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O desenvolvimento regional de Corumbá e o potencial mineral da região

Esta seção do estudo busca apresentar a descrição da área de pesquisa como forma de entendimento dos processos, contextualização e a reconstrução da trajetória das famílias que foram (re)assentadas no Urucum. Vale ressaltar que se considerou como referência, sobretudo, a descrição da trajetória das famílias presentes no Levantamento Socioeconômico organizado por Muniz et al. (2003), em que desenvolveram um diagnóstico a partir da questão da água envolvendo os diferentes atores sociais, econômicos e institucionais do município de Corumbá. Outras literaturas também foram exploradas como o trabalho de Brito (2011), que teve como foco uma investigação acerca do desenvolvimento regional de Corumbá, e a analise da atividade mineradora no município. O uso desse trabalho teve a finalidade de ilustrar os processos socioeconômicos da região de Corumbá e como se contextualiza a inserção das atividades mineradoras no município.

Dessa forma, conforme evidenciam Muniz et al. (2003), a região em que hoje está situada a cidade de Corumbá teve grande importância na demarcação estratégica do território brasileiro, sendo disputada, por quase três séculos, entre portugueses e espanhóis. Brito (2011) elucida que a formação socioespacial de Corumbá foi o produto das relações sociais e produtivas construídas ao longo da trajetória histórica do município, citando-se a convivência e os conflitos entre portugueses, espanhóis, índios e seus descendentes.

Sendo assim, nota-se que o município se destacou pelo seu caráter militar durante muitos anos, objetivando a defesa do território frente às investidas espanholas por meio do rio Paraguai. Brito (2011) assevera que essa função militar passou a existir em decorrência da atividade fluvial, que levou Corumbá a um patamar de importância no Estado do Mato Grosso. Internacionalmente, no início do século XX, o município se configurava como um centro distribuidor de mercadorias e de transbordo de passageiros dessa área para outras do país.

No entanto, a Guerra do Paraguai (1964-1970), como denotam Muniz et al. (2003), trouxe estagnação para a cidade, que somente superou essa fase devido à forte presença de estrangeiros que se dedicavam ao comércio. Salsa Corrêa (1985) mostra que, após esses anos de confronto contra o Paraguai, houve a necessidade de uma

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reorganização urbana. Aos poucos Corumbá rearticulou suas funções, urbanas e do porto comercial, e, nesse período foram construídos prédios públicos, armazéns e outros prédios particulares. No entanto, Brito (2011) assevera, ainda, que, nessa fase, a classe social que mais se dinamizou foi a dos grandes comerciantes dos portos de origem estrangeira e nacional, sendo esse estrato social que influenciou no controle político local e do capital impulsionador da economia de toda a região durante muitos anos.

No entanto, o estudioso destaca alguns aspectos que influenciaram as mudanças socioeconômicas do município. A construção da ligação ferroviária de todo o sul de Mato Grosso com o estado de São Paulo, por meio dos trilhos da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), pelo Porto de Esperança, no município de Corumbá, iniciada em 1914, barateava os fretes para a capital e substituía com vantagens o transporte pelos rios, proporcionando o efetivo aproveitamento e povoamento de extensas faixas de terra, ainda desocupadas, fato este que, na opinião do autor, além de uma alternativa ao transporte hidroviário, representava também uma forma de incentivar o maior controle sobre as fronteiras do país.

Outra mudança importante foi o fim do monopólio das frotas de navegação, objeto de dominação sobre os produtores da região, no final dos anos 1920. Depois de setenta anos de domínio econômico e político, a classe dos grandes comerciantes aos poucos foi perdendo expressão política e econômica enquanto categoria social. O declínio da economia corumbaense foi marcado também em nível internacional, pela Primeira Guerra mundial e pela quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929; a depressão que se iniciava no centro dinâmico das economias capitalistas teve reflexos negativos à estrutura mercantil importadora de Corumbá.

Desse modo, o estudioso denota que, após esse período conturbado, Corumbá passou a priorizar outras atividades econômicas. Com o estimulo à industrialização, em 1930, o município entrou em uma fase de acumulação de capitais e o seu desenvolvimento passou por uma nova etapa na economia da região, não mais como importadora, mas como produtora, com o nascimento da Sociedade Brasileira de Mineração. Nesse sentido, outras atividades ganharam destaque na economia do município, como a pecuária, o turismo e a mineração, que foram ganhando cada vez mais destaque à medida que avançava o declínio da principal função do município, a de entreposto comercial.

Observa-se, como exposto, que Corumbá, desde sua constituição, cumpriu papel importante para o desenvolvimento da economia regional. O município passou por

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processos econômicos que tiveram reflexos tanto para a sociedade quanto para as atividades econômicas desenvolvidas na região, configurando mudanças expressivas à dinâmica mercantil da cidade. A desarticulação das atividades importadoras deu espaço a novas atividades produtivas, dentre as quais se destaca a mineração.

Muniz et al. (2003) evidenciam que a região de Corumbá possui diversos minerais de alto valor econômico, fato que explica a forte vocação mineral do município e região. Os autores explicitam que as primeiras referências às jazidas do Urucum datam de meados de 1870, quando o barão de Villa Maria pediu uma concessão ao governo imperial para explorar ferro em suas propriedades. A revelação das camadas manguenezíferas da área foram feitas por um viajante inglês, que realizou estudos geológicos na região.

Em 1906, observa-se a entrada do capital estrangeiro para o desenvolvimento da atividade mineradora, com a empresa belga Compagnie de I’Urucum que, de acordo com Brito (2011), veio atraída pela demanda de material bélico, crescente em razão da Primeira Guerra Mundial. Ainda segundo esse autor, com experiência na fabricação de aço por desfosforação, a empresa belga adquiriu concessão para atividade mineradora na área do Morro do Urucum. No entanto, após a Primeira Guerra Mundial, os trabalhos da mineradora belga foram suspensos e as explorações minerais no Morro do Urucum foram retomadas apenas em 1940, pela Sobramil (Sociedade Brasileira de Mineração), criada pelo grupo Grupo Chamma, que adquiriu concessão para exploração do minério de ferro.

Porém, a década de 1970 não se apresentou favorável à expansão mineral em Corumbá. Brito (2011) denota que os dois choques do petróleo1 causaram uma retração na demanda mundial por minério de ferro, levando ao fechamento de diversas minas e incentivando a busca por fontes alternativas de energia. O estudioso assevera que a palavra de ordem nesse contexto passou a ser a modernização das minas e usinas, com introdução de novas tecnologias e equipamentos para extração e beneficiamento mineral, com objetivo de redução dos custos operacionais e aumento da eficiência e produtividade.

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De acordo com informações do Portal Brasil do governo federal, o primeiro choque do petróleo ocorreu no final de 1973, o preço do barril de petróleo foi aumentado excessivamente pelo cartel formado pelos países exportadores. Grande parte das economias mundiais entrou em recessão a partir de 1974. Já o segundo choque aconteceu no final 1979, período em que o preço do barril de petróleo aumentou novamente. As principais taxas de juros internacionais também se elevaram, resultando no aumento do valor das importações.

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No final dos anos 1970, outro aspecto relevante influenciou o desenvolvimento da atividade mineral em Corumbá, a atuação do Estado na mineração, por meio da ação de duas corporações do setor mineral: a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e o Governo do Estado de Mato Grosso que, em 1975 transferiu a concessão da Sobramil para a Companhia Mato-grossense de Mineração (METAMAT). Dessa forma, foi criada a Urucum Mineração S/A, que constituiu a Urucum Mineração (adquirida pela CVRD, em 1997). Outro acontecimento importante, na visão do autor, ao desenvolvimento desse tipo de atividade em Corumbá, foi o processo de privatização da CVRD. Russo (2002) elucida que a privatização da CVRD, em 1997, configurou um período de reestruturação para a CVRD que passou a ser apenas Vale. Após a privatização, a Vale, ao longo dos anos, foi adquirindo ações referentes à exploração na área do Morro do Urucum, caracterizando um monopólio na produção mineral, em que detém, atualmente, 90% da produção por meio de suas empresas, Urucum Mineração e MCR-Rio Tinto (BRITO, 2011).

No entanto, como explica o estudioso, outras empresas mineradoras também atuam na região de Corumbá, dentre as quais se cita a Mineração e Metálicos do Brasil Ltda. (MMX). Essa organização foi uma das empresas atraídas pelo potencial mineral da região, iniciando suas atividades em 2005. A empresa adquiriu uma concessão para exploração de uma mina de terceiros (Minerasul) que se encontrava desativada. O autor elucida que, no ano de 2009, a MMX-Corumbá vendeu sua planta de metálicos para a Vetorial Siderurgia Ltda., fato este que levou a empresa a deixar de operar no processo de transformação do minério de ferro em aço. Contudo, no mesmo ano, a MMX assinou um contrato com vetorial Siderúrgica para o fornecimento do minério de ferro. Dessa forma, outra empresa atuante na atividade mineral em Corumbá é a Vetorial Siderúrgica, um grupo familiar que, de acordo com Brito (2011), foca suas atividades no setor minero-siderúrgico. Como explica o autor, esta empresa atua no setor desde 1969 e possui três usinas no estado do Mato Grosso do Sul, nos municípios de Campo Grande, Ribas do Rio e em Corumbá.

Nesse sentido, nota-se que a atividade mineradora no município de Corumbá configura-se como uma resposta à demanda do mercado internacional, aliada a características físicas da região. A proposta de implementação de um polo siderúrgico em Corumbá, iniciada no final dos anos 60, como explica Brito (2011), também contribuiu para o desenvolvimento dessa atividade e chamou a atenção de grandes grupos siderúrgicos do setor. No entanto, a maior parte das empresas encontrou grandes

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obstáculos, desde a indisponibilidade de estoques de madeira legal para alimentar os altos fornos a limitações em aspectos de infraestrutura.

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