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O desemprego como possibilidade A preocupação com a possibilidade de desemprego

Considerando o recente contexto de crise económica e o impacto ex- ponencial que teve em termos de desemprego, importou apurar o grau de preocupação dos portugueses já empregados, nomeadamente dos mais jovens, em relação à possibilidade de virem a perder o seu emprego. Trata-se de uma questão importante, no sentido de avaliar as atitudes dos indivíduos num contexto de risco e crescente imprevisibilidade dos cur- sos de vida.

Segundo dados do Eurobarómetro (figura 1.5), já em 2011 Portugal se encontrava entre os países cuja população apresentava níveis de preo - cupação com a ameaça de vir a perder o emprego bastante acima da média europeia (35,6%). Praticamente metade da população ativa portuguesa (47,5%), nessa altura, já evidenciava índices de «muita preocupação» em relação à possibilidade de vir a perder o seu emprego, encontrando-se a par dos níveis de preocupação de países como a Roménia (47,5%) e a Hun- gria (46,2%). Nessa altura, porém, a preocupação demonstrada pela popu- lação portuguesa não se demonstrava tão acentuada como na Espanha ou na Grécia, onde cerca de 72% e 63,3% das suas populações, respetivamente, já manifestavam um elevado índice de preocupação.

Os dados do inquérito realizado em 2015 demonstram, desde então, um crescimento muito significativo do índice de preocupação entre a população portuguesa em relação à possibilidade de vir a perder o seu emprego: de 47,5% sobe para 68% a proporção da população portuguesa empregada que evidencia elevados índices de preocupação (quadro 1.7). Embora a preocupação em relação a perder o emprego se demonstre transversalmente muito elevada em praticamente todas as fases do curso de vida, esse sentimento tende a diminuir um pouco entre os mais jovens (60,1%), ainda em processo de inserção profissional, a par dos indivíduos depois dos 55 anos, ou seja, com idades já próximas do fim do seu per- curso laboral – de facto, o índice mais elevado de preocupação desce muito acentuadamente entre os indivíduos com 65 e mais anos, entre os quais apenas 36,4% se demonstram muito preocupados perante a pos- sibilidade de virem a perder o seu próprio emprego.

Mas se os inquiridos mais velhos se demonstram menos preocupados em vir a perder o seu próprio emprego, a sua preocupação denota-se muito elevada quando a possibilidade de vir a enfrentar a situação de de- semprego é inquirida relativamente aos seus filhos (quadro 1.8). De facto,

o nível de preocupação relativo à eventual perda de emprego dos filhos acentua-se entre os inquiridos com 55 e mais anos, indiciando que esta preocupação por parte dos pais acresce com o avanço da idade dos filhos no percurso de vida laboral, provavelmente prevendo a dificuldade acres- cida que uma nova inserção profissional acarreta em idades mais avan- çadas. Estamos, portanto, perante uma preocupação intergeracional- mente partilhada relativamente aos problemas de inserção e manutenção profissional das mais recentes gerações.

Figura 1.5 – Preocupação em relação a perder o seu emprego. Total da população que se declara preocupado ou muito preocupado, UE-27 (%)

Fonte: Eurobarómetro 76.2 setembro-novembro 2011, dados acedidos em abril de 2015. Pergunta: «Tendo em conta a atual crise económica e o seu potencial impacto sobre o mercado de trabalho, como classificaria a sua preocupação em relação a perder o seu emprego?» Escala de 1 a 5 onde «1» significa que «não está nada preocupado» e «5» que «está muito preocupado».

Espanha Grécia Lituânia Eslováquia Roménia Portugal Hungria Chipre Bulgária Itália Rep. Checa Irlanda UE27 Áustria Letónia Polónia Reino Unido Eslovénia Bélgica França Malta Luxemburgo Alemanha Estónia Países Baixos Dinamarca Finlândia Suécia 0 50 100 71,7 63,3 60,9 56,9 47,7 47,5 46,2 43,2 42,2 42,0 39,7 35,9 35,6 35,2 34,1 32,6 31,4 31,0 30,3 28,8 27,9 24,6 22,5 19,6 16,2 13,9 8,0 4,5

A preocupação com a possibilidade de perder o emprego no âmbito familiar não é partilhada apenas a nível intergeracional, com a projeção dessa preocupação de pais para filhos, mas também intrageracional- mente, quando essa preocupação se observa alargada também à possibi- lidade de o parceiro ou da parceira conjugal ficarem desempregados (qua- dro 1.9). Esta é uma preocupação que apresenta índices elevados de uma forma transversal a todas as idades, com exceção dos inquiridos com 65 ou mais anos, efeito provável da condição maioritária de cônjuges já ina- tivos, em condição de reformado/a ou doméstica.

Apesar de a preocupação com a possibilidade de vir a perder o próprio emprego se revelar um sentimento transversal e dominante na sociedade portuguesa, as condições socioeconómicas não deixam de condicionar a forma como os jovens empregados vivem essa ameaça (figura 1.6). De facto, a eventual perda do próprio emprego é uma ameaça que tende a ser vivida com menor preocupação entre os jovens de 15-34 anos que consideram viver confortavelmente com o rendimento atual do agregado familiar: entre estes «apenas» cerca de 48% declaram índices de «muita preocupação» perante essa eventualidade, valores que ultrapassam os 70% entre os jovens que dizem viver com dificuldade ou muita dificul- dade com o rendimento atual. A ameaça de desemprego tende ainda ser vivida um pouco mais despreocupadamente entre os jovens com níveis de escolaridade pós-secundários (63,2%), relativamente aos que têm o ensino secundário (72,7%) ou apenas o ensino básico (69,4%).

De resto, é uma preocupação que se observa partilhada de forma muito equivalente entre jovens dos sexos masculino e feminino, e inde- pendente do tipo de contrato de trabalho que se detém: 69% dos jovens com contratos sem termo demonstram a sua preocupação com a possi-

Quadro 1.7 – Grau de preocupação em relação a perder o seu emprego. Total da população empregada, por faixa etária (%) 15/24 25/34 35/44 45/54 55/64 65 e + Total Pouca preocupação (1-2) 19,7 11,6 14,3 15,8 17,7 37,8 16,1 Média preocupação (3) 10,6 12,4 11,2 9,5 8,1 0,0 10,1 Muita preocupação (4-5) 60,9 73,0 70,8 72,4 61,9 36,4 68,0 Não sabe 6,4 0,8 2,1 1,8 6,3 13,4 3,2 Não responde 2,5 2,3 1,6 0,6 6,0 12,4 2,7

Fonte: Estudo «Emprego, Mobilidade, Política e Lazer: situações e atitudes dos jovens portugueses numa perspetiva comparada», 2015.

Pergunta: «Tendo em conta a atual crise económica e o seu potencial impacto sobre o mercado de trabalho, como classificaria a sua preocupação em relação a perder o seu emprego?» Escala de 1 a 5 onde «1» significa que «não está nada preocupado» e «5» que «está muito preocupado».

bilidade de perder o emprego, percentagem que aumenta apenas em cerca de 5% valores percentuais entre os jovens com contratos com termo ou sem qualquer vínculo laboral por conta de outrem. Dado que não deixa de indiciar a falta de crença nos vínculos laborais mais permanentes que existe entre os mais jovens.