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Bonavides (2009, p. 394), “em sentido amplo, entende que o princípio da proporcionalidade é a regra fundamental a que devem obedecer tanto os que exercem quanto os que padecem o poder”. Isso significa dizer que a proporcionalidade é a relação entre fim e meio, e sempre tem que ser verificada a sua efetividade com a utilização dos meios menos gravosos para o atendimento dos interesses da pessoa humana, haja vista que essa deve ser analisada em todos os seus aspectos.

É de assinalar que o princípio da proporcionalidade é apenas uma das facetas da razoabilidade e não se pode negar que esse nasceu na visão de doutrinadores administrativas. Portanto, utiliza-se a seguir a opinião de alguns autores da área do direito administrativo para sustentar a nossa tese de que se deve utilizar a ponderação entre os princípios que protegem a vida e a dignidade da pessoa humana. Para Medauar (2000, p. 154),

O princípio da proporcionalidade consiste, principalmente, no dever de não ser impostas, aos indivíduos em geral, obrigações, restrições ou sanções em medida superior àquela estritamente necessária ao atendimento do interesse publico, segundo critério de razoável adequação dos meios aos fins. [...]

Isso, demonstra que há momentos que deve ser sopesada a relação meios e fins. Na mesma linha de sustentação, Di Pietro (2012, p. 80) afirma que:

Na realidade [...], a proporcionalidade deve ser medida não pelos critérios pessoais do administrador, mas segundo padrões comuns na sociedade em que vive; e não pode ser medida diante dos termos frios da lei, mas diante do caso concreto.

Em rigor, o principio da proporcionalidade diz respeito ao sopesamento de valores no momento em que se vai tomar uma decisão e imprimir medidas relacionadas com determinadas situações, e no presente caso, relacionadas com o direito de morrer com dignidade.

Adianta-se que quando se fala em morrer com dignidade, não se está dizendo que se concorda com a morte, mas sim com o fim do padecimento, da dor, da agonia que passam determinadas pessoas quando não possuem condições de ter uma sobrevivência digna.

Assim, pode-se afirmar que a vida é um bem jurídico que está acima de todos os demais direitos, mas existem circunstâncias que possibilitam que se analise de uma forma ponderada se há necessidade da manutenção de uma vida com sofrimento.

Há muita discussão sobre o tema, ou seja, a morte com dignidade. A seguir abordam-se aspectos fundamentais para entender o que é melhor: manter uma pessoa viva ligada a aparelhos, em pré-agonia, em consequência de doença incurável ou terminal, ou consumar a sua morte pelo desligamento de aparelhos que, artificialmente, a mantêm viva?

Na verdade, cumpre observar que é nesse momento que a ponderação assume um papel fundamental para decidir entre os princípios que protegem a vida e a dignidade da pessoa humana.

Reveste-se de fundamental importância o princípio da dignidade da pessoa humana. Sustenta Awad (p. 119, 2006) que “[...] que o princípio da pessoa humana reveste-se de uma certa singularidade, pois, se assim não fosse, de que adiantaria ao Estado garantir a vida se essa não é digna”.

Ora, é bem verdade que a dignidade é inerente ao ser humano, pois sem dignidade não se vive, não se sobrevive. Registra-se que Sarlet (2006, p. 69) foi muito feliz ao afirmar que

[...] que a dignidade, como qualidade intrínseca da pessoa humana, não poderá ser ela própria concedida pelo ordenamento jurídico [...].

Assim, quando se fala - no nosso sentir equivocadamente- em direito à dignidade, se está, em verdade, a considerar o direito a reconhecimento, respeito, proteção e até mesmo promoção e desenvolvimento da dignidade, podendo inclusive falar-se em direito a uma existência digna, sem prejuízo de outros sentidos que se possa atribuir aos direitos fundamentais relativos a dignidade da pessoa humana.

Enfim, não há como deixar de salientar que ao se falar em dignidade humana se está reportando ao mínimo existencial, no qual se prevê que uma pessoa deve ter o mínimo de condições para poder sobreviver. Esse mínimo existencial está intimamente relacionado com a saúde, educação, moradia, educação, segurança e outros direitos que se fazem necessários para que se garanta uma vida razoável e dentro de padrões mínimos, mas dignos de uma pessoa humana.

Por último, afirma-se, sem sombra de dúvida, que no caso de uma pessoa que tem uma vida vegetativa, ou seja, que está vivendo com sofrimento, agonizando, e sem condições mínimas de vida, é possível utilizar a técnica da ponderação de valores e, assim, dar fim ao padecimento, à dor, à agonia que impede a pessoa de viver com dignidade.

CONCLUSÃO

No presente estudo foi possível constatar que a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88) menciona o direito à vida e à dignidade da pessoa humana como algo inviolável, não mencionando a morte, como se esta não fizesse parte do ciclo natural da vida.

Todos sabem que a vida é considerada o bem mais valioso que uma pessoa possui e o texto constitucional brasileiro assegura para que não haja violação de tal direito que está intimamente relacionado com a segurança, bem-estar e justiça.

O estudo também destacou a importância do direito à vida, sendo que esta é o bem fundamental de todos os seres humanos, pois sem ela não existem outros direitos, nem mesmo a personalidade. Com base nesse entendimento, todo o homem tem direito à vida, ou seja, o direito de viver e não apenas isso, mas o direito a uma vida plena e digna, respeito os seus valores e suas necessidades, dentro de um mínimo existencial.

Ainda, observou-se que o principio constitucional que assegura o direito à vida é um direito ao respeito a própria vida perante as outras pessoas. Atentar contra a própria vida produz um dano que é a morte, sendo superior a qualquer interesse na ordem jurídica.

A vida humana, qualquer que seja sua origem, é algo contínuo, transmissível, comum a toda espécie humana e presente em todo indivíduo humano, constituindo- se num elemento primordial e estruturante da sua personalidade.

Assim, a Constituição Federal de 1988 garante a todos os cidadão a igualdade perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo aos brasileiros e estrangeiros aqui residentes a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

Também foi muito relevante a analise realizada sobre o princípio da dignidade da pessoa humana e sua relação com o direito à vida e o direito à morte com dignidade.

Nesse sentido, pode-se concluir que a dignidade da pessoa humana foi construída a partir da natureza racional do ser humano. Por isso, Kant assinala que a autonomia da vontade, entendida como a faculdade de determinar a si mesmo e agir em conformidade com a representação de certas leis, é um atributo apenas encontrado aos seres racionais, servindo de limitação a autonomia da vontade.

Deve-se, ainda, enfatizar que no decorrer deste trabalho concluiu-se, também, que a vida é um bem jurídico que está acima de todos os demais direitos, mas existem circunstâncias que possibilitam que se analise de uma forma ponderada se há necessidade da manutenção de uma vida com sofrimento.

Em relação à morte, observou-se que a ortotanásia é o método mais aceitável para a terminologia de vida. Respeita a vida e a morte do ser humano, independente de cor, raça ou religião. Todo o cidadão deveria entender que a morte digna traz conforto tanto para o doente terminal quanto para a família, a qual estará ciente das condições em que este se manteve, tendo a assistência adequada até o final da sua vida.

Constatou-se também que sendo a morte uma consequência da vida, somente se admite a morte com o cumprimento do ciclo natural, sem a interrupção precoce da vida em função de doença irreversível. Somente a ortotanásia reúne todos os requisitos de aceitabilidade perante o Direito, a Medicina e o senso ético. Não se coloca em discussão a indisponibilidade da vida, mas o direito do cidadão em decidir a respeito do seu fim, buscando a dignidade da morte por meio do

princípio da autonomia. Neste perfil mais humano, não há a antecipação da morte, nem que se valha de alguém para a prática do suicídio.

Por derradeiro, significa dizer que de forma genérica, o direito à vida abrange o direito de manter-se vivo com dignidade. Por outro lado, o de não ser morto por qualquer razão que seja, pois segundo a Constituição Federal de 1988, esse direito é o mais importante de todos os direitos catalogados, mas se encontra conectado também com os demais direitos e fundamentos da República Federativa do Brasil.

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