthes92 parecem conceitos dos quais não se pode fugir neste caso, porque a invenção e a criatividade deixam transparecer a dúvida de como era na realidade a personalidade biografada, ou seja, quais suas características, já que a resposta depende

do olhar e da interpretação do leitor. Azevedo (1995) 93, refletindo sobre

a construção da biografia, afirma que a biografia supõe uma forma de existência do indivíduo, não qualquer indivíduo que só ressalta o social, o coletivo, mas o indivíduo como tal. Aí há um paradoxo, pois a

89

Verbete. Imanência. Do latim tardio immanentia (acus. PL. neutro do part. Pres. De immanare, ficar, deter-se em. Tomado como substantivo feminino é a qualidade de imanente. Que existe sempre em um dado objeto e inseparável dele. Na filosofia, diz-se daquilo de que um ser participa, ou a que em ser tende, ainda que por intervenção de outro ser. In.: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: O Dicionário da Língua

Portuguesa. 3 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. P. 1078.

90 BENJAMIN, Walter. A Modernidade e os Modernos. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro,

1975.

91 Verbete. Refração. Do latim refracione. Ato ou efeito de refratar-se. Modificação da forma

ou da direção sofrida pela luz quando atravessa olho normal e que resulta em que a imagem ou as imagens se focalizem na retina. Desvios dos raios luminosos provenientes dos astros, ao atravessarem a atmosfera terrestre.In.: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: O Dicionário da Língua Portuguesa. 3 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.P. 1729.

92 Cf. BARTHES, 1998.

93 AZEVEDO, Maria Helena. Algumas reflexões sobre a construção biográfica. São Paulo:

particularidade é demarcada exteriormente. É um indivíduo com relações de proximidade ou de distância com outros indivíduos, relações funcionando em molduras coercitivas, institucionalizadas, onde o espaço individual inexiste. Nesta reflexão da autora, percebe-se que a biografia trabalha com a questão do interior e também do exterior do indivíduo como forma de produção e reprodução da vida social, uma vez que não é possível estabelecer somente um espaço exterior social. Entende-se que “o biógrafo constrói as cenas do passado de forma a ficarem livres de ser considerada fraude” 94

. Cabe ao biógrafo fazer escolhas; deverá articular o pensamento público (a obra) com a vida privada (o cotidiano).

94 Idem.Op. Cit. 1995.

Foto da página 85 do Dicionário Político Catarinense 95 95 Cf. PIAZZA, 1994. P. 85-86.

Foto do quadro das Magistrandas de 1939 do Colégio Coração de Jesus. Acervo Museu do Colégio Coração de Jesus/Bom Jesus.96

Há uma escolha de origem ficcional. “A biografia ressalta sua origem ficcional, mas não irreal” 97, afirma Azevedo em divergência a

Schmidt98. Porque para o último, biografia é produzir história, contar um

passado, relatar a vida e uma personagem, e para isso precisa haver certo controle argumentativo do biógrafo e imaginação romanesca.

96

Acervo Museu da Escola Catarinsne.

97 AZEVEDO, Maria Helena. Algumas reflexões sobre a construção biográfica. São Paulo:

Edunisc, 1995.

98 SCHMIDT, Benito Bisso. Luz e Papel, Realidade e Imaginação: As Biografias na História,

no jornalismo, na Literatura e no Cinema; In.: SCHMIDT, Benito (Org.) O Biográfico: Perspectivas Interdisciplinares. Santa Cruz: EDUNISC, 2000.

Ainda em Azevedo, predomina a explicação, a argumentação na biografia. Isso irá quebrar com a expectativa de parecença, ou equivalência.

As escolhas feitas pelo biógrafo param diante da imagem realizada, já que a representação de uma imagem fala mais do que palavras. Mas, a imagem pode ser forjada, pode ser trabalhada, pode ser inventada também. Então as escolhas passam a ser ainda mais significativas para a interpretação que se quer realizar do fato mostrado ou do fato narrado a partir da descrição realizada da foto ou imagem.

No livro Mulheres Negras do Brasil 99 os autores escolhem a foto da Antonieta com vinte e poucos anos, um perfil que denota ser de uma mulher Negra; a foto é utilizada para ilustrar a personalidade e a biografia ali mencionada no livro, enaltecendo a figura da primeira mulher negra que entrou no parlamento. No livro de poemas feito em homenagem ao Centenário de Antonieta de Barros, os organizadores do livro da Fundação Franklin Cascaes escolhem para retratar a capa uma foto estilizada de Antonieta de Barros, com a tez mais clara. Na época do lançamento do Jornal O Idealista, jornal do Centro Acadêmico Antonieta de Barros dos alunos do Instituto de Educação, a própria Antonieta permitiu a publicação de uma foto, na coluna “Notas Sociais”, sobre sua nomeação para ser a Diretora do Grupo Dias Velho em 1945, a qual retrata a imagem de uma mulher mais clara do que a foto da beca de formatura, imagem registrada em 1922, nessas duas últimas, está representada a professora Antonieta.

99SCHUMAHER, Shuma; VITAL BRAZIL, Érico. Mulheres Negras do Brasil. Rio de Janeiro:

O que parece ficar claro aqui é a questão de escolher a imagem que se quer divulgar e a intencionalidade dessa imagem, ou seja, qual o público a que se destina e como melhor agradá-lo. Quando busco nas fontes primárias uma imagem mais parecida com a realidade da vida cotidiana de Antonieta, encontro uma mulher mais clara tal qual a Diretora, austera, bem trajada, uma mulher que aprendeu a conviver no mundo dito “branco”. Quando percorro os seus passos, procuro uma Antonieta inteira, completa, um conjunto formado dos papéis que ela exerceu uma Antonieta das “Alamedas Interiores”. Nessa busca, encontro um álbum de formatura da escola normal no Museu da Escola Catarinense, uma foto da Paraninfa da turma, uma Antonieta feliz, de corpo inteiro. Para referenciar a foto, trago uma poesia feita para enaltecer a figura de Antonieta de Barros, uma das vencedoras do concurso da Fundação Franklin Cascaes.

Foto da página 219. “Antonieta de Barros, a primeira mulher negra a assumir um cargo eletivo no Sul do Brasil”. Foto publicada no livro SCHUMAHER, Schuma & BRAZIL, Érico Vital. Mulheres Negras do Brasil. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2007. P. 219;317.

Foto da capa do livro do Prêmio Franklin Cascaes de \Literatura: 2001. Poesia. A inspiração de Antonieta de Barros/ Mafra, Suzana... [ET além]. Florianópolis: Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes. 2003.

Foto da Diretora do \Instituto Dias Velho, homenageada do Centro Cívico Antonieta de Barros, publicado no informativo “O Idealista” de 1945.

Foto de Antonieta de Beca, publicada no livro de CORRÊA, Humberto P. História da Cultura

Catarinense: O Estado das Ideias.

Vol.1. Florianópolis: Ed UFSC: Diário Catarinense, 1997. P. 165

Retrato 100

Antonieta, Tua expressão relata a batalha da vida E o olhar, A plenitude do sonho; Um ponto de luz E já era sol Um pouco de esperança E já era realização Uma palavra escrita

E a mágica possibilidade de mudança; Fizestes de cada dia

O caminho da vitória

No documento Nos passos de Antonieta: escrever uma vida (páginas 54-77)