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O discurso do jornal sobre os conflitos agrários: método de análise

2.2 Os conflitos agrários nas páginas do jornal: o medo da luta, o medo

2.2.1 O discurso do jornal sobre os conflitos agrários: método de análise

Definir um método de análise significa, acima de tudo, optar por um paradigma. Diante dessa percepção, foi necessário buscar um método que trouxesse uma visão compatível com a teoria de base do trabalho. Foi estudado, então, o método de Análise do Discurso Crítica (ADC), tendo como principais referências as obras de Norman Fairclough e Teun van Dijk.

Tal método foi escolhido em função de que busca trabalhar as relações de poder, contrariamente à defesa da neutralidade. Nesse sentido, Magalhães observa que “A ADC atualmente se refere à abordagem lingüística adotada por estudiosos que tomam o texto como unidade básica do discurso e da comunicação e que se

578 MOUILLAUD, Maurice. Preliminares. In: MOUILLAUD, Maurice; PORTO, Sérgio Dayrell (org.) O

voltam para a análise das relações de luta e conflito social”.579 Além disso, a ADC não se limita a descrever a realidade social, “busca a compreensão da realidade social e mais que isso, a intervenção na realidade social pelo modo como aponta na prática discursiva o lugar da desigualdade e exclusão, o que possibilita entrever meios de superação dessa realidade".580 Essa vertente da Análise de Discurso considera a importância dos meios de comunicação de massa na atualidade, sendo que busca vincular o seu discurso à realidade social, de forma a estudar “as formas de manifestação da linguagem na mídia, seu papel na construção de sentidos manipulados a serviço do poder".581 Assim, é importante ter em vista a abordagem da ideologia realizada por Thompson. Para a análise que o autor propõe, interessam primeiramente “as maneiras como as formas simbólicas se entrecruzam com relações de poder. Ela está interessada nas maneiras como o sentido é mobilizado, no mundo social, e serve, por isso, para reforçar pessoas e grupos que ocupam posições de poder”.582

Dessa maneira, a ADC está

[...] orientada explicitamente para a agenda sociopolítica, para a preocupação em inventariar e apresentar criticamente de que formas os discursos sociais podem contribuir para a reprodução ou mudança das relações de poder, e vem se constituindo hoje como uma área de estudo da linguagem e do discurso dos media.583

Ao relacionar linguagem e poder, Fairclough esclarece ter dois objetivos principais. Em primeiro lugar, uma finalidade teórica, a de corrigir a subestimação do significado da linguagem na produção, manutenção e mudança de relações sociais de poder. Em segundo lugar, “uma finalidade mais prática, de auxiliar no incremento da conscientização de como a linguagem contribui para a dominação de algumas pessoas por outras, porque a conscientização é o primeiro degrau para a

579 MAGALHÃES, Izabel. Introdução: A análise de discurso crítica. DELTA, vol.21, no.spe,São Paulo

2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/delta/v21nspe/29248.pdf> Acesso em: 04 fev. 2007. p. 7.

580 MARTINS, André Ricardo Nunes. Grupos excluídos no discurso da mídia: uma análise de discurso

crítica. DELTA: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada. vol. 21, n. spe, São Paulo, 2005. p. 129-147. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/delta/v21nspe/29 255.pdf> Acesso em: 01 fev. 2007. p. 145.

581 ibid. p. 136-137.

582 THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna: Teoria social crítica na era dos meios de

comunicação de massa. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 76

583 PONTE, Cristina. Leituras das notícias: contributos para uma análise do discurso jornalístico.

emancipação”.584

Na sua teoria sobre a análise crítica do discurso, o autor explica que, assim como o fenômeno lingüístico é social, o fenômeno social é lingüístico, já que a atividade da língua é uma parte nos processos e práticas sociais, e não apenas a expressão. Assim, na política, por exemplo, as mesmas palavras são utilizadas através de diferentes pontos de vista, e inclusive de formas incompatíveis por dois lados, e para o autor, isso não é apenas o presságio de uma disputa política, é ela própria política.585

O discurso, para Fairclough é um excelente veículo de ideologia, proporcionando o controle social e a manutenção do poder através do consenso, como a partir das instituições sociais, como a escola, a mídia, a família, que, cumulativa e coletivamente asseguram a dominação da classe do capitalista. O poder ideológico, “que projeta algumas práticas como universais e de senso comum, é um complemento significativo ao poder econômico e político, e tem um particular significado aqui pelo fato de o mesmo ser exercitado no discurso”.586

Sendo assim, tendo em vista a percepção de que a realidade é socialmente construída, é importante verificar de que forma o discurso auxilia nessa construção e, conseqüentemente, na criação e manutenção de relações de poder, e nas possibilidades de permanência e mudança social.

Os discursos não apenas refletem ou representam entidades e relações sociais, eles as constroem ou as ‘constituem’; diferentes discursos constituem entidades-chave (sejam eles a ‘doença mental’ a ‘cidadania’, ou o ‘letramento’) de diferentes modos e posicionam as pessoas de diversas maneiras como sujeitos sociais (por exemplo, como médicos ou pacientes), e são esses efeitos sociais do discurso que são focalizados na análise de discurso.587

Dessa maneira, a perspectiva trazida por Fairclough é de uma análise de discurso que reúna tanto a lingüística quanto a teoria social. Aponta o autor, que

584 FAIRCLOUGH, Norman. Language and power. London and New York: Longman, 1989. p. 1.

Tradução livre do original em inglês: “I have written it for two main purposes. The first is more theoretical: to help correct a widespread underestimation of the significance of language in the production, maintenance, and change of social relations of power. The second is more practical: to help increase consciousness of how language contributes to the domination of some people by others, because consciousness is the first step towards emancipation”.

585 ibid. p. 23.

586 ibid. p. 33. Tradução livre do original em inglês: “Ideological power, the power to project one's

practices as universal and 'common sense', is a significant complement to economic and political power, and of particular significance here because it is exercised in discourse”.

esse conceito de análise do discurso é tridimensional, ou seja, qualquer discurso “é considerado como simultaneamente um texto, um exemplo de prática discursiva e um exemplo de prática social”.588 Enquanto a primeira dimensão cuida da análise

lingüística dos textos, a segunda, vista como interação, “especifica a natureza dos processos de produção e interpretação textual”. Já a dimensão de prática social “cuida de questões de interesse na análise social, tais como as circunstâncias institucionais e organizacionais do evento discursivo e como elas moldam a natureza da prática discursiva e os efeitos constitutivos/construtivos”.589

Outro autor que compartilha da análise de discurso crítica é van Dick. Suas análises são importantes porquanto identificam as especificidades estruturais do discurso jornalístico. O autor destaca o processo de produção das notícias, analisando os passos que se dão na fabricação do texto jornalístico. Para ele, “a produção de notícias deve ser analisada principalmente em termos do processamento do texto”, não somente no sentido das fases em que o texto é produzido, mas sim, considerando-se que o texto jornalístico muito freqüentemente é produzido a partir de outras formas discursivas, como quando cobre acontecimentos a partir de relatos de outras pessoas ou mesmo quando o próprio acontecimento produz discursos.590 O autor trabalha com cinco estratégias de processamento, a seleção, a reprodução, o resumo, as transformações locais e a reformulação estilística.591

A análise a partir dessas estratégias traz uma forma de desocultar posições ideológicas expressas, como, por exemplo, pela escolha da palavra a ser utilizada para denominar determinado fato, como por exemplo, o uso da palavra “‘revolta’ no lugar de ‘distúrbios’ ou em lugar de ‘resistência’”.592 Além disso, a forma verbal passiva por vezes pode ser utilizada para não atribuir diretamente um fato negativo a pessoas ou grupos poderosos.

A abordagem da análise do discurso proposta por van Dick se mostra importante pelo fato de se adequar ao marco teórico do trabalho, percebendo a

588 ibid. 589 ibid.

590 DICK, Teun A. van. La noticia como discurso. Comprensión, estructura y producción. Barcelona:

Paidós, 1990. p. 141.

591 ibid. p. 168-173

592 ibid. p. 252. Tradução livre do original em espanhol: “Lo mismo sucede con el uso de ‘revuelta’ en

questão da produção das notícias tanto segundo um enfoque microssociológico, quanto de um enfoque macrossociológico. O autor busca, entretanto, suprir uma deficiência nos estudos sobre o jornalismo que é justamente o da análise de seus textos, de seu discurso, e não somente as condições de produção, que é objeto da maioria das análises microssociológicas norte-americanas, nem apenas o contexto socioeconômico, característico das análises estruturalistas européias.

Assim, van Dick propõe um estudo da interface sociocognitiva entre o texto e os contextos socioeconômicos. “Concretamente, as maneiras nas quais os fabricantes da notícia e os leitores representam efetivamente os acontecimentos informativos, escrevem ou lêem os textos jornalísticos, processam diferentes textos fonte ou participam nos fatos de comunicação”.593

A análise de notícias que é realizada normalmente se refere ao seu conteúdo, sem considerar, entretanto, a importância de uma análise aprofundada do seu discurso, tendo em vista o estilo da linguagem noticiosa.594 Acima de tudo é necessário ressaltar, então, que a língua, para a análise do discurso, não é dotada de transparência. Em sua decofidicação sentidos diversos podem surgir, reforçando e afastando valores.

No que tange ao discurso do jornal, propriamente dito, é necessário analisar o fato de que o mesmo traz a necessidade de que os leitores creiam no seu conteúdo, tendo em vista que dificilmente uma afirmação poderá ser verificável. Em função disso, possui uma linguagem própria, que pode proporcionar esse efeito.

A linguagem jornalística possui algumas regras a serem seguidas. Em princípio, as funções da linguagem predominantemente utilizadas são a referencial e a fática. O verbo se refere ao presente ou ao passado recente; usa-se o modo indicativo, além da utilização da terceira pessoa, que provém da impessoalidade do discurso. Quando introduz o texto sobre a linguagem das notícias, Lage observa que a notícia é o resultado de “uma empresa produtora, na qual as decisões afloram de um vago mecanismo, dirige-se a um público vasto, de cujo repertório tem apenas idéias estatísticas; e se inocenta do que diz, como se falasse naturalmente dos

593 ibid. p. 250. Tradução livre do original em espanhol: “concretamente, las maneras en que los

fabricantes de la noticia y los lectores representan efectivamente los acontecimientos informativos, escriben o leen los textos periodísticos, procesan diferentes textos fuente o participan en los hechos de comunicación”.

594 idem. Estruturas da notícia na imprensa. In: Cognição, discurso e interação. São Paulo:

fenômenos, sem nada ocultar, exagerar ou distorcer”. 595 Dessa forma, além do que se observou acerca da utilização das fontes oficiais como forma de se eximir de opiniões próprias, e ao mesmo tempo de dar um conteúdo credível à matéria, o jornalismo se vale de uma linguagem que também satisfaça estas necessidades. O distanciamento aparente é necessário para que o jornal e/ou o jornalista não configurem partes do conflito, o que os tornaria suspeitos.

Lage observa que a notícia é sempre axiomática, no sentido de que ela “dispensa argumentações e, usualmente, as provas; quando as apresenta, é ainda em forma de outros enunciados axiomáticos. Não raciocina; mostra, impõe-se como

dado – e assim furta-se à análise crítica”. Para o autor, uma variável importante para

o sucesso de notícias inverificáveis pelo público é a situação relativa do emissor e do público. Isto porque, “emissor e comunidade receptora, na comunicação social, guardam uma relação de poder; de um modo geral, quem dispõe da palavra respalda-se de alguma credibilidade”.596 Nessa hipótese, a não ser que o veículo de comunicação não goze de qualquer prestígio, mesmo no caso de uma matéria inverificável pessoalmente pelo receptor da notícia, a tendência é de que acredite no exposto, ao observar a possibilidade de ocorrência do que ela relata. “Como o prestígio se vincula à tradição e ao hábito, temos por certo que o exercício continuado da tarefa de informar e o uso de formas socialmente prestigiadas de veiculação (o aspecto físico, ou discurso gráfico, consagrado nos jornais) acentua a autoridade do emissor”.597

Nesse sentido, o fato de o emissor não ter condições de afirmar um acontecimento como certo, uma vez que depende de um processo cognitivo, como no caso de uma investigação policial e do posterior processo criminal, não significa que não o possa insinuar, ou melhor, expor a possibilidade de ter ocorrido de uma ou de outra forma. Também para isto a linguagem pode ser utilizada, como no caso da utilização de outros tempos verbais. O fato de o jornal não ser preciso em uma ou outra parte de uma reportagem, utilizando, por exemplo, expressões que indicam probabilidades, não significa o descrédito perante o seu público, uma vez que na maioria dos casos estas imprecisões vêm acompanhadas de outros elementos que transfiram também para elas um sentido de credibilidade.

595 LAGE, Nilson. Ideologia e técnica da notícia. Petrópolis: Vozes, 1979. p. 45. 596 ibid. p. 41.

Essa transferência de credibilidade ocorre através de uma conclusão tática que pode ser tirada da relação de poder construída entre emissor e receptor, a saber,

na construção de uma relação de poder desse tipo, uma conclusão tática é de que as proposições menos verificáveis pela comunidade de receptores deverão seguir-se àquelas mais provavelmente verificáveis, cuidando-se que a verdade empírica destas contagie de credibilidade as outras. É mais fácil manipular informações remotas ou abstratas.598

Observa-se então que quanto maior a credibilidade de um veículo perante o seu público (o que decorre de uma história de transmissão de informações verdadeiras), maior é a possibilidade de que este público acredite em uma matéria que não seja verificável. Essa relação de prestígio criada entre emissor e receptor fará com que este tenha a tendência a considerar como verdadeira mesmo a proposição à primeira vista falsa. “Não havendo confirmação imediata, colocará os termos do enunciado sob tensão e pretenderá considerá-los de maneira que façam sentido e enunciem uma verdade”.599

Para propiciar uma visão mais clara a respeito de como a linguagem jornalística auxilia na construção social dos conflitos agrários, optou-se por trabalhar, ilustrativamente, com edições de jornal, a partir das observações acima que diferenciam o discurso jornalístico dos demais e possibilitam a sua análise mais atenta.

Como essa análise não pretende demonstrar o que foi estudado na dissertação, mas apenas ilustrá-la, optou-se por escolher apenas um jornal, e, também, um período de tempo curto. A escolha do objeto de análise seguiu alguns critérios: um jornal regionalizado, já que normalmente possibilita matérias mais detalhadas sobre os fatos ocorridos nas localidades; uma região onde o MST fosse forte e promovesse atos públicos e ocupações de terra constantemente; uma região onde houvesse organização dos ruralistas para verificar a forma como o jornal interage com os dois grupos; região próxima de Santa Catarina, onde fosse possível compreender mais de perto o conflito, onde houvesse um conhecimento geográfico pessoal, e que fosse um jornal grande, representativo. Em função disso, foi escolhido o jornal Zero Hora, do Rio Grande do Sul.

598 ibid. 599 ibid.

O jornal Zero Hora

Zero Hora é um jornal de circulação regional, e foi criado em maio de 1964, tendo, posteriormente, Maurício Sirotsky assumido seu controle acionário em 1970, quando então passou a ser um dos veículos da Rede Brasil Sul de comunicações (RBS).600 Hoje, a RBS, que atua no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, possui sete jornais, além de Zero Hora (Diário Gaúcho, Diário de Santa Maria, Pioneiro, Diário Catarinense, Jornal de Santa Catarina, Hora de Santa Catarina e A Notícia). O Zero Hora, apesar de ser um jornal regional, está entre os dez veículos com maior circulação no país, de acordo com o Instituto Verificador de Circulação (IVC). O ranking elaborado de acordo com a média de circulação de janeiro a dezembro de 2003 nos jornais do país filiados ao IVC trouxe o jornal Zero Hora em 7º lugar.601

O jornal se caracteriza por possuir um número grande de editorias, bem como de cadernos especializados, dedicados desde ao meio rural até ao público feminino. Em relação à classe social a que se destina o jornal, a empresa expõe claramente que se trata das classes A e B. O preço elevado do jornal (R$ 2,00 de segunda a sábado e R$ 3,50 no domingo) demonstra isso. Outro jornal, o Diário Gaúcho, tem o objetivo de circular nas classes C, D e E da população, tendo um projeto editorial completamente diferente e um preço bem mais acessível (R$ 0,60).

A linha editorial de Zero Hora é muito ampla, compreende um conjunto de valores sistematizados num documento chamado Guia de ética, qualidade e responsabilidade social, tendo sido lançada a sua segunda edição em 2007, ano do cinqüentenário do grupo. O guia “destina-se a proporcionar aos colaboradores do Grupo RBS o conhecimento dos valores da empresa, assim como sua aplicação prática em situações de trabalho”.602 Segundo o guia, são valores do grupo RBS: liberdade e igualdade, desenvolvimento pessoal e profissional, satisfação do cliente, compromisso social e comunitário, responsabilidade empresarial.603

As normas editoriais trazem, através de verbetes, alguns indicativos sobre a

600 GRUPO RBS. Quem somos. Disponível em: <http://www.rbs.com.br/quem_somos/index.php?

pagina=grupoRBS> Acesso em: 25 jul. 2007.

601 ibid.

602 GRUPO RBS. Guia de ética, qualidade e responsabilidade social. 2. ed. Porto Alegre: RBS

Publicações, 2007. p. 5.

forma como os jornalistas devem agir na construção da notícia, de forma a preservar a ética editorial do jornal.

Como empresa de comunicação, a RBS busca difundir conteúdos com responsabilidade e integridade, em nome do interesse público e com o sentido de estimular o desenvolvimento social, cultural e econômico das comunidades onde atua. Tais conceitos se refletem na linha editorial da RBS, que valoriza, entre outros, a busca da verdade, a independência, o pluralismo, a separação clara entre conteúdo editorial e comercial e a distinção entre opinião e informação.604

Diante do que foi visto acerca da ideologia do jornalismo, ou seja, a defesa da objetividade, nota-se que o jornal Zero Hora a defende sob outro nome: a precisão. No verbete “imparcialidade” do guia, consta a seguinte explicação: “Ao elaborar uma notícia, o jornalista da RBS deve ter como única motivação divulgar, com precisão e equilíbrio, um fato de interesse do público”.605 E no verbete precisão: “A RBS entende que a simples publicação de versões conflitantes não é sinônimo de imparcialidade. Cabe ao veículo apurar a verdade, com isenção e na sua plenitude”.606

Sendo assim, não caberia ao jornalista, de forma alguma, colocar-se em algum lado de um conflito, nem ao veículo, é claro. Até porque o jornal consagra a necessidade de distinção entre fatos e opiniões, não assumindo posições, conforme a maior parte dos meios de comunicação de massa capitalistas.

Conflitos agrários no Rio Grande do Sul

Os conflitos no campo no Rio Grande do Sul possuem algumas características específicas. Uma delas é o fato de que as terras pelas quais os sem terra lutam não são devolutas e nem públicas. Não há conflito entre fazendeiros e governo, e a grilagem não é o principal problema. Soma-se à luta do MST no Rio Grande do Sul uma moralidade que, acima de tudo, percebe como um grande absurdo haver uma quantidade muito grande de terras concentrada nas mãos de apenas uma pessoa. Então, além de criticarem a improdutividade das grandes estâncias no RS, o MST também critica a sua extensão propriamente, deixando

604 ibid. p. 15. 605 ibid. p. 27.

606 ibid. p. 31. “A RBS acata, entre outros, os preceitos do Conselho Nacional de Auto-

Regulamentação Publicitária (Conar), as normas do Conselho Executivo das Normas-Padrão (Cenp) e o Código de Ética e Auto-Regulamentação da Associação Nacional de Jornais”. ibid. p. 47.

claro que o problema é a concentração da terra. Por isso, a moralidade como um valor bem presente nas lutas do MST no estado.

Na verdade, as primeiras ocupações de terras que seriam a gênese do MST