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O desempenho do cargo de Direção de Turma face aos desafios da

No documento dir turma educ especial filipa matos (páginas 54-58)

A reflexão acerca da relevância do estatuto (material e afetivo) e do papel do professor na Escola e na sociedade, com o objetivo de melhorar as suas práticas e assim contribuir para o sucesso escolar e para a paz social, foi oficialmente apresentada nos princípios orientadores da Recomendação relativa ao Estatuto dos Professores, adotada na Conferência Intergovernamental Especial sobre o Estatuto dos Professores, em 1966:

Deve reconhecer-se que o avanço da educação depende amplamente das habilitações e da capacidade dos professores em geral, e das qualidades humanas, pedagógicas e técnicas individuais dos professores. (…) Deve reconhecer-se que o estatuto adequado dos professores e o devido respeito público pela sua profissão são de importância fundamental para total consecução destas finalidades e objetivos (UNESCO, 1998, p.22).

Mais perto do presente tempo, nos fins do século XX, também a Comissão Internacional da Educação para o século XXI reiterou:

A importância do papel do professor como um agente de mudança, promovendo a compreensão e a tolerância, nunca foi tão óbvia como hoje, e é provável que se torne ainda mais crítico no século XXI. (Delors, 1996, cit. in UNESCO, 1998, p.14).

Como se viu no capítulo anterior, em Portugal, o mais recente contexto político- educativo foi profundamente marcado pelo processo de democratização do ensino após o 25 de abril de 1974, assistindo-se a uma progressiva mudança das funções e dos papéis socioprofissionais dos professores, no sentido de uma maior reflexão em torno da sua abrangência, complexificação e exigência quanto ao seu desempenho (Lopes, 2007). Atualmente, ao professor pede-se tudo, para além das suas funções normais de ensinar: que dê atenção especial a um conjunto de problemas sociais; que estabeleça um conjunto de relações com as comunidades; que desempenhem funções de gestão (Torres, 1997).

(…) o discurso do superprofessor pressupõe um professor indiferenciado que potencialmente pode, apenas pela sua condição docente e com a vontade inerente ao seu espírito de missão, desempenhar qualquer papel na escola de massas – de professor em contacto com o diretor de turma, delegado de disciplina, orientador pedagógico, monitor de formação contínua, gestor geral da escola, etc. O professor será generalista e, potencialmente, capaz de assumir todas as especialidades (Formosinho, 1992, cit. in Torres, 1997, p.163).

No panorama científico da atualidade são várias as teses de investigação em Educação que têm dado destaque a esta mudança do papel dos professores face às inúmeras mudanças sociais que a Escola tem vivenciado, destacando-se a sua importância no multifacetado papel de diretor de turma.

À escola de hoje exige-se uma nova relação pedagógica que conduza ao desenvolvimento da autonomia dos alunos, ao exercício de uma participação responsável, sendo a Direção de Turma a mola impulsionadora para essa transformação, dado que encerra um potencial desde sempre reconhecido (Cruz, 2006).

Atualmente os diretores de turma têm assumido elevadas responsabilidades na promoção da integração escolar dos seus alunos, na criação de condições para o seu

desenvolvimento pessoal e social e na intensificação das relações da Escola com o meio (Torres, 2007).

No contexto da presente problemática, torna-se importante procurar definir com maior precisão quais as competências, os normativos, as dificuldades e âmbito de atuação dos diretores de turma nos dias de hoje, tornando-se qualquer investigação nesta área um contributo relevante para a concretização deste objetivo. Como refere Cruz, podemos “indicar como pertinente, a referência a pistas e caminhos em direção à definição de um perfil de Diretor de Turma” (Cruz, 2006, p.21).

Alguns estudos debruçaram-se sobre o cargo da direção de turma, relacionando- o com os desafios que se colocam à Escola dos dias de hoje, categorizando algumas das suas inúmeras responsabilidades nos estabelecimentos de ensino, no acompanhamento dos seus alunos e no relacionamento com os encarregados de educação (Favinha & Hipólita, 2012):

 Fazer o levantamento do perfil dos alunos que lhe chegam às mãos;

 Coordenar, juntamente com os outros professores da turma, a elaboração e a execução do Projeto Curricular de Turma e acolher nesse mesmo projeto as expectativas dos encarregados de educação e dos alunos da turma;

 Informar e responsabilizar os alunos e os encarregados de educação pelo cumprimento do regulamento interno da escola;

 Dar a conhecer aos alunos as informações que são encaminhadas pela direção;  Acompanhar os alunos nas atividades realizadas fora da escola;

 Coordenar todas as reuniões de conselho da sua direção de turma;

 Encaminhar toda a documentação necessária de preenchimento por parte do aluno e/ou do seu encarregado de educação e receber os documentos devolvidos após preenchimento;

 Controlar as faltas e respetivas justificações, bem como o seu excesso de acordo com a legislação em vigor;

 Sensibilizar os alunos para a necessidade de estudo e preparação para os exames e a vida futura;

 Contactar os encarregados de educação no horário de atendimento, por telefone, email ou noutro horário especial quando este se torna necessário para a permanência e o sucesso do aluno na escola.

A presente investigação pretende ser mais um contributo para a definição do perfil do diretor de turma na atualidade, nomeadamente no que diz respeito às suas responsabilidades no âmbito da Educação Especial. A experiência pessoal nesta área revelou que na Educação Especial, o diretor de turma, em pleno desempenho das suas múltiplas funções, acaba muitas vezes por se perder no meio de informações contraditórias, tentando, de forma solitária, encontrar a melhor solução para os seus alunos com necessidades educativas especiais, em articulação com a Lei, as famílias, a “cultura de escola”, o docente de Educação Especial, os Serviços de Orientação e Psicologia e o próprio Conselho de Turma.

Certo é, que é pelo diretor de turma que passam os contactos com o psicólogo da escola, a articulação com os técnicos e docentes da Educação Especial e o acompanhamento da evolução do alunos ao longo do ano letivo (Favinha & Hipólita, 2012). Um trabalho pluridisciplinar em que muitas vezes o diretor de turma se sente, porque é, o único verdadeiro elo de articulação.

Não colocando em causa que possam existir professores muito competentes e autónomos, capazes de dar resposta a esta diversidade de responsabilidades, investindo horas extraordinárias no seu trabalho na investigação e no apoio aos alunos da sua Direção de Turma, conciliando todo esse trabalho com a planificação das aulas e a avaliação de outras turmas em que esteja a lecionar, até um bom professor sabe quando é preciso pedir ajuda (Kauffman, 2007).

2. O conceito de Referenciação segundo o Decreto-Lei nº3/2008 e a sua relação

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