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O Emprego da Análise Sensorial através da Técnica Grupo Focal

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4. METODOLOGIA

4.2. DELINEAMENTO DO PROCEDIMENTO DE PESQUISA

4.2.2. O Emprego da Análise Sensorial através da Técnica Grupo Focal

Sabe-se que a Análise Sensorial é uma importante ferramenta analítica desenvolvida por diferentes setores industrias - como por exemplo os ligados à produção de alimentos, cosméticos e têxteis - que utiliza os cinco sentidos para identificar, medir, analisar e interpretar os estímulos físicos provenientes do contato com os produtos. Isso significa que a visão, o tato, o olfato, a audição e o paladar do indivíduo, denominados aqui de avaliadores sensoriais, são instrumentos de análise encarregados de, por exemplo, identificar ou estabelecer o critério de qualidade usado na comercialização de um produto (DUTCOSKY, 2013; CIVILLE, OFTEDAL, 2012; STONE, SIDEL, 2004).

As respostas obtidas durante a sessão de análise sensorial podem ser apresentadas de forma objetiva, quando relacionadas às características do produto, como nos casos emque um tecido é grosseiro ou macio; ou ainda subjetivas, quando suas respostas se referem a aspectos afetivos do consumidor, isto é, quando a avaliação do produto é feita estabelecendo uma relação com algum aspecto de seu cotidiano, como sentimento e/ou recordação, gostar ou desgostar de um objeto. Neste último tipo de avaliação, as respostas podem vir acompanhadas com associações a uma experiência passada que ajudam a explicar a preferência dos avaliadores consumidores (ex.: esse produto me faz lembrar de...) (DUTCOSKY, 2013; CIVILLE, OFTEDAL, 2012; STONE, SIDEL, 2004).

O tipo de resposta que se deseja obter (objetiva ou subjetiva), determina o método a ser empregado pela Análise Sensorial. Eles são divididos em três grupos:

discriminativos, que busca identificar, se existe, a diferença entre as amostras; descritivos, destinado a caracterizar as propriedades sensoriais de um artefato; subjetivo, desenvolvido quando são investigados aspectos afetivos contidos na relação do usuário com o produto, como é possível ver em estudos sobre a preferência e aceitabilidade. Deste modo, considerando que esta dissertação tem o objetivo de identificar os significados atribuídos pelos consumidores, ou seja, obter uma resposta subjetiva aos estímulos sensoriais percebidos provenientes do contato com o artefato

têxtil; a análise sensorial utilizou os métodos subjetivos (DUTCOSKY, 2013; CIVILLE; OFTEDAL, 2012).

Apesar de esse instrumento de análise enquadrar-se também em testes quantitativos, esta análise foi classificada como qualitativa. Sobre esse tipo de direcionamento da pesquisa composta pela Análise Sensorial, Dutcosky (2013, p. 300) explica que:

Os métodos sensoriais qualitativos são aplicados quando se busca um posicionamento inicial do consumidor em relação ao conceito de um produto ou de um protótipo, para: entender a terminologia usada pelos consumidores; descrever os atributos sensoriais de um conceito, protótipos ou produto comercial; ou estudar hábitos e as atitudes dos consumidores em relação a determinada classe de produtos.

Dentre as inúmeras técnicas empregadas na análise sensorial subjetiva, a coleta de dados qualitativos desta dissertação ocorreu por meio do grupo focal, ou seja, técnica que utiliza a interação grupal com propósito de discutir e reunir informações detalhadas sobre um tema específico, à medida que recebe estímulos apropriados para tal debate. Nota-se que essa técnica ocupa uma posição intermediária entre a observação participante e a entrevista de profundidade, por entender que ela concede ao pesquisador não só o contato direto com o universo estudado, mas também permite observar fatos e conexões sobre o assunto estudado em seu contexto, quebrando barreiras subjetivas e/ou culturais geralmente responsáveis pela incompreensão dos dados coletados na pesquisa de campo (BARBOUR, 2009; RESSEL et al, 2008;GONDIM, 2002).

A sessão de um grupo focal é uma reunião com um pequeno número de pessoas, geralmente entre 6 a 15 participantes. No entanto, é fundamental entender que o tamanho ideal é aquele que permite a participação efetiva de todos os integrantes na discussão. É válido ressaltar que a maioria das bibliografias investigadas nesse estudo não recomendam um número superior a 10 pessoas e, por esse motivo, o perfil da sessão seguiu essas orientações (DUTCOSKY, 2013; BARBOUR 2009; STONE, SIDEL, 2004).

Para aplicar essa técnica, foram recrutados 9 avaliadores (5 mulheres e 4 homens) consumidores, cujo perfil foi estabelecido pelos resultados da Pesquisa Survey e também por indicações dos convocados que aceitaram participar das

discussões em grupo. Os convites efetuados poressas pessoas foram concretizados por e-mail, redes sociais, telefone e pessoalmente, para participar do grupo focal. Os avaliadores consumidores foram reunidos em uma única sessão, coordenada por duas mediadoras imparciais e treinadas com antecedência pela autora desta dissertação. Ambos, consumidores e mediadores, foram recompensados com camisas beneficiadas com a substância nanotecnológica16 aplicada também às amostras de tecidos analisadas pelo grupo focal

A sessão teve duração de duas horas e foi realizada na Universidade Federal Rural de Pernambuco, no Departamento de Ciências Domésticas, local onde os participantes se acomodaram em mesas individuais dispostas em forma de um semicírculo para facilitar o diálogo ou troca de experiências sobre o objeto analisado.

Adicionalmente, os diálogos foram gravados para posterior transcrição e análise pela pesquisadora. Assim, antes de se iniciarem os debates e as dinâmicas, foi importante que os integrantes desse grupo focal lessem o termo de consentimento e, se concordassem, assinariam para que a pesquisadora pudesse utilizar os dados colhidos durante a sessão. Foi pactuado que seria para uso exclusivo acadêmico e seus nomes não serão revelados.

Na ocasião, as mediadoras informaram também que NÃO existe resposta certa e nem resposta errada, portanto, o receio de falar algo deveria ser evitado e combatido, por mais que os participantes acreditem que sua opinião não tem importância ou que se trata de alguma tolice. Assim, todas as opiniões foram apresentadas para o grupo e não apenas para o colega ao lado, a fim de que nenhum participante deixasse de debater sobre o assunto tratado e novas perspectivas sobre o tema pudessemsurgir e ser discutidas (BARBOUR, 2009; FLICK, 2009).

De acordo com David (2009), o esclarecimento sobre as questões éticas, mencionada no parágrafo anterior, é uma etapa fundamental da pesquisa social, pois deixa claro aos participantes a responsabilidade de quem realiza a pesquisa com relação às pessoas estudadas.

A fim de facilitar a compilação e análise dos dados e para facilitar o desenvolvimento das dinâmicas e conversas em grupo, as mediadoras orientaram os

16 Substância produzida pela Nanovetor desenvolvida por meio da nanotecnologia com efeito cosmético voltado para redução de celulites (Ver Anexo B).

participantes a se identificarem utilizando os crachás e as canetas que estavam acessíveis para os participantes em cada uma das mesas onde eles se acomodaram. O grupo focal foi composto por três dinâmicas: 1) Integração do grupo por

meio da análise de imagens; 2) Análise sensorial sem a orientação sobre o conteúdo nanotecnológico das amostras de tecido; 3) Análise sensorial com a orientação sobre o conteúdo nanotecnológico das amostras de tecido.

Na Dinâmica 1 foi observado se os consumidores conseguem perceber o uso da tecnologia têxtil no desenvolvimento das roupas apresentadas em cada uma das treze imagens e quais os tipos de tecnologias empregadas nos vestuários observados. Além disso, também foi um exercício interativo para aproximar, preparar e estimular os participantes para desempenhar as próximas atividades da sessão, conforme orienta Barbour (2009) (Ver Anexo A).

Na ocasião, foi entregue uma ficha com orientações e perguntas sobre as imagens para cada um dos integrantes do grupo focal. Elas foram respondidas para que, posteriormente, o seu conteúdo fosse compartilhado com todo o grupo. As mediadoras coordenaram todas as atividades dessa dinâmica, que não excederam o tempo de 30min, evitando com isso o desgaste dos participantes (ver Apêndice B).

O objetivo da Dinâmica 2 foi permitir que os participantes apresentassem livremente considerações sobre a diferença dos tecidos e ainda a respeito do que esses aspectos significam para eles, independentemente da informação sobre a presença do conteúdo nanotecnológico contida no artefato têxtil.

Para a segunda dinâmica os avaliadores consumidores, ou seja, não treinados, utilizaram a visão, o tato, o olfato e audição, para avaliar amostras de tecido, sem receber nenhuma informação sobre o tipo de beneficiamento utilizado para confeccioná-las. Nessa dinâmica, foram utilizados cinco tipos de tecidos diferentes, sendo dois deles com 100% de algodão e três deles de composição mista. Todos receberam dois tipos de acabamento diferentes: o primeiro com substâncias convencionais (Grupo A) e o segundo com substância nanotecnológica (Grupo B).

A Dinâmica 2 iniciou-se com uma breve explicação sobre o conteúdo da atividade e apresentação do protocolo de manipulação tátil (ver Apêndice E). Em seguida, os consumidores escolheram dentre os cinco tipos de tecido qual o que gostariam de avaliar. Duas amostras do mesmo tipo de tecido escolhido pelos

participantes foram entregues ao mesmo tempo, para cada avaliador, entretanto, uma delas pertence ao Grupo A e a outra ao Grupo B.

Conforme Dutcosky (2013), Stone e Sidel (2004), para que os avaliadores não tenham nenhuma informação sobre o perfil das amostras, cada uma delas foi codificada de maneira balanceada, ou seja, recebeu uma identificação de três dígitos e com ordem aleatória para representar o tipo de tecido e beneficiamento empregado, informações necessárias para posteriores análises da pesquisadora desta dissertação (ver Tabelas 7 e 8).

Tabela 7. Rotulagem das amostras A. Grupo A

Código Característica da Amostra

512 Identificação referente ao Brim Misto Cedro beneficiado sem substância nanotecnológica.

130 Identificação referente ao Brim Cedro beneficiado sem substância nanotecnológica.

349 Identificação referente ao Jeans Misto Cedro beneficiado sem substância nanotecnológica.

883 Identificação referente ao Jeans Cedro beneficiado sem substância nanotecnológica.

250 Identificação referente a Malha Supplex beneficiada sem substância nanotecnológica.

Tabela 8. Rotulagem das amostras B. Grupo B

Código Característica da Amostra

430 Identificação referente ao Brim Misto Cedro beneficiado com substância nanotecnológica.

376 Identificação referente ao Brim Cedro beneficiado com substância nanotecnológica.

584 Identificação referente ao Jeans Misto Cedro beneficiado com substância nanotecnológica.

713 Identificação referente ao Jeans Cedro beneficiado com substância nanotecnológica.

239 Identificação referente a Malha Supplex beneficiada com substância nanotecnológica.

Fonte: Autora (2015)

Junto com as amostras de tecido, foram entregues fichas contendo orientações, perguntas e espaços para possíveis anotações sobre a análise sensorial dos tecidos. Após finalizar tal atividade, os mediadores fizeram perguntas sobre às impressões e opiniões em relação às amostras avaliadas (ver apêndice C e F).

A proposta da Dinâmica 3 foi identificar como a informação sobre a presença da nanotecnologia nesses tecidos pode interferir na maneira como os consumidores interpretam os estímulos físicos resultantes da interação (visual, tátil, olfativo e sonoro) dos participantes com as amostras.

Para que isso ocorresse, o método e os tipos de tecidos usados na Dinâmica 2 foram repetidos na Dinâmica 3, contudo, os tecidos foram identificados com os seguintes rótulos: “não contém substância nanotecnológica” e “contém

substância nanotecnológica”. Além dessa alteração, algumas perguntas foram

inseridas nas discussões em grupo. Por fim, é importante mencionar que a análise sensorial e as discussões em grupo referentes à Dinâmica 2 e 3 também não excederam 30 min cada uma (ver Apêndice D e G).

O tratamento dos dados dessa etapa da pesquisa de campo iniciou-se com a identificação das unidades de registro por temas. De acordo com Bardin (2011, p. 135) “o tema e a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto

analisado segundo certos critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura”. Assim, o contexto nos quais esses temas são interpretados segue os assuntos abordados no levantamento bibliográfico apresentado na primeira parte desta dissertação.

Para que tais critérios sejam atendidos, a transcrição e leitura de todos os diálogos do grupo focal foi necessária como primeira ação para encontrar o núcleo

de sentido das discussões e/ou exposições de opiniões. Por se tratar de uma análise

qualitativa, nessa etapa foi considerado principalmente a presença de um tema específico como regra de enumeração, diferentemente da primeira etapa, onde na análise Survey foi considerada a frequência (BARDIN, 2011).

Além disso, outros critérios foram adotados para a construção dessa análise: a

direção das opiniões apresentadas pelo grupo (ex.: positiva, negativa ou neutra) e a coocorrência, ou seja, “a presença simultânea de duas ou mais unidades de registro

[que nesse caso são os temas] numa unidade de contexto”, que pode ser de natureza

associativa, equivalência, idêntica e oposição (BARDIN, 2011, p. 142).

Por fim, foi verificado se as informações obtidas, na primeira e segunda fase da pesquisa de campo, conseguem responder ao problema de pesquisa desta dissertação e, consequentemente, cumprir o objetivo geral proposto no início desta investigação, sendo assunto do próximo capítulo.

4.2.3. Seleção e preparo dos matérias para análise e discussão pelo grupo de

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