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 Indicador de Crenças e valores da Hipercultura

6.4 O DESEMPENHO DO CONSULTOR E A HIPERCULTURA

6.4.1 A utilização de software x hardware

A regressão logística elaborada neste estudo (vide seção 5.5.6) aponta os fatores que se correlacionam, de forma a explicar 80% do indicador de Desempenho dos consultores. Dentre eles, o mais importante é o número de tipos de software utilizados. Esta variável apresenta uma estimativa de 0,47 do valor preditivo do modelo, cuja confiabilidade é 71 vezes maior de contribuir positivamente para o indicador de Desempenho do que de contribuir negativamente.

Por outro lado o uso de tecnologias móveis (hardware como telefone celular, notebook, PDAs, máquinas digitais) apresenta uma correlação negativa importante também de -0,52, com uma probabilidade de contribuir negativamente 500 vezes maior do que a de contribuir positivamente.

Em um primeiro momento parece incoerente que o uso de tecnologias (no caso acima as móveis, que deixou de fora apenas o desktop, em função de ser pouco utilizado pelos consultores) possa contribuir tão fortemente de maneira negativa enquanto os softwares contribuem de maneira positiva.

No entanto, aprofundando o olhar sobre o tema, reconhece-se a importância dos softwares para alcançar os melhores resultados. Ainda que eles dependam de hardwares para serem utilizados, a contribuição isolada dos hardwares é negativa. O hardware, ainda esta nomenclatura tenha aparecido com o advento do computador, nada mais é do que uma máquina, o grande destaque da era industrial. Não interessa em que equipamento está o software, o que interessa é que seja possível utilizar todas as suas potencialidades. E desta forma, um hardware limitado pode sim afetar o resultado do trabalho. E válido citar novamente Bauman (2001) que relaciona a era pré-industrial ao termo wetware para se referir à forma humana (e animal), o termo hardware como um advento da revolução industrial que teve uma importância crucial desde o seu início, aliviando a necessidade do emprego da força braçal humana. De forma que, atualmente, a indústria está produzindo hardwares que possam

comportar cada vez mais software que possam auxiliar a expandir a capacidade cerebral humana. Uma metáfora que pode ilustrar este entendimento é a televisão. Hoje em dia, não importa que televisão se tenha, o programa favorito será assistido, o que pode mudar é a qualidade da imagem, do som, a quantidade de canais ou a falta de alguma fonte de energia. Do mesmo modo, não importa o computador de dados e sim a sua capacidade de acesso ao software que seja necessário e que possa fazê-lo de forma plena. Por isso, o hardware muda radicalmente (desktop, notebook, smartphone). O software evolui. Talvez isto queira dizer alguma coisa. O trabalho atualmente não requer corpo (wetware), as máquinas (hardware) o substituíram, mas requer cérebro e software para auxiliar na expansão da capacidade cerebral ainda latente. De forma que o uso apropriado do software é fundamental para a produtividade, criatividade, compartilhamento do conhecimento, novas descobertas e, conseqüentemente, aprendizado contínuo.

Assim, analisando atentamente, a busca por hardwares cada vez mais potentes, tem por objetivo concentrar o maior número de funcionalidade advindas dos softwares num único hardware, sem ocupar muito espaço. A idéia de uma máquina especializada em uma única função, que valorizava os aparelhos da era industrial perde a relevância. Os multifuncionais passam a ser mais procurados, em contraposição ao valor que era atribuído a aparelhos que desempenhavam mais de uma atividade até recentemente. Um aparelho multifuncional não era visto como eficiente – por não ser especializado em nenhuma das funções – de forma que estes aparelhos eram entendidos como de baixa qualidade frente ás máquinas com especialidade exclusiva. Um exemplo foram as críticas, muito justas por sinal, aos equipamentos de som conhecidos por “3 em 1”. Mas, com a tecnologia digital (em substituição a mecânica e a analógica, por exemplo) a qualidade de som e vídeo está excelente em qualquer aparelho minúsculo.

Nos dias atuais, um telefone celular não merece mais este nome, podendo ser substituído apenas pelo termo equipamento celular. Isto porque, além de permitir comunicação por meio de voz como um telefone fixo, a realiza de forma móvel, complementada por transmissão de mensagens de texto e imagem. Também é uma máquina fotográfica com qualidade de excelência, muitos com rádio de freqüência modulada, armazenam músicas e vídeos para serem acessado a qualquer tempo, de qualquer lugar, sem incomodar os que estão à volta, graças aos fones de ouvido. E ainda, permitem áudio- conferência ou conferência por viva-voz e o acesso aos arquivos de textos, planilhas e slides,

dentre outros atributos. Desta forma, quanto mais hiperculturais os consultores, melhor tenderiam a serem os seus resultados aos se utilizar o maior número possível de software específico em um único hardware. Pode-se também fazer um paralelo com este achado: Quanto mais multifuncionais forem os consultores, mas produtivos podem ser os resultados por eles produzidos.

6.4.2 Horário flexível e Importância da formação

A estimativa do horário flexível é de 0,53 e explica 8 vezes mais a correlação positiva do que a negativa. Enquanto a crença de que a habilidade vale mais que a formação apresenta uma estimativa negativa (-0,59) e tem a possibilidade de influir 10 vezes mais negativamente do que positivamente. Esta última correlação da regressão logística está de acordo com o achado de que atualização e saber são importantes para os hiperculturais, o que faz com que, quanto mais hiperculturais, maior pode ser o desempenho.

A crença de que o horário flexível é mais produtivo é apoiada pela literatura quando diz que 40 horas de trabalho semanais não se aplica para esta nova geração (vide seção 2.1).

6.4.3 A experiência e as estratégias que se valem desta “competência”

A experiência contribui negativamente para o indicador de desempenho (-0,12) e apresenta 83 vezes mais probabilidade de contribuir negativamente do que positivamente. No entanto, o uso do argumento de reconhecimento desta experiência, contribui com 1,3 e tem a possibilidade de contribuir 3,66 vezes mais positivamente do que negativamente. O uso de outro argumento de competência (que não inclui a diplomação) também contribui negativamente (-1,04) e tem a possibilidade de contribuir três vezes mais negativamente do que positivamente. Deste achado pode-se perceber que a experiência não representa uma

condição segura na contribuição para o indicador de desempenho. Entretanto, como os clientes ainda buscam consultores especializados e, conseqüentemente, experientes, o uso da “competência” como argumento de convencimento ainda contribui para o sucesso do consultor.

6.4.4 Idade (exposição na infância e adolescência às TICs)

A idade influencia negativamente o resultado. Isto é, quanto maior a idade, menor a contribuição para o indicador de Desempenho. A contribuição é de -0,07, tendo a possibilidade 33 vezes maior de contribuir negativamente do que positivamente. Este achado também está de acordo com a correção da idade com a Hipercultura, de forma que este achado também corrobora com a afirmativa de que quanto mais hipercultural, melhor o resultado do consultor. Mas vale esclarecer que isto não significa discriminação etária. Ao contrário, encontra-se aos montes jovens não hiperculturais, pois os pais acreditam que a internet e os jogos eletrônicos são prejudiciais e que os filhos deveriam soltar papagaios (pipas) e jogar bolinhas de gude. No entanto, a exposição sadia a todo tipo de interação digital não foi comprovada como prejudicial. Ao contrário, se está provando cada vez mais sadia. E aqueles que conseguem transitar no mundo digital e ainda jogar bolinha de gude e soltar pipas podem desenvolver ainda mais habilidades. Da mesma forma, o mundo está repleto de pessoas de faixas etárias elevadas e hiperculturais, porque sempre se interessaram pelo desenvolvimento científico e se aproximaram muito das novas tecnologias sem pré-concepção.

6.4.5 Área de atuação – o caso específico da auditoria

O modelo de regressão logística aponta que atuar na área de auditoria contribui negativamente para o índice de desempenho do consultor em -1,17. Porém a chance de contribuir negativamente é somente três vezes maior do que a chance de contribuir

positivamente. Por outro lado, como a auditoria é uma das áreas que utiliza menos softwares sofisticados, tem sua importância. No entanto, não se pode desprezar o fato de que auditoria está no grupo que tem correlação positiva com Hipercultura.