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O Direito à vida na Constituição Federal e sua titularidade

Um ponto importante sobre a positivação do direito à vida que devemos abordar é principalmente tecer algumas considerações sobre a sua previsão legal e também da sua força normativa, como um direito e garantia individual, ou seja, parte do núcleo imodificável da Constituição. Pode ter nascido na mente do leitor a seguinte pergunta: Onde se encontra previsto o direito de viver? E a resposta é dada sem muito esforço, pois o mesmo se encontra amparado por nossa Constituição Federal em seu art. 5° “caput”, quando assim reza: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]. A própria Constituição de forma bem clara utiliza a expressão “inviolabilidade do direito à vida”, ficando logo no início do chamado “Bill of Rigths” da Lei Maior.

O supremo ordenamento jurídico pátrio, do qual todos os outros derivam em consonância, busca garantir ao homem o direito de viver, sem que isso seja desrespeitado, ou seja, o direito à vida não pode sofrer violência ou interferência por quem quer que seja, nem pelo próprio Estado e nem muito menos pelo particular. Além disso, por se tratar de um direito individual é “cláusula pétrea”.

Claro, que se é um direito ele deve ser exercido dentro de certos limites, ou seja, dentro da normalidade e com limitações, pois não há direitos absolutos, nem mesmo a vida. Assim, o direito de viver deve ser exercido dentro de seus parâmetros e com alguns limites, partindo do homem mediano. Essa observação pode até espantar num primeiro momento, pois poderíamos nos perguntar: Como é possível exercer o direito à vida de forma

extravagante? Ou desvinculado de sua finalidade? Um exemplo pode tornar mais claro essa objeção.

Sabemos que o direito à vida nos é garantido. Isso é fato. Sabido também se é, que o mesmo não pode sofrer violações. Isso também é notório. Mas não pode um homem, pelo fato de ter o seu direito à vida garantida, pegar uma arma de fogo e se dirigir em direção a uma base militar e efetuar vários disparos contra alguns policiais que ali se encontram, e estes nada poderem fazer, pelo fato de que o autor dos disparos possui o direito de permanecer vivo. Os policiais prontamente, diante de um mal iminente e uma agressão injusta podem revidar os disparos, pois eles também possuem o direito de viver. Podemos classificar o exemplo, como uma relativização do direito à vida no exercício da legítima defesa.

A importância do exemplo citado é para que nós possamos perceber que nem mesmo o direito à vida é absoluto. Quando a própria “Lei Maior” garante a inviolabilidade à vida, ela não quer dizer que em nenhuma circunstância a vida não pode ser ceifada, mas sim que a mesma deve ser preservada nas situações normais de direito. Tanto é verdade, que o ordenamento jurídico na sua esfera penal, permite o aborto em algumas hipóteses tipificadas no art. 128 do Código Penal. A primeira hipótese está atrelada a possibilidade de se retirar o nascituro quando o aborto se faz necessário como único meio de salvar a vida da gestante.

(inc. I do art. 128).

A outra hipótese está prevista no (inc. II do art. 128), onde a “Lei Penal”

permite a interrupção da gravidez se a mesma é resultante de estupro, não punindo o médico que o pratica, desde que haja consentimento da gestante ou no caso de ser menor de idade, de seu representante legal.

Outro fator importante que merece algumas ponderações é o mesmo que tratamos quando falamos da evolução dos direito sociais, pois a vida como um direito fundamental também, deve ser assegurada a todos indistintamente. Essa observação se faz necessária, tendo em vista que a Constituição nos traz a seguinte expressão no “caput do art.

5°: “garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida”.

Ora, quer dizer então que os estrangeiros que não possuem residência no Brasil não devem ter o seu direito à vida preservado? Parece incongruente o nosso ordenamento não preservar a vida como um todo, estabelecendo critérios de nacionalidade para conceder a este ou aquele um direito fundamental. Claro que não foi essa a ideia do legislador. A melhor leitura do dispositivo é retirando a palavra “residentes”, para que não haja assim interpretações errôneas e indesejáveis.

Portanto, este direito primordial deve ser assegurado a todos os homens sem distinção de cor, sexo, idade, nacionalidade ou qualquer outro tipo de tabelamento. É o mínimo que o Estado deve fazer, principalmente para conservar a sociedade. Viver é um direito de todos e ponto. O que deve ser feito é uma interpretação conforme do texto constitucional para chegar à conclusão, que houve um erro do Poder Constituinte, pois a dignidade é do ser humano, por isso a importância de se estabelecer a diferença entre direitos do homem, e direitos do cidadão, conforme já tratamos aqui.

7 O DIREITO À ALIMENTAÇÃO NO CAMPO INTERNACIONAL

Feita as devidas considerações sobre o tratamento dado pela Constituição Federal ao direito à alimentação, é necessário fazer uma breve análise sobre o tema no âmbito internacional, mostrando sua relevância e influência. O principal objetivo deste capítulo é justamente mostrar ao leitor a importância do tema e como o mesmo é visto pelo direito nas suas diversas formas de se exteriorizar. Como o Brasil não vivia uma democracia e enfrentava grandes problemas, as primeiras preocupações em termos doutrinários com o direito fundamental à alimentação foram registradas em documentos internacionais, entre os quais tratados e convenções, bem como Resoluções da Organização das Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos. Também essa preocupação se faz presente nos órgãos da ONU, e podemos aqui citar o Conselho Econômico e Social12, bem como a FAO e outras agência humanitárias e sociais. Além da paz, a ONU sempre se preocupou com a fome e a miséria decorrentes das guerras, catástrofes ou mesmo problemas sociais dos seus 192 (cento e noventa e dois) membros, em especial os mais pobres.