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CAPÍTULO 2 CURRÍCULOS DO CURSO DE LICENCIATURA EM

2.3 OS CURRÍCULOS DA LICENCIATURA EM MÚSICA DA UEPG

2.3.2 Princípios Norteadores: Eixos Temáticos dos Projetos

2.3.2.4 O eixo docência em Arte (2002) / docência em Música (2008)

Na Proposta Curricular de 2002, o Eixo Docência em Arte era fundamental para o processo de construção da prática docente. Esse Eixo abarcava as disciplinas Prática I e II e Estágio Supervisionado I e II.

Na perspectiva curricular em questão, a prática se constituía enquanto espaço determinante para a articulação da teoria e prática. Através da inserção do acadêmico nas diferentes realidades educacionais, artísticas e culturais proporcionava-se a reflexão sobre as diferentes realidades nas quais o professor de Arte iria atuar depois de formado.

Nesse contexto a prática era fundante para a criação de pontes entre a Licenciatura em Arte/Música e a sociedade. O exercício da prática pressupunha nessa concepção, o desenvolvimento de “atitudes reflexivas, momentos de problematização acerca da vivência [...] produções teóricas sobre as experiências vividas pelo educador” (UEPG, 2002, p. 09), com objetivo de superar os possíveis problemas relacionados à prática do professor.

Era um momento de reconstrução de práticas pedagógicas através do conhecimento da realidade, uma “percepção do que existe e pode ser transformado, [..] que viabilizará um conhecimento contextualizado, reflexivo e crítico, solidamente constituído” (UEPG, 2002, p. 09).

Partindo dessa concepção a prática era “oferecida desde a primeira série e desenvolvida ao longo do Curso por meio dos seguintes núcleos de conhecimento: Prática I (102); Prática II (102); Metodologia do Ensino I (102h); e II (120h)” (UEPG, 2002, p. 09).

Em Prática I, conjuntamente com o Curso de Licenciatura em Artes Visuais, os acadêmicos de Música desenvolviam atividades referentes à prática e à fruição artística. Orientados pelo professor, participavam de diferentes atividades artísticas existentes na cidade de Ponta Grossa e região, e registravam através de um diário de bordo. O objetivo era exercer a reflexão crítica e entrar em contato com as diferentes linguagens artísticas possíveis. Nesse contexto era de fundamental importância, conforme aponta Scheffler (2005), a discussão do processo de fruição artística através de debates em sala de aula com vistas à problematização da prática docente.

Já em Prática II, as atividades se voltavam para a prática escolar. Geralmente fazia-se a articulação com o Eixo de Produções Artísticas, ou seja, as

atividades desenvolvidas na disciplina de Produções Artísticas eram levadas para a escola. Nessa perspectiva, além da articulação Universidade e Escola, os acadêmicos entravam em contato com a realidade escolar e exerciam a prática artística.

A inserção artística no contexto escolar pretende o estabelecimento de experiências, mediadas pela expressão artística, com crianças e adolescentes dentro da escola. Assumir a postura de produtores de arte para esse tipo de público possibilita um conhecimento impar não apenas sobre o funcionamento e a organização da arte da escola, mas especialmente sobre interesses, gosto e recepção dos alunos. A proposta é que se aproveite no 2º ano as produções artísticas realizadas no 1º ano pelo Eixo Práticas Artísticas e se otimize o trabalho (SCHEFFLER, 2005, p. 74).

Já as disciplinas de Estágio Supervisionado I e II, visavam estabelecer pontes de articulação entre teoria e prática. Através do exercício interdisciplinar, os acadêmicos aliavam de maneira crítica os conhecimentos adquiridos no curso à prática escolar. Através dos Estágios I e II era realizada a observação, a reflexão e intervenção nos processos educacionais proporcionando ao aluno o exercício da reflexão sobre os diferentes processos de ensino e aprendizagem em Arte.

Cabe destacar que os Estágios eram realizados conjuntamente entre as Licenciaturas em Artes Visuais e Música, com objetivo de proporcionar ao acadêmico a possibilidade de tecer relações entre as diferentes linguagens, organizando um planejamento de ação articulado. As aulas em Música eram ministradas separadamente, porém de forma tangenciada com as Artes Visuais, sem incorrer na prática polivalente do professor.

Nessa concepção, o estágio se configurou como atividade e propiciou a inserção dos alunos no espaço escolar para o conhecimento sobre como o processo ensino se dá em sua totalidade. Era concebido enquanto instrumentalizador da práxis educacional e de transformação da realidade existente.

Na proposta de 2008, o Eixo Docência em Música especifica a prática do professor de Música. Organiza-se em “disciplinas que remetem à práxis musical relacionadas com a formação do educador musical. Está voltada para a ação- reflexão-ação nos processos de ensino e aprendizagem musical pertinentes à formação do educador musical” (UEPG, 2008, p. 14).

Nessa perspectiva, o Eixo tem como objetivo aperfeiçoar as vivências dos acadêmicos aproximando-os da realidade do ensino de música nas escolas. A proposta do Eixo Docência em Música em 2008 anuncia sua vinculação às ideias de

Schön (2000), que define a prática profissional enquanto prática reflexiva por intermédio de três conceitos fundamentais: conhecimento na ação, reflexão na ação e reflexão sobre a ação.

Esses fundamentos orientam a ação prática do professor e se instrumentaliza no saber fazer, no refletir sobre a organização e reorganização da prática, e na avaliação da prática efetuada.

“Durante todo este processo espera-se do aluno a sistematização do conhecimento, a ação reflexiva da prática docente em arte e a socialização do saber e do fazer, com vistas a uma permanente investigação e produção ativa de conhecimentos” (UEPG, 2008, p. 42).

Partindo dessa concepção, a proposta articula ao eixo as disciplinas de Estágio Supervisionado I e II. Partindo do Estágio Supervisionado é construído o processo de compreensão das formas de estruturação da educação e do ensino de música no contexto formal e informal de ensino escolar. Também são desenvolvidas atividades práticas de observação e intervenção na educação infantil, no ensino fundamental, ensino médio, educação inclusiva e outros espaços não formais de ensino.

São confeccionados planejamentos, realizadas discussões para a execução do processo de estágio. Nessa perspectiva abrem-se espaços para o desenvolvimento de pesquisa em educação musical atreladas às atividades de ensino realizadas pelos acadêmicos e às disciplinas do eixo de pesquisa presentes no currículo.

Analisando comparativamente as propostas elencadas nesse eixo algumas diferenças estão evidentes. Em 2002 o eixo denominava-se Docência em Arte, já em 2008 a nomenclatura do eixo sofre alteração para Docência em Música. Transparece de forma nítida a diferença de concepção de prática apresentada nas duas propostas. A primeira possui um caráter abrangente de prática docente em Arte e a segunda concebe a prática docente apenas na especificidade do conhecimento musical.

Em 2002 a prática docente se articulava nas atividades de estágio em caráter interdisciplinar e abrangente. Os estágios eram realizados em duplas formadas por acadêmicos dos Cursos de Licenciatura em Artes Visuais e Música. As atividades de observação, participação e intervenção eram realizadas de forma articulada entre as duas licenciaturas. Os projetos eram construídos coletivamente na perspectiva de tangenciamento entre as duas linguagens, valorizando a Arte

enquanto campo de conhecimento.

É importante destacar também que, em 2002, o eixo abarcava as disciplinas de Prática I e II como iniciação ao processo de docência em Arte. Os alunos inicialmente entravam em contato com a Arte em sociedade, produziam conhecimento sobre a Arte, posteriormente relacionavam as atividades desenvolvidas no contexto mais amplo com a escola através de apresentações artísticas no espaço escolar, para depois, juntamente com a licenciatura em Artes Visuais, desenvolverem projetos de intervenção na realidade escolar através do Estágio Supervisionado.

Em 2008, a Prática, denominada Prática Pedagógica I e II, não está dentro do Eixo Docência em Arte, mas está contemplada no Eixo Reflexivo Pedagógico. Esta difere significativamente da concepção da Prática I e II de 2002, uma vez que restringe a prática apenas ao espaço escolar, e não à prática artística. Essa é uma questão que aponta para a especificidade do exercício da docência em música e não docência em Arte. Apregoa-se nessa perspectiva que o conhecimento deve restringir-se apenas ao conhecimento musical, afinal é um curso de Licenciatura em Música.

No que diz respeito ao Estágio Supervisionado, toda a prática encaminha para a formação do professor de Música, essa questão é claramente especificada nas ementas das disciplinas. Porém há que se destacar que, na justificativa do estágio, a proposta cita que o estágio deve relacionar processos de ensino e aprendizagem em Arte e procure soluções adequadas aos problemas e dificuldades que venha a encontrar durante a prática docente.

Dessa forma, ambas as propostas concebem o estágio como ponto fulcral para a construção da docência, porém cada uma delas aponta para a prática docente de forma diferenciada. A primeira relacionava a prática docente num processo dialógico com o campo mais amplo da Arte e a segunda restringe a prática docente ao ensino da Música com vistas à afirmação do campo da Música e das práticas musicais na escola.

2.3.3 Finalidades e Objetivos da Licenciatura em Arte/ Música: A Construção da