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CAPÍTULO 2 AQUELES QUE ALMEJAM GOVERNAR: PERFIL DOS

2.1 O discurso do mérito nos processos de nomeação

O processo de seleção dos governadores, na maioria dos lugares era realizado pelo Conselho Ultramarino e as nomeações do Rio Grande e Ceará não fugiam a essa regra. Mas para o caso de governos mais importantes, como os governadores-gerais, essa seleção era feita pelo Conselho de Estado. Um fator que merece ser destacado é que a partir da década de 1720 cada vez menos nomeações passavam pelo Conselho Ultramarino.134 Nuno Monteiro apontou esse fenômeno como um reflexo da importância das capitanias, afirmando ser claro que quanto mais importante fosse a capitania para a Coroa, mais cedo os concursos de seleção deixaram de ocorrer. O autor destacou que em Minas Gerais a última consulta foi realizada em 1724, em São Paulo em 1730, no Rio de Janeiro em 1739, em Angola em 1743, no Grão-Pará em 1745, em Pernambuco em 1751. Em outras capitanias tidas como menos importantes, como o Rio Grande do Norte, a última consulta foi de 1760135 e nas do Ceará e Paraíba em 1761.136 Após o fim dos concursos, as nomeações passaram a ser feitas diretamente pelo rei, sem passar por instituições intermediárias.

As consultas referentes à nomeação de pessoas para o governo eram divididas em duas etapas. Primeiramente abria-se um prazo que variava entre 15 a 20 dias para os interessados entregarem suas folhas de serviço ao Conselho Ultramarino para que este pudesse avaliá-los. Após descrever o serviço de cada um dos opositores, os conselheiros davam o seu parecer indicando qual seria o melhor candidato para ser nomeado. Algumas vezes existia consenso entre os conselheiros e estes concordavam qual seria o primeiro colocado. Outras vezes, cada conselheiro dava o seu parecer. Infelizmente na maioria dos

134 Essa característica é tida como uma nova concepção política por parte de D. João V que cada vez menos

passou a utilizar órgão consultivos. Tal tendência viria a agravar-se no período pombalino com a criação da Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos. MONTEIRO, Nuno. Governadores e capitães-mores do império atlântico português no século XVIII. In: BICALHO, Maria Fernanda; FERLINI, Vera Lúcia. Modos de governar: ideias e práticas políticas no império Português – Séculos XVI-XIX. São Paulo: alameda, 2005.

135 Na verdade, ainda existiu uma outra consulta referente ao ano de 1781, no entanto, entre 1760 e 1781

não existem outras consultas.

casos, esses pareceres se resumiam às posições de cada opositor, mas em algumas situações os conselheiros justificam o porquê de suas escolhas. Por fim, essa consulta era remetida ao rei para que esse decidisse quem seria nomeado, como será visto mais abaixo, muitas vezes a posição do rei diferia da posição do conselho. Dessa forma, é possível conhecer quem eram as pessoas que pretendiam governar, o que elas fizeram e quais argumentos utilizaram para convencer o conselho e o rei para que fossem escolhidas.

Em processos de pedidos de mercês, o que normalmente se encontra na documentação são argumentos utilizados pelos suplicantes tentando convencer o seu soberano de que eles são merecedores da mercê pedida. Dessa forma, são colocadas nas petições histórias de vida do sujeito em que marcam o seu comprometimento com o real serviço, descrevendo suas pelejas, dificuldades e até mesmo sofrimentos que passou durante os seus anos de leal vassalo. Isso termina fazendo com que esse tipo de documentação seja rica para se explorar os elementos retóricos usados pelos suplicantes na busca de seus prêmios. O bom uso da palavra era visto como algo importante por parte dos vassalos na tentativa de conquistar uma mercê, como destacou Ronald Raminelli,137 então, talvez por esse motivo que se pode perceber uma construção textual muito bem elaborada nas narrativas dos feitos destacados que vai muito além de uma mera descrição do que foi realizado. Thiago Nascimento Krause, em seu livro Em busca da honra: a remuneração dos serviços da guerra holandesa e os hábitos das ordens militares (Bahia e Pernambuco, 1641 – 1683),138 trabalhou com as estratégias discursivas utilizadas na tentativa de convencer a Coroa a conceder os pedidos almejados. Para isso, ele se baseou em um conceito importante para essa análise, o conceito de mérito, baseado na obra de Jay Smith.139

A ideia de mérito muitas vezes é erroneamente pensada como algo mais recente, fruto de ideias burguesas e iluministas. No entanto, merecimento é uma palavra que aparece de forma constante na documentação analisada pelo autor e para se realizar um estudo da economia de mercê, é preciso ter esse conceito como objeto de importância a ser analisado.140 Ao pesquisar no dicionário Raphael Bluteau é possível encontrar a

137 RAMINELLI, Ronald. Viagens Ultramarinas: monarcas, vassalos e governo a distância. São Paulo:

Alameda, 2008.

138 KRAUSE, Thiago Nascimento. Em busca da honra: a remuneração dos serviços da guerra holandesa e

os hábitos das Ordens Militares (Bahia e Pernambuco, 1641 1683). São Paulo: Annablume, 2012.

139 SMITH, Jay M. The culture of merit: Nobility, Royal Service and the Making of Absolut Monarchy in

France, 1600 – 1789. Ann Arbor: University of Michigan Press, 1996. Apud KRAUSE, Tiago Nascimento. Op. cit.

seguinte definição para a palavra meritório: “Diz se das boas obras, que merecem algum prêmio de justiça, ou por decência”.141 Outra palavra que se pode buscar nesse mesmo dicionário é a de merecimento. Segundo Blueteau, merecimento é “O que alguém tem merecido por suas virtudes, ou por suas culpas [...]”.142 Pelo mesmo autor, a virtude poderia ser dividida em duas categorias, uma divina e outra humana. A humana é que interessa a essa pesquisa. Esse tipo de virtude seria adquirida por força da natureza e com a prática de atos. Dessa forma, a ideia de merecimento como uma premiação pelo conjunto de ações realizadas pelo indivíduo era algo já assimilado pelos homens que serão analisados nesse trabalho.

É importante destacar que a busca de mercês não era exclusivamente baseada no mérito. Outro elemento de grande importância que era levado em consideração era o estatuto social do suplicante. Em meio às tentativas de se convencer o centro político a conceder uma mercê, a qualidade social do indivíduo era algo levado em consideração, podendo chegar a desempenhar um papel fundamental na estratégia argumentativa quando unida aos serviços mais relevantes. Pessoas com fidalguia normalmente possuíam uma posição privilegiada nesse processo, o que nesse aspecto fez com que convivessem de forma significativa o discurso do merecimento juntamente com a hierarquização social que tanto marcava as sociedades do Antigo Regime.143 No entanto, o estatuto da qualidade social nem sempre era o suficiente para convencer o centro político como será mostrado mais a frente, o que faz pensar que esse fator, apesar de importante, não era fundamental em certos processos políticos. Além disso, destaca-se também a necessidade de conhecimento dos funcionamentos burocráticos do processo de distribuição de mercê, bem como a influência de contatos intermediários juntos à corte ou próximos a esta. “Era fundamental conhecer os canais que levavam ao centro do poder, sem eles as negociações seriam quase impossíveis”.144 Segundo Fernanda Olival:

Ser pretendente era quase uma profissão nos séculos XVII e XVIII; podia exigir conhecimentos vários dos despachos feitos, capazes de serem citados como exemplos, além da capitalização de empenhos ou da compra de partidários, quanto mais não fosse para pôr os papeis correntes. É que a comunicação com o rei, designadamente para o efeito de solicitar mercês,

141 BLUTEAU, Raphael. Vocabulario portuguez & latino: aulico, anatomico, architectonico... Coimbra:

Collegio das Artes da Companhia de Jesus, 1712-1728, vol. 5, p. 441.

142 Ibidem, p. 436.

143 KRAUSE, Thiago Nascimento. Op. Cit. p.82. 144 RAMINELI, Ronald. Op. Cit. p. 50.

tornou-se cada vez menos directa ao longo do Antigo Regime; passava por um circuito complexo e exigente em tempo, recursos e influências.145

Por conseguinte, o ato de dar e receber, ao longo do Antigo Regime passou a ser cada vez mais burocratizado. Os suplicantes não estavam à margem dessas dificuldades, ou melhor, dos caminhos que poderiam facilitar o acesso aos seus objetivos. No que diz respeito às petições que normalmente se escreviam para pedir alguma mercê, existiam até mesmo modelos que circulavam em manuais impressos.146 Isso mostra uma das diversas estratégias existentes por parte dessas pessoas como uma resposta às dificuldades criadas por esse processo, muitas vezes desgastantes e onerosos.

Existiam diversos tipos de mercês que poderiam ser pedidas pelos vassalos, mercês estas que normalmente passavam por um processo burocrático de petição por parte do suplicante e uma posterior análise por parte de órgãos consultivos, como por exemplo, o Conselho Ultramarino. As que serão analisadas aqui não são exatamente os requerimentos escritos em primeira pessoa pelos suplicantes, apesar de alguns deles estarem presentes na documentação analisada. O foco de estudo desse trabalho são as consultas do Conselho Ultramarino sobre a nomeação de pessoas para o cargo de capitão- mor das capitanias do Rio Grande e do Ceará, sendo assim, o que se encontra nessa documentação são informações dos serviços enviados pelo suplicante que são passados para a terceira pessoa quando analisados pelo Conselho. O que torna esse tipo de documentação diferenciada é que o candidato que se colocava à disposição de ser nomeado capitão-mor de uma capitania não era escolhido simplesmente porque pediu essa mercê, ele antes tinha que passar por uma espécie de concurso no qual deveria ser avaliado juntamente com outros candidatos, seguindo todo um procedimento burocrático e de certa maneira objetivo.147 Thiago Krause, quando analisou os pedidos de mercês feitos por aqueles que lutaram na guerra contra os holandeses, destacou que alguns poucos pediram o governo de alguma capitania e que para a maioria dos pedidos a resposta era unânime: o suplicante deveria se candidatar a uma vaga quando essa estivesse à disposição e deveria passar pelos procedimentos usuais de nomeação de postos de

145 OLIVAL, Fernanda. Ordens militares e o estado moderno: honra, mercê e venalidade em Portugal (1641

– 1789). Lisboa: Estar, 2001, p. 107-108.

146 Ibidem, p. 109.

147 Ross Bardwell em sua tese de doutorado destacou como a seleção de governadores era um procedimento

burocrático que se distinguia da requisição e concessão de mercês e que possuía um surpreendente grau de objetividade. BARDWELL, 1974, p. 171 apud KRAUSE, 2012, p. 160.

governança,148 ou seja, o governo de uma capitania era uma graça que estava para além de uma mera petição, apesar de existirem casos que não seguissem esse padrão.

Será realizado agora um levantamento dos argumentos utilizados pelos opositores na tentativa de convencer o Conselho Ultramarino de que eles eram merecedores de serem escolhidos para o posto de capitão-mor. Não serão abordados e detalhados aqui todos os argumentos de todas as consultas trabalhadas por uma questão de limitação de espaço. Será feito, no entanto, um levantamento geral apontando quais argumentos estavam mais presentes e serão destacados alguns casos particulares para ilustrar a situação.

É importante, antes de começar a análise, explicar a estrutura do documento em si e os aspectos gerais que o compõe. Toda consulta é formada pelo conjunto de serviços que os candidatos atestam terem realizado.149 Nessas folhas de serviços, os suplicantes descrevem os postos que ocuparam, os seus anos de serviço, os lugares onde atuaram, suas titulações caso tivessem e outros aspectos mais particulares. São esses aspectos particulares que essa análise pretende se deter com mais detalhes, pois eles são no geral a parte do documento em que o suplicante mais mostra como ele enxergava os seus feitos e suas estratégias na tentativa de convencer o Conselho, ou seja, sua retórica.

Na consulta referente à nomeação de Sebastião Pimentel (1691) como capitão- mor do Rio Grande150 apenas ele participou do processo. Apesar disso, os argumentos apontados por esse militar merecem ser destacados. Logo no início de sua narrativa ressaltou que ele se ofereceu voluntariamente, e às suas custas, para acompanhar Domingos Jorge Velho na investida contra Palmares. Ao continuar descrevendo os seus feitos, destacou as dificuldades provenientes dessa empreitada, relatando problemas e sacrifícios que precisou fazer. Em um tom quase de desabafo, afirmou Sebastião Pimentel que “procedendo como valoroso soldado andando para este efeito mais de 150 léguas, movido do zelo de se empregar no Real serviço de Vossa Majestade”, continuou acompanhando as tropas “por aqueles sertões em distância de mais de 300 léguas por caminhos e matos muito agrestes, em que padeceu insuportáveis trabalhos, por espaço de

148 KRAUSE, Thiago Nascimento. Op. Cit. p. 159

149 Com relação às certidões apresentadas pelos suplicantes, sua veracidade nem sempre se confirmavam,

como destacou Krause a partir de relatos do Padre Vieira que dizia “se foram verdadeiras todas as certidões, se aquelas rumas de façanhas em papel foram conforme a seus originais, que mais queríamos nós? Já não houvera Holanda; nem França; nem Turquia; todo o mundo fora nosso”. KRAUSE, Thiago Nascimento. Op. Cit. p. 62-63.

150 CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. Pedro II, sobre a nomeação de pessoas para o cargo de

capitão-mor do Rio Grande do Norte, por falecimento de Gaspar de Sousa de Andrade. Resolução a nomear Sebastião Pimentel, por três anos, a 19 de Dezembro de 1691. AHU-RN, Papéis Avulsos, Cx. 1 Doc. 32.

mais de dois meses, nos quais se sustentou com ervas e raízes por falta de mantimentos.”151

Após passar pela experiência em Palmares, continuou os seus serviços lutando contra os indígenas na capitania do Rio Grande. Nessas novas realizações continuou destacando as dificuldades provenientes do deslocamento de grandes distâncias dentro de zonas áridas, onde enfrentou “tantas misérias que por falta de água se viu desconfiado da vida.”152 Terminou sua lista de serviços afirmando que várias vezes teve que se deslocar para Pernambuco, enquanto estava no Rio Grande, e com isso “padecendo com notável constância o rigor das marchas que fez pelos sertões tão dilatados, mostrando assim nelas como nas ocasiões da dita guerra o zelo com que se empregava no serviço de Vossa Majestade.”153 Sebastiao Pimentel não possuía uma experiência militar tão vasta e significativa quanto outros opositores que tentaram o posto de capitão-mor durante esse período, então para compensar essa falta de experiência usou como estratégia argumentativa os sofrimentos e risco de vida que sofreu em suas longas e contínuas marchas por áreas inóspitas e distantes, procurando dessa maneira valorizar o máximo possível os seus limitados feitos.

Na consulta referente à nomeação de Domingos Amado (1715) para capitão-mor do Rio Grande,154 concorreram ao cargo o próprio Domingos Amado, Antônio de Sousa Caldas e Fernão Lobo de Souza. Na argumentação utilizada pelo primeiro, existe um grande foco nas suas realizações durante a Guerra de Sucessão Espanhola, e dentre suas frases de efeito, destaca-se quando ele afirmou que o seu terço foi um dos que mais experimentou o rigor da batalha, pois sempre ia na vanguarda e “pelejava valorosamente”, sempre procurando animar os soldados, até que ficou “em campo despojado com sete feridas penetrantes”, e foi levado como prisioneiro. Depois de ter sido levado à França, voltou ao reino para que pudesse voltar a participar das batalhas restantes. Terminava listando seus serviços afirmando que sempre se portou com cuidado, valor, zelo e satisfação, em uma tentativa de se mostrar como um vassalo dedicado ao real serviço.

Antônio de Souza e Caldas, assim como o anterior, também focou na descrição de serviços nas suas realizações durante a Guerra de Sucessão Espanhola. Dentre os vários

151 Idem. 152 Idem. 153 Idem.

154 CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. João V, sobre a nomeação de pessoas para o cargo de

capitão-mor do Rio Grande do Norte. Foi nomeado Domingos Amado, por resolução de 6 de Junho de 1714. AHU-RN, Papéis Avulsos, Cx. 1, Doc. 77.

sucessos de suas investidas, o suplicante destacou os vários prisioneiros de guerras que ele e seu terço conseguiram fazer. Interessante quando afirmou que durante sua marcha contra o inimigo teve que atravessar um rio com água pelo peito enquanto aqueles atiravam em sua direção, mas que isso não foi embargo algum para que continuasse sua marcha, tentando dessa forma, mostrar-se como um bravo soldado que estava disposto a realizar o real serviço de qualquer maneira. O suplicante terminou seus relatos afirmando que em todas as ocasiões referidas ele sempre trabalhou com muito valor e satisfação.

Fernão Lobo de Souza demonstrou ter sido um militar experiente e que atuou em diversas localidades, muitas vezes fazendo proteção de várias embarcações. Dentre sua lista de cargos ocupados, destacava ter sido capitão-mor da capitania do Sergipe. Em uma de suas escoltas, afirmou ter participado da segurança de Henrique Jaques Magalhães, governador de Angola. Este argumento é interessante, pois o suplicante tenta valorizar os seus feitos ao associá-los à proteção de uma pessoa de importância para o Império. Quando capitão-mor do Sergipe e teve notícias da morte de D. Pedro II, pai do rei à época, reuniu os oficiais e as pessoas mais nobres daquela capitania para que prestassem uma solene homenagem em nome de seu falecido rei, “mandando dar muitas cargas de mosquetaria formando na praça daquela cidade um batalhão”. Curioso perceber como o suplicante usou a homenagem que organizou ao pai de seu rei na tentativa de sensibilizá- lo, mostrando aqui que merecia receber o governo da capitania não porque lutou em guerras, ou bem executou determinado cargo, mas sim porque se mostrou um leal vassalo que amava o seu rei. Encerrou enfim a lista de seus serviços afirmando que atuou como capitão-mor sempre com “limpeza de mãos” e que foi muito bem acolhido pela população daquela capitania, tentando mostrar-se como uma pessoa honesta e de bom trato com os outros.

Na consulta referente à nomeação de José Pereira da Fonseca (1721),155 também capitão-mor do Rio Grande, concorreram ao cargo as seguintes pessoas: José Pereira da Fonseca, Pasqual de Souza e Patrício da Nóbrega de Vasconcelos. Na descrição dos feitos de José Pereira da Fonseca, dentre os vários serviços militares prestados, chama a atenção quando ele narrou um combate que fez em alto mar contra duas naus francesas afirmando que “pelejou desde as oito horas da manhã até uma da tarde com grande valor”. Neste caso, o suplicante tentou destacar a duração de sua batalha como algo importante,

155 CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. João V, sobre a nomeação de pessoas para o cargo de

capitão-mor do Rio Grande do Norte, por 3 anos. Resolução a nomear José Pereira da Fonseca, a 20 de Janeiro de 1721. AHU-RN, Papéis Avulsos, Cx. 1, Doc. 88.

entrando em minúcias na tentativa de valorizar o seu feito. Ele também afirmou, como em muitos outros casos presentes em várias consultas, que em todas as embarcações que fez parte foi com “honrado procedimento e obediência aos seus superiores”. O suplicante ainda destacou que quando estava servindo em Pernambuco, recebeu o agradecimento que o rei tinha encaminhado por meio do governador daquela capitania pelos seus serviços contra sublevações que aconteceram nela. Encerrava então sua lista afirmando novamente que sempre foi muito obediente aos seus superiores e sempre atuou com grande zelo e cuidado, tendo nesse caso destacado por duas vezes o elemento da obediência dentro dos seus serviços.

Pasqual de Souza narrou suas ações como militar experiente, mostrando seu crescimento na hierarquia militar de forma gradual. Foi nomeado para comandar uma fortaleza, na capitania do Ceará, e nela afirmava ter dado execução a todas as ordens, aparecendo aqui o elemento da obediência mais uma vez destacado dentre os argumentos já analisados. Ao ser enviado para lutar contra os indígenas pelo conhecimento e experiência que tinha com essa área, afirmou ter tido dispêndio de sua fazenda nesse processo. Interessante quando o suplicante afirmou que quando ele estava prestando serviços em Pernambuco e o governador daquela capitania, Sebastião de Castro e Caldas, levou um tiro e ficou ferido em decorrência disso, ele lhe assistiu em sua defesa. Aparece aqui novamente a estratégia de vincular alguém importante aos serviços prestados na